segunda-feira, 24 de junho de 2013

O FIM DO IMPÉRIO DA REMUNERAÇÃO ACCIONISTA?

 
Especialista Holandês dá machadada no modelo de governance empresarial que levou à actual crise.

Chama-se Jan Hoogervorst e não se trata de um perigoso esquerdista mas sim de um especialista holandês em governance empresarial. Licenciou-se em Engenharia electrónica na Universidade de Delft e doutorou-se em Psicologia Organizacional de Trabalho na Vrije Universiteit, em Amesterdão.

Foi administrador da KLM e em empresas de Aeronáutica Holandesas e Alemãs. Actualmente é consultor de gestão e esteve em Portugal recentemente, a convite da Oracle.

Em artigo publicado pelo Expresso (assinado por João Ramos), que reproduzo na íntegra, arrasa por completo o actual modelo de governação corporativa que coloca o centro de gravidade das grandes empresas na remuneração do capital (accionistas, relegando para segundo plano o factor trabalho e a satisfação dos clientes).

Para este especialista, a actual crise é mesmo resultado de muitas empresas terem esquecido a qualidade dos produtos e o interesse dos clientes, e dos trabalhadores.

Jan Hoogervorst defende o fim do império da remuneração accionista

“A corrente de gestão anglo-saxónica, em que a remuneração accionista está no topo das prioridades, é uma das causas da actual crise económica. Quem o defende é Jan Hoogervorst, especialista na área de governação corporativa e reengenharia de processos que recentemente esteve em Portugal para participar num evento da Oracle. Para este especialista holandês, que há pouco tempo lançou o livro “Enterprise Governance and Enterprise Engineering” (Governação corporativa e engenharia corporativa), é fundamental a criação de um novo estilo de gestão que também tenha em conta os interesses dos clientes e dos trabalhadores da empresa. “Em muitas empresas, esqueceu-se aqualidade dos produtos e o interesse dos clientes para dar a atenção apenas à realização de dinheiro ( bottom line)”, afirma Jan Hoogervorst .

“Lembro-me de uma declaração de um executivo de um fabricante de automóveis: ‘Não existimos para construir carros, mas sim para fazer dinheiro’. É uma atitude e uma mentalidade terrível que estão na origem da actual crise”, critica o especialista holandês, referindo que esses valores de satisfazer cegamente os accionistas já tinham estado na origem das mega fraudes ocorridas há poucos anos nos EUA (Worldcom e Enron).

"Estou contra a governação corporativa de cima para baixo, mecanicista, baseada apenas em rácios de rentabilidade, controlo de objectivos, etc.",acrescenta. Jan Hoogervorst acredita que, quando esta crise acabar, irá prevalecer uma visão de longo prazo, mais focada nos outros actores interessados (clientes e trabalhadores) e não apenas nos accionistas.

"Na Holanda e noutros países já existem sinais de que se está a retroceder nesta lógica e que se deve voltar às funções básicas de uma empresa: vender produtos de qualidade para um consumidor". Ou seja, colocar em primeiro lugar o cliente e não as metas financeiras e emocionais do valor accionista. "O problema é que as pessoas muitas vezes não apreendem a lição, é muito difícil mudar hábitos e ter uma postura mais ética", admite o autor.

Para que haja uma governação correcta na empresa, Jan Hoogervorst sustenta que "as empresas devem ser 'desenhadas' de forma orgânica e integradas, de forma a tirarem partido da criatividade e das capacidades intelectuais dos trabalhadores".

Uma disciplina a que o autor holandês chama de "engenharia corporativa" e que é o oposto ao estilo de gestão "de cima para baixo" e focada num planeamento e num pensamento racional. "0 tipo de organização que defendemos não nasce espontaneamente. Para evitar o falhanço da estratégia, a organização deve ser desenhada para o efeito e não estar focada no comando e controlo", conclui o especialista holandês.”

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