sábado, 30 de novembro de 2013

Carta Aberta a um MENTECAPTO.

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Carlos Paz



João César das Neves

Meu Caro João,

Ouvi-te brevemente nos noticiários da TSF no fim-de-semana e não acreditei no que estava a ouvir.


Confesso que pensei que fossem "excertos", fora de contexto, de alguém a tentar destruir o (pouco) prestígio de Economista (que ainda te resta).

Mas depois tive a enorme surpresa: fui ler, no Diário de Notícias a tua entrevista (ou deverei dizer: o arrazoado de DISPARATES que resolveste vomitar para os microfones de quem teve a suprema paciência de te ouvir). E, afinal, disseste mesmo aquilo que disseste, CONVICTO e em contexto.

Tu não fazes a menor ideia do que é a vida fora da redoma protegida em que vives:

- Não sabes o que é ser pobre;

- Não sabes o que é ter fome;

- Não sabes o que é ter a certeza de não ter um futuro.

Pior que isso, João, não sabes, NEM QUERES SABER!

Limitas-te a vomitar ódio sobre TODOS aqueles que não pertencem ao teu meio. Sobes aquele teu tom de voz nasalado (aqui para nós que ninguém nos ouve: um bocado amaricado) para despejares a tua IGNORÂNCIA arvorada em ciência.

Que de Economia NADA sabes, isso já tinha sido provado ao longo dos MUITOS anos em que foste assessor do teu amigo Aníbal e o ajudaste a tomar as BRILHANTES decisões de DESTRUÍR o Aparelho Produtivo Nacional (Indústria, Agricultura e Pescas).

És tu (com ele) um dos PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS de sermos um País SEM FUTURO.

De Economia NADA sabes e, pelos vistos, da VIDA REAL, sabes ainda MENOS!

João, disseste coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: "A MAIOR PARTE dos Pensionistas estão a fingir que são Pobres!"


Estarás tu bom da cabeça, João?

Mais de 85% das Pensões pagas em Portugal são INFERIORES a 500 Euros por mês (bem sei que que algumas delas são cumulativas - pessoas que recebem mais que uma "pensão" - , mas também sei que, mesmo assim, 65% dos Pensionistas recebe MENOS de 500 Euros por mês).

Pior, João, TU TAMBÉM sabes. E, mesmo assim, tens a LATA de dizer que a MAIORIA está a FINGIR que é Pobre?

Estarás tu bom da cabeça, João?

João, disseste mais coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: "Subir o salário mínimo é ESTRAGAR a vida aos Pobres!"

Estarás tu bom da cabeça, João?

Na tua opinião, "obrigar os empregadores a pagar um salário maior" (as palavras são exactamente as tuas) estraga a vida aos desempregados não qualificados. O teu raciocínio: se o empregador tiver de pagar 500 euros por mês em vez de 485, prefere contratar um Licenciado (quiçá um Mestre ou um Doutor) do que um iletrado. Isto é um ABSURDO tão grande que nem é possível comentar!

Estarás tu bom da cabeça, João?

João, disseste outras coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: "Ainda não se pediram sacrifícios aos Portugueses!"

Estarás tu bom da cabeça, João?

Ainda não se pediram sacrifícios?!?

Em que País vives tu, João?

Um milhão de desempregados;

Mais de 10 mil a partirem TODOS os meses para o Estrangeiro;

Empresas a falirem TODOS os dias;

Casas entregues aos Bancos TODOS os dias;

Famílias a racionarem a comida, os cuidados de saúde, as despesas escolares e, mesmo assim, a ACUMULAREM dívidas a TODA a espécie de Fornecedores.

Em que País vives tu, João?

Estarás tu bom da cabeça, João?

Mas, João, a meio da famosa entrevista, deixaste cair a máscara: "Vamos ter de REDUZIR Salários!"

Pronto! Assim dá para perceber. Foi só para isso que lá foste despejar os DISPARATES todos que despejaste.

Tinhas de TRANSMITIR O RECADO daqueles que TE PAGAM: "há que reduzir os salários!".

Afinal estás bom da cabeça, João.

Disseste TUDO aquilo perfeitamente pensado. Cumpriste aquilo para que te pagam os teus amigos da Opus Dei (a que pertences), dos Bancos (que assessoras), das Grandes Corporações (que te pagam Consultorias).

Foste lá para transmitir o recado: "há que reduzir salários!".

Assim já se percebe a figura de mentecapto a que te prestaste.

E, assim, já mereces uma resposta:

- Vai à MERDA, João!

Um Abraço,






Porto, a Rotunda da Boavista




ALBERTO PINTO NOGUEIRA
29/11/2013



Do Palácio de Cristal de Rosa Mota sobe-se a rua do escritor e poeta portuense Júlio Dinis até ao cimo. Desemboca-se numa larga praça circular: a Rotunda da Boavista. O poder, que aprecia contrariar o povo, chama-lhe Praça de Mouzinho da Silveira. O povo não tem nada contra Mouzinho, mas desrespeita o poder que o desrespeita. Rotunda da Boavista.

Rotunda ou Praça tem ao centro um belo e amplo jardim romântico. Com inúmeras árvores centenárias, carvalhos, tílias, tulipeiros, palmeiras. Bancos de madeira por ali dispersos onde se lê o Jornal de Notícias, distrai a austeridade, discute as glórias do FC Porto, olha o trânsito sempre intenso. Medita, pensa a vida.

O jardim é habitado de História. Solidez dos nossos passado, presente e futuro. E de liberdade. Ao centro, uma coluna de 45 metros, obra do arquitecto Marques da Silva. É o monumento mais importante da cidade do Porto. Revive as Guerras Peninsulares, as Invasões Francesas. Ao cimo, um leão vence e massacra uma águia, ambos enormes. Esta é o símbolo do imperador Napoleão Bonaparte. Sonhou conquistar a Europa. A França e a Europa bem lhe pagaram. Morreu doente ou envenenado. Exilado numa ilha do Atlântico Sul povoada de ratos, na mais profunda solidão. Onde, diz a lenda, ficcionava em delírio um império circunscrito a uma ilha inóspita. Santa Helena. O leão é a marca real de Inglaterra. Na coluna, simboliza a aliança luso-britânica que combateu o invasor, pela liberdade e solo pátrio. Transmite a vitória da coragem e liberdade ante a opressão.

Napoleão tramara com Carlos IV de Espanha a invasão de Portugal. Sedento e insaciável de poder e território, mandou Junot invadir Lisboa em 1807. Cá chegou à frente de um exército de maltrapilhos e esfomeados. Tomou a capital. A estratégia era deter D. João VI, deixando vago o poder político. Legitimar o assalto ao poder. O rei rumara ao Brasil horas antes, levou consigo a corte em centenas de embarcações.

Junot encapotou-se com o manto de libertador. Violações, massacres, roubos, pilhagens. Nem igrejas e santos escaparam. Suscitou a revolta nacional. Foi expulso.

Napoleão tinha fome de poder, sempre mais poder, de território, sempre mais território. Voltou em Março de 1809. Enviou o general Soult à conquista do Porto e Norte de Portugal. Desceu da Gália, entrou pela Galiza. Encontrou um exército desorganizado que fugiu. Exército e Povo.

Sem líder, milhares de pessoas tentaram a fuga atabalhoada para a margem esquerda do Douro, atravessando a Ponte das Barcas. A travessia do rio foi trágica. A ponte não suportou tamanho peso. Ruiu. Perto de 5000 pessoas perderam a vida afogadas nas águas do seu rio. A História conta cenas dramáticas. Mães que se afogaram com os filhos nos braços. E menos dramáticas. A cantora lírica Luísa Todi chegou à outra margem. Perdeu a colecção de jóias no Douro.

Soult desceu a Sul, perseguiu os fugitivos. Foi vencido pela aliança luso-britânica dirigida pelo inglês William Beresford de triste memória.

A base da coluna de Marques da Silva retrata, traz à memória essa guerra, enfatiza o papel das mulheres nessa luta. Mães desesperadas, mulheres que se afogam, empunham a bandeira, lutam, empurram o canhão. A beleza e coragem femininas na luta pela liberdade!

A coluna de Marques da Silva na Rotunda da Boavista acabou por ser finalizada pela filha, também arquitecta. E inaugurada em Maio de 1952.

Os heróis do Povo esperam sempre!

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O BURACÃO das receitas farmácias



A direcção das farmácias tem vindo a ser abandonado pelos farmacêuticos e a ser ocupada por toda a sorte de "investidores"; por outro lado, o regime jurídico da farmácia tem assistido a vários ziguezagues e remendos avulsos, sem que ninguém fiscalize nada. Portanto, não será generalizado mas devem ser crescentes situações como estas:

«- Uma grande fraude que se está a passar nas farmácias.
- Ai sim? Ora conte lá isso...
- O senhor jornalista lembra-se de quando ia aviar remédios à farmácia e lhe cortavam um bocadinho da embalagem e a colavam na receita, que depois era enviada para o Ministério da Saúde, para reembolso às farmácias?
- Lembro, perfeitamente... Mas isso já não existe, não é verdade?
- É... Agora é tudo com código de barras. E é aí que está o problema... É aí que está a fraude. Deixe-me explicar: como o senhor sabe, há muita gente que não avia toda a receita. Ou porque não tem dinheiro, ou porque não quer tomar um dos medicamentos que o médico lhe prescreveu e não lhe diz para deixar de o receitar. Ora, em algumas farmácias - ao que parece, muitas - o que está a acontecer é que os medicamentos não aviados são na mesma processados como se o doente os tivesse levantado. É só passar o código de barras e já está. O Estado paga.
- Mas o doente não tem que assinar a receita em como levou os medicamentos? - Perguntei.
- Tem. Mas assina sempre, quer os levante, quer não. Ou então não tem comparticipação... Teria que ir ao médico pedir nova receita...
- Continue, continue - Convidei
- Esta trafulhice acontece, também, com as substituições. Como também saberá, os medicamentos que os médicos prescrevem são muitas vezes substituídos nas farmácias. Normalmente, com a desculpa de que "não há... Mas temos aqui um igualzinho, e ainda por cima mais barato". Pois bem: o doente assina a receita em como leva o medicamento prescrito, e sai porta fora com um equivalente, mais baratinho. Ora, como não é suposto substituírem-se medicamentos nas farmácias, pelo menos quando o médico tranca as receitas, o que acontece é que no processamento da venda, simula-se a saída do medicamento prescrito. É só passar o código de barras e já está. E o Estado paga pelo mais caro...
Como o leitor certamente compreenderá, não tomei de imediato a denúncia como boa. Até porque a coisa me parecia simples de mais. Diria mesmo, demasiado simples para que ninguém tivesse pensado nela. Ninguém do Estado, claro está, que no universo da vigarice há sempre gente atenta à mais precária das possibilidades. Telefonei a alguns farmacêuticos amigos a questionar...
- E isso é possível, assim, de forma tão simples, perguntei.
- É!... Sem funfuns nem gaitinhas. É só passar o código de barras e já está, responderam-me do outro lado da linha.
- E ninguém confere? - Insisti.
- Mas conferir o quê? - Só se forem ter com o doente a confirmar se ele aviou toda a receita e que medicamentos lhe deram. De outro modo, não têm como descobrir a marosca. E ó Miguel, no estado a que as coisas chegaram, com muita malta à rasca por causa das descidas administrativas dos preços dos medicamentos... Não me admiraria nada se viessem a descobrir que a fraude era em grande escala...
E pronto... Aqui fica a denúncia, tal qual ma passaram...
Se for verdade... Acho que é desta que o Carmo e a Trindade caem mesmo!»

sábado, 23 de novembro de 2013

Um Parecer de Nicolau Maquiavel, por Ricardo Araújo Pereira




"Caro Sr. primeiro-ministro, O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário. Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu. Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma. O grande problema das sociedades modernas são os velhos. Trabalham pouco e gastam demais. Entregam-se a um consumo desenfreado, sobretudo no que toca a drogas. São compradas na farmácia, mas não deixam de ser drogas. A culpa é da medicina, que lhes prolonga a vida muito para além da data da reforma. Chegam a passar dois ou três anos repimpados a desfrutar das suas pensões. A esperança de vida destrói a nossa esperança numa boa vida, uma vez que o dinheiro gasto em pensões poderia estar a ser aplicado onde realmente interessa, como os swaps, as PPP e o BPN. Se me permite, gostaria de acrescentar algumas ideias para ajudar a minimizar o efeito negativo dos velhos na sociedade portuguesa:

1. Aumento da idade de reforma para os 85 anos. Os contestatários do costume dirão que se trata de uma barbaridade, e que acrescentar 20 anos à idade da reforma é muito. Perguntem aos próprios velhos. Estão sempre a queixar-se de que a vida passa a correr e que 20 anos não são nada. É verdade: 20 anos não são nada. Respeitemos a opinião dos idosos, pois é neles que está a sabedoria.

2. Exportação dos velhos. O velho português é típico e pitoresco. Bem promovido, pode ter aceitação lá fora, quer para fazer pequenos trabalhos, quer apenas para enfeitar um alpendre, um jardim.

3. Convencer a artista Joana Vasconcelos a assinar 2.500 velhos e pô-los em exposição no MoMa de Nova Iorque.

Creio que são propostas valiosas para o melhoramento da sociedade portuguesa, mantendo o espírito humanista que tem norteado as suas políticas.

Cordialmente,

Nicolau Maquiavel"

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

McDonald's - Não obrigado !


O processo ...!

McDonald'S...? NÃO OBRIGADO!


Chefe Cozinheiro Jamie Oliver Vence acusação Judicial Contra a McDonald’s !

O chefe Jamie Oliver acaba de vencer uma batalha contra a mais poderosa cadeia de Junk Food do mundo. Oliver demonstrou como são produzidos os hambúrgueres.

De acordo com Oliver, as partes gordurosas da carne são “lavadas” com hidróxido de amônia e, em seguida, são utilizadas na fabricação do “bolo” de carne para encher o hambúrguer. Antes deste processo, de acordo com o apresentador, essa carne já não era apropriada para o consumo humano.

Oliver que assumiu uma guerra contra a indústria de alimentos criminosa, diz:

´- Estamos a falar de carne que tinha sido vendida como alimento para cães e após este processo é servida para os seres humanos !!!

Qual dos homens no seu perfeito juízo colocaria um pedaço de carne embebido em hidróxido amônio na boca de uma criança?

Noutra de suas iniciativas Oliver demonstrou como são feitos os nuggets de frango:

- Depois de serem seleccionadas as “melhores partes”, o resto- gordura, pele, cartilagem, vísceras, ossos, cabeça, pernas - é submetido a um batido - separação mecânica - é o eufemismo usado por engenheiros de alimentos, e, em seguida, essa pasta cor de rosa por causa do sangue é desodorada, descolorida, reodorizada e repintada, capeadas de marshmallow farináceo e frito, este é refervido em óleo geralmente parcialmente hidrogenado, ou seja, tóxico!!!

Nos EUA, Burger King e Taco Bell já abandonaram o uso de amônia em seus produtos. A indústria alimentar utiliza hidróxido de amônia como um agente anti-microbiano, o que permitiu ao McDonald’s usar nos seus hambúrgueres, carne do focinho, imprópria para o consumo humano!


http://youtu.be/twOj0XNCyaY


Traduzido e adaptado de: http://diariocronica.com.ar/94020-el-chef-jamie-oliver-gana-demanda-contra-mcdonalds.html

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A árvore que nunca foi forca

A árvore que nunca foi forca

jornalista e historiador Germano Silva

A imagem da Senhora da Silva

A imagem da Senhora da Silva


jornalista e historiador Germano Silva

A Rua de Dom Hugo e as verdades que já foram mentiras

A Rua de Dom Hugo e as verdades que já foram mentiras

jornalista e historiador Germano Silva

Ponte Luís I e a destruição de monumentos

Ponte Luís I e a destruição de monumentos

jornalista e historiador Germano Silva 

Engenho financeiro na construção da Igreja da Lapa

Engenho financeiro na construção da Igreja da Lapa

jornalista e historiador Germano Silva 

O Arco de Santana e os partos sem dor


O Arco de Santana e os partos sem dor

jornalista e historiador Germano Silva 

O jardim onde homens encontravam o amor

O jardim onde homens encontravam o amor

jornalista e historiador Germano Silva 

As escadas da Rainha e o privilégio dos condenados

As escadas da Rainha e o privilégio dos condenados

jornalista e historiador Germano Silva 

S. João foi padroeiro do "folguedo" mas não do Porto

S. João foi padroeiro do "folguedo" mas não do Porto

jornalista e historiador Germano Silva 

A fonte que mudou de lugar

A fonte que mudou de lugar

jornalista e historiador Germano Silva 

Varanda sobre o Douro nas Fontainhas

Varanda sobre o Douro nas Fontainhas

jornalista e historiador Germano Silva 

A história "pouco ortodoxa" do Palácio das Sereias

A história "pouco ortodoxa" do Palácio das Sereias

jornalista e historiador Germano Silva 

ENTREVISTA COM DEEPAK CHOPRA

ENTREVISTA COM DEEPAK CHOPRA

"CANAL INFINITO é um canal de documentários de investigação, que revela os territórios menos explorados do conhecimento, apresentando uma programação variada, com temáticas associadas a factos inexplicáveis, criminologia, realidades alternativas, esoterismo e espiritualidade, abordadas através de uma perspectiva inovadora.
Era transmitido em Portugal pela TV Cabo Portugal desde 2006 até à tarde do dia 1 de Abril de 2009" (Fonte: Wikipedia).


Provavelmente retirado da grelha de programação da TV Cabo por ser logicamente «inconveniente», tivemos o privilégio de assistir a muitos dos seus documentários valiosos, como o que apresentamos hoje, do célebre Deepak Chopra. A não perder, pois foi encontrado na NET por «acaso» (atenção sobretudo aos últimos 3:40 minutos)...

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz" (Platão).

A Carne deve ser eliminada da alimentação ... JÁ.

http://youtu.be/49OQ7QrMbBE

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Cunhal em 2013




MANUEL LOFF

14/11/2013


Álvaro Cunhal nasceu há cem anos. O partido que deu sentido à sua vida, e ao qual ele dedicou quase toda a sua existência, decidiu comemorar o centenário. Não só: muitas instituições públicas, associações, as mais variadas entidades, sem nada a ver com o PCP, o fizeram também.

Há quem tenha visto nestas comemorações “culto da personalidade” e uma espécie de “beatificação laica”, pretendendo sublinhar uma contradição entre essa atitude e os princípios ideológicos comunistas de valorização do coletivo perante o contributo individual, lembrando que Cunhal recusara sempre esse “culto”. Honestamente, não vi nada disso. Era razoável esperar que o PCP não comemorasse, no Portugal de 2013, uma personagem cujo legado político, e até humano, é uma antítese do Homo neoliberalus?

Nenhuma História de natureza científica pode desprezar a dimensão social e, portanto, enquadrar coletivamente a ação dos indivíduos. Mas isso não impede que se possa sublinhar o papel de indivíduos excecionais, pelo seu percurso, pela sua persistência, pela sua capacidade. Não sou especialmente sensível à História biográfica, mas é óbvio que Cunhal foi um homem incomum. E não o foi, evidentemente, por alguma predestinação ou superioridade intrínseca; foi-o porque a sua história pessoal e a história do país, do mundo, em que viveu o tornou excecional. Não simplesmente (como se isso fosse simples...) pela dificílima opção de vida que fez, e quando a fez, com as duríssimas consequências que lhe trouxe; não porque, podendo dispor da vida regalada que à sua classe social era facilmente acessível numa sociedade desigual como a portuguesa, especialmente sob a ditadura, tenha optado por uma luta que o despojou de todos os privilégios sociais e que o obrigou a munir-se de toda a resiliência de que era capaz para conseguir viver uma vida clandestina feita de secretismo, fuga, suspeita e prisão, mas também de solidariedade e altruísmo recíprocos, de um empenho muito para lá do que é razoável pedir a qualquer ser humano. Cunhal tornou-se comunista num momento em que se consolidava a ditadura contra a qual decidiu lutar, quando esta, além de revelar ser capaz de esmagar toda a oposição à sua volta, escolhera os comunistas como seu inimigo principal. Foi preso aos 23 anos, de novo aos 27 e aos 35. Só uma fuga audaz o conseguiu tirar da cadeia, tinha ele 46. Só pôde caminhar livremente em Portugal aos 60 anos. Se lhe perguntavam pela dureza da clandestinidade e da prisão, recordava sempre que outros tinham passado por condições piores, que tinham até morrido “sem nunca desistir da luta pela liberdade em Portugal” (declaração ao XIV Congresso do PCP, 1992). Por outras palavras, não foi o único, mas foi um deles.

Cunhal foi dos primeiros dirigentes políticos em Portugal que procurou associar, de forma coerente, uma análise social da realidade com a intervenção nela, que se abalançou a um estudo político, económico, social, cultural, histórico, da sociedade portuguesa. Fê-lo condicionado pela clandestinidade, pela prisão ou pelo exílio, mas produziu alguns dos textos políticos (o Rumo à Vitória, 1964, antes de mais) que se tornaram referência para a História do séc. XX português. Se comparássemos, por absurdo, com o deliberado empirismo (para lhe não chamar outra coisa) da reforma do Estado de Portas, anos-luz separariam a qualidade metodológica de uma coisa e outra! O empenho de Cunhal na discussão sobre o papel social da Arte, da criação cultural, é reflexo desta necessidade de conhecimento objetivo da realidade para poder atuar sobre ela.

É também por isso que ajudou a construir um Partido Comunista Português, cujas opções políticas centrais resultaram, mais do que em muitos outros casos, de uma avaliação própria, autónoma, dos problemas. O Cunhal aclamado pelo movimento comunista internacional nos anos 60 e 70, com a aura de quem protagonizara a fuga de Peniche depois de 11 anos de cadeia e tortura, em defesa de cuja libertação se haviam mobilizado tantos, como Jorge Amado ou Pablo Neruda, que viveu na URSS, na Roménia, em França, nunca se terá deixado, como reconhece o seu biógrafo Pacheco Pereira, fechar na redoma do exílio. O PCP preocupara-se sempre em manter a sua direção no interior do país. Forçado a sair para o exílio um ano depois da sua fuga, Cunhal mostrou bem, ao contrário do que os seus adversários sempre dele disseram, ser dirigente de um partido com cabeça própria relativamente a Moscovo, quer quando rejeitou essa espécie de “transição pacífica” que se deduzira para o caso português da política soviética de “coexistência pacífica” à escala internacional, quer na atuação do PCP na Revolução portuguesa. Confundir a radicalidade política do PCP com “ortodoxia pró-soviética”, como sempre por aí se papagueou, é não querer perceber a diferença de fundo entre as políticas seguidas pela direção soviética e a opção de Cunhal, em 1965, pela “revolução democrática e nacional” como “via para o derrubamento da ditadura fascista”. Só um partido comunista com uma identidade própria podia ter sobrevivido, como sobreviveu, à implosão do modelo soviético.

Comemorou-se Cunhal este ano, como vamos ver o PS, e não só, comemorar Soares em 2024. Pode a direita ter o problema de não ter mais ninguém senão Salazar para comemorar – o que (ainda!) não é fácil. Mas era inevitável comemorar Cunhal num momento desgraçado como aquele que vivemos.



terça-feira, 12 de novembro de 2013

O jardim da Foz do Douro





ALBERTO PINTO NOGUEIRA
12/11/2013

Portugal foi a "ditosa Pátria minha amada" de Luís Vaz de Camões.

De Tomás Ribeiro, "jardim à beira mar plantado".

É um território de alguns milhares de quilómetros quadrados. Um mendigo com a mão direita à frente, a esquerda atrás.

O jardim à beira-mar plantado afogou-se. Ficaram jardins por esse país fora. Um é o do Passeio Alegre. Ou da Foz do Douro. O Rio, ao mergulhar e beijar o mar, tem na margem direita o Passeio Alegre. Aí vive o Jardim da Foz do Douro.

A Foz é de artistas e poetas. Irene Vilar, escultora, Vasco Graça Moura, poeta, Eugénio de Andrade, poeta do Porto e Foz do Douro. Tantos outros. Raul Brandão ali nasceu, filho de pescadores. Foi militar, jornalista, político, homem de letras. Tem um monumento no lado Sul do Jardim da Foz, a curta distância do Douro.

A entrada é um encanto, com dois obeliscos do arquitecto do Porto: Nicolau Nasoni.

O jardim , dos fins do séc. XIX, projectado pelo arquitecto Émile David, estende-se por umas boas centenas de metros, quase até ao castelo de São João da Foz. Os arquitectos da Porto/2001, por sorte, não deram conta dele. Deixaram-no romântico.

É povoado de sonhos: a liberdade do Douro, a perenidade das árvores que tomam conta de tudo. A arte de Nicolau Nasoni.

Muitas árvores centenárias. Tílias, palmeiras, plátanos, ciprestes, açafrões.

José Nogueira, acima dos 80, acomodado num dos bancos de madeira que por ali se oferecem, lê apreensivo a página de obituário do Jornal de Notícias: “… isto são coquinhos, ali mata-bois, estas choupezas. 'Estas' fui eu que as prantei há mais de 60 anos. Aquelas e 'maisaquelas' ninguém sabe o que sejam…”.

E pinheiros. Tão enormes que lá de cima protegem o jardim cá em baixo. Passeiam o olhar pelo mar fora.

Dezenas de bancos de madeira pelas avenidas. Entre as árvores.

Quem vem de Leste, entra pela porta dos obeliscos de Nasoni. A poucos metros, um lago de águas sempre renovadas. Nele, mergulha uma escultura de João Baptista. Do braço direito, brota água que recolhe do lago. Há anos, sem folgas, baptiza Jesus Cristo.

Nas bordas do lago, um edital camarário de apelo sanitário: “Não deixe no chão/aquilo que é do cão”. Distribui saquinhos de plástico.

Uns metros adiante, o coreto. A austeridade, meretriz da tristeza do povo, silenciou-o. Abandonou a música. Só toca no São João.

Mais um lago. Águas em alto repuxo.

Para Oeste, um monumento nacional do séc. XVIII: o Chafariz do Passeio Alegre de Nicolau Nasoni.

Virado ao rio, o campo de minigolfe de pouco mais de 40 anos. Organiza, anualmente, dezenas de campeonatos.

Mais idoso que o jardim, esquinado a Norte, o Chalé Suísso, ou do Passeio Alegre: “… escreve-se à moda antiga, com dois “ss”, assim é que está bem. Pode ver na net", diz D.ª Maria que ali trabalha há anos. Sítio de tertúlias. Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão ali paravam.

A uns dez metros do Douro, imperam dezenas e dezenas de palmeiras, em correnteza paralela ao jardim até ao mar. Entre si, deixam espaços de estacionamento. Os Apartamentos das Palmeiras. Daí se gozava o mar, o casario da margem esquerda, as luzinhas dos barquinhos de pesca de arrasto. Noite dentro, estranhos abalos telúricos estremeciam os carros em recolhimento nas madrugadas do Douro.

Moralista, a Câmara Municipal despejou-os. Apartamentos sem renda!? Proibição de estacionar.

Há um todo harmónico. No jardim, fiada de palmeiras ao longo do rio, barquitos de pesca da Afurada, dezenas de pescadores que aí lançam o anzol. Tudo se harmoniza com o Douro.

Raul Brandão, escritor e voz do Jardim da Foz do Douro, inquire sempre: “Quem fez mal à República?”

Jardim do Passeio Alegre, “à beira-mar plantado”!

Aproximação extrema


12 novembro 2013 De Volkskrant Amesterdão
Aproximação extrema – Bas van der Schot

Cinquenta sombras de negro


Durante muito tempo o populista ingénuo [Geert Wilders] resistiu às tentações da extrema-direita. Até uma mulher imponente e carismática (Marine Le Pen) o ensinar a deixar-se levar e a aceitar os seus desejos mais obscuros.

Muito maroto!

 

A cidade verde vai ter de esperar




12 novembro 2013 Postimees Talin
Os habitantes de Talin não utilizam mais do que antes os transportes públicos, apesar de estes serem gratuitos desde 1 de janeiro. Esta experiência social e ecológica é prejudicada pela falta de antecipação das necessidades dos utentes.
Postimees

 

Limpeza total


11 novembro 2013 International New York Times Paris

Limpeza total – Patrick Chappatte

Intercetámos todos os emails do mundo. Agora tens de separar o lixo!

O caso de espionagem dos europeus pela NSA continua a ter efeitos negativos no Velho Continente: segundo uma sondagem recente, 61% dos alemães considera que já não podemos confiar nos Estados Unidos. “Só a Rússia consegue fazer pior”, realça Die Welt.

A identidade cultural europeia é um diálogo

O oficial francês, interpretado por Pierre Fresnay (à esquerda) e seu homólogo alemão, interpretado por Erich von Stroheim em "A Grande Ilusão" de Jean Renoir (1937).
O oficial francês, interpretado por Pierre Fresnay 


11 novembro 2013 L'Espresso Roma



Em plena Primeira Grande Guerra Mundial, Marcel Proust criou personagens ainda atraídos pela cultura alemã. A prova, segundo o semiólogo Umberto Eco, de que os intercâmbios culturais contribuíram mais que tudo o resto para forjar a Europa de hoje.
Umberto Eco

Quem tem o meu tipo de trabalho empreende esforços ciclópicos para fugir a congressos, simpósios e entrevistas sobre o tema obsessivo da identidade europeia. É um problema antigo, mas que se tornou candente nos últimos anos, quando muitas pessoas negam a sua existência.

É interessante constatar que, entre aqueles que rejeitam uma identidade europeia e gostariam que o continente se fragmentasse em múltiplas pequenas pátrias, muitas vezes militam pessoas com pouca espessura cultural; para lá de uma xenofobia quase congénita, ignoram que, desde 1088, data de surgimento da Universidade de Bolonha, houve clérigos itinerantes [“clerici vagantes”] de vários tipos a viajar de universidade em universidade. De Uppsala [Suécia] a Salerno [Itália], comunicavam na única língua comum que conheciam, o latim. Fica a impressão de que só as pessoas cultas entendem a identidade europeia. É triste, mas é um começo. 


Atmosfera germanófila
A este respeito, gostaria de citar algumas páginas de Temps Retrouvé [O tempo reencontrado, 7º volume de “Em busca do tempo perdido”, edição da Relógio d’Água], de Proust. Estamos em Paris, durante a Primeira Guerra Mundial. À noite, a cidade temia as incursões dos zepelins e a opinião pública atribuía aos abominados “boches” todos os tipos de crueldade. Pois bem, essas páginas de Proust exalam uma atmosfera de germanofilia, evidente nas conversas dos personagens.

Charlus é germanófilo, apesar de a sua admiração pelos alemães parecer menos dependente de identidade cultural do que da sua orientação sexual: “‘A nossa admiração pelos franceses não pode levar-nos a desprezar os nossos inimigos. Não entende como é o soldado alemão, porque não o viu, como eu, desfilar em parada com passo de ganso'. Voltando ao ideal de masculinidade que me esboçara em Balbec [...], comentou: 'Veja bem como é másculo o soldado alemão, um ser forte, saudável, que só pensa na grandeza do seu país, Deutschland über alles’”.
Saint-Loup falava-me de uma melodia de Schumann, citando o título apenas em alemão

Esqueçamos Charlus, embora, já nos seus discursos germanófilos, surjam algumas reminiscências literárias. Falemos antes de Saint-Loup, bravo soldado que irá perder a vida em combate. “[Saint-Loup] para me fazer entender certos contrastes de luz e sombra que tinham sido ‘o feitiço da sua manhã’ [...], não hesitou em aludir a páginas de Romain Rolland ou mesmo de Nietzsche, com a liberdade das pessoas que estavam nas trincheiras e que, ao contrário das da retaguarda, não tinham medo de pronunciar um nome alemão [...]. Saint-Loup falava-me de uma melodia de Schumann, citando o título apenas em alemão, e não se punha com circunlóquios para contar que, quando de madrugada tinha ouvido o primeiro chilrear na orla de uma floresta, se sentiu embriagado, como se a ave lhe tivesse falado do ‘sublime Siegfried' que esperava voltar a ouvir passada a guerra.” 


Nada que uma guerra possa apagar

Ou ainda: “Soube, de facto, da morte de Robert de Saint-Loup, morto dois dias depois do seu regresso à frente de batalha, ao proteger a retirada dos seus homens. Nunca alguém teve menos ódio a um povo do que ele [...]. As últimas palavras que ouvi da sua boca, seis dias antes, eram as do início de um ‘lied’ de Schumann, que cantarolava na escada de minha casa, em alemão, a ponto de, receando os vizinhos, o ter mandado calar”.
A cultura francesa continuava a estudar a cultura alemã, embora com algumas precauções

E Proust apressava-se a acrescentar que, mesmo naquele momento, toda a cultura francesa continuava a estudar a cultura alemã, embora com algumas precauções: ”Um professor escreveu um livro notável sobre Schiller, com recensão nos jornais. Mas antes de falar sobre o livro, escrevia-se sobre o autor, como se de uma licença para imprimir se tratasse, que tinha estado no Marne, em Verdun, tinha recebido cinco comendas e tido dois filhos mortos. Feito isso, elogiava-se a clareza e profundidade da sua obra sobre Schiller, que podia qualificar-se como grande, desde que se dissesse, em vez de 'esse grande alemão', ‘esse grande boche’”.

Eis o que está por trás da identidade cultural europeia: um longo diálogo entre literaturas, filosofias, obras musicais e teatrais. Nada que uma guerra possa apagar. E é nessa identidade que se alicerça uma comunidade que resiste à maior das barreiras, a da língua.

Três homens sob as luzes dos projetores


Três homens sob as luzes dos projetores – Peter Brookes


8
novembro 2013 The Times Londres
Exercício completo de cosmética...

Numa audição televisiva sem precedentes sobre a implicação dos serviços secretos nas escutas realizadas pelos Estados Unidos na Europa, a 7 de novembro, os chefes das três agências de espionagem britânicas – GCHQ, M16 e M15 – declararam perante uma comissão parlamentar que as “revelações de Edward Snowden causaram muitos danos. Colocaram operações em perigo. Não há dúvida de que os nossos inimigos esfregam as mãos de contentes".

O diário britânico The Guardian adianta que também insistiram sobre o facto de que não investigaram “correios nem chamadas inocentes”. Precisam simplesmente de aceder a um “enorme palheiro”, para encontrar as agulhas.

 

“O que é que deu ao BCE?”




8 novembro 2013
Presseurop Die Presse, Süddeutsche Zeitung, Il Sole-24 Ore & 2 outros


No dia 7 de novembro, o Banco Central Europeu provocou uma grande surpresa ao baixar um quarto de ponto a sua taxa de referência, colocando-a no seu nível mais baixo de sempre, 0,25%. Uma decisão que ninguém esperava mas que toda a gente agradece, realça a imprensa europeia.

Os populistas não são o verdadeiro problema




8 novembro 2013 La Repubblica Roma
Rotular de populistas e reacionários todos os movimentos de protesto que vão surgindo só serve para contornar as raízes do problema. A União Europeia, tal como se apresenta hoje, não está ameaçada pela ira dos seus cidadãos, mas pela relutância dos governos em delegar-lhes a soberania.
Barbara Spinelli

 

À carga!


À carga! – Michael Kountouris


7 novembro 2013 Eleftheros Typos Atenas

Na noite de 6 para 7 de novembro, uma centena de polícias antimotim investiu contra a sede da radiotelevisão pública grega ERT, nos arredores a norte de Atenas, para expulsar os jornalistas que a ocupavam desde junho passado, quando o Governo decidiu fechá-la abruptamente. Desde então, os jornalistas asseguram os boletins noticiosos e os debates políticos pela Internet e divulgam-nos nas redes sociais.

“Alguns colegas da ERT continuam a revoltar-se na Internet mesmo depois da evacuação, a partir da rua e em frente aos polícias antimotim”, noticia o jornal I Kathimerini.

Por seu lado, o Governo, que deverá lançar brevemente a NERIT, um novo meio audiovisual público, parece determinado a ir até ao fim, e isto a escassas semanas do início da presidência rotativa grega da União Europeia, a 1 de janeiro.

 

A meio do canal

O primeiro-ministro sérvio Ivica Dačić.
O primeiro-ministro sérvio Ivica Dačić.



7 novembro 2013 Libération Paris

No início de 2014, Belgrado iniciará negociações de adesão à UE. Este objetivo, desejado pelas autoridades, continua a ser contestado pela sociedade. Mas o argumento económico poderá ser um dos mais fortes.
Hélène Despic-Popovic

No momento em que, na sala de jantar da residência oficial do Governo, as conversas corteses entre os convidados começam a esmorecer, o homem faz sinal aos músicos, agarra no microfone e canta algumas canções do folclore cigano. O cantor é nada mais nada menos que o primeiro-ministro, Ivica Dačić. Desde que, no ano passado, acompanhou vocalmente a orquestra do cineasta Emir Kusturica, em Bruxelas, no decorrer de um fórum destinado a promover o investimento estrangeiro na Sérvia, Dačić passou a contemplar os seus convidados com este espetáculo.

Ivica Dačić não para de cantar, porque estão sempre a chegar delegações ao seu país – que, em janeiro, vai iniciar as negociações sobre a adesão à União Europeia. Um processo pleno de obstáculos, porque, segundo novas regras, cada novo alargamento pode ser submetido a referendo nos países que já são membros da UE. E isso pode revelar-se mais do que uma simples formalidade, no caso de um país com uma imagem tão infausta como a da Sérvia, que, quinze anos depois das guerras que se seguiram ao desmembramento da antiga Jugoslávia, continua a ser associado aos crimes de guerra na Bósnia e no Kosovo e à arrogância do regime de Slobodan Milošević.
Acordo doloroso
O chefe do Governo, Dačić, de 47 anos, era o porta-voz do partido de Milošević

Regressados ao “business as usual”, os herdeiros de “Slobo” sabem bem que é preciso virar a página. No fim dos anos de 1990, o chefe do Governo, Dačić, de 47 anos, era o porta-voz do partido de Milošević. No entanto, foi ele quem deu o passo de visitar Sarajevo, a capital da Bósnia-Herzegovina. Foi também ele – o primeiro do seu país – a apertar a mão ao antigo guerrilheiro kosovar Hashim Thaçi, seu homólogo à frente dos destinos de um Kosovo que a Sérvia não reconhece, mas com o qual aceita falar, para abrir o caminho para a União Europeia. Em abril, os dois homens assinaram um acordo sobre a normalização das relações entre Belgrado e Pristina, cuja componente mais dolorosa diz respeito ao abandono das estruturas paralelas financiadas por Belgrado, que sustentam a minoria sérvia do Kosovo, em proveito de uma associação de municípios sérvios, uma espécie de autonomia velada no seio das instituições kosovares.

Foi assim que [em 3 de novembro] os sérvios, encorajados pela primeira vez por Belgrado, participaram nas eleições municipais em todo o Kosovo. Apesar dos incidentes nas assembleias de voto, no norte da cidade dividida de Mitrovica, onde o escrutínio teve de ser suspenso, a UE está disposta a considerar que o Governo sérvio cumpriu a sua parte. “É absolutamente claro que Belgrado fez todos os possíveis para que estas eleições fossem bem organizadas e para que houvesse uma participação sólida”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Carl Bildt.

Na Sérvia, o desejo de entrar na Europa caminha a par da necessidade de entrar na Europa e conquistou até o coração de antigos nacionalistas, como o vice-primeiro-ministro, Aleksandar Vučić, atual presidente do SNS (Partido Progressista Sérvio), de 43 anos, que foi igualmente membro do Governo na época de Milošević. “Cerca de 70% dos nossos militantes são agora pró-europeus”, admite agora Vučić, que, quando, em junho de 2012, o seu partido entrou para o Governo, em coligação com os socialistas de Dačić, tinha afirmado que esse número era apenas 50%.
Conversão das mentes

Resta saber se esta conversão das mentes será acompanhada pela conversão dos corações. A proibição de uma Gay Pride, no mês passado, a pretexto de que esta poderia ser alvo do ataque de extremistas, mostra os limites da pacificação. “Nada foi resolvido e as coisas estão só suspensas”, comenta com amargura Radomir Diklic, um dos fundadores da agência noticiosa independente Beta.
A Sérvia quer mostrar que tem alguma coisa a oferecer à Europa

Hoje, a Sérvia quer mostrar que tem alguma coisa a oferecer à Europa. E essa alguma coisa é uma mão de obra, não barata, como a disponibilizada pela Bulgária e pela Roménia, mas educada, formada por universidades relativamente bem classificadas na lista de Xangai. Não foi por acaso que a Microsoft abriu um centro de investigação na capital sérvia, que emprega 150 jovens investigadores, todos eles vencedores de prémios de excelência em matemática, engenheiros e licenciados em informática. A empresa norte-americana Ball Packaging também abriu recentemente ali uma fábrica automatizada de produção de embalagens, dirigida por um jovem engenheiro sérvio, e envia milhões de bebidas para a Rússia, que assinou um acordo de comércio livre com a Sérvia.

Por último, a empresa norueguesa de telecomunicações Telenor decidiu também investir fortemente em Belgrado, devido à “sua mão de obra muito qualificada”. “O Governo quer fazer acreditar que a Sérvia se tornou um país moderno”, diz Radomir Diklic. “Mas Belgrado não é a Sérvia. O resto da economia está devastada. Quando fecha uma fábrica, os engenheiros partem e os professores vão atrás deles. E as escolas perdem qualidade.”

Kosovo
A paz com Belgrado, uma pedra no sapato para a máfia

“A normalização da situação entre as comunidades sérvias do Kosovo e o Governo de Pristina incomoda sobretudo a máfia”, realça em Praga o Lidové noviny, que considera que a criminalidade organizada “converteu o norte do Kosovo num eldorado sem leis, tirando partido do contrabando entre a Sérvia e o Kosovo”. Originários do meio nacionalista sérvio, que rejeita qualquer negociação sobre o estatuto do Kosovo, certos traficantes exploram a ausência de IVA nos bens importados da Sérvia para as regiões sérvias do Kosovo para os revender em seguida no mercado kosovar explica o jornal, que estima que


no norte do Kosovo, o patriotismo passou apenas a servir – tal como no resto dos Balcãs – de pretexto para os interesses económicos da criminalidade organizada.

Os patrões


Os patrões – Puiu Găzdaru


6 novembro 2013 Jurnalul Naţional Bucareste

Personagens à esquerda:

Nós somos romenos, nós somos romenos!!

UE e FMI:

Nós somos os donos disto tudo

Durante a última visita a Bucareste, a 5 de novembro, a delegação do Fundo Monetário internacional (FMI), exigiu novas medidas de austeridade ao Governo romeno, no quadro do reembolso do empréstimo de 13 mil milhões de euros concedido em 2009.

Entre as novas medidas estão o aumento do preço dos combustíveis bem como a subida de alguns impostos sobre os imóveis.

 

Ninguém ouve

5 novembro 2013 I Kathimerini Atenas


Ninguém ouve – Ilias Makris

Socorro!

A 5 de novembro chegou a Atenas uma missão da troika (UE-BCE-FMI) para se encontrar com o ministro grego das Finanças, Yannis Stournaras. A reunião girou em volta da questão do défice orçamental para 2014 e os meios para o remediar.

Enquanto a troika prevê um défice de dois mil milhões de euros, o Governo grego conta apresentar um orçamento para 2014 baseado num défice primário (sem o encargo da dívida) de 500 milhões de euros. Esta diferença de apreciação poderá comprometer o desbloqueamento de uma nova tranche de ajuda internacional à Grécia.

 

Baratos e sempre disponíveis




5 novembro 2013 Trouw Amesterdão

A exploração dos trabalhadores da Europa central e oriental não diz apenas respeito aos campos de tulipas: também é possível encontrar, nos serviços, checos e polacos mal pagos, alojados em condições precárias e que trabalham até 20 horas por dia com contratos duvidosos. Mas as agências de trabalho temporário que os empregam afirmam agir de boa-fé. Excertos.
Maaike Bos

Um miniautocarro branco da agência de trabalho temporário Werk & Ik está estacionado em frente a uma fila de garagens numa zona industrial de Osdorp [um bairro de Amesterdão]. Uma delas serve de habitação para a mão-de-obra temporária checa da Werk & Ik.

Uma mulher mostra os quartos: cinco divisões feitas de painéis de madeira, com camas em beliche. Uma lâmpada de néon ilumina a totalidade do local, incluindo o espaço onde as pessoas querem dormir. Não há janelas nem ventilação. “Segundo determinadas estimativas, cerca de 100 mil checos, polacos e outras pessoas oriundas da Europa central e oriental trabalham neste tipo de condições na Holanda.
Sem subsídio de férias

A Werk & Ik – cujo volume de negócios atinge os 12 milhões de euros – trabalha de bom grado com checos, sobretudo em Schiphol, onde limpam aviões e tratam das malas. Serão os trabalhadores temporários suficientemente bem pagos pelo seu trabalho? Não, segundo George, estudante e agente de limpeza. Henry Stroek, responsável do sindicato nacional CNV, salienta o facto de que George não recebeu nenhum subsídio de férias em 2012. Ou seja, 16,3% do salário nunca é pago. “É muito dinheiro, sobretudo quando a pessoa ganha o salário mínimo”, realça Stroek. Ivan Karels, diretor e proprietário da agência de trabalho temporário, admite que vários checos não chegaram a receber o subsídio de férias. “Foi algo que nos escapou. Agora prestamos mais atenção.”
Um vencimento líquido de cinco euros à hora, independentemente da idade

A Werk & Ik promete, no seu site de recrutamento em checo Werkczeck.cz, um vencimento líquido de cinco euros à hora, independentemente da idade. Segundo Stroek, as folhas de remuneração de George indicam que, durante um ano, o salário bruto prometido foi pago, com as horas extras correspondentes ao trabalho em horário de serão e noturno, mas no ano seguinte não.
Sem folhas de remuneração

O conselheiro da agência de trabalho temporário, Rewiesh Jibodh, que traz os checos para a Holanda e trata da planificação do trabalho, tem uma explicação: “É óbvio que as horas não correspondem sempre. Quando alguém fica doente e a pessoa que o substitui não consta na lista, as horas de trabalho podem ser atribuídas ao trabalhador doente. Mas acabamos sempre por corrigir estes erros.”

Também há outro problema, os trabalhadores temporários não recebem as suas folhas de remuneração, apesar de ser uma obrigação legal. George só as recebeu recentemente, pouco antes de deixar a Holanda, quando ameaçou recorrer a um advogado. “Acabam por perdê-las ou deitá-las fora”, diz Jibodh. “Só gastamos dinheiro em papel. Não vejo qual é o interesse.” As folhas de remuneração deveriam estar disponíveis online, mas os trabalhadores temporários entrevistados não receberam nenhum nome de utilizador nem palavra passe. Uma vez mais, foi algo que lhes escapou, admite Karels.
Despesas de alojamento deduzidas
Na época alta, no verão, os checos pagam entre 120 e 150 euros por semana por uma cama num beliche numa garagem

A Werk & Ik também deduz certos custos. Por exemplo, a agência retém quantias no salário por danos causados, mesmo quando as pessoas não têm culpa. Mas nada se compara ao que cobram pelo alojamento: 2,50 euros por hora de trabalho, especifica o contrato. Na época alta, no verão, os checos pagam entre 120 e 150 euros por semana por uma cama num beliche numa garagem, que segundo o município de Amesterdão não é próprio para habitação. Na segunda-feira passada, foram enviados inspetores para o local que acabaram por evacuar as pessoas. “Muito perigoso”, adiantava o relatório, que utilizou o termo “exploração”.

“Cumprimos as normas em vigor em termos de alojamento. Nas garagens, não é o caso, não vou negar o contrário. Mas foram os jovens que pediram para morar lá. Tenho alojamentos suficientes para todos, mas continuam inabitados”, diz Ivan Karels.

“Um empregador não pode cobrar mais de 68 euros por semana por um alojamento, quando a pessoa em questão ganha o salário mínimo. O que a Werk & Ik faz equivale a roubar”, diz num tom revoltado Stroek, do CNV.

“Ao realizar estas deduções, ficámos de facto em falta”, responde Karels. “Mas não tínhamos más intenções. Sou um simples empreendedor que trabalha arduamente e procura crescer rapidamente. Há sempre inconvenientes ligados ao crescimento. Vamos resolver os problemas de toda a gente.” Este afirma, no entanto, que os montantes também cobrem outros custos: a energia, a água, a Internet e a carrinha que os leva e traz do trabalho.
Um dia de folga por mês

Também se verificam deslizes no que diz respeito às horas de trabalho legais. Analisemos, por exemplo, o horário de trabalho de Pavel, o condutor da carrinha, que durante mais de um ano transportou outros checos para o seu local de trabalho. O seu dia de trabalho durava facilmente vinte horas. Quanto a George, o agente de limpeza, descobriu-se com base nos seus mapas de serviço que, durante o mês de agosto, só teve um dia de folga.

Depois de um dia de trabalho, um agente de limpeza tem direito a dez horas de descanso sem interrupção, e após uma semana, a 36 horas, segundo a lei.
Um ano de serviço noturno

Também é algo que Karels admite: “Em certos casos, não prestamos suficientemente atenção”. Jibodh, o diretor da agência, explica que a sua empresa só pensava em responder aos pedidos dos trabalhadores. “Os checos suplicam para trabalhar mais”, diz ele. “Pergunto-lhes sempre se querem efetuar um serviço adicional.” No entanto, quando um colega de George pediu, depois de passar um ano a efetuar serviços diurnos e noturnos, se podia ter outros horários, responderam-lhe: “Queres regressar ao teu país? É só pedir”.

Por incrível que pareça, a Werk & Ik, que tem como clientes regulares grandes empresas, como a KLM, é detentora de um certificado da Stichting Normering Arbeid (Fundação para a normalização do trabalho). Esta última garante o cumprimento dos salários mínimos legais. Em maio de 2013, a agência de trabalho temporário chegou mesmo a obter a renovação do seu certificado.

 

A ilha dos espiões




5 novembro 2013 Süddeutsche Zeitung Munique


Por causa da sua situação estratégica, Chipre é desde há muito tempo um importante local de espionagem. É a partir dali que, atualmente, agentes britânicos e americanos, disfarçados de turistas, intercetam as comunicações entre o Médio Oriente e a Europa. Uma investigação baseada nos documentos de Edward Snowden.
John Goetz | Frederick Obermeier | Nicky Hager

 

Potência atómica


Potência atómica – Bojesen



4 novembro 2013 Jyllands-Posten Aarhus

O Parlamento da Gronelândia [ilha cuja bandeira é vermelha e branca] votou, a 24 de outubro, uma autorização de extração de urânio do solo. “Não podemos aceitar que o desemprego e o custo de vida aumentem ao mesmo tempo que a nossa economia não mexe”, disse o primeiro-ministro social-democrata Aleqa Hammond, segundo o diário dinamarquês Politiken.

A questão suscitou um aceso debate na ilha, que quebra assim a moratória que tinha imposto a si própria há 25 anos. A decisão provoca, igualmente, uma polémica com a Dinamarca: a potência tutelar, que continua a controlar a política externa e de segurança, e que defende que também tem uma palavra a dizer sobre uma eventual exploração do urânio, por causa do seu papel estratégico.

 

Os mercados do poder


31 outubro 2013 Neues Deutschland Berlim
Os mercados do poder – Rainer Hachfeld

Segundo a última classificação das pessoas mais poderosas do mundo, publicada pela revista norte-americana Forbes, o Presidente russo, Vladimir Putin, passou a ser mais poderoso que o seu homólogo americano Barack Obama. Os dois chefes de Estado suplantam o Presidente chinês Xi Jinping e o Papa Francisco.

A chanceler alemã Angela Merkel surge na quinta posição e é a primeira europeia. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, está em nono lugar. O primeiro-ministro britânico David Cameron está no décimo primeiro lugar e o Presidente francês François Hollande ocupa a décima nona posição. Nenhum outro europeu figura entre os 30 primeiros.

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Contas erradas para Geert Wilders


30 outubro 2013 De Groene Amsterdammer Amesterdão
Contas erradas para Geert Wilders  – Joep Bertrams

“Transparência”

Geert Wilders

O tesoureiro do Partido da Liberdade (PVV), Louis Bontes, foi excluído do seu grupo parlamentar no dia 29 de outubro. Este acusou a sua formação política de ter utilizado para fins não regulamentares o financiamento público destinado ao trabalho parlamentar e criticou a gestão autoritária do seu líder Geert Wilders.

Com a saída deste deputado, o PVV deixou de ser a terceira formação representada no Parlamento.

 

O “momento Sputnik” da Europa




30 outubro 2013 Cicero Berlim

Para além da indignação, o escândalo das escutas norte-americanas deve funcionar como um propulsor para os europeus. Tal como o primeiro satélite soviético empurrou os norte-americanos para a exploração do espaço, estas revelações devem motivá-los a recuperar o atraso em matéria de tecnologias da informação.
Cicero

Edward Snowden já conquistou o prémio de “integridade no trabalho” deste ano. Ora, para ficar à altura, o Ministério da Economia alemão deveria atribuir igualmente um prémio ao desertor da NSA, por este ter dado um impulso ao setor alemão das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). Na verdade, nos últimos anos, nenhum empresário, nenhum cientista nem nenhum responsável político conseguiu relançar tão eficazmente os intervenientes alemães e europeus no setor das TIC, como Edward Snowden, com as suas revelações sobre os serviços secretos norte-americanos e britânicos.

No entanto, na cena política de Berlim, a alegria é comedida, por diversas razões. Porque, ao mesmo tempo que o caso das escutas da NSA está a fomentar de forma inesperada a procura de programas de codificação alemães, a política alemã encontra-se em estado de choque: as revelações de Edward Snowden constituíram a prova definitiva de que a Europa não era capaz de proteger eficazmente os dados pessoais dos seus cidadãos e de que nem sequer era competitiva em matéria de TIC. O material, o software, as linhas e os serviços de Internet provêm fundamentalmente de grupos norte-americanos – ou chineses. A infraestrutura da Rede é também dominada pelos Estados Unidos, onde se encontra concentrada a maioria dos principais servidores. A Alemanha e os outros Estados-membros da UE são, quando muito, “colónias digitais”.
A última oportunidade para a Europa
A situação atual faz lembrar o choque que o Sputnik representou para os Estados Unidos, em 1957, quando os russos se tornaram os primeiros a lançar um satélite no espaço

No entanto, até agora, tem sido quase sempre esquecido que, à margem do romance de espionagem, no qual é o personagem principal, Edward Snowden também fomentou a concorrência transatlântica em torno das quotas de mercado do setor das TIC. O escândalo das escutas da NSA constitui sem dúvida a última oportunidade que a Europa tem de recuperar o atraso em relação aos norte-americanos, que levam um avanço considerável. A situação atual faz lembrar o choque que o Sputnik representou para os Estados Unidos, em 1957, quando os russos se tornaram os primeiros a lançar um satélite no espaço. Os norte-americanos começaram por ficar consternados, mas, em seguida, fizeram tudo para passarem a ocupar a posição número um na navegação espacial e acabaram por ser os primeiros a enviar um homem à Lua.

O estado atual das coisas é comparável – e a Europa deve fazer tudo para não ser definitivamente ultrapassada na corrida às tecnologias estratégicas. “Estamos dependentes das empresas norte-americanas das TIC. Foi preciso um escândalo desta amplitude para tomarmos consciência disso”, lamenta Octave Klaba, administrador do grupo francês OHV, que fornece servidores Cloud, nos quais indivíduos e empresas podem armazenar os seus dados na Internet.

No entanto, os sinais de alarme eram muitos: desde 2011 que o Governo francês insistia na necessidade de resistência europeia, tendo em conta a importância estratégica das TIC. A França subsidia a criação de uma oferta própria de servidores até ao montante de 200 milhões de euros. Uma ninharia, é certo, em comparação com os milhares de milhões investidos por gigantes da Internet como a Microsoft, a Amazon e a Google. Mas, graças a Edward Snowden, a comissária europeia competente, Neelie Kroes, sente que os ventos são agora favoráveis aos seus projetos, que consistem mobilizar receitas fiscais para incentivar o setor europeu das TIC e para dotar a UE de uma infraestrutura europeia. A Comissão está a estudar a possibilidade de ir buscar alguns milhares de milhões aos fundos estruturais europeus e de os atribuir à concretização desse objetivo.
Inversão da posição alemã

Até agora, a Alemanha, que deveria desempenhar um papel decisivo nesta tendência, tem sobretudo levantado obstáculos, porque, tradicionalmente, o Governo de Berlim encara com ceticismo as iniciativas políticas de Paris para o setor industrial. No entanto, parece desenhar-se no horizonte uma inversão da posição alemã. Na inauguração da Hannover Messe [salão industrial de Hannover], em abril, Angela Merkel declarou que a Europa, e sobretudo a Alemanha, deviam reconquistar o seu lugar de líder mundial, através da “indústria 4.0”, isto é, da fusão da produção com as TIC. A sacudidela provocada pelas escutas do telemóvel de Angela Merkel pela NSA constitui hoje um estímulo emocional para impor as decisões políticas necessárias.
Nos próprios Estados Unidos, o debate sobre as repercussões das revelações de Edward Snowden sobre a economia está no auge

Nos próprios Estados Unidos, o debate sobre as repercussões das revelações de Edward Snowden sobre a economia está no auge. Um estudo do think-tank independente ITIF, de Washington, indica que a posição dominante dos gigantes norte-americanos no desenvolvimento das capacidades mundiais de alojamento Cloud se encontra ameaçada: os especialistas do ITIF apontam para uma queda do volume de negócios desses gigantes da ordem dos 22 a 35 mil milhões de dólares, nos próximos três anos, devido à perda de confiança que o caso induziu. No congresso do setor em Talin, a comissária europeia Neelie Kroes permitiu-se o prazer de deitar sal na ferida: “Uma vez que não podem ter confiança no Governo norte-americano nem nas suas promessas, talvez os clientes europeus de serviços Cloud deixem também de ter confiança nos fornecedores norte-americanos desses serviços”. Por outras palavras: a redistribuição dos 22 a 35 mil milhões de volume de negócios [perdidos pelos norte-americanos] poderá dar asas às empresas alemãs e europeias de serviços Cloud, levando-as a investir fortemente num mercado que já consideravam perdido.

Assiste-se, portanto, ao aparecimento de um discurso curioso, em contracorrente do da globalização, que até agora imperava: os fornecedores de serviços Cloud franceses, como o grupo de telecomunicações SFR, fazem publicidade, afirmando que é em França que os dados franceses estão mais seguros. E os concorrentes do outro lado do Reno seguem-lhes as pisadas. Segundo as sondagens, mais de metade das PME alemãs desejam armazenar os seus dados exclusivamente em empresas alemãs – quando estas ainda utilizam serviços Cloud.

A clareza ou a revolta, Hollande deve escolher




30 outubro 2013 Slate.fr Paris


Com uma fraca posição nas sondagens, criticado pela esquerda e pela direita e a enfrentar uma forte vaga de protestos sociais, o Presidente francês está encostado à parede. A sua única saída é “desmarxizar” finalmente a esquerda, considera um editorialista. Excertos.
Eric Le Boucher

 

Urso mal encarado


29 outubro 2013 Trouw Amesterdão

Urso mal encarado – Tom Janssen
Prefiro os ursos polares

Os 30 ativistas da organização ecologista Greenpeace presos pelas autoridades russas no dia 18 de setembro estão detidos na prisão de Murmansk, onde têm medo de “apodrecer”.

Os prisioneiros, entre os quais 14 cidadãos da União Europeia, são agora acusados de “delinquência”, após terem sido processados por pirataria na sequência da inspeção do navio com bandeira holandesa, o Artic Sunrise.

 


A estratégia de Merkel para reformar a Europa

No vestido: "Alemanha". Na bandeirola: "UE".
No vestido: "Alemanha". Na bandeirola: "UE".



29 outubro 2013 Der Spiegel Hamburgo


A chanceler parece estar finalmente pronta para assumir o seu poder assim como as suas responsabilidades na Europa. Mas uma vez que os seus projetos de reformas vão no sentido dos sociais-democratas, Merkel precisa de um aliado: o presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz. Excertos.
Christoph Pauly | Christian Reiermann | Michael Sauga | Peter Müller | Christoph Schult

 


Vistos para o comércio livre


Vistos para o comércio livre – Vali Ivan


28 outubro 2013 Adevărul Bucareste


Ouve lá, se não eliminares os vistos para os romenos, vou exigir-te visto para entrar na Europa…

O ministro romeno dos Negócios Estrangeiros, Titus Corlăţean, avisou que o seu país poderá não ratificar o acordo de comércio livre assinado entre a União Europeia e o Canadá.

Bucareste exige a Otava que suprima os vistos para os cidadãos romenos que queiram entrar no Canadá, concessão que a República Checa conseguiu em meados de outubro. A recusa romena de ratificação bloqueará a entrada em vigor do acordo, que tem de ser ratificado pelos 28 membros da UE.

 


Escapar ao círculo vicioso




28 outubro 2013 Polityka Varsóvia


O reforço dos controlos nas fronteiras europeias não dissuade os emigrantes e beneficia os passadores. A melhor estratégia seria atacar a raiz do fenómeno – a pobreza nos países de origem dos imigrantes.
Łukasz Wójcik

 


A verdadeira crise de confiança transatlântica


O aliado está à escuta. Campanha de sensibilização europeia.


28 outubro 2013 Il Sole-24 Ore Milão


Na perspetiva da Europa, o escândalo de espionagem da NSA está a desgastar a credibilidade e a posição dos Estados Unidos. Mas, do outro lado do Atlântico, é a persistente incapacidade da UE de solucionar a crise que está a preocupar os decisores norte-americanos.
Alessandro Plateroti

 


Muito smart phone


Muito smart phone – Christo Komarnitski


25 outubro 2013 Sega Sófia

“O novo UE-Phone”

As últimas revelações do antigo colaborador da NSA americana, Edward Snowden, indicam que Washington espiava bastante os seus aliados europeus, a começar por Angela Merkel e François Hollande.

Marcaram o Conselho Europeu dos dias 24 e 25 de outubro, durante o qual os líderes europeus publicaram uma declaração comum sobre a espionagem que realça a “intenção da França e da Alemanha de iniciar discussões bilaterais com os Estados Unidos para chegar, até ao final do ano, a um acordo sobre as suas relações mútuas nesta área”.

 


Avistamentos de objetos políticos não identificados


25 outubro 2013 Hospodářské noviny Praga



O dedo médio desenhado pelo artista checo David Černý para o Castelo de Praga, a sede da presidência, por ocasião das eleições legislativas antecipadas.
O dedo médio desenhado pelo artista checo David Černý para o Castelo de Praga, a sede da presidência, por ocasião das eleições legislativas antecipadas

 


Política comum da avestruz


24 outubro 2013 Cicero Berlim


Política comum da avestruz – Heiko Sakurai
Um continente de imigração? Não o somos.

No pedestal: “Política comum europeia para os refugiados”

O Conselho Europeu que se realizou hoje, 24 de outubro, em Bruxelas devia abordar, entre outras coisas, a questão da imigração. Por iniciativa da Itália, as conclusões provisórias da reunião dos chefes de Governo mencionam uma “repartição justa das responsabilidades” entre os países-membros, de forma a travar as pressões migratórias provenientes de países terceiros.

O texto é apoiado pelos outros países que também são diretamente afetados pelo problema: Bulgária, Chipre, Espanha, França, Grécia e Malta. Também prevê que uma task force ad hoc identifique as ações concretas para lutar contra a imigração clandestina e evitar outras tragédias no mar, assim como uma maior colaboração com os países de origem dos imigrante

Europa unida no fracasso




24 outubro 2013 Il Sole-24 Ore Milão


Segundo a Agência Europeia do Ambiente, nenhum país da UE atingirá os objetivos fixados para 2020 em termos de energia verde e de emissões. Enquanto alguns consideram que se colocou demasiado alto a fasquia, outros afirmam que os progressos, embora limitados, constituem, por si só, um passo em frente.
Federico Rendina

 


De braços abertos


De braços abertos – Christo Komarnitski


23 outubro 2013 Sega Sófia

No pedestal: “Bem-vindo à Bulgária”

No cartaz: “Segurança nacional”

No ar: “Nem mesmo um pássaro conseguiria sobrevoá-lo”

A comissária europeia da Ajuda Humanitária Kristalina Guéorguiéva (no pedestal) anunciou a 22 de outubro que a Comissão Europeia iria responder ao pedido de ajuda apresentado pela Bulgária para enfrentar o afluxo maciço de refugiados sírios.

Numa altura em que os campos de acolhimento atingiram o seu limite máximo, o Presidente da República, Rossen Plevneliev (à esquerda do muro) criticou a ação do Governo face à crise dos refugiados, enquanto o chefe do partido ultranacionalista Ataka, Volen Sidérov, (à direita) afirmou que poderia retirar o seu apoio ao executivo caso este não fizesse nada para travar a “islamização” da Bulgária
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Cabe à Europa criar uma Web 3.0 responsável


No impermeável: espionagem na Internet.


23 outubro 2013 Le Monde Paris


Depois das escutas da NSA e da recolha maciça de dados de utilizadores pelos gigantes da Internet, cabe à UE lançar as bases do futuro da Web. É a única entidade que pode garantir um ambiente “responsável e comum” onde cada um geraria as informações que lhe dizem respeito, estima um filósofo francês.
Eric Sadin

 


Peep show


22 outubro 2013 Diario Siglo XXI Valência



Peep show – Martirena
LeMonde continua a revelar informações sobre a espionagem da França pela NSA. Os documentos divulgados pelo antigo agente da Agência Nacional de Segurança Americana (NSA) Edward Snowden “descrevem a utilização generalizada pela NSA de técnicas de escuta eletrónicas para espiar os interesses diplomáticos franceses na ONU em Nova Iorque, assim como em Washington”, escreve o diário.

O Governo francês convocou o embaixador dos Estados Unidos em França para lhe pedir “explicações”, enquanto o Presidente François Hollande telefonou ao seu homólogo americano, Barack Obama, para denunciar “práticas inaceitáveis entre aliados”.

Na Itália, o Comité Parlamentar de controlo sobre os serviços secretos afirmou que as comunicações dos cidadãos italianos também estão a ser controladas pela NSA.

 


As elites económicas suportam o euro




22 outubro 2013 De Volkskrant Amesterdão
Os partidos antieuro poderão ter mais força que nunca no próximo Parlamento Europeu. Mas, se não começarem a trabalhar de forma concertada, talvez não venham a pôr em causa a moeda única, suportada pelas elites económicas europeias, unidas em torno de um interesse comum. Excertos.
Meindert Fennema

 


“A forma mais barata” de reduzir as emissões de CO2




22 outubro 2013
Presseurop The Daily Telegraph, Financial Times, The Times & 4 outros


Enquanto a Alemanha e a França tentam diminuir a sua dependência da energia nuclear, o Reino Unido anunciou que ia construir a sua primeira central nuclear dos últimos 20 anos. Uma opção arriscada, mas com razões económicas claras, escreve a imprensa europeia.

Primeira pedra


Primeira pedra – Paresh Nath


21 outubro 2013 Khaleej Times Dubai

“União bancária europeia”

Estamos elevados, agora, graças à nossa primeira pedra

O Banco Central Europeu anunciou que revelará, a 23 de outubro, "os critérios pelos quais irá avaliar o estado de saúde dos principais bancos da zona euro", informa Les Echos.

Estes testes, "que poderão pôr a nu fraquezas difíceis de colmatar, numa altura em que a zona euro ainda não dispõe de um mecanismo comum de recapitalização das instituições mais frágeis", são cruciais para restaurar a confiança no sistema bancário europeu, motor de uma "retoma económica sólida e duradoura", acrescenta o diário.

 


Comboio de alta velocidade avança a passo de caracol




21 outubro 2013 The Economist Londres
Uma ferrovia de alta velocidade que ligasse a Lituânia, a Letónia e a Estónia poderia revitalizar a economia da Europa de Leste, reforçando os seus laços à UE e reduzindo a sua dependência da Rússia. Em vez disso, o projeto Rail Baltica vai arrastando os pés, minado por divergências entre os três vizinhos.
The Economist

 


A Europa pode vir também a enfrentar um shutdown




21 outubro 2013 The Guardian Londres



Os europeus ficaram estupefactos e consternados com o impasse que quase levou o Governo dos EUA ao incumprimento da dívida. Mas se os partidos anti-UE tiverem bons resultados nas próximas eleições europeias, a União poderá deparar-se com uma situação semelhante, alerta um politólogo alemão.
Jan-Werner Müller

 


Sem fundos


Sem fundos – Vangelis Papavassiliou


18 outubro 2013 Eleftherotypia Atenas
Os deputados da coligação conservadora-socialista no poder em Atenas e o Syriza, o principal partido da oposição de esquerda, chegaram a acordo sobre a apresentação de uma proposta de lei que suprime o financiamento público dos partidos políticos cujos dirigentes sejam acusados de crimes graves.

Para I Kathimerini, trata-se de “mais um passo com o objetivo de travar a atividade do partido de extrema-direita Alvorada Dourada, no centro de uma extensa investigação criminal” após o assassinato, em meados de setembro, do cantor Pavlos Fyssas por um militante do partido. O Parlamento grego vai discutir o projeto a partir de 22 de outubro

 


Gémeos siameses ou irmãos inimigos?




18 outubro 2013 Dagens Nyheter Estocolmo
Não há nada de mais parecido com um dinamarquês do que um sueco, pode pensar-se. Mas apesar de os dois países estarem economicamente cada vez mais integrados, os seus povos preferem estar de costas voltadas um para o outro, lamenta um jornalista dinamarquês residente em Estocolmo, num artigo publicado em ambos os países. Excertos.
Drude Dahlerup