sábado, 10 de outubro de 2015

O professor quer deixar de dar aulas

Marcelo Rebelo de Sousa, que anuncia hoje a sua candidatura à Presidência da República, tem sido uma figura sempre presente na política nacional nas últimas décadas. Desde a liderança do PSD aos comentários semanais na televisão, este é um percurso por alguns momentos da sua vida política.

Em Março de 1986, com Pedro Santana Lopes, Conceição Monteiro e José Miguel Júdice
CARLOS LOPES / PÚBLICO


Com José Miguel Júdice, Conceição Monteiro, Pedro Santana Lopes e Nuno Morais Sarmento



Em 1989, na campanha para as eleições autárquicas, nas quais concorreu para a Câmara de Lisboa
LUIS RAMOS / PÚBLICO

Com Leonor Beleza em Fevereiro de 1995LUIS VASCONCELOS / PÚBLICO
Em Maio de 96, num debate sobre a RegionalizaçãoMIGUEL SILVA / PÚBLICO


Numa conferência de imprensa sobre a Regionalização em Abril de 1996
MIGUEL SILVA / PÚBLICO

Com Pacheco Pereira e Ferreira do Amaral, em Abril de 1996
DANIEL ROCHA / PÚBLICO


Em Agosto de 1996, com o então Presidente da República Jorge Sampaio



Com Durão Barroso, em Janeiro de 1996
PAULO CARRIÇO / PÚBLICO

Em 1996, num almoço das Distritais do PSD
CARLOS LOPES / PÚBLICO


Com Alberto João Jardim, então Presidente do Governo Regional da Madeira, em Janeiro de 1997
LUIS RAMOS / PÚBLICO

Com Cavaco Silva em Sintra, apoiando José António Barreiros na sua candidatura à Câmara Municipal de Sintra, em 1997
PAULO CARRIÇO / PÚBLICO

Doutoramento Honoris Causa, em 1997
PEDRO CUNHA / PÚBLICO

Na assinatura do acordo em relação à IV Revisão Constitucional, com o então Primeiro-Ministro António Guterres, em 1997
DANIEL ROCHA / PÚBLICO

De
visita à Expo 98
DANIEL ROCHA / PÚBLICO

E
m Maio de 1998, no 24.º aniversário do Partido Social Democrata
FERNANDO VELUDO / PÚBLICO

C
om um grupo de crianças de Celorico de Bastos, que convidou para visitar a Expo 98
JOÃO RELVAS / PÚBLICO

De visita a uma pecuária em 1998, como líder da oposição, para exigir que o Governo tomasse medidas de apoio imediatas aos suinicultores
CARLOS LOPES / PÚBLICO

Em 1998, com Ferreira do Amaral, Marques Mendes e José Luis Arnaut
DANIEL ROCHA / PÚBLICO

Num comício pelo "Não" à Regionalização, com Valentim Loureiro, em Outubro de 1998
PAULO RICCA / PÚBLICO

Com Paulo Portas numa reunião sobre a possibilidade de formação de uma Alternativa Democrática (AD), em Janeiro de 1999
ADRIANO MIRAND

Numa visita ao Hospital de Setúbal, em Janeiro de 1999, enquanto líder do PSD
DANIEL ROCHA / PÚBLICO

No XXII Congresso do PSD, no Coliseu do Porto, em Fevereiro de 1999
PAULO PIMENTA / PÚBLICO

Com Durão Barroso, em Março de 2002, durante uma conferência organizada pelo Diário Económico
MÁRIO MARQUES / PÚBLICO

Em Celorico de Basto, num Jantar comício do PSD em Janeiro de 2005
LUIS EFIGÉNIO / PÚBLICO

Com Luís Filipe Menezes, durante a campanha para as eleições legislativas de 2005 convocadas pela dissolução da Assembleia da República
MANUEL ROBERTO / PÚBLICO

Os comentários televisivos semanais de Marcelo Rebelo de Sousa marcam a actualidade
MIGUEL SILVA / PÚBLICO

Em 2003, na Queima das Fitas do Porto
MANUEL ROBERTO / PÚBLICO

o
 Ao lado de Cavaco Silva num comício da campanha para as eleições Presidenciais. em Janeiro de 2006
CARLA CARVALHO TOMÁS / PÚBLICO

De 2005 a 2010 ocupou o papel de comentador no espaço "As Escolhas de Marcelo" na RTP1
ENRIC VIVES-RUBIO / PÚBLICO


Com a então líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, na campanha para as eleições legislativas de 2009
SÉRGIO AZENHA / PÚBLICO

Em 2010 regressou à TVI como comentador político
NUNO FERREIRA SANTOS / PÚBLICO

No Congresso do PSD, em 2010, em Mafra
DANIEL ROCHA / PÚBLICO

E
m Fevereiro de 2014, ao lado de Pedro Passos Coelho no XXXV Congresso do PSD no Coliseu dos Recreios, Lisboa
MIGUEL MANSO / PÚBLICO

Em Maio de 2015, no 41.º aniversario do PSD na Aula Magna, Lisboa, com Assunção Esteves, Durão Barroso e Santana Lopes
NUNO FERREIRA

Comício comemorativo dos 40 anos da fundação do PSD (PPD) no Teatro Municipal Pax Julia, em Abril de 2015 em Beja
ANTÓNIO CARRAPATO / PÚBLICO


Na linha do que outros candidatos já tinham feito – Walter Momped já se tinha atirado ao rio quando se candidatou à câmara de Berlim -, Marcelo e a sua equipa (a biografia de Vítor Matos dá conta nestas reuniões da presença do cineasta Jorge Alves da Silva, do publicitário José Castro Rosa e do jornalista Joaquim Letria, responsável pela imagem do candidato) tiveram a ideia de um mergulho no Tejo, já que uma das suas bandeiras de campanha seria a requalificação da zona ribeirinha e a reconciliação dos lisboetas com o seu rio. Ao mesmo tempo, piscava-se o olho ao PPM do ambientalista Gonçalo Ribeiro Telles, chamava-se a televisão e mostrava-se a audácia do candidato.

AS MULHERES DE MARCELO REBELO DE SOUSA

As figuras femininas que mais o marcaram 

Foi literalmente, desde pequeno, o menino da mamã. «Aliás sempre fui o filhinho protegido da minha mãe», reconhece Marcelo Rebelo de Sousa na sua biografia.

No livro, publicado pela editora A Esfera dos Livros, o jornalista Vítor Matos, autor da obra, escreve que o professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa «teve sempre uma relação especial com as mulheres, talvez fruto do peso da mãe na sua educação».

Maria das Neves Fernandes Duarte esteve, no entanto, longe de ser a única mulher na vida do comentador. Teve a primeira namorada aos 12 anos e, aos 17, era considerado por muitos dos que o rodeavam um autêntico pinga-amor. Algumas das suas professoras também o marcaram. Saiba quem são as figuras femininas que mais marcaram o homem que não dispensa diariamente um banho no mar e que, antes de começar a trabalhar como jurista, chegou a fazer novelas radiofónicas na Emissora Nacional, com a atriz Ana Zannati, para ganhar dinheiro.

A mãe
Maria das Neves Fernandes Duarte, mãe de Marcelo Rebelo de Sousa, teve uma grande influência na vida do ex-dirigente político. Mulher de vida difícil, nasce orfã de pai na Covilhã e fica imediatamente órfã de mãe também. A progenitora, que já tinha tido o desgosto de perder uma filha, morre no parto. Fica aos cuidados da avó materna, que morre cerca de seis meses depois. É acolhida por um tio com o título eclesiástico de monsenhor, pároco de Santos, em Lisboa. António Fernandes Duarte, homem de culto amigo do cardeal António Cerejeira, envia-a para o Instituto de Odivelas, que pode frequentar por ser filha de um militar.

«Eu saio à minha mãe, aliás sempre fui o filhinho protegido da minha mãe, enquanto os meus irmãos eram mais do meu pai», reconhece o comentador. A progenitora começou a sentir as dores de parto que antecederam o seu nascimento num dia de dezembro de 1948, depois de sair do Instituto Aurélio da Costa Ferreira, onde trabalhava como assistente social e onde o futuro jurista a chega a acompanhar. «Não tinham criadas mem ama, portanto, Marcelo ia com a mãe para o trabalho, mesmo para os bairros mais pobres de Lisboa», refere Vítor Matos.

A vida ao lado de Baltazar Leite Rebelo de Sousa, com quem começou a namorar aos 21 anos, nem sempre foi fácil. Apesar das suas origens abastadas, a situação económica do casal não era propriamente desafogada. «Viviam com as dificuldades normais de uma classe média promissora, ligada ao regime», sublinha o jornalista. No entanto, acabaria por ser num ambiente de fausto e requinte, marcado por viagens de luxo e festas de elites, que o professor catedrático seria criado.

A primeira namorada
Isabel Coelho Alves foi a primeira namorada de Marcelo Rebelo de Sousa. O professor tinha 12 anos. Irmã de Carlos Alves, neto do medico Eduardo Coelho, que operou Salazar após a queda da cadeira que o afastou dos destinos do país, não resistiu ao «Queres namorar comigo?» que o jurista lhe lançou, de raquete na mão, na Escola de Ténis do Estoril, durante as aulas do pai de João Lagos, que viria a ser o rosto da organização do Estoril Open.

As ondas do mar da praia do Estoril assistiram aos passeios de gaivota que por lá davam. Falavam horas e horas ao telefone, um comportamento de dependência que chegava a incomodar a família. «O namoro é inocente», descreve Vítor Matos no livro. «O namoro é um cândido estremecimento de verão que começa e acaba com os calores dos Estoril e que dura até cerca dos 14 anos», refere ainda o jornalista de política da revista Sábado.

Veja na página seguinte: A mulher que o levou ao altar

A mulher que o levou ao altar

Não foi amor à primeira vista. Muito pelo contrário! O primeiro impacto que Marcelo Rebelo de Sousa causou em Ana Cristina Motta Veiga, que viria a ser a sua primeira e única esposa, aos 16 anos, numa festa de Natal organizada pela família Motta Veiga, esteve longe de ser a melhor.

«Deixou a impressão de ser um rapaz muito tímido, encolhido pelos cantos», pode ler-se na sua biografia.

Voltaria a reencontrá-la, com a irmã, à saída de uma missa em Santo António do Estoril.

Umas semanas depois, numa matinée no Palm Beach, apesar de ela estar com o namorado da altura, o tenente da marinha João Bandeira Enes, o comentador, que nem sequer era um grande bailarino, ganha coragem e convida-a para dançar. Ela aceita. «A simpatia é recíproca. Começam a sair», revela o livro. O (ainda) namorado está embarcado quando Ana Cristina Motta Veiga começa a namorar com o ex-líder do PSD.

Casariam, uns tempos mais tarde, no monte alentejano dos avós da noiva em São Miguel de Machede, no dia 22 de julho de 1972. Têm dois filhos mas separam-se no fim de 1980. «Eu vivia sozinha, com os meus amigos», lamenta a antiga companheira do professor. «A Cristina [como ele lhe chama] tem muito bom feitio mas precisava de atenção. Eu acabei por nunca lhe dar essa atenção», admitiu já publicamente o antigo diretor do semanário Expresso.

A namorada com quem nunca quis casar

Ele não se cansa de lhe tecer elogios e refere-se a ela como sendo a sua «sensação espiritual». Rita Amaral Cabral namora com Marcelo Rebelo de Sousa desde os primeiros anos da década de 1980 mas nunca contraíram matrimónio nem nunca sequer quiseram viver juntos. «Não me voltarei a casar nunca mais. A Igreja Católica não aceita o divórcio e eu concordo. E recuso-me pelas mesmas razões de princípio a pedir a anulação do [meu primeiro] casamento», disse à jornalista Clara Ferreira Alves, numa entrevista.

«Tive a sorte de encontrá-la [à Rita Amaral Cabral] porque ambos partilhamos a mesma convicção católica de que o matrimonio dura ate a morte. Tive a sorte de que a mulher a quem tive de pedir sacrifícios concordasse inteiramente [com eles]», justificou o comentador. O romance iniciou-se quando se (re)encontraram, em 1981, nas reuniões da assembleia de representantes da Faculdade de Direito, o órgão que votava e escolhia os elementos do conselho diretivo.

No outono desse ano, no final de umas eleições, ficam sozinhos a fiscalizar a urna de voto enquanto os restantes membros da mesa vão jantar. Quando os colegas regressam, vão eles dois cear. Pouco depois, começam a sair juntos e a namorar, iniciando uma relação que se prolonga até os dias de hoje. Em 2006, um problema cardíaco de Rita Amaral Cabral trava a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República. Ele considera que a doença dela foi um sinal da providência divina para não se submeter a sufrágio.

A filha

Sofia Rebelo de Sousa é a segunda filha do professor catedrático, a seguir a Nuno, o primogénito, que nasceu com sinais de morte aparente. Veio ao mundo a 27 de setembro de 1976. O pai queria chamar-lhe Joana. A mãe preferia Sofia. O comentador anuiu. Na altura, «Marcelo acha-a mais bonita do que era o irmão quando o viu mirrado e recém-nascido, dentro der uma incubadora», revela a biografia de Vítor Matos.

Durante os primeiros quatro anos de vida, raramente vê o pai, absorvido em (mais) trabalho desde que passou a dirigir o semanário Expresso. Fica a viver com a mãe após a separação mas em 1995 muda-se para casa do pai, «a meio de um fenómeno de rejeição pós-juvenil, que poderia ter a ver com a idade», sublinha o jornalista.

Apesar do bom relacionamento entre os dois, nem tudo são rosas. Nessa fase, a relação com o pai, com quem passava longas horas à conversa de madrugada, também não é sempre facil. Marcelo Rebelo de Sousa não percebe como é que a filha troca o curso de gestão pelo de ciências da educação e também não entende as suas opções estéticas. Nessa altura, «Nuno, de 23 anos, não era noctívago, mas a irmã sai ao pai», refere Vítor Matos.

A amiga que foi apontada como amante

Pode não ter tido o proveito mas da fama não se livra. No final da década de 1970, Margarida Salema, irmã da arquiteta e vereadora Helena Roseta, vizinha de Marcelo Rebelo de Sousa e assistente na Faculdade de Direito de Lisboa, colabora no livro que o jurista prepara em conjunto com Sá Carneiro, uma obra que seria publicada em janeiro de 1979 com o título «Uma constituição para os anos 80».

Tornam-se muito próximos, como confirma a biografia escrita pelo jornalista da Sábado. A mulher não gosta de o ver horas a fio trancado no escritório a preparar o currículo para o doutoramento na companhia da amiga.

A criada da casa espicaça-a, dizendo-lhe que anda «tapadinha». O comentador nega a relação extra-conjugal e admite apenas «uma relação de muita amizade alargada à sua família e afins. Eis o que aconteceu», assegura.

As (outras) namoradas

Teve muitas. Foi homem de paixões fortes e intensas. Maria do Carmo Viana, que viria a casar com um dos primeiros militantes do PSD, próximo do comentador, foi um dos seus namoricos de juventude, que tinham muito em comum. «Esses namoros de meses comportam sempre uma componente religiosa, com idas à missa e conversas sobre os novos caminhos da Igreja», descreve a sua biografia.

Isabel Matos Dias, a quem deu explicações de filosofia e que mais tarde seria professora de filosofia na Faculdade de Letras, também integra essa lista. «O namoro começa em casa entre insinuações durante as matérias filosóficas. Foi a primeira vez que teve um amor tão intenso», garante Vítor Matos. «O par era sistematicamente corrido pelo guarda do Jardim do Torel, que não os queria ali a fazer figuras indecentes», refere ainda o livro.

Voltariam a cruzar-se, anos mais tarde, quando participam no Grupo da Luz com o padre Vítor Melícias. Fátima Cabral Sacadura foi a namorada que se seguiu. «A mãe da rapariga é protetora e disciplinadora e nem lhe dá ordem para namorar em casa. Mas, quando a mãe vai à missa, Fátima abre a porta do apartamento e conversa com Marcelo junto ao elevador», revela ainda a biografia. O professor não perde a oportunidade.

Teresa Beleza, mais conhecida no meio familiar como Tareca, irmã da sua grande amiga Leonor Beleza, foi outra das grandes paixões do comentador em 1969. E também uma das mais polémicas. «A avó Joaquina acha excessivo o tempo dedicado ao namoro e não quer Tareca lá por casa», recorda o autor da obra. «Nenhum de nós gostava dela», assume António Rebelo de Sousa, irmão do ex-dirigente do PSD. «Ela parecia ser muito fútil e reacionária nas posições que assumia quando estava com os meus pais, não sei se para ser simpática», recorda.

«Eu tenho a tese – que o meu irmão negará evidentemente – de que sempre sentiu tiu uma paixão platónica pela Leonor Beleza», confessa. Como seria de esperar, Marcelo Rebelo de Sousa nega, assumindo apenas uma «amizade quase fraternal», como faz questão de frisar. «Achava-a divertida mas a Leonor era mais brusca, mais distante», relembra. «A Tareca era uma sedutora natural», classifica. «A Leonor já sabia os meus tiques, as minhas reações e eu já sabia os dela», desabafa.

A atriz e escritora Ana Zannati foi sua colega de turma. Para a impressionar, chegou a descer a Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa, de costas viradas e sem as mãos no guiador, sob o olhar da namorada da altura. Estiveram juntos num programa de teatro radiofónico na Emissora Nacional com a professora Maria Emília Marques. «Marcelo ganha nestes anos o seu primeiro dinheiro a participar em novelas radiofónicas», revela Vítor Matos.

A cantora francesa, de origem búlgara, Sylvie Vartan, na altura casada com a rock star francesa Johnny Hallyday, não integra a lista de conquistas do comentador político, mas Marcelo Rebelo de Sousa admirava-a ao ponto de, num concerto que a intérprete de temas como «J'ai un probleme», «L'amour au Diapason» e «Parle moi de ta vie» deu no Teatro Monumental em Lisboa saltar para o palco para se aproximar dela. Teve de ser retirado pela polícia.



As professoras

Berta Ávila de Freitas era ainda diretora do Jardim-Escola João de Deus quando conheceu os pais de Marcelo Rebelo de Sousa.

Pouco depois, saiu em litígio com a direção do estabelecimento e abriu a sua escola, a que chamou Lar da Criança.

Localizado nas proximidades da casa dos Rebelo de Sousa, a instituição de ensino aplicava métodos considerados avançados para a muito tradicional escola primaria do Estado Novo. Era também lá que alunos como o ex-dirigente do PSD frequentavam a catequese e não na igreja da paróquia.

«Quando se portavam bem, os meninos ganhavam pastilhas ou drageias de açúcar. Quando se portavam mal, ficavam a penar voltados para um canto», refere o livro de Vítor Matos. Em casos mais extremos, os rapazes tinham o humilhante castigo de ter de vestir o bibe cor de rosa das meninas. Apesar das origens, Marcelo Rebelo de Sousa não foi discriminado positivamente nesta fase da sua vida.

Berta Ávila de Freitas chega a insurgir-se quando motorista do pai Celinho, como muitos familiares e amigos ainda tratam o jurista, no carro do Governo até à porta do colégio «Se pensam que vão ser bem tratados porque o paizinho está no Goberno, enganam-se. Vão ser tratados até com mais rigor», tratou logo de avisar a professora. Maria Luísa Guerra, professora de filosofia, foi mais benevolente, acompanhando-o e aconselhando-o com toda a paciência.

A antiga professora ainda se lembra bem das angústias do seu melhor aluno nos meses que antecederam a escolha da área profissional a seguir. «Andámos uma manhã de nevoeiro a subir e a descer a rua da lapa, em que ele me expunha as suas hesitações entre ir para direito, medicina, ciências ou matemáticas. Foram duas horas para baixo e para cima, até que, por fim, ficou definido o direito», conta. «Marcelo era sempre o primeiro, [para ele, nas aulas] não havida dúvidas», revela ainda.

Catherine Mackey, a percetora irlandesa já idosa que teve, foi, a par de Alice Gardenne Chaves, que lhe deu aulas particulares, outra das figuras educativas que o acompanharam ao longo do seu percurso de estudante. Ajudou-o a consolidar o seu inglês. No sexto ano, teve também explicações de alemão com a fraulein Johanna Stynnian, «uma germânica muito rígida e com tão pouco sentido de humor que estimula a criatividade de Marcelo, que lhe faz as maiores perfídias: esconde-lhe a chave de casa, desliga-lhe o contador da água, muda-lhe as coisas de sítio», descreve ainda a biografia do comentador.

Texto: Luis Batista Gonçalves

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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Rodrigues dos Santos: “Não sabia que Quintanilha era homossexual nem me interessa”

PEDRO GUERREIRO   08/10/2015 -

Numa peça no Telejornal sobre os novos deputados na AR, o jornalista da RTP disse "por engano" que Alexandre Quintanilha "foi eleito, ou eleita, pelo PS" e as reacções não se fizeram esperar. O deputado não aceita as explicações, António Costa dirigiu um protesto à RTP e a ERC abriu um processo.





O jornalista da RTP José Rodrigues dos Santos negou nesta quinta-feira ao PÚBLICO ter-se referido ao novo deputado socialista Alexandre Quintanilha em termos que a ILGA considerou serem humilhantes “em função da sua orientação sexual”.

Em causa está um trecho — que a Direcção de Informação da RTP classificou como um “lamentável equívoco” — durante o lançamento de uma peça no Telejornal de quarta-feira. Rodrigues dos Santos mencionava a eleição do deputado mais velho da nova legislatura, dizendo que este “foi eleito, ou eleita, pelo PS”. Tratava-se de Alexandre Quintanilha, de 70 anos. O cientista é assumidamente homossexual, sendo casado com o escritor norte-americano Richard Zimler.


Imagem do dito "escritor", a peça que pisca o olho sempre que sai uma brejeirice, do falso intelectual.

Esta quinta-feira de manhã, as redes sociais incendiaram-se com a história, tendo o jornalista da RTP sido acusado de ter feito uma piada homofóbica. Entre os críticos, várias figuras públicas e jornalistas. A ILGA-Portugal emitiu um comunicado a considerar “evidente a intenção do apresentador de humilhar Alexandre Quintanilha em função da sua orientação sexual, recorrendo de resto ao género como forma de humilhação” — uma “indignidade […] chocante e absolutamente inadmissível”.

PS protesta e ERC abre processo
Já esta tarde, o secretário-geral do PS, António Costa, dirigiu um protesto formal à RTP pelo que qualifica como o “comportamento inaceitável do pivô”, exigindo um pedido de desculpas do jornalista ao deputado eleito.

Também o conselho regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) anunciou que “decidiu abrir um processo contra a RTP”. Em comunicado, a ERC refere que o processo contra a estação pública resulta da “notícia do Telejornal de ontem [quarta-feira] sobre os novos deputados”, explicado que a abertura do mesmo “deve-se a indícios de violação de direitos fundamentais dos cidadãos”.

A explicação de Rodrigues dos Santos
O PÚBLICO falou com José Rodrigues dos Santos, que negou ter proferido qualquer tipo de insulto, justificando as palavras em causa com um erro cometido a tentar corrigir o que julgou ser outro erro.

A explicação do jornalista é complexa, mas a sua reprodução é fundamental para o esclarecimento dos factos. Rodrigues dos Santos afirma que não sabia que Alexandre Quintanilha era a figura retratada na peça enquanto deputado mais velho do Parlamento. “É muito raro ver as reportagens antes de irem para o ar”, justifica. O jornalista diz ter sido induzido em erro por uma referência textual relativa a uma “pensionista” e pensou que se tratava de uma única pessoa.

Esta referência textual surgia no pivô (neste caso, o termo refere-se ao texto de apresentação de uma peça televisiva, e não à figura que conduz o telejornal), que foi escrito por outro jornalista. ”O Parlamento tem novas caras: o deputado mais velho que tem 70 anos, a pensionista…”, recorda Rodrigues dos Santos. A dita pensionista era Domicília Costa, eleita pelo Bloco de Esquerda.

O Telejornal de 07.10.15 na íntegra: a polémica frase é dita ao minuto 44:55

“Pensei que se tratava de um erro de concordância e presumi que o erro estava na segunda frase”, disse ao PÚBLICO. “Pensei numa fracção de segundo ‘epá, vou ofender a deputada!’, recorda, justificando assim o “eleito, ou eleita”.

Esta versão é confirmada pela Direcção de Informação da RTP, que, em comunicado, defende o jornalista: “Os erros são sempre de evitar mas, como qualquer pessoa que trabalha no jornalismo ou em qualquer outra profissão sabe, por vezes acontecem.”

O jornalista critica o julgamento nas redes sociais, dizendo que se “montou um número” e criticando colegas de profissão que acusam o pivô de homofobia. “A inveja é um fenómeno universal”, disse ao PÚBLICO, acusando outros jornalistas de esquecerem “uma regra básica da profissão: ouvir os dois lados”.

“Não sabia que Quintanilha era homossexual nem me interessa”, disse. “Eu não quero saber da orientação sexual nem do partido político de ninguém. Para mim não é relevante”, acrescentou.

Quintanilha tem 'imensa dificuldade' em acreditar
O jornalista disse que já tentou falar pessoalmente com Quintanilha para explicar o sucedido e apresentar desculpas, mas que tal ainda não foi possível pelo facto de o cientista ser uma pessoa “difícil de apanhar” ao telefone.

Ao PÚBLICO, no entanto, o deputado disse ter "imensa dificuldade em acreditar que tenha sido um equívoco".

"Se foi um equívoco acho que foi muito infeliz e grave. O telejornal foi visto por milhares de pessoas que ficaram muito surpreendidas, para não dizer chocadas, com o que viram e ouviram e que me transmitiram a sua perplexidade", disse.

"Considero que é um insulto a um deputado que foi eleito para a Assembleia da República e por isso espero que todos os partidos políticos se pronunciem sobre este episódio. Sei que o Secretário Geral do Partido Socialista já se pronunciou. O pedido de desculpas deverá ser à AR, ao Partido Socialista, aos eleitores que votaram no PS porque confiam em mim e a todos os viram o Telejornal", afirmou.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Volta Zola que fazes falta


JOSÉ PACHECO PEREIRA   02/10/2015

Muita gente se esquece que Zola foi processado, condenado, teve que se exilar e deve ter coleccionado uma das maiores séries de insultos que a língua francesa conhece e muitas ameaças. Mas isso é pouca coisa face às vítimas actuais e futuras do “não há alternativa”.


Um das interrogações que se fazem sobre esta crise nacional e europeia, é onde é que estão os intelectuais, que relações têm hoje os intelectuais com a política, o que é que explica o muito audível silêncio dos intelectuais face às múltiplas violências, dolos, manipulações, injustiças que ocorreram nos últimos anos de “crise”?

É verdade que algumas vozes se fizeram ouvir como as de Krugman, Stieglitz e Piketty, e a eles podíamos acrescentar, por muito que isso irrite muita gente, Varoufakis. Mas até a escassez destas vozes mostram que a questão permanece em aberto. O papel do intelectual expresso no célebre J’Accuse de Zola, denunciando a perseguição a Dreyfus, ter-se-á extinto? Homens como Raymond Aron, Sartre ou Bertrand Russell, que tinham uma intervenção cívica constante, deixaram de ter sentido? Continua a existir o modelo do “intelectual orgânico” gramsciano?

Não é fácil responder a estas questões até porque as circunstâncias, as personalidades e as causas são muito diferentes e isso muda muito a avaliação que podemos fazer do papel do intelectual na acção cívica e política. Até porque o balanço do século XX não é brilhante quanto aos intelectuais. Se o “caso Dreyfus” criou um arquétipo com a intervenção de Zola, a maioria dos intelectuais do século XX mostrou um fascínio com tudo o que era errado, tudo o que representou um imenso sofrimento para a maioria das pessoas comuns, que era suposto a sua voz proteger. Refiro-me à enorme capacidade de justificação e legitimação que os intelectuais do século XX tiveram com o comunismo e o fascismo. Há excepções, como Thomas Mann ou Orwell, por exemplo, mas são excepções. A regra foi ver os intelectuais na vanguarda da legitimação de regimes e actos iníquos e por razões que são, em muitos, casos “intelectuais”, que tem a ver com a sua função desejada ou presumida.

Por regra, os intelectuais não gostam da democracia, retomando uma muito antiga maneira de pensar que remonta a Platão e às críticas à democracia ateniense, tendo como reverso o fascínio pelo “comunismo” da altura, Esparta. A democracia consolidada retira aos intelectuais o seu papel de oráculo e de “conselheiros “ privilegiados do Rei, ou mais tarde, de intérpretes do sentido da História que tinham nas “vanguardas”. A laicização das sociedades e a crise das teorias teleológicas da História, colocam em causa a possibilidade de um discurso de “revelação” que as torna, ou menos laicas, ou dependentes de um qualquer sentido da história também ele “revelado”. Por tudo isto, a nostalgia de um intelectual “orgânico” numa democracia é não só ambígua como perigosa, como o é a saudade que existe de “utopias”, “projectos”, “destinos” ou mais prosaicamente de “políticas de espírito”, que tendem a menosprezar as liberdades concretas a favor de “amanhãs que cantam” não se sabe muito bem que canção. As sociedades democráticas são menos confortáveis e protegidas quanto a utopias? Sim, é por isso que são também mais livres e que o indivíduo e a felicidade tem nelas maior papel.

Por isso, em democracias consolidadas, com poderes e contrapoderes fortes, em que mais do que os procedimentos do voto, existem “costumes” democráticos, em que nas sociedades existe uma preocupação de diminuir as injustiças sociais e uma visão laica da política em democracia como um contínuo melhorismo do presente, o predomínio do “bem comum”, o intelectual à medida de Zola tem pouco sentido e função. Pode assumir causas, mas essas causas desenvolvem-se numa ecologia de liberdade e de tensão a favor da justiça, da justiça social e por isso, os intelectuais não funcionam, e ainda bem, como poder ou contrapoder. Podemos dizer que sociedades deste tipo são uma excepção e que estão longe de estarem perfeitas, mas uma voz de ruptura tem aí pouco sentido e necessidade, a não ser que haja um soçobrar da racionalidade. A não ser… que seja mesmo a existência dessas sociedades, das liberdades, da democracia plural, do confronto livre de alternativas o que esteja em causa. Então voltamos para trás e precisamos de novo de Zola.

A chamada “crise” que surgiu no sistema financeiro mundial, se estendeu dos EUA para a Europa, gerou depois um subproduto político, que podia não ter surgido, a crise das dívidas soberanas, que se estendeu da Grécia a Portugal, reforçou um poder transnacional europeu que escapa ao controlo democrático, diminuiu as soberanias e lhes estiolou o espaço de liberdade, retirou aos parlamentos nacionais o poder orçamental que os justifica, actua por diktats como se viu na Grécia, fracturou o sistema político entre partidos de primeira e de segunda, logo entre votos que servem e votos inúteis, cavou profundas divisões nas sociedades entre gerações, novos e velhos, e entre empregados e desempregados, coloca em causa a existência de direitos e o principio do contrato social e do estado de boa-fé, gera desigualdades e exclusões, aumentou a pobreza, tornou os trabalhadores em “funcionários” sem direitos e sem garantias, diminuiu as funções sociais do estado e acentuou um estado fiscal com todas as prepotências, que é securitário e intrusivo da liberdade, tornou os mais fortes mais fortes, e deu-lhes o exclusivo “direito á liberdade”, tudo isto e muito mais exige de novo que se “acuse” como Zola fez.

Com esta “crise” surgiu e reforçou-se uma corrente política e ideológica que, não sendo nova e comunicando com muito de uma ideologia da direita dos interesses, ganhou uma enorme agressividade e se associou a mecanismos de poder nacionais e transnacionais. Não estamos a falar de uma ideia, no livre jogo plural das ideias em democracia, mas de um poder e de uma justificação do poder, de uma ideia com armas, que considera as outras uma “irrealidade”, uma “fantasia”, um “conto de crianças”. Não se trata de um “neoliberalismo”, classificação que a descreve mal e ilusoriamente, mas de um sistema de ideias e práticas de poder que tem uma componente perigosamente antidemocrática: refiro-me à ideologia do “não há alternativa”, do “there is no alternative”, da TINA, apresentada como emanação da natureza das coisas, logo como “inevitável”.

A TINA implica a substituição da política em democracia a uma variante débil de marxismo, a subordinação de tudo a uma visão pobre e simplista da economia que funciona como a “infra-estrutura” que é “determinante”, ou seja condiciona a “superestrutura”, a política. É, como já o escrevi, uma forma de marxismo dos imbecis, com o “não há alternativa” e a sua peculiar arrogância de se afirmar como a “realidade”, de que não se pode escapar, quando é assente em escolhas políticas, com o seu neomalthusianismo simplista, que o torna muito parecido com o “socialismo científico” de Engels. O “não há alternativa” é uma ideologia antidemocrática e aqui, de facto, precisamos de vozes que se ergam sem tolerância, nem transigência, em defesa da democracia pluralista, do melhorismo social, de uma política de “bem comum”, assente na justiça social e nas liberdades. E, como no J’Accusede Zola, com nomes dos responsáveis, com nomes dos jornais que serviram a “campanha abominável”, e sem medo da retaliação dos poderosos. Muita gente se esquece que Zola foi processado, condenado, teve que se exilar e deve ter coleccionado uma das maiores séries de insultos que a língua francesa conhece e muitas ameaças. Mas isso é pouca coisa face às vítimas actuais e futuras do “não há alternativa”.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Conheça a Islândia, o País de outro Mundo! Sociedade Feliz e de Bem com a Vida!


MÁSCARA DA GRANDE FARSA VAI CAINDO AOS POUCOS ...

"[...] a colaboração existente nos bastidores entre governos, serviços secretos, grandes empresas, traficantes de droga e «terroristas» tem, por um lado, recheado os bolsos da elite e, por outro, contribuído profundamente para a destruição de nações soberanas, a favor de unidades económicas mais eficazes [...].
Ao fazer as suas jogadas na obscuridade, os Senhores da Sombra criam a «realidade», inventam os bons e os maus, num jogo fraudulento pelo poder, pelo lucro e... pelo nosso futuro."
(in "Os Senhores da Sombra", de Daniel Estulin, editora Publicações Europa-América).


TODOS DEVERIAM VER ESTE VIDEO!...


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O POEMA “QUADRILHA” E SALGADO


Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro genial, tem um poema l fabuloso intitulado 'Quadrilha'. Sem querer fazer concorrência desleal a Nicolau Santos, aqui o deixo publicado para que possamos glosá-lo.

"João amava Teresa que ama­va Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Uni­dos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desas­tre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história"

Ricardo Salgado tem como grande amigo Proença de Carvalho, que é advogado de Sócrates que tinha como ministro Manuel Pinho que era da administração do BES, como Salgado. Ou Ricardo Salgado tinha como qua­dro destacado Rita Cabral, mulher de Marcelo Rebelo de Sousa, conselheiro de Estado nomeado por Cavaco Silva que é amigo de Eduardo Catroga, chairman da EDP, empresa comprada pelos chineses que tem como CEO António Mexia, o qual é amigo de Salgado e começou a sua carreira no grupo, na ESSI.

Ou, ainda, Salgado tinha como sócio, em Angola, Álvaro Sobrinho, que é irmão de Sílvio Madaleno, que é o patrão dos jornais "Sol" e "l" e em tempos quis comprar a RTP. Parece que estes zanga­ram-se. Mas a amizade perdu­ra, ao que se sabe com Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, principais chefes da Ongoing que detém empresas em Por­tugal e no Brasil, além de se dedicarem à caça de talentos e à sua colocação em várias empresas e serem donos do "Diário Económico" e do Eco­nómico TV. Acima de tudo, têm quase 10% da PT, sendo que Salgado tinha quase outro tanto e, por essa via, eram todos amigos de Granadeiro e de Zeinal Bava, que mandam na PT, emprestam dinheiro a Salgado e fizeram uma frente para impedir que Belmiro comprasse a telefónica que, na altura, era nacional e tinha uma golden share do Estado, com quem Salgado se aliou. Esperando que ninguém mor­ra de desastre nem se suicide, sabendo que tias existem suficientes na história, resta saber quem pode ser o tal senhor J. Pinto Fernandes. As hipóteses são escassas. Drummond decidiu batizar o seu poema com o nome 'Quadrilha', uma dança e contradança em que todos os participantes se cruzam e entrecruzam. Em Portugal também é assim... e não só em casos amorosos, também nos negócios. 

Henrique Monteiro