Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não
Manuel Alegre. Trova do Vento que Passa
Tudo parece indicar que o Reino Unido vai abandonar a "União" Europeia, organização económica que tem beneficiado os países mais poderosos (a Alemanha, sobretudo) em detrimento dos mais pequenos (Portugal, por exemplo). Há muito que a "União" deixou de o ser, para se transformar num condomínio do capitalismo. Foi boa a ideia de uma Europa feliz, muito amiga e sem guerras. Nem uma destas generosas proposições foi cumprida. As chamadas "guerras regionais" não param de acontecer, aqui e além, numa soma de carnificinas resultante da natureza dos domínios e da expressão hegemónica de nações contra nações.
A natureza, digamos humanista, da União Europeia cedo se dizimou. O Partido Popular, que tudo manda, assenhoreou-se das direcções, sem ter sido submetido ao critério geral da apreciação. A Alemanha, neste caso a senhora Merkel, tomou conta das operações, com a benevolente subserviência dos dirigentes do resto das nações. O desfile de chefes de Estado ante a chanceler alemã tem sido, é, o mais repelente cenário de obséquio a que assistimos nas últimas décadas.
A eventual saída do Reino Unido acentua a decadência de um império anacrónico, sustentado por um sistema económico notoriamente em desmoronamento, mas com estipendiados a soldo e despudorados inanes. Há tempos, essa irrelevância sorridente que dá pelo nome de Durão Barroso declarou que Portugal tinha beneficiado, e muito, com a "União." E citou, como preclaro exemplo, o novo túnel do Marão. Este cavalheiro, antigo e agitado militante maoísta, declarou, a seguir, num indecoroso diálogo com Ricardo Costa, que ia abandonar a "política activa" e consagrar-se a quê?, aos negócios, está bem de ver.
Claro que esta situação desigual não pode continuar, e o caso do Reino Unido é um dos muitos tijolos que abalam a estrutura. Mas nem todos os povos aguentam este poder. O Podemos, em Espanha, parece cada vez mais sólido, apesar da criação falaciosa do Ciudadanos, que outra coisa não é senão um ramo dissimulado do partido de Mariano Rajoy, que vai estrebuchando sem grandeza nem dignidade. Também o PSOE, de tantas tradições de luta e sacrifício, está a ser engolido pela sarjeta onde se colocou.
Cercada por uma força descomunal, que a asfixia sem que o resto das nações europeias proteste ou se insurja, a Grécia resiste; mas até quando? Portugal, este Governo, é apertado por mil ameaças e ciladas. A troika que governa a Europa não pode com António Costa, e com o projecto que ele representa e incorpora. Mas esta Europa actual não é vencedora. O mal-estar europeu revela-se por todo o lado: manifestações, graves, movimentos de massas, confrontos de toda a ordem, espalham-se pelos países. E nem a estratégia global de enfraquecimento dos sindicatos está a resultar inteiramente. A consciência dos povos desperta sempre que a pretendem sufocar.
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