quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"Subprime" dá agora origem ao "nonprime"

28 Janeiro 2015, por Jornal de Negócios |


Os investidores dão-lhe outro nome, mas trata-se de uma prática semelhante ao “subprime”, que regressa assim aos EUA, relata a Bloomberg.

O negócio de transformar hipotecas em obrigações, sem garantias governamentais, está a regressar aos EUA. A estes títulos, os investidores chamam-lhe "nonprime", em vez de "subprime", relata a agência noticiosa Bloomberg.

Segundo a agência, o fundo de investimento Seer Capital Management, a gestora financeira Angel Oak Capital e o banco australiano Macquarie Group Ltd. são algumas das empresas que estão a adquirir empréstimos de clientes que não conseguem contrair hipotecas tradicionais, devido a historiais de crédito baixos, falências e rendimentos mal documentados. Estas empresas planeiam canalizar as hipotecas para títulos de risco variável e vender uma parte a investidores este ano.

O termo "subprime", surge por oposição aos empréstimos tradicionais, para caracterizar os empréstimos, nomeadamente à habitação, com menores garantias, contraídas por pessoas sem rendimento fixo, sem emprego ou activos, que pagam por isso juros mais altos. A prática, que foi crescendo nos EUA entre 2005 e 2007 até a um ponto insustentável, levou à falência de bancos e credores, desencadeando uma crise financeira global em 2007.

Por isso, "subprime" tem agora uma conotação negativa, admite John Hsu, chefe de mercados de capital na Angel Oak, à Bloomberg. A Angel Oak prefere por isso utilizar o termo "nonprime" para caracterizar estes empréstimos, que utilizam práticas próximas do crédito "subprime", relata a Bloomberg. "O que toda a gente está a observar é que a caixa de crédito diminuiu tanto que há muitos clientes potenciais no mercado que não estão a ser servidos", afirmou Hsu.

As empresas de investimento estão assim a tentar dinamizar o mercado sem repetir os erros que levaram à crise de 2007. O risco maior permite também maior rendibilidade, oferecendo às empresas uma forma de aumentar os rendimentos, numa altura em que os bancos centrais estão a baixar as taxas de juro para estimular a economia. Mas desta vez, os investidores retêm os riscos maiores dos negócios com as hipotecas, relata a Bloomberg.

Desde a crise, a securitização dos empréstimos à habitação sem garantia do governo tem estado adormecida nos EUA, segundo a Bloomberg. No ano passado foram efectuados negócios no valor de 8,8 mil milhões de dólares com novos empréstimos, mas associados a créditos "prime" que procuram, desta forma, margens maiores. Durante o "boom" de 2005 a 2007, foram emitidos mais de 2 biliões de dólares em obrigações baseadas em "subprime" (ou hipotecas Alt-A), de acordo com a revista Inside Mortgage Finance, citada pela Bloomberg.

Apesar destes sinais de retorno, a memória recente da crise do "subprime" está ainda a afastar muitos investidores, relatam os analistas ouvidos pela Bloomberg. "A razão pela qual os investidores não voltaram ao mercado é que os problemas dos conflitos de interesse e falta de transparência não foram resolvidos", afirma Chris Ame, chefe dos produtos securitizados na Schroder Investment Management North America Inc., à Bloomberg. A maior parte dos programas para empréstimos fora das garantias governamentais não se enquadra numa categoria legal criada o ano passado – "hipotecas qualificadas" -, o que permite aos detentores dos empréstimos processar os credores em tribunal e ser compensados pelos danos, se conseguirem provar que não tinham possibilidade de pagar o crédito – situação que está a afastar investidores.

" A MEDICINA NA VOZ DO POVO"


Diário de um Médico

"Tenho pedra na basílica".

O médico é do IPO - Porto e já se aposentou. Carlos Barreira da Costa, médico otorrinolaringologista da mui nobre e invicta cidade do Porto, decidiu compilar no seu livro "A Medicina na Voz do Povo", com o inestimável contributo de muitos colegas de profissão, trinta anos de histórias, crenças e dizeres ouvidos durante o exercício desta peculiar forma de apostolado que é a prática da medicina. E dele vão verdadeiras jóias deste tão pouco conhecido léxico.

Os aparelhos genital e urinário são objecto de queixas sui generis :

"Venho aqui mostrar a parreca".

"A minha pardalona está a mudar de cor".

"Às vezes prega-se-me umas comichões nas barbatanas".

"Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza".

"Fazem aqui o Papa Micau (Papanicolau)?"

"Quantos filhos teve?" - pergunta o médico. "Para a retrete foram quatro, senhor doutor, e à pia baptismal levei três".

"Apareceu-me uma ferida, não sei se de infecção se de uma... mal dada".

"Tenho de ser operado ao stick . Já fui operado aos estículos".

"Quando estou de pau feito... a p... verga".

"O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã".

O diálogo com um paciente com patologia da boca, olhos, ouvidos,nariz e garganta é sempre um desafio para o clínico:

"Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo corpo, suar, ou o ca..., o nariz não se destapa".

"Não sei se isto que tenho no ouvido é cera ou caruncho".

"Isto deu-me de ter metido a cabeça no frigorífico. Um mês depois fui ao Hospital e disseram-me que tinha bolhas de ar no ouvido".

"Ouço mal, vejo mal, tenho a mente descaída".

"Fui ao Ftalmologista, meteu-me uns parafusinhos nos olhos a ver se as lágrimas saiam".

"Tenho a língua cheia de Áfricas".

"Gostava que as papilas gustativas se manifestassem a meu favor".

"O dente arrecolhia pus e na altura em que arrecolhia às imidulas infeccionava-as".

"A garganta traqueia-me, dá-me aqueles estalinhos e depois fica melhor".

As perturbações da fala impacientam o doente:
"Na voz sinto aquilo tudo embuzinado".

"Não tenho dores, a voz é que está muito fosforenta".

"Tenho humidade gordurosa nas cordas vocais".

"O meu pai morreu de tísica na laringe".

Os "problemas da cabeça" são muito frequentes:

"Há dias fiz um exame ao capacete no Hospital de S. João".

"Andei num Neurologista que disse que parti o penedo, o rochedo ou lá o que é...".

"Fui a um desses médicos que não consultam a gente, só falam pra nós".

"Vem-me muitos palpites ruins, assim de baixo para cima...".

"A minha cabecinha começa assim a ferver e fico com ela húmida, assim aos tombos, a trabalhar".

"Ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal".

As dores da coluna e do aparelho muscular e esquelético são difíceis de suportar:

"Metade das minhas doenças é desfalsificação dos ossos e intendência para a tensão alta".

"O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura".

"Já tenho os ossos desclassificados".

"Alem das itroses tenho classificação ossal".

"O meu reumatismo é climático".

"É uma dor insepulcrável".

"Tenho artroses remodeladas e de densidade forte".

"Estou desconfiado que tenho uma hérnia de escala".

O português bebe e fuma muito e desculpa-se com frequência:

"Tomo um vinho que não me assobe à cabeça".

"Eu abuso um pouco da água do Luso".

"Não era ébrio nato mas abusava um pouco do álcool"

"Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem".

"Eu sou um fumador invertebrado".

O aparelho digestivo origina sempre muitas queixas:
"Fui operado ao panquecas".

"Tive três úlceras: uma macho, uma fêmea e uma de gastrina".

"Ando com o fígado elevado. Já o tive a 40, mas agora está mais baixo".

"Eu era muito encharcado a essa coisa da azia".

"Senhor Doutor a minha mulher tem umas almorródias que com a sua licença nem dá um peido".

"Tenho pedra na basílica".

"O meu marido está internado porque sangra pela via da frente e pinga pela via de trás".

"Fizeram-me um exame que era uma televisão a trabalhar e eu a comer papa".

"Fiz uma mamografia ao intestino".

"O meu filho foi operado ao pence (apêndice) mas não lhe puseram os trenos (drenos), encheu o pipo e teve que pôr o soma (sonda)".

Os medicamentos e os seus efeitos prestam-se às maiores confusões:

"Ando a tomar o EspermaCanulado"- Espasmo Canulase

"Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião" - Sermion

"Andei a tomar umas injecções de Esferovite" - Parenterovit

"Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada" - Piprilim

"Agora estou melhor, tomo o Bate Certo" - Betaserc

"Tomo o Sigerom e o Chico Bem" - Stugeron e Gincoben

"Ando a tomar o Castro Leão" - Castilium

"Tomei Sexovir" - Isovir

"Tomo uma cábulas à noite".

"Tomei uns comprimidos "jaunes", assim amarelados".

"Tomo uns comprimidos a modos de umas aboborinhas".

"Receitou-me uns comprimidos que me põem um pouco tonha".

"Estava a ficar com os abéticos no sangue".

"Diz lá no papel que o medicamento podia dar muitas complicações e alienações".

"Quando acordo mais descaída tomo comprimidos de alta potência e fico logo melhor".

"Ó Sra. Enfermeira, ele tem o cu como um véu. O líquido entra e nem actua".

"Na minha opinião sinto-me com melhores sintomas".

O que os doentes pensam do médico:
"Também desculpe, aquela médica não tinha modinhos nenhuns".

"Especialista, médico, mas entendido!".

"Não sou muito afluente de vir aos médicos".

"Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde acho-vos uns estapores".

"Gosto do Senhor Doutor! Diz logo o que tem a dizer, não anda a engasular ninguém".

"Não há melhor doente que eu! Faço tudo o que me mandam, com aquela coisa de não morrer".

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos".

Charles Chaplin

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Porque dormem os bebés finlandeses em caixas de cartão?



Porque dormem os bebés finlandeses em caixas de cartão?

Há 75 anos que as futuras mães da Finlândia recebem uma caixa do Estado. Este «kit» inicial com roupa, lençóis e brinquedos pode até mesmo ser usado como cama.

O pacote de maternidade – um presente do governo finlandês – está disponível para todas as grávidas. É uma medida social que remonta à década de 1930 e foi projetada para dar a todas as crianças da Finlândia, não importa o contexto familiar, um início de vida igual. Contémbodies, um saco-cama, equipamento de ar livre, produtos para o banho do bebé, assim como fraldas, roupa de cama e um pequeno colchão.

Com o colchão no fundo, a caixa torna-se na primeira cama de um bebé. Muitas crianças, de todas as origens sociais, fazem os seus primeiros sonos dentro da segurança das quatro paredes da caixa de cartão.

As mães podem escolher entre aceitar a caixa ou um valor pecuniário, atualmente fixado em 140 euros, mas 95 por cento optam pela caixa, pois vale muito mais. 


Tradição remonta a 1938

No início, o esquema estava disponível apenas para famílias com baixos rendimentos, mas tal mudou em 1949. «Não só a caixa era oferecida a todas as futuras mães, comoa nova legislação estipulava que, para terem direito ao dinheiro ou à caixa de maternidade, tinham de ir ao médico ou a uma clínica pré-natal antes do quarto mês de gravidez», conta Heidi Liesivesi, que trabalha na Kela – a agência de Segurança Social da Finlândia.

Assim, a caixa fornecia às mães o que elas precisavam para cuidar do seu bebé, mas também ajudou a conduzir as grávidas para os cuidados de médicos e enfermeiros do estado social nascente da Finlândia.

Na década de 1930 a Finlândia era um país pobre e com uma mortalidade infantil elevada – 65 em cada mil bebés morriam. Mas os números melhoraram rapidamente nas décadas que se seguiram.

Mika Gissler, professor no Instituto Nacional para Saúde e Bem-Estar de Helsínquia, Finlândia, aponta várias razões para isso – a caixa de maternidade e os cuidados pré-natais para todas as mulheres na década de 1940, seguidos nos anos 60 por um sistema de seguro de saúde nacional e o desenvolvimento de uma rede central hospitalar.

Aos 75 anos de idade, a caixa é agora uma parte bem estabelecida do ritual finlandês de passagem para a maternidade, unindo gerações de mulheres.

Reija Klemetti, de 49 anos, lembra-se de ir ao correio para recolher uma caixa para um dos seus seis filhos. «Foi lindo e emocionante recebê-lo e, de alguma forma, a primeira promessa para o bebé», diz. «A minha mãe, os amigos e os familiares estavam todos ansiosos para ver que tipo de coisas estavam lá dentro e quais as cores que tinha escolhido para esse ano».

A sogra, de 78 anos, apoiou-se fortemente na caixa de maternidade quando nasceu o primeiro dos seus quatro filhos, nos anos 60. Na altura, não tinha muita ideia do que um bebé precisava, mas tudo foi fornecido.

Mais recentemente, Soija, filha de Reija Klemetti, de 23 anos, partilhou o sentimento de emoção que a mãe tinha experimentado quando tomou posse da «primeira coisa substancial» antes do próprio bebé. É agora mãe de dois filhos.

«É fácil saber em que ano nasceram os bebés porque a roupa da caixa varia um pouco todos os anos. É engraçado comparar e pensar “Ah, aquela criança nasceu no mesmo ano da minha”», diz Titta Vayrynen, 35 anos, mãe de dois rapazes pequenos.

Para algumas famílias, o conteúdo da caixa seria inviável se não fosse gratuita, embora para Titta Vayrynen, era mais uma questão de economia de tempo do que de dinheiro. Trabalhava longas horas enquanto estava grávida do primeiro filho e ficou contente de lhe ter sido poupado o esforço de comparar preços e de ir às compras.

«Recentemente foi publicado um relatório que dizia que as mães finlandesas são as mais felizes do mundo, e a caixa foi uma das coisas de que me lembrei quando li essa notícia. Somos bem tratadas, mesmo agora que alguns serviços públicos tenham sido cortados», afirma. Quando teve o seu segundo filho, Ilmari, Titta Vayrynen optou pelo dinheiro em vez da caixa de maternidade e reutilizou as roupas usadas por Aarni, o seu primeiro filho

Como a caixa de maternidade evoluiu

Um menino pode passar a roupa para uma menina e vice-versa, já que as cores escolhidas para a caixa de maternidade são deliberadamente neutras. O conteúdo da caixa tem mudado muito ao longo dos anos, reflectindo a evolução dos tempos.

Durante os anos 30 e 40, continha tecido porque as mães estavam acostumadas a fazer as roupas do bebé. Mas, durante a Segunda Guerra Mundial, a flanela e o tecido de algodão foram requisitados pelo Ministério da Defesa, de modo que algum do material foi substituído por lençóis de papel e pano de cueiros.

Os anos 50 viram um aumento no número de roupas prontas a vestir, e nos anos 60 e 70 estas começaram a ser feitas a partir de novos tecidos elásticos.

Em 1968, um saco-cama apareceu e no ano seguinte foram apresentadas pela primeira vez fraldas descartáveis.

Mas não por muito tempo, já que na viragem do século, as fraldas de pano estavam de volta e a variedade descartável estava fora, depois de ter caído em desuso por razões ambientais.

Além disso, incentivar boas práticas parentais tem feito parte da política da caixa de maternidade desde o início. «Os bebés costumavam dormir na mesma cama que os pais e foi recomendado que esta prática fosse abolida», afirma Panu Pulma, professor de História Nórdica e Finlandesa na Universidade de Helsínquia. «Transformar a caixa numa cama significou que os pais começaram a deixar de dormir com o bebé na mesma cama».

A certa altura, os biberões e as chupetas foram removidos da caixa de maternidade para promover a amamentação. «Um dos principais objetivos de todo o sistema era fazer com que as mulheres amamentassem mais», diz Panu Pulma. E, acrescenta, «Resultou».

O especialista também considera que a inclusão de um livro infantil teve um efeito positivo, pois encoraja desde cedo o bebé a lidar com livros, fomentando a curiosidade pela leitura.

«E além de tudo isto», afirma Panu Pulma, «a caixa é um símbolo. Um símbolo da ideia de igualdade e da importância das crianças.»

Um Papa... sem papas na lingua!


Catálogo das doenças da Cúria Romana

Crónica de Anselmo Borges

Estou convencido de que nunca pensaram ter de ouvir o que ouviram. Estavam os cardeais, bispos, monsenhores na bela Sala Clementina, para a saudação natalícia papal. A Cúria — governo e administração central da Igreja — esperaria palavras diplomáticas, alusivas à data. Mas o Papa Francisco veio com o Evangelho, num discurso profético e arrasador.

A. Como seria belo, começou, "pensar que a Cúria romana é um pequeno modelo da Igreja". No entanto, "como todo o corpo humano, está exposta à doença, ao mau funcionamento".

E enumerou, em tom duro, algumas destas doenças da Cúria.

1. Tudo gira à volta da "patologia do poder". Assim, a primeira doença é a de "sentir-se imortal, indispensável", que leva ao narcisismo e a considerar-se superior a todos e não ao serviço de todos.

"Uma Cúria que não se autocrítica, que não procura melhorar é um corpo doente".

2. Outra doença é o "martismo". No Evangelho, há duas irmãs: Marta e Maria e, enquanto esta escuta Jesus, Marta corre e atarefa-se sem descanso. O martismo é, pois, o trabalho excessivo, no stress, na agitação, sem repouso para a meditação e interioridade.

3. Há também a "fossilização mental e espiritual", que leva à perda da sensibilidade necessária para chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram.

4. Lá está ainda a doença do excesso de planificação e do funcionalismo, que conduz a posicionamentos estáticos e imutáveis, com a pretensão de domesticar o Espírito.

5. A doença da má coordenação, perdendo o espírito de colaboração e equipa.

6. A doença do "Alzheimer espiritual": perdeu-se a memória do encontro com Jesus e com Deus e vive-se então na dependência de concepções imaginárias, das próprias paixões, caprichos e manias.

7. Lá estão "a rivalidade e a vanglória", transformando-se a aparência, as honras e as medalhas honoríficas no primeiro objectivo da vida.

8. A doença da "esquizofrenia existencial", que é a de "quem vive uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual que títulos académicos não podem preencher". Doença que afecta sobretudo quem se limita às coisas burocráticas e perde o contacto pastoral.

9. A doença dos "rumores, mexericos, murmurações, má-língua", que pode levar ao "homicídio a sangue frio". Cuidado com "o terrorismo dos rumores, do diz-se!".

10. A doença de "divinizar os chefes", própria de quem idolatra os superiores: "são vítimas do carreirismo e do oportunismo".

11. A doença da indiferença para com os outros.

12. A "doença da cara de funeral": são pessoas" bruscas e grosseiras", sem alegria nem delicadeza.

13. A doença da acumulação de bens materiais, querendo assim preencher "um vazio existencial no coração".

14. A doença dos "círculos fechados", com o perigo de cortar a relação com o Corpo da Igreja e até com o próprio Cristo.

15. A última é "a doença do mundanismo, do exibicionismo", transformando o serviço em poder.

É claro que "estas doenças e tentações são naturalmente um perigo para cada cristão e para cada cúria (diocesana), comunidade, paróquia, movimento eclesial, e podem ferir tanto a nível individual como comunitário", concluiu. Aliás, podemos acrescentar que as tentações de sentimento de imortalidade, Alzheimer espiritual, esquizofrenia existencial, exibicionismo, materialismo, vaidade, nepotismo, martismo... são tentações de governantes e cidadãos em geral, em toda a parte.

Mas, aqui, sem adoçar as palavras, Francisco dirigiu-se directamente à Cúria romana, que não quer como corte e que não reagiu entusiasta ao discurso, apenas com palmas tímidas e frouxas. Possivelmente, a Cúria ao longo dos tempos terá feito mais ateus e provocado mais abandonos da Igreja do que Marx, Nietzsche, Freud e outros pensadores ateus juntos.

Recentemente, o historiador da Igreja, Andrea Riccardi, fundador da célebre Comunidade de Santo Egídio, ex-ministro da Itália e amigo de Francisco, advertiu que "o Papa tem muita oposição dentro e fora da Cúria, e sabe-o".

Francisco está a operar uma revolução na Igreja e tem consciência de que há maquinações no sentido de um restauracionismo pré-conciliar. Mas também sabe, como acrescentou Riccardi, que, sem o Concílio Vaticano II, "a Igreja teria naufragado e seria uma pequena comunidade com um grande passado". "A Igreja errou ao apresentar-se como o partido dos valores tradicionais", e "aceitar o desafio de ser Igreja-povo é crucial".

Francisco é consciente de que, sem reformas estruturais na Igreja, corre o risco de, desaparecendo ele, o seu pontificado vir a ser considerado como um simples parêntesis.

Por isso, invocou a urgência de conversão da Cúria. Fê-lo, à luz do Evangelho, frente à Cúria e sabendo que a maior parte da Igreja e da opinião pública mundial está do seu lado.

Editorial do 'Jornal de Angola' sobre o Acordo Ortográfico


Editorial do 'Jornal de Angola' sobre o Acordo Ortográfico

Notável. E que lição para muitos de cá ….

Património em risco

"Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da organização,
e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo Ortográfico que Angola
e Moçambique ainda não ratificaram. Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na próxima reunião de Luanda.

A Língua Portuguesa é património de todos os povos que a falam e neste ponto
estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses,
goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.

Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige.

Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais
respeitáveis que sejam, ou às "leis do mercado". Os afectos não são
transaccionáveis. E a língua que veicula esses afectos, muito menos.

Provavelmente foi por ter esta consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a Língua Portuguesa.

Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e outros
intelectuais angolenses da última metade do Século XIX também juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram,sobretudo os que lançaram o grito "Vamos Descobrir Angola", deram-lhe uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única.

Eles promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi o
português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os outros
falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas especificidades.
Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular.
Do "português tabeliónico" aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas.

Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades.

Queremos a Língua Portuguesa que brota da gramática e da sua matriz latina.
Os jornalistas da Imprensa conhecem melhor do que ninguém esta realidade:
quem fala, não pensa na gramática nem quer saber de regras ou de matrizes.
Quem fala quer ser compreendido. Por isso, quando fazemos uma entrevista,por razões éticas mas também técnicas, somos obrigados a fazer a conversão,o câmbio, da linguagem coloquial para a linguagem jornalística escrita.É certo que muitos se esquecem deste aspecto, mas fazem mal. Numa entrevista até é preciso levar aos destinatários particularidades da linguagem gestual do entrevistado.

Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas.

O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem
informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez
isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e
sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios.
E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam
correctamente o português.

Neste aspecto, como em tudo na vida, os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos.

Nunca descer ao seu nível. Porque é batota!

Na verdade nunca estarão a esse nível e vão sempre aproveitar-se social e economicamente por saberem mais. O Prémio Nobel da Literatura, Dário Fo, tem um texto fabuloso sobre este tema e que
representou com a sua trupe em fábricas, escolas, ruas e praças. O que ele defende é muito simples:

O patrão é patrão porque sabe mais palavras do que o operário!

Os falantes da Língua Portuguesa que sabem menos, têm de ser ajudados a
saber mais.
E quando souberem o suficiente vão escrever correctamente em português.
Falar é outra coisa. O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes.

Tal como o português que é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é "contaminada" pela linguagem
coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que, através de um qualquer acordo, ela sejasimplesmente ignorada.Nada o justifica.

Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras."

Quando escrevo, os meus mails são redigidos em profundo desacordo e intencional desrespeito pelo novo Acordo Ortográfico!

Temos Gás Natural e ninguém diz nada...!?


"Num altinho de Cabeça Gorda (acho que se chama assim), que fica entre Runa e Matacães a 3Km de Torres Vedras, por volta de 1974 , esteve a ser queimado durante mais de 2 meses gás natural. Ao fim de dois meses os técnicos mandaram selar o poço . Na sequência disto, o Sr.Armindo ,presidente da Junta de Freguesia de Matacães, suicidou-se. Um dos técnicos que esteve na análise deste poço já me confirmou que o gás lá encontrado dava para o nosso país pelo menos para mais de 2OO anos.

O pai do Sr. Herman José foi um dos técnicos alemães que por lá andou. É pena já ter falecido para poder ele confirmar a história. Talvez o nosso humorista que tem boa memória consiga confirmá-la se é que alguma vez o pai lhe falou nisso. Talvez porque na altura da descoberta há quem diga que a Sacor é que mandou selar ( Sacor depois GALP )

MAS.....o que mais me admira é ter aparecido há meia dúzia de meses um(a) advogado(a) da Dª Isabel dos Santos com interesse em comprar uns bocadinhos de terreno mesmo encostadinhos à dita serra que pertenciam ainda à minha bisavó . E o engraçado é que dizem que a Dª Isabel já comprou uma quinta encostada a esses terrenos . Que coincidência..ou há coisas que andam de dia e não se vêem."

Naturalmente, fui procurar alguma veracidade deste caso e encontrei, entre várias informações, o seguinte: Instituto Superior Técnico Caracterização de Formações da Bacia Lusitaniana (zona emersa) para a produção de gás natural (não convencional) - Clicar no RELATÓRIO

Em resumo: 8. CONCLUSÕES

Concluiu-se, em primeiro lugar, que o gás natural, a par do petróleo, é uma importante fonte de energia. É um recurso abundante, mais limpo que os demais combustíveis fósseis e é bastante competitivo no mercado energético. A prospecção e produção deste recurso no nosso país constitui uma enorme mais valia económica, tecnológica e social. Este facto materializa-se na redução da dependência energética do exterior, criação de mais-valias para o estado (contratos de concessões, royalties, entre outros), criação de emprego, introdução de valências industriais e o incentivo à formação de quadros qualificados para desempenhar as tarefas necessárias às operações deprospecção e produção.

Concluiu-se também que, para além de prospecção de gás natural convencional, fará sentido, na zona emersa da bacia Lusitaniana, realizar trabalhos mais aprofundados de prospecção deshale gas e tight gas. À partida, quando se apresentam evidências de um recurso convencional, como é claro nos poços estudados, aplicando a teoria do triângulo de recursos, sabe-se que existem também em muito maiores quantidades recursos não convencionais mas mais difíceis de produzir. No caso específico do shale e tight gas, sabe-se que as litologias dos reservatórios mais conhecidos internacionalmente são litologias que não são estranhas à bacia Lusitaniana. Este facto é saliente quando se compara com a bibliografia, resumidamente na Tabela 13.

Todas as litologias descritas da Bacia, nas formações estudadas (Brenha e Candeeiros), enquadram-se perfeitamente no triângulo onde se “balizam os reservatórios de shale e, por conseguinte, não é possível ignorar a possibilidade de existência de reservatórios com tais características. Em relação aos mapas criados, existe uma conclusão que se destaca, após ser realizada a normalização dos volumes de vazios pela área: A zona 2, situada no concelho de Alenquer, é a zona com maior índice de vazios por área, o que significa que, quando interceptada por um poço vertical, é a zona que terá um maior índice de vazios exposto ao referido poço e, como tal, será provavelmente a área mais interessante a prospectar, sob este ponto de vista.

Embora o volume de vazios seja um bom indicador da qualidade do reservatório existem inúmeros outros parâmetros a ser considerados, mas para os quais não dispomos de informação, como por exemplo o factor de expansão do gás, pressão, temperatura, entre outros.
A produção de um qualquer bem está sujeita à lei da oferta e da procura. O caso do gás não é diferente. As flutuações de preço, quer pela conjuntura internacional quer do ponto de vista da sazonalidade, são factores que afectam a produção ao ponto de a poderem tornar não rentável. Este facto só é passível de ser contornado com uma capacidade de armazenamento para posterior venda, quando o mercado se tornar mais favorável. A produção de gás na bacia Lusitaniana tem como ponto forte a possibilidade de comportar tal armazenamento. Este armazenamento pode ser realizado em diapiros salinos que estão amplamente disseminados pela bacia Lusitaniana, oferecendo uma maior estabilidade à eventual produção.
Finalmente, sugere-se um estudo mais aprofundado às potenciais rochas-mãe existentes na bacia Lusitaniana, pois nelas jaz o potencial de poderem ser simultaneamente rochas reservatório de shale gas e shale oil.
Também encontrei esta situação que poderá ser um grande entrave para a exploração directa do nosso GÁS. Clique: AQUI

Perguntar não ofende: Será que os interesses comerciais da REN, são superiores ao INTERESSE NACIONAL?

Rumo ao Abismo


Raquel Varela

E o incrível aconteceu…Foi hoje anunciado, depois de 8 mortos nas urgências – um número inusitado que não é uma mera flutuação estatística – que “as urgências privadas podem vir a tratar doentes do Serviço Nacional de Saúde em alturas de maior afluência aos hospitais”. Quem trabalha com contas públicas de forma séria sabe que era este o objectivo. As urgências no sector privado cresceram com a Troika 84%. Trata-se agora não de remunerar decentemente os profissionais de saúde no sector público para garantir a todos uma saúde digna – usando os impostos que pagamos para tal – mas de usar esses mesmos impostos para ampliar o mercado de urgências no sector privado. E a minha nota é que com esta medida, a médio prazo, vão morrer mais pessoas. A médio prazo, no sector privado não vamos ter nem bons cuidados de saúde, nem salários decentes, vai haver em consequência quedas da produtividade (uns fingem que pagam, outros fingem que trabalham) e por isso vamos ter – escrevo-o – mais mortos no futuro nas urgências nos hospitais privados do que hoje nos públicos. E é essencial dizê-lo que hoje há meios num país que produz de PIB 170 mil milhões de euros e em que quem vive do salário paga o maior volume de impostos de sempre, para garantir que no público estas situações serão de todo evitadas.

Porquê? Porque o sector público serve de bitola ao privado e está a ser desnatado. Com o fim dos consultórios privados pela queda do consumo interno, e o desmantelamento dos serviços públicos, e a queda do salário médio dos médicos no público, cai por arrastamento o salário destes no sector privado. Porque os médicos no privado deixam de ter força negocial para exigir boas condições laborais. Agora podem fazê-lo, e cada vez menos (já há indicadores de queda dos salários oferecidos pelo privado desde que caiu no público), porque ainda podem dizer “ou me dão condições aqui ou saio, de volta ao público ou ao consultório”. Quando estes deixam de existir ou estão tão degradados que não são moeda de troca para exigir condições de trabalho decentes nós vamos ter um serviço privado caro e caótico; vamos ter urgências caríssimas, 22 horas de espera no sector privado e médicos pauperizados e desmoralizados. A consequência desta política é lapidar: destrói-se o serviço público, amplia-se o negócio da saúde no sector privado, este vai fazer da saúde a máxima rentabilidade possível (aumentando o lucro, descendo o custo unitário do trabalho), o que resultará na diminuição drástica da qualidade dos cuidados de saúde prestados no sector privado. Iremos ver os Mellos desta vida, os hospitais com luz e sem luz, acabar como a PT e o BES – vão ser desmantelados, vamos pagar mais por piores serviços. Paulo Macedo estará com honras de Estado e desonras públicas ao lado de Ricardo Salgado e Zeinal Bava. Ninguém que tenha conhecimentos rudimentares de economia pode hoje, com sinceridade, negar esta evidência, esta forma peculiar de levar um país para o abismo. Como ninguém pode negar que os médicos e profissionais de saúde, com a força que têm hoje, podem travar esta nau de loucos que engolem os nossos impostos regurgitando capitais financeiros, com a ética de um Nero que ateia fogo e ri.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A hora de Federica


RICARDO COSTA
20 de Janeiro de 2015

As ondas de choque dos brutais ataques de Paris continuam visíveis em todo o mundo. Nos países muçulmanos prosseguem asmanifestações contra o Charlie Hebdo e ontem a prova da zanga muçulmana veio de um lugar menos óbvio, a Chéchénia, república russa onde a maioria da população segue o Islão. As palavras de ordem foram violentas e as imagens voltaram a impressionar. Na Europa ocidental, o número de notícias sobre ainsegurança dos judeus começa a ser preocupante. Depois de França, agora é o Reino Unido a multiplicar notícias sobre incidentes ou ameaças, o que é relativamente surpreendente já que o país, ao contrário de França, não costuma ser notícia por anti-semitismo. No meio de tantos acontecimentos improváveis, a popularidade de François Hollande disparou 21 pontos em poucos dias, de uns modestíssimos 19% para uns nada embaraçosos 40%.

Os MNE’s europeus reuniram ontem para tentar ordenar a suaresposta ao terrorismo e a reunião teve um rosto: Federica Mogherini, a nova Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e que defendeu uma aliança com vários países árabes e muçulmanos. Mogherini reuniu de seguida com o secretário-geral da Liga Árabe e indicou que Bruxelas vai desenvolver projectos específicos de cooperação com países do Golfo, Turquia, Egito, Argélia e Iémen (que ontem viveu uma espécie de golpe de Estado). Os países europeus não costumam levar a sério o cargo da italiana, mas Federica tem uma oportunidade séria para mostrar o que vale num momento dramático.

Além da cooperação com estes países, o esforço é tentar coordenar respostas, o que não é fácil: em Inglaterra já se fala em revogação vitalícia de passaportes e em retirar quaisquer di reitos a presos por terrorismo. Em França, as leis estão a caminho de uma mudança brusca e há pressão para ter traços do Patriot Act, que Bush lançou após o 11 de Setembro. A única coisa que parece certa é que oregisto nacional de passageiros (PNR) vai mesmo avançar. A ideia tinha sido chumbada pelo Parlamento Europeu, mas depois desta vaga de insegurança, o registo vai mesmo avançar.

OUTRAS NOTÍCIAS

Parece que ontem foi o dia mais triste do ano. Os ingleses chamaram-lhe blue monday e preparam-nos para um dia terrível. Os cientistas riram-se da ideia. Como de costume, o dia foi igual aos outros, mas com muito para contar.

A Oxfam divulgou um estudo que diz que dentro de um ano 1% da populaç&a tilde;o mundial vai deter mais riqueza que os restantes 99%. O estudo, com este e outros dados assustadores, foi divulgado a poucos dias de arrancar o Fórum de Davos, onde o tema da desigualdade vai estar em cima da mesa.

Esta madrugada, o FMI divulgou as suas previsões económicas e não são animadoras. O crescimento é quase sempre revisto em baixa. Nas grandes economias, as excepções os EUA e nuestros hermanos, onde o PIB pode crescer 2%

Furioso com os americanos e com o nosso executivo está o governo Regional dos Açores. O líder local aventou a ideia de ceder a base das Lajes à China e alegou razões históricas (!) para isso. O PS nacional aproveitou para colocar pressão sobre Passos Coelho, já que a negociação não correu muito bem e as Lajes vão mesmo ser… uma gas station (a expressão é dos americanos).

A pressão sobre o ruinoso negócio que a Goldman Sachs fez com o BES nos seus últimos dias de vida está aumentar. Depois da notícia da Bloomberg sobre o corte dos bónus a 50 funcionários, o Wall Street Journal apontou ontem o dedo a José Luís Arnaut.

Ontem morreu mais uma pessoa nas Urgências, desta vez no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. São oito óbitos em Urgências em muito poucas semanas.

Hoje há mais comissão parlamentar sobre o caso BES. Chegou a vez da PwC, que alertou para problemas em 2001 (e que sabe umas coisas sobre a PT…) e da KPMG, que auditava o BES por alturas do colapso. Muito técnico, mas a não perder. Se não tiver vida para isso ou não gostar do Canal Parlamento, nós vamos contar tudo, claro.

Os impostos sobre os mais ricos vão ser centrais no discurso do estado da União, que Obama fará esta noite (madrugada em Portugal). A ideia de tirar aos muito ricos para dar aos mais pobres já é conhecida, claro, como plano Robin dos Bosques.

FRASES
“Por mim, hesito em ir às fuças cobardes de quem me quer ofender, porque resisto à ideia de meter as m&atil de;os na enxovia”.Afonso Camões, director do JN, sobre a sua ligação a Sócrates, a que o CM tem dado especial atenção

“É a defesa de uma pessoa que fez algumas coisas que estão vedadas a jornalistas”. Resposta de Otávio Ribeiro, director do CM, numa querela entre os dois maiores diários portugueses que explicamos aqui.

“Eu estava a tirar uma foto com a Miss Japão e a Miss Eslovénia e, de repente, a Miss Israel apareceu e tirou uma selfie”. Queixa daMiss Líbano sobre a selfie que incendiou a sua pátria

“ Eu tive a felicidade de jogar no meu tempo com grandes jogadores, tanto na minha equipa como contra, possivelmente melhores do que Cristiano e Messi”. Luís Figo, numa frase que está a gerar polémica.

O QUE EU ANDO A LER
Grécia, Grécia, Grécia. As eleições decisivas são domingo e vale a pena perder tempo a enquadrar a situação, que se arrasta há anos. Assondagens continuam a dar a vitória ao Syriza, nalguns casos perto da maioria absoluta. O Expresso Diário está a acompanhar tudo em Atenas e ontem falou com Papandreou, que regressou à liça com um novo partido, mas sem hipótese de vencer.

Se não acredita em sondagens, pode ver este estudo da Goldman Sachs que aposta na vitória da Nova Democracia, o partido que governa a Grécia. O estudo, que também joga na reeleição de Passos Coelho e Rajoy, assenta numa ligação directa entre indicadores económicos e escolhas dos eleitores. É um estudo interessante, embora valha a pena recordar que nos cálculos que a Goldman fez para o último Mundial, o Brasil ganhava tudo, depois de eliminar… a Alemanha.

Se tiver mais tempo pode ler o melhor trabalho jornalísticojamais feito sobre os dias de brasa que quase levaram à saída da Grécia do euro em 2012 (“Inside Europe’s Plan z”). É uma investigação de Peter Spiegel, correspondente do Financial Times em Bruxelas, e publicada em maio de 2014. É longo, mas mostra a loucura (a palavra é minha) que existe nas relações entre Bruxelas e Atenas.

Se quiser uma visão mais humorada da Grécia, sugiro que pegue no livro Boomerang de Michael Lewis e vá directo ao capítulo “E eles inventaram a matemática”. Está editado na Lua de Papel e conta a delirante viagem de Lewis, o mais famoso jornalista financeiro dos EUA, a um país onde quase ninguém pagava impostos e até os monges ortodoxos enganavam o governo em negócios imobiliários, que acabaram a ser estudados em Harvard! O livro, que ridiculariza com o mesmo humor implacável a Alemanha, coloca-nos perante o dilema de sempre: é certo que os gregos fizeram tudo para rebentar as contas, mas agora o melhor é ajudá-los porque ninguém paga uma dívida daquelas. O trabalho de Lewis nasceu neste artigo que fez para a Vanity Fair em 2010 (Beware of greeks bearing bonds) e que está disponível online. Se acha que não se vai rir a ler coisas sobre a Grécia, experimente.

MAIOR LAVANDARIA DE DINHEIRO DO MUNDO AMEAÇA FALIR

A SUÍÇA ESTREMECE

ZURIQUE ALARMA-SE


Os belos bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes.

Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo.

Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço.

O ataque veio dos Estados Unidos, em acordo com o presidente Obama.

O primeiro tiro de advertência foi dado na quarta-feira.

A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco.

O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos.

Os suíços, então, passaram os nomes.

E a vida bancária foi retomada tranquilamente.

Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado.

Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!

O banco protestou.

A Suíça está temerosa.

O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal.

Mas como resistir?

A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.

Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido.

O segredo bancário suíço não é coisa recente.

Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714.

No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas.

Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe económica.

Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares.

E não se trata apenas do UBS.

Toda a rede bancária do país funciona da mesma maneira.

O historiador suíço Jean Ziegler, que há mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três triliões de dólares de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os activos estrangeiros chamados institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente minoritários.

Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente.

Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos.

O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental.

Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...

Onde param as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi?

Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Máfia Russa?

Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municípios têm chorudas contas na Suíça?

Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?

Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nunca conseguiram entrar na Suíça?

Tudo lá ficou para sempre e em segredo...

Agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos.

Na mini cúpula europeia que se realizou em Berlim, (em preparação ao encontro do G-20 em Londres), França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.

"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel.

No domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico Alistair Darling, apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias europeias.

Vale observar, contudo, que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão debatidas as sanções a serem adoptadas contra os paraísos fiscais.

Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas.

Hoje, estamos em crise.

Viva a crise!!!

Barack Obama, quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de paz para o dinheiro corrompido.

Hoje ele é presidente.

É preciso acrescentar que os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi considerada um dos crimes mais graves no país.

Nos anos 30, os americanos conseguiram caçar Al Capone.

Sob que pretexto?

Fraude fiscal !!!

Para muito breve, a queda do império financeiro suíço !

NÃO, NEM TODOS SOMOS CHARLIE


09 Janeiro 2015, por João Quadros

Confesso-me um pouco admirado com a quantidade de Charlies que há neste país e que eu desconhecia.

"Muitas pessoas perdem o humor, meramente, por perceberem que você não perdeu o seu."
Frank Moore Colby

Confesso-me um pouco admirado com a quantidade de Charlies que há neste país e que eu desconhecia. Na sequência do miserável ataque contra a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, foram vários os jornais e jornalistas que apareceram a empunhar cartazes com a frase - Nós Somos Charlie Hebdo. Subitamente, só faltou ver o Jornal da Madeira ser também Charlie.
Não me levem a mal, ou levem, mas vou ser Charlie: por favor, jornalistas Portugueses a dizer que são o Charlie quando nem coisos (tomates) têm para não fazer favores ao Governo etc., tenham dó. Não, não são todos Charlie. Pelo contrário, há meia dúzia que são e ainda bem que há. Agora não se façam passar por eles. Hoje somos todos Charlie Hebdo, mas amanhã voltamos ao que éramos. Aos jornais, televisões, etc., que aparecem a dizer-se Charlie, pergunto: quantas semanas durava o Charlie Hebdo em Portugal antes de ser cancelado por causa de chatices com a Igreja, Angola ou o Governo?
Força, Charlie. Quantos jornais portugueses teriam coragem ou vontade de publicar os "cartoons" do Charlie? Espero que estes jornais que se dizem Charlie, durante a semana toda publiquem os "cartoons" na capa.
Ligo a televisão e vejo a Assembleia da República que não deixou falar os "capitães de Abril" e que está tão chocada com esta falta de respeito pelo direito de expressão. Julgava que, para a presidente da Assembleia da República, "os carrascos" eram os que faziam barulho nas bancadas para o povo. O mesmo Telmo que está na Assembleia da República chocado, estaria a pedir para acabar com aquele "cartoon" que ofende católicos. Já assisti a isso e não foi assim há tanto tempo. "Embora fazer um referendo sobre co-adopção de casais homo" - porque respeitamos muito a liberdade dos outros. Uma Europa que vive um discurso de honestos do Norte contra preguiçosos do Sul está de boca aberta com extremistas. Somos todos Charlie. É só grandes defensores da liberdade de expressão e dos direitos individuais e das conquistas da democracia, no mesmo local onde se apoia que a Merkel possa fazer chantagem eleitoral sobre os gregos.
Vivemos num país em que o Presidente da República, como representante de todos os portugueses, não vai ao enterro de um escritor (Nobel) porque não gosta dele, ou que não dá os parabéns a outro que canta fado porque não canta o que ele gosta, e que deve estar a deitar cá para fora um comunicado sobre a importância de aceitar a liberdade de expressão e a diferença.
Não, não somos todos Charlie. Eu, felizmente, nem sei desenhar.

cavaco-Ricardo Salgado: a dupla



PARA QUE NÃO SE APAGUE DA MEMÓRIA

BES Os laços de longa data que unem Cavaco e Salgado

Tudo começou na década de 60, quando Ricardo Salgado foi aluno do professor Aníbal Cavaco Silva. Desde então, o actual Presidente da República e o ex-presidente do BES não mais voltaram a quebrar laços. Uma amizade que o jornal i detalha na sua edição de hoje e que coloca dúvidas em relação ao conhecimento de Cavaco sobre a situação que o banco atravessou.

POLÍTICA
Os laços de longa data que unem Cavaco e Salgado

10 de Setembro de 2014
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As críticas à actuação do Presidente da República em relação à crise do BES não têm fim à vista, mesmo depois da divisão do banco em dois. Ainda na noite passada, Augusto Santos Silva acusou o chefe de Estado de “sacudir a água do capote” no que a este assunto diz respeito, por alegar conhecer apenas o que lhe foi transmitido pelo Governo.

Leia também:

· Cavaco é o "último de uma cadeia de sacudir responsabilidades"

· Cavaco "sacudiu a água do capote" no caso BES

Mas a amizade entre Cavaco Silva e Ricardo Salgado, que esteve mais de 20 anos à frente da instituição bancária, é de longa data e não é segredo para ninguém.

O jornal i recua no tempo, na sua edição de hoje, relembrando como tudo começou, na década de 60. Nessa altura, Cavaco Silva foi professor de Ricardo Salgado no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (actual ISEG).

Desde então, os dois nomes que os portugueses tão bem conhecem não mais perderam contacto. Entre encontros no estrangeiro e jantares privados, a relação entre ambos foi-se fortalecendo, com Ricardo Salgado a incentivar Cavaco Silva a concorrer às eleições presidenciais de 2006.

O banqueiro financiou, inclusivamente, a campanha em 22.482 euros, o limite máximo estipulado por lei. A família Espírito Santo foi, de resto, a que deu o maior contributo a nível de financiamento.

Quatro anos passados, Ricardo Salgado apoiou, mais uma vez, a recandidatura de Cavaco Silva a Belém, cadeira que este veio a reconquistar em 2011 e em que ainda hoje se mantém ‘sentado’.

Os laços de amizade que unem os dois homens acentuam as dúvidas em relação ao conhecimento que o Presidente da República teria sobre a situação que o BES atravessava quando disse, em julho, que o banco estava estável.

Conheça a história da relação entre Cavaco e Salgado
http://www.ionline.pt/sites/default/files/styles/625x350-imagem_interior/public/14102958013431.jpg?itok=Vlect9dd

PR tem sido criticado por ter dito em Julho que o banco estava estável. No domingo justificou que só pode saber do que se passa verdadeiramente no banco quando o governo ou as entidades oficiais lhe comunicam

O Presidente da República respondeu este fim de semana a quem o acusa de ter induzido em erro os pequenos investidores que compraram acções do BES poucos dias antes da decisão de recapitalização do banco. Cavaco Silva justificou que as suas declarações de Julho, dando conta que o BES estava estável, tinham por base a informação oficial de que dispunha e adiantou mesmo que espera ter sido avisado atempadamente pelo executivo de Passos Coelho e pelas entidades oficiais assim que houve conhecimento dos reais problemas do banco. Os canais de informação, porém, entre Cavaco e o universo Espírito Santo sempre existiram. Nesta última declaração, o chefe de Estado disse não ter “ministérios”, “serviços de execução política”, nem “serviços de fiscalização ou investigação” para conseguir informação além da que o executivo lhe disponibiliza. Mas desde há muitos anos que são conhecidas as ligações com a família Espírito Santo e a amizade com Ricardo Salgado.

O i foi recuperar o início de uma relação entre professor e aluno que começou na década de 60 e os encontros que mais tarde começaram a traçar uma maior proximidade: desde jantares privados a apoios financeiros à corrida a Belém de 2006.

A REUNIÃO DAVOS O mediático encontro de 1989 num hotel da Suíça foi um marco nas relações entre o banqueiro e o então primeiro ministro, mas não o início. Salgado já havia sido aluno de Cavaco no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (actual ISEG) na década de 60. É, no entanto, naquela reunião que é comunicada por Salgado e Manuel Ricardo Espírito Santo a Cavaco Silva a intenção da família de retomar parte do império perdido. O chefe do executivo encontrava-se naquele país para estar presente no Fórum Mundial de Davos. Nos últimos 20 anos muita coisa tinha mudado e é ali – no bar do pequeno hotel encerrado para aquela reunião – que Cavaco fica a conhecer os planos da família Espírito Santo para o futuro próximo. Queriam regressar a Portugal com o objectivo de ganhar a privatização do Banco Espírito Santo Comercial de Lisboa – nacionalizados em 1975 – no âmbito da política de liberalização económica promovida pelos governos de Cavaco.

PRESSÃO PARA CANDIDATURA A BELÉM O retorno em força dos Espírito Santo ao país acontece dois anos depois da reunião no hotel da Suíça, ainda durante o executivo liderado por Cavaco Silva. Mas se até então as conversações poderiam não passar de meras formalidades, as dúvidas ficam desfeitas quando anos mais tarde, em 2004, Salgado convida Cavaco para um jantar na casa do Estoril, onde em Julho deste ano foi detido no âmbito da Operação Monte Branco.

Aníbal Cavaco Silva chegou com a sua mulher ao jantar onde além de Ricardo Salgado estava Durão Barroso – então primeiro-ministro –, Margarida Sousa Uva, Marcelo Rebelo de Sousa e Rita Amaral Cabral. Na altura o semanário “Expresso” adiantou que o convite tinha como objectivo “pressionar Cavaco a candidatar-se às eleições presidenciais [de 2006]”. O banqueiro terá referido nesse encontro que a presença de Cavaco em Belém seria importante para o país, uma vez que se encontrava numa situação económico-financeira cada vez mais complicada.

A conversa privada rapidamente se tornara pública, uma vez que dentro do PSD havia movimentações para a corrida a Belém e alguns sectores do partido estavam preocupados com a possibilidade de Pedro Santana Lopes avançar.

Contactado então pelo “Expresso”, Ricardo Salgado confirmou o encontro e admitiu a existência de uma relação de amizade: “[Tratou-se] de um jantar privado de casais que têm laços de amizade.”

MAIS QUE AMIZADE Mas o apoio à candidatura não se ficou pelas palavras dessa noite. Ricardo Salgado fez questão de, no ano seguinte, doar o máximo permitido por lei à candidatura de Cavaco – que entretanto já havia anunciado que estava na corrida a Belém. De acordo com o “Diário de Notícias”, que consultou as contas das campanhas de 2006, a família Espírito Santo foi uma das grandes financiadoras do actual Presidente da República, tendo doado 104 928 euros – o que representa mais de 5% do total. Só Salgado doou 22 482 euros, o máximo então permitido por lei. O banqueiro foi mais longe que Oliveira Costa, então presidente do BPN, que apenas doou 15 mil euros.

Os apoios da banca a Cavaco não foram exclusivos da família de Ricardo Salgado, mas os dos Espírito Santo foram exclusivamente para Cavaco. Segundo o mesmo jornal, por exemplo, a candidatura de Mário Soares – ainda que tenha tido financiamento da banca – não recebeu qualquer donativo proveniente do universo Espírito Santo.

Ainda assim, no livro “O Último Banqueiro” é referido que Ricardo Salgado também terá incentivado Soares a concorrer contra o social-democrata. Apesar de haver mais apoios para uns que para outros, a obra refere que o objectivo do banqueiro era que o BES fosse “o banco de todos os regimes”.

UMA RELAÇÃO QUE SE MANTEVE Apesar de dizer várias vezes que o banco agradava a todas as cores políticas, a verdade é que Salgado volta a dar a mão a Cavaco em 2010. Num evento organizado pelo “Económico” o banqueiro defendeu a recandidatura: “O presidente Cavaco Silva é uma referência nacional. Acho que se deve recandidatar.” As contas das presidenciais de 2011 ainda aguardam publicação de acórdão, pelo que não são conhecidos os valores das doações.

Outros factos comprovam a proximidade entre o Presidente da República e os Espírito Santo. Um deles foi a compra do Pavilhão Atlântico pelo consórcio liderado por Luís Montez, o empresário de comunicação genro de Cavaco Silva, numa operação financiada pelo BES Investimento.

Cronologia

1989 Cavaco Silva, então primeiro-ministro, e Ricardo Salgado encontram-se na Suíça, juntamente com Manuel Ricardo Espírito Santo. Os membros da família Espírito Santo revelam que têm vontade de regressar ao país e assumir novamente a Tranquilidade e o Banco Espírito Santo.

2004 Um jantar na casa do Estoril de Ricardo Salgado juntava o primeiro ministro Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa e Cavaco Silva. O “Expresso” noticiou que o encontro tinha a finalidade de mostrar apoio à candidatura de Cavaco nas eleições presidenciais de 2006.

2004 Cinco membros da família Espírito Santo doaram mais de 104 mil euros à Campanha de Cavaco. Segundo o “Diário de Notícias”, a família Espírito Santo foi mesmo uma das grandes financiadoras, representando mais de 5% do total doado a Cavaco Silva. Salgado doou o máximo permitido, na altura, por lei: 22 482 euros.

2010 Ricardo Salgado pressiona Cavaco a recandidatar-se à presidência da República. E chega a dar a sua posição em público, num evento organizado pelo “Negócios”: “O Presidente Cavaco é uma referência nacional. Acho que se deve recandidatar”. Cavaco respondeu, numa entrevista à RTP a partir de Luanda, dizendo que ira pensar em família nesse cenário.

2014
21 Julho - Durante uma viagem à Coreia do Sul, Cavaco acalma os ânimos e diz que o BES está estável. Adianta que a entidade bancária não é permeável aos problemas do Grupo Espírito Santo. 

03 Agosto - É anunciada a recapitalização do Banco Espírito Santo e a sua divisão em dois bancos: um bom e um mau.
07 Setembro - Após criticas de que terá induzido investidores em erro ao dizer que o banco estava estável, Cavaco reage dizendo que as suas declarações tinham em conta as informações que lhe foram prestadas pelo executivo de Passo Coelho, bem como pelas entidades oficiais. Disse esperar que o Governo lhe tenha dado as informações assim que teve acesso às mesmas.

Uma perspectiva...para uma possível reflexão.


Uma perspectiva do Islão na actualidade.

O autor deste texto é dito ser o Dr. Emanuel Tanya, um conhecido e respeitado psiquiatra. Um homem cuja família pertencia à aristocracia alemã antes da segunda guerra mundial e era proprietário de uma série de grandes indústrias e propriedades.

Quando perguntado sobre quantos alemães eram verdadeiros nazis,a sua resposta pode guiar a nossa atitude em relação ao fanatismo:

'Muito poucas pessoas foram verdadeiras nazis', disse ele, 'mas muitos gostaram do regresso do orgulho alemão e muitos mais estavam demasiado ocupados para se importarem com isso’. Eu era um dos que pensavam que os nazis não eram mais que um bando de idiotas.

Assim, a maioria limitou-se a ficar sentada e a deixar que tudo pudesse acontecer. E antes que nos apercebêssemos eles eram donos de nós, tínhamos perdido o controlo da situação e tinha chegado o fim do mundo.A minha família perdeu tudo, eu acabei num campo de concentração e os aliados destruíram as minhas fábricas.'

Tem-nos sido dito repetidas vezes por "especialistas" e "comentadores" que o Islão é uma religião de paz e que a grande maioria dos muçulmanos só quer viver em paz. Ainda que esta afirmação possa ser verdadeira, ela é totalmente irrelevante. É " treta "sem sentido destinada a nos fazer sentir melhor e a minimizar o fantasma do alvoroço mundial em nome do Islão.

O facto actual é que são os fanáticos que mandam no Islão neste momento da história.
São os fanáticos que conduzem, são os fanáticos que empreenderam todas as 50 pungentes guerras no mundo, são os fanáticos que sistematicamente trucidam grupos cristãos ou tribais através da África e estão gradualmente tomando conta de todo um continente numa onda islâmica, são os fanáticos que bombardeiam, decapitam, assassinam em nome da sua "lei", são os fanáticos que se vão apoderando das mesquitas, são os fanáticos que zelosamente espalham a tradição do apedrejamento e do enforcamento , são os fanáticos que ensinam os seus filhos a matar e a tornar-se bombistas suicidas.

Os factos, rigorosos e quantificáveis demonstram que a maioria pacífica muçuulmana, a ‘maioria silenciosa', acobardou-se tornando-se passiva e como tal irrelevante.

A Rússia comunista era formada de russos que apenas queriam viver em paz, contudo os comunistas russos foram responsáveis pelo massacre de cerca de 20 milhões de pessoas. A maioria pacífica era irrelevante.
A enorme população da China também era pacífica, porém os comunistas chineses conseguiram matar uns 70 milhões de pessoas.

O japonês médio antes da segunda guerra mundial não era um sádico belicista. Todavia o Japão fez um percurso de assassinatos através do Sudeste Asiático numa orgia de matança que incluiu o sistemático abate de 12 milhões de chineses civis, mortos à espada, à pá e à baioneta.

E quem pode esquecer o Ruanda, que colapsou numa carnificina. Não poderíamos dizer que a maioria dos ruandeses eram 'amantes da paz'?

As lições da história são incrivelmente simples e claras, porém apesar de todo o nosso poder de raciocínio, falhamos a percepção dos pontos mais básicos e simples.

Os muçulmanos amantes da paz tornaram-se irrelevantes através do seu silêncio. Os muçulmanos amantes da paz tornar-se-ão nossos inimigos se não marcarem posição, pois que, à semelhança do meu amigo alemão, eles irão acordar um dia e descobrir que os fanáticos são seus donos e que o fim do seu mundo terá começado.

Alemães, japoneses, chineses, russos, ruandeses, sérvios, afegãos, iraquianos, palestinianos, somalis, nigerianos, argelinos e muitos outros amantes da paz têm morrido porque a maioria pacífica não tomou posição até ser demasiado tarde.

Quanto a nós que assistimos a todo este desenrolar, temos de prestar atenção ao único grupo que conta - os fanáticos que ameaçam nosso modo de vida.


Antes que seja tarde demais !

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Alguns dos muitos amigos 21 Novembro 2014, 10:27 por Baptista Bastos

Escrevia daquilo que conhecia, com compaixão e ternura, e assim tem sido até hoje. Quando me irrito e encolerizo, habitualmente é com os donos disto que o faço. Nada de mais.

Revejo-o, agora, debruçado no estirador, de manhã até ao fim da tarde, desenhando ilustrações diversas e diferentes, que irão embelezar textos para o seu jornal de sempre: o Diário Popular. José de Lemos possuía um talento profundo e inimitável, e uma modéstia que chegava a ser irritante. Pequeno, gentil, de hábitos modestos e amizades infinitas, devo-lhe o meu destino e o gosto de amar as coisas singelas. Foi o maior desenhador do Segundo Modernismo, mas nunca atribuiu ao facto importância de maior. Fundador do grande vespertino, só ao fim da vida lhe permitiram ser sócio do Sindicato dos Jornalistas, e receber um ordenado que apenas lhe dava para sobreviver. Nunca se queixou, nunca se lamuriou. Foi "colaborador" à peça, e só não se esfalfava a trabalhar porque amava aquilo que fazia como ninguém: desenhar. Sobretudo desenhar para crianças, seu enlevo e sua devoção. Mas ele ilustrou tudo o que havia e era possível ilustrar para jornal. Era um homem de outro tempo, afligia-o a algazarra, o conflito, o ruído em ou com nexo. O 25 de Abril surpreendeu-o porque adivinhou o termo de uma época e a indecisão do que aí vinha. O turbilhão que se seguiu, a ordem que foi alterada, os novos compromissos e a ascensão inusitada de um grupo de oportunistas horrorizaram-no. O jornal deixou de lhe pertencer, como aconteceu com outros, para ser uma mascarada do que fora.

Não hostilizou ninguém e ninguém o hostilizou: ele estava acima da misturada, e o seu universo não era o daquele mundo confuso e desagradável. Os seus amigos, entretanto, iam morrendo, e as ruas que percorrera, amando-as, já não eram as suas ruas. Por vezes, à tarde, parava na Bénard, saudando este e aquele, os que restaram do seu tempo. Depois, descia o Chiado, passeava um pouco pela Baixa, e ia para casa, em Campo de Ourique.

Foi na Página Infantil, do Popular, por ele dirigida e orientada, que comecei a escrever contos para miúdos. Falava dos bairros pobres onde vivia, e das pessoas pardas e tristes que os habitavam, sem horizontes e sem esperança. Escrevia daquilo que conhecia, com compaixão e ternura, e assim tem sido até hoje. Quando me irrito e encolerizo, habitualmente é com os donos disto que o faço. Nada de mais.
Pedia-lhe para ilustrar textos meus, e ele dizia "só se forem bondosos"; oferecia-mos e possuo dezenas deles. Mesmo em frente à banca onde escrevo estão alguns, que me observam atentos e sorridentes. Gosto de me sentir acompanhado pelo afecto que eles me transmitem, e me lembram o homem pequeno e gentil que os criou e era meu amigo deveras. Este homem afável e generoso, um dia comprou um chapéu, para o colocar na cabeça, como dizia, quando passava por uma igreja. Anticlerical sereno e cordato, só conheci essa sua tineta, o que não o impediu de ser amigo de alguns sacerdotes, como o padre Dinis da Luz, açoriano, homem de grande cultura e sabedoria, com o qual ele gostava de conversar. Dinis da Luz era do Benfica, redactor do jornal A Voz, e cuja fina ironia se tornava implacável para com os oportunistas. O padre Dinis da Luz deixou, tumularmente, dispersos pelas páginas de vários jornais, entre os quais o Diário Popular, textos admiráveis pelo conteúdo e pela beleza literária. Recordo, com emoção e orgulho, estes meus amigos inesquecíveis.

Assim como lembro José Casanova, antigo director do Avante!, membro do Comité Central do Partido Comunista Português, um dos políticos mais nobres, honrados e dignos que conheci. Foi, até ao remate final dos seus dias, um homem de convicções e de amizades inamovíveis. Há semanas, telefonou-me, para saber de mim, e conversámos durante um tempo das novidades e das indecisões em que vivíamos. Gostávamos um do outro e isso nos aproximava.

José Casanova. Adeus.

Viva quem vive pela liberdade! 09 Janeiro 2015, 10:12 por Baptista Bastos |

A ascensão do Syrisa, que põe em causa a ideia de "democracia ocidental", tal como é entendida pelo sistema capitalista, é o exemplo da possibilidade de entendimento entre movimentos de Esquerda.

No próximo dia 25, a Grécia vai escolher o seu novo governo. É uma etapa decisiva, não só para aquele país, como para a Europa, acaso para o mundo. O Syrisa, partido que constitui uma coligação de organizações de Esquerda, está à frente nas sondagens, o que deixa a chamada União Europeia, em especial a Alemanha da senhora Merkel, num sobressalto contínuo.

A estrondosa posição do Syrisa deve-se, antes de tudo, à resposta que os gregos entenderam como a mais justa face a este sistema de "rotativismo", no qual o poder é alternado ora por um partido conservador, ora por outro, dito "socialista." Exactamente o que ocorre em Portugal, com fastidiosa regularidade. O cansaço atingiu, já há alguns anos, anos de mais, os eleitores. Em Portugal, como em Espanha, foram criados partidos que se opunham a este lodaçal "democrático"; infelizmente, porém, as lutas internas pelo poder têm dizimado a urgente necessidade de entendimentos. O último caso foi o do Bloco de Esquerda. A ausência de Francisco Louçã não só demonstrou as fragilidades de uma organização, no meu entender importante e necessária, que parece não encontrar razão de ser.

A ascensão do Syrisa, que põe em causa a ideia de "democracia ocidental", tal como é entendida pelo sistema capitalista, que só a tolera porque o não incomoda, é o exemplo da possibilidade de entendimento entre movimentos de Esquerda. Em Espanha, o Podemos, demonstradamente inspirado no caso grego, começa a assustar os interesses instalados. As pessoas já não sustentam tanta mentira, tantos jogos malabares, e a indicação mais premente que tivemos foi a manifestação de mais de um milhão de pessoas, em Setembro de 2012. Mas o poder não vai com demonstrações daquele tipo. Aqui, em Portugal, a esperança reside em António Costa. Mas não será uma esperança infundada? Terá Costa força suficiente para enfrentar o "sistema"?, que dispõe de um poder incontrolável, e só obedece às leis do "mercado", entidade abstracta, que, no entanto, possui o contorno da finança, e, por decorrência, de um processo de crueldade sem limites.

O PCP parece-me imobilizado na sua própria doutrina. Não cede um milímetro sequer, o que é estimável como comportamento, mas que não deixa de ser evasivo como estratégia de subida ao poder.

Vivemos, pois, em Portugal numa perplexidade que é capaz de ser trágica porque só traz consigo as linhas retóricas do discurso simpático. O resultado das eleições gregas pode constituir um sinal. Claro que as forças da inacção começaram a mover-se: basta atentar no que disse Angela Merkel, que não passa de um "factotum" dos grandes interesses económicos transnacionais, ou de ler o que disse o pobre Durão Barroso, outro que tal.

Simpatizo com o processo e admiro a coragem moral e política de Alexis Tsipras, dirigente do Syrisa. Se este partido ganhar as eleições na Grécia, podem crer que muita coisa vai mudar. Com inevitáveis reflexos no nosso país, especialmente na nossa Esquerda.

Tiros contra a liberdade
O ataque ao semanário francês Charlie Hebdo representa o cume de uma crueldade que se baseia no irracionalismo. Morreram doze pessoas, deixando um legado de horror que não podemos deixar passar sem punição. Nota altíssima para Joaquim Vieira, o qual, na TVI, falou das causas profundas desta tragédia, lembrando a invasão do Iraque, baseada em mentiras e em falsificações. As coisas resultam, sempre, umas das outras, e as relações de causa e efeito foram, justamente, estabelecidas pelo honrado jornalista. Lembremos que a invasão do Iraque foi combinada nos Açores por W. Bush, Aznar e Tony Blair, socialista e tudo. O infeliz Durão Barroso serviu de mestre de cerimónias e, enquanto a quadrilha combinava a mortandade e as desgraças que se lhe seguiram, o tal Barroso estava numa esplanada, bebendo um cafezinho. Uma saudação para Joaquim Vieira, que representou, na quarta-feira, na TVI, a liberdade dos homens livres, como os jornalistas do Charlie Hebdo.