quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O PATRÃO QUE MANDOU PASSEAR A NESTLÉ E A PEPSI



Rui Nabeiro (gauche) parlant avec le politicien socialiste Manuel Alegre (droite) lors d'une visite de celui-ci dans son usine de café en 2011RUI NABEIRO

O PATRÃO QUE MANDOU PASSEAR A NESTLÉ E A PEPSI JK6

PORTUGAL PRECISA E MUITO, DESTE TIPO DE PATRÕES E NÃO DE EXPLORADORES CORRUPTOS, QUE APENAS PRETENDEM SEMPRE COMER TTUDO SOZINHOS!!! GRANDE LIÇÃO DE DEMOCRACIA, SOCIALISMO E HUMANISMO, A DE ESTE HOMEM SIMPLES, QUE COM A AJUDA DOS SEUS COLABORADORES, CONSTRUÍU UM IMPÉRIO!!!


Retrato de um patrão que mandou passear a Nestlé e a Pepsi, preferindo sacrificar a rentabilidade a despedir trabalhadores: Eis Rui Nabeiro, o herói do Alentejo. É assim que arranca a peça da RTL, a Rádio Televisão do Luxemburgo a propósito de Rui Nabeiro, dono do grupo Delta Cafés de Campo Maior, no Alentejo.

Filantropo de 85 anos, Rui Nabeiro construiu a 12.ª maior fortuna do país na indústria do café, que dá trabalho a um em cada cinco habitantes da sua vila natal, Campo Maior, em Portalegre e um dos poucos a escapar à crise que assola o interior do País.

Apesar da sua idade, este self-made man de olhar tranquilo e sorriso fácil ainda está no controle dos destinos da empresa familiar, a Delta, que ele próprio fundou em 1961. A empresa, que gere com a ajuda dos seus filhos e netos, cresceu de uma pequena fábrica de torrefacção de café virada para o mercado espanhol para uma das gigantes daquela indústria.

Sob a liderança de Rui Nabeiro, que viaja pelo do mundo para se abastecer de grãos de café verde, especialmente vindo das ex-colónias portuguesas, como o Brasil, Angola e Timor Leste, a empresa tem experimentado um forte crescimento a partir de meados da década de 1970.

A Delta Cafés é em Portugal o que a Lavazza é na Itália

A Delta é agora a número um do café em Portugal, com uma quota de mercado de 31% e um volume de negócios de 350 milhões de euros, dos quais um quarto é gerado no exterior, em quarenta países. A marca é tão valiosa que tem sido cobiçada pelos gigantes multinacionais da alimentação como a Nestlé, a Kraft e a Pepsi, que já tentaram comprar o grupo Delta à família Nabeiro.



Um criador de emprego

O Patriarca recusou todas as propostas porque a empresa "pertence a todos os que trabalham lá", como diz habitualmente Rui Nabeiro. "Criar um posto de trabalho é criar riqueza para todos. Eu nunca pensei em mim, mas sempre procurei servir aqueles que me servem, é esta atitude que me deu o que eu tenho hoje ", disse à AFP o proprietário do grupo Delta.

A sua fortuna está estimada em 390 milhões de euros e coloca-o entre as 12 pessoas mais ricas do país, segundo o ranking elaborado pela revista Exame. "É uma herança ao serviço de toda a comunidade”, declara Rui Nabeiro.

"Falar de milhões é uma ofensa num país onde ainda há tanta pobreza ", continuou el com uma voz calma, sentado num escritório da sua fábrica de torrefação, moagem e embalagem do café, o maior da Península Ibérica.

Um "oásis numa região pobre

Nas ruas de Campo Maior, uma vila de 8.500 habitantes, perto perto da fronteira com a Espanha, é impossível ignorar o ubíquo Sr. Nabeiro: uma estátua dele domina a praça principal desde 1998 e o seu nome aparece aqui e ali na frente de uma escola pública ou no pavilhão desportivo municipal.

O empresário, um socialista que serviu como presidente de câmara por dez anos, tem para além do grupo Delta, o único hotel na cidade, uma cadeia de supermercados, uma clínica e até mesmo uma concessionária de carros.

A população de Campo Maior não esconde sua admiração por aquele filho da terra. "Este é um homem bom, que ama sua cidade e tem ajudado muitas pessoas, dando-lhes empregos", atesta Antonio Susana, um ex-trabalhador a 68 anos de idade cuja esposa trabalhou toda a sua vida para a Delta, seguida hoje pelo seus dois filhos. "É um homem muito afável e muito simples", concorda João Custódio, um funcionário municipal de trinta anos, que descreve sua vila como um"oásis" nesta região do país, deprimida pelo desemprego e pelo envelhecimento da população.

Apesar da crise, ele não despediu um único funcionário

Campo maior, que exibe uma taxa de natalidade mais elevada que a média nacional, é o único dos quinze municípios da região do Alto Alentejo a ter visto o seu crescimento populacional entre os censos de 2001 e 2011. Quando Portugal foi duramente atingido pela crise da dívida na zona do euro há cinco anos atrás, mergulhando na recessão económica com uma taxa de desemprego atingindo recordes, o Sr. Nabeiro alega ter enfrentado as dificuldades sempre com otimismo.

"Eu disse aos nossos empregados que não queria nem ouvir falar de crise. As nossas vendas sofreram um pouco, mas nós recuperamos ", afirma o empresário. Na verdade as vendas subiram quase 20% em quatro anos para chegar aos 350 milhões de euros em 2015. Quanto à rentabilidade, provavelmente diminuiu um pouco desde então, mas este sempre se recusou a demitir um único funcionário.

A Delta tem "10 a 15% mais do que o que seria necessário" num total de 3.300 funcionários, dos quais mais da metade baseados em Campo maior. Mas, para ele, este não é o problema."os problemas de meus funcionários são de minha responsabilidade e vice-versa", argumenta o filho de agricultores analfabetos, ainda muito marcado pelas suas origens humildes , que se diz "feliz porque eu tive a oportunidade de fazer a escola primária ao menos".


Para permitir que os funcionários conciliem o trabalho e a vida familiar, a Delta Cafés financia 80% de um centro educacional criado em 2007, onde cerca de 170 crianças são ensinadas a partir de tenra idade a ter iniciativa, inspiradas pelo "manual do empreendedor" desenhado pela própria Delta.

O artigo original pode ser lido aqui.

As lições que a Europa não aprende!


Recordam-se da mãe muçulmana, residente em Espanha, que protestou
porque havia um Crucifixo na aula e isso ofendia o seu filho? Quase
lhe deram razão!

Legislação para estrangeiros imigrantes:

1. Il n'y aura pas de programmes en langues étrangères dans les
écoles.
Não haverá programas de Línguas Estrangeiras nas escolas.

2. Toutes les annonces du gouvernement et les élections se dérouleront
dans la langue nationale.
Todos os anúncios do governo e as eleições serão em Língua Nacional.

3. Toutes les questions administratives auront lieu dans notre langue.
Todas as questões administrativas terão lugar na nossa Língua.

4. Les étrangers ne seront pas un fardeau pour les contribuables. Pas
de sécurité sociale, pas d'indemnité de repas, pas de soins de santé
ou tout autre avantage public ne seront accordé. Tout abus
provoquera l'expulsion

Os estrangeiros não serão uma carga para os contribuintes. Não terão
Segurança Social nem Indemnização para Refeições, não terão
Assistência Médica e nenhuma outra Vantagem Pública será concedida.
Qualquer abuso será punido com expulsão.

5. Les étrangers peuvent investir dans ce pays, mais le montant doit
s'élever au minimum à 40.000 fois la moyenne journalière de
subsistance.

Os estrangeiros poderão investir neste país, mas a importância mínima
terá que ser igual a 40.000 vezes o Salário Mínimo.

6. Si les étrangers achètent de l'immobilier, les possibilités sont
limitées. Certains terrains, en particulier les biens immobiliers
disposants d'accès à l'eau courante, seront réservées pour les
citoyens nés ici.

Se os estrangeiros comprarem bens imobiliários, as suas possibilidades
são limitadas. Certos terrenos em particular bens imóveis com acesso a
água corrente, serão reservados para os nascidos cá.

7. Les étrangers ne peuvent pas protester chez nous. Aucune
manifestation, aucune utilisation d'un drapeau étranger, aucune
organisation politique. Aucune calomnie sur notre pays, le
gouvernement et sa politique. Toute violation conduira à l'expulsion

Os estrangeiros não podem protestar no nosso País. Nenhum tipo de
manifestação, nenhuma utilização de uma Bandeira Estrangeira, nenhuma
Organização Política, nenhuma Calúnia dirigida ao nosso País, ao
Governo e à sua Política. Toda a violação conduzirá à expulsão.


8. Si quelqu'un pénètre dans ce pays illégalement, il sera traqué sans
merci. Arrêté, il sera détenu jusqu'à ce qu'il soit expulsé. Tous ses
biens sont saisis.
Se alguém entra neste País ilegalmente será perseguido sem piedade.
Será mantido Preso até à expulsão e todos os bens confiscados.

Os artigos acima transcritos são:

As regras de imigração vigentes na Arábia Saudita e nos Emiratos Árabes Unidos!

domingo, 18 de dezembro de 2016

Muitos odiaram ter um negro a dizer-lhes o que fazer

Barack Obama era, para muitos brancos americanos, o símbolo de tudo o que achavam que tinham perdido, diz o antropólogo indiano Arjun Appadurai. E o que Donald Trump veio prometer-lhes foi que a América vai ser “grande outra vez” – e eles também.
18 de Dezembro de 2016


Antropólogo cultural nascido em 1949 em Mumbai, na Índia, Arjun Appadurai, que vive nos Estados Unidos, onde ensina Media, Cultura e Comunicação na Universidade de Nova Iorque, é um dos grandes teóricos dos estudos sobre a globalização.

Autor de vários livros sobre temas que vão do urbanismo ao consumo e das migrações aos media — entre os quais, Dimensões Culturais da Globalização (Teorema) — esteve recentemente em Portugal, no âmbito das comemorações do 25.º aniversário da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica de Lisboa, para dar uma conferência com o tema Failure, Design and the Globalization of Risk.

A propósito de riscos e de tendências globais conversou com o P2. Vê a vitória de Trump nas eleições norte-americanas como a vitória de uma ideia de supremacia branca. E defende a urgência de uma mobilização dos liberais. “É preciso algo que se assemelhe ao espírito” da Revolução Francesa, diz.

A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas foi realmente uma surpresa ou havia sinais suficientes e não soubemos vê-los?

É difícil negar que a maioria das pessoas nos media, no mundo académico e na esfera pública em geral ficou chocada. Embora esse cenário se estivesse a tornar cada vez mais real à medida que as eleições se aproximavam, é preciso lembrar que a primeira vez que Trump anunciou que ia candidatar-se à presidência foi tratado como uma piada. A passagem de ridículo a real não demorou muito tempo e penso que a nossa capacidade de análise e interpretação não avançou com a mesma velocidade

Vimos aí uma coligação de muita gente diferente. A maioria desse grupo é composta por brancos, mas é uma coligação muito alargada, que reúne desde empresários muito ricos como Trump, a pessoas muito pobres, passando pela classe média, assim como mulheres, sobretudo brancas. É uma coligação da maioria branca que ultrapassa as divisões de classe e, de certa forma, até de género.

Temos de perguntar como é que isso aconteceu. É verdade que há uma espécie de desapontamento, zanga e ressentimento com a forma como as políticas do Governo funcionaram para este grupo alargado de pessoas que não gostam muito de Washington e são cépticas em relação ao liberalismo.

Qual foi o ponto em que Trump tocou? É a pergunta. Claro que há coisas que ele disse que são muito locais: “A sua fábrica vai fechar, vou garantir que isso não acontece.” Foi avançando promessa a promessa, muitas das quais não vai poder cumprir.

Mas temos de ver um quadro mais alargado. Há duas coisas que ele conseguiu ligar nas mensagens que foi repetindo: uma foi o slogan “Tornar a América grande outra vez”, mas, se olharmos atentamente para os seus discursos, vê-se um movimento constante entre essa mensagem, que é global, que tem que ver com o comércio internacional e que diz ‘nós não fomos devidamente representados pelo nosso Governo, perdemos poder e eu vou alterar isso’, e uma mensagem escondida que diz ‘os brancos vão tornar-se grandes na América outra vez’.

Claro que é uma grande questão saber quando é que uma maioria de brancos de classe média controlou de facto o país, mas há sem dúvida a sensação de que perderam terreno, para os imigrantes, os mexicanos, os negros, e outros no mundo.

Green Bay, Wisconsin: Anastasia Lee aguarda o seu momento para entrar em palco. Vai cantar durante o comício do então ainda candidato Donald Trump SC

E essa perda tornou-se mais visível com Obama?

Sim. Durante a Presidência de Obama, houve um grupo de pessoas que odiava o facto de ter um negro à frente deste país. Era o maior símbolo de que tinham perdido alguma coisa — a Presidência e a Casa Branca, onde agora estava um negro a dizer-nos o que fazer.

A muitos níveis é, claro, uma história de ressentimento racial, mas, repito, acho que o que Trump conseguiu fazer foi ligar a mensagem sobre a América e o mundo com a mensagem sobre os brancos na América. E as duas tornaram-se uma: vamos tomar conta disto outra vez, e a América vai tomar conta do mundo outra vez.

Depois da vitória, falou-se muito no voto do chamado “white trash”, os brancos mais pobres. Como é que não nos demos conta do descontentamento tão profundo de um grupo tão alargado de pessoas?

Temos de ter algum cuidado com as definições porque estes brancos mais pobres são pessoas excluídas do sistema e, de certa forma, da sociedade americana. Mas há entre os apoiantes de Trump muitos outros brancos que estão razoavelmente bem, que vivem em cidades, têm empregos, etc., assim como brancos ricos. Um foco excessivo nos pobres pode ser enganador.

Muitos eleitores brancos estavam há muito impacientes com Washington, o Senado, são apoiantes do Tea Party e estes estão longe de ser todos brancos pobres. Estamos a falar de 60 milhões de pessoas.


"Muitos eleitores brancos estavam há muito impacientes com Washington, o Senado, são apoiantes do Tea Party e estes estão longe de ser todos brancos pobres. Estamos a falar de 60 milhões de pessoas. 

Discute-se muito o papel dos media em tudo isto — apesar de vivermos num mundo globalizado e termos a Internet, será que andamos a falar em bolhas só com as pessoas que pensam o mesmo que nós?

Isso é verdade e é um dos maiores desafios para nós, quer como membros dos media ou académicos que estudam os media. Há um paradoxo que faz com que o mundo se expanda e encolha ao mesmo tempo. A disponibilidade de histórias, notícias, informações e imagens está mais presente do que alguma vez no passado para quem tem acesso digital. Mas as redes sociais criaram um potencial para uma política do it yourself em que você, a sua família e os seus amigos se podem tornar um pequeno movimento.

Faço uma coisa e cem pessoas gostam, é um pequeno movimento e é por aí que estamos a encolher. Há uma fragmentação que caminha em paralelo com a expansão do mundo global que entra pelos ecrãs das pessoas dentro e contém muitas coisas de que elas não gostam. No caso dos EUA, não gostam da sensação de que há outros a escrever o guião, sejam chineses ou árabes. Essa política dos pequenos movimentos, dos nossos amigos, é uma política rápida e escapa muitas vezes à atenção das grandes sondagens.

Estão os media tradicionais também um pouco cegos em relação a algumas coisas, acabando por transmitir uma imagem distorcida do que se passa?

Sim. Nos EUA é verdade que temos aquilo a que se chama uma “imprensa liberal” com bastante força, o The New York Times, o Washington Post, o LA Times. São meios que quiseram manter uma distância de Trump, não quiseram olhar mais de perto para perceber quem é este homem, de onde vem o apoio que tem.

Mas também é verdade que os EUA estão saturados com media de direita, dos quais, o maior exemplo é a Fox News, embora o lugar mais activo para a direita nos EUA tenha sido sempre a rádio. As pessoas expressam a sua raiva o tempo todo nos talkshows radiofónicos, falando com figuras que em alguns casos são conhecidas a nível nacional e noutros apenas local. Mas são quase sempre de extrema-direita.

E não estávamos a ouvir essas vozes?

Como é que aqui em Portugal se poderiam ouvir? Mesmo eu só as ouço quando vou num táxi em Nova Iorque ou quando leio sobre eles. Mas não fazem parte da minha dieta mediática normal. Os media tradicionais que são mais liberais, assim como muitas pessoas que marcam o debate público, estão protegidos deste mundo. Nas universidades, por exemplo, sabe-se muito pouco da vida religiosa dos norte-americanos, sendo que 80% deles são profundamente religiosos. Se não se entende tudo isto, como é que se vai entender Donald Trump?

Centro de Convenções de Green Bay, no Wisconsin: apoiantes de Trump aguardam o debate final do então candidato republicano com Hillary Clinton

Faz sentido falarmos de uma elite liberal e de uma grande massa mais conservadora? A tendência é para juntar sempre as palavras “elite” e “liberal”.

Sobretudo depois destas eleições, por causa de Hillary Clinton e da ligação Bill-Hillary, há uma tendência para muita gente ver os liberais como uma ideia de elite nos EUA e não uma ideia de massas. Isso deve-se em parte ao estilo do Partido Democrata, muito próximo de Wall Street, com alto nível de educação, o topo do topo. Há também elementos de classe média que são liberais, mas não estão mobilizados e este é o grande desafio. Falta-lhe a capacidade de mobilização que acontece do lado da direita. E eles existem porque, apesar de tudo, há 50 ou 60 milhões que votaram na Hillary. Estão é mais calados.

Isso pode mudar agora por, de alguma forma, se sentirem ameaçados?

É possível. Há alguma esperança. E, em geral, nos EUA e tanto quando consigo ver na Europa, não há alternativa se não um liberalismo mais militante. O liberalismo não pode ser apenas uma posição por defeito. Tem de ter uma qualidade que se assemelhe ao espírito revolucionário em França, se é que posso ir tão longe. Nas barricadas, vimos, afinal, o início do liberalismo. Depois, ele tornou-se mais suave.

Mas isso implica ter consciência de uma identidade de grupo que talvez ainda não exista.

Sim, é importante que exista um sentido de identificação com alguma coisa e não pode ser uma identificação solta e ocasional. Tem de ser um pouco mais assertiva e guiada pela ideia de que há alguma coisa em jogo. E agora isso pode acontecer. Será tarde de mais?

Vai ser preciso um esforço muito maior para inverter a situação. Mas acho que qualquer oportunidade para isso não vai acontecer apenas através de debates razoáveis. Tem de ser através da mobilização.

Alguém como Bernie Sanders [o candidato que desafiou Hillary Clinton na corrida pela nomeação do Partido Democrata] poderia mobilizar essa massa liberal?

Sim, ele fez isso, sem dúvida. Mas não foi o suficiente. Não alcançou pessoas suficientes, por um lado, e por outro foi marginalizado pelo Partido Democrata, que durante muito tempo o viu como uma ameaça maior do que Trump. Havia um verdadeiro potencial ali.

Mas também é verdade que há nos EUA uma longa história de medo de alguém que soe como um socialista. Não é como na Europa, em que o socialismo não é uma dirty word, podem não gostar mas está lá, faz parte do espectro. Nos EUA, está demasiado próxima do comunismo. Sanders fez um trabalho magnífico ao tornar a mensagem socialista séria e respeitada. Mostrou que se pode criar um movimento sem se ser um demagogo, falando apenas a verdade. Mas foi uma oportunidade perdida.

Há nos EUA uma longa história de medo de alguém que soe como um socialista. Não é como na Europa, em que o socialismo não é uma 'dirty word' podem não gostar mas está lá, faz parte do espectro. Nos EUA, está demasiado próxima do comunismo.

Disse “falando a verdade” e isso leva-nos à questão da “pós-verdade” que se discute actualmente. Até que ponto isso é preocupante?

Não diria que estamos no mundo da pós-verdade, em que tudo se tornou imagem, opinião e perspectiva e tudo não passa de uma batalha de imagens. Diria que está a acontecer algo de mais insidioso. As más notícias estão sempre a empurrar as boas. As más movem-se mais rapidamente. Como é que se consegue passar mensagens mais positivas, de inclusão, tolerância, diálogo, da mesma forma que as mensagens negativas?

Há um desafio retórico sobre como usar os meios de comunicação de massas para mobilizar o sentimento liberal. Isto é muito importante para os EUA, a Europa ou a Índia, a Turquia, ou a China. Como podem as visões liberais, de inclusão, de não violência, ganhar alguma força? Movimentos como o Ocuppy apanham alguma coisa disto, mas parecem desaparecer muito depressa, não são duradouros.

Houve muito debate sobre formas alternativas de representação na política mas parece que estamos a voltar atrás, para posições políticas mais tradicionais.

Aquilo que nos falta, como modelos históricos, são pessoas como Martin Luther King, Gandhi, Mandela. Eram todos pela justiça, falavam a verdade e eram incrivelmente carismáticos. Há um défice desse tipo de políticos. E mesmo quando surgem figuras mais liberais, como [a chanceler alemã, Angela] Merkel, que neste momento se destaca na Europa, ela é menos colorida, é uma funcionária política que está a fazer um bom trabalho em circunstâncias difíceis, mas está longe de um Gandhi ou de um Mandela.

Podemos comparar o que se passou nos EUA com situações na Europa — França, por exemplo, com a possibilidade de Marine le Pen vencer?

Podemos e devemos. A situação é semelhante também a pelo menos dois outros casos importantes, a Índia e a Turquia. Depois temos [o Presidente russo, Vladimir] Putin, todos são líderes autoritários e populistas, todos têm apoio popular e o seu número está a aumentar. Há um padrão global que avança para um mundo mais populista. E nesse quadro um debate sobre a forma como Hitler chegou ao poder não é irrelevante. Trump pode não ser Hitler, mas Hitler também governou num contexto democrático. Foi só depois de 1933 que ele se tornou um caso à parte. Antes era um populista autoritário. Por isso acredito que, apesar de todas as diferenças, os EUA, a Europa, a Índia ou a Turquia estão numa situação semelhante. Há um hipernacionalismo, são diferentes versões da mesma coisa.

Bolsa de Valores de Nova Iorque. "Trump não é um capitalista de alto nível, é um homem de negócios e o que diz é “faço negócios, esses negócios dão dinheiro e algum desse dinheiro chegará aos que estão mais abaixo”, comenta Arjun Appadurai

Estamos novamente a discutir política quando ainda há pouco discutíamos sobretudo economia. Falava-se nos 99% contra os 1% mais ricos e agora a linhas do debate deslocaram-se para outros campos, separando liberais e conservadores. As pessoas instalam-se noutras das várias identidades possíveis?

Já ninguém tem uma economia nacional. Daí que a principal justificação para a existência de Estados já não exista. Ou, dito por outras palavras, a cultura tornou-se o terreno onde se jogam as questões de soberania. O que são a América, a Turquia ou a Índia joga-se noutro domínio que não o da economia. Já não se pode dizer vou fazer isto ou aquilo porque já há cem pessoas no mundo a controlar a nossa economia.

Por isso, para estes líderes populistas é mais fácil entrar no debate sobre censura, comportamentos sexuais, direitos das mulheres, minorias e questões de pureza étnica. É muito mais fácil para os que querem controlar o Estado dizer que o jogo está aí.

No caso de Trump, ele foi muito esperto porque juntou as duas mensagens, a xenofobia e o desejo de controlar a economia. No fundo, a mensagem económica dele é muito simples: deixem os ricos ser ricos e alguma coisa sobrará para vocês. Ele não é um capitalista de alto nível, é um homem de negócios e o que diz é “faço negócios, esses negócios dão dinheiro e algum desse dinheiro chegará aos que estão mais abaixo”.

Por outro lado, diz que vai ser duro nos acordos comerciais internacionais, como se fosse possível ir dizer aos chineses o que devem fazer. Mas, de alguma forma, conseguiu convencer os americanos com uma mensagem de pura xenofobia cultural: “Deixem-me fazer isto e todos vocês terão empregos.”

Mas passou-se dessa identificação com os 99% para o fascínio por um homem muito rico que diz que não paga impostos e as pessoas parecem admirá-lo, apesar disso.

No caso dos EUA, houve sempre um fascínio pelos homens ricos e de sucesso. Porquê? Porque podemos todos tornar-nos como eles. Reduzam a regulação e podemos todos ser Donald Trump. Esta é, claro, uma fantasia ridícula que tem sido fatal para a tentativa de organizar a esquerda. Não há para onde ir porque toda a gente pode ser Trump. Todos os miúdos negros acham que podem ser Michael Jordan. É a terra das oportunidades de uma forma extrema e totalmente individualista. Isto significa que uma pessoa como Trump se torna mensageiro não da exploração capitalista, mas da ideia de puro sucesso.

No caso americano, houve sempre esta contradição. A ideia de equidade significa que pessoas como Trump devem ter uma oportunidade para fazer negócios e dinheiro. As ideias de equidade e de justiça foram sempre muito separadas uma da outra. Equidade significa que todos devem tentar e que alguém irá ganhar. Justiça significa que não devemos todos estar a lutar.

Houve, de facto, alguma erosão da ideia dos 99%, mas a verdade é que esse era mais um argumento de jovens, estudantes, da população urbana. Não era uma coisa de massas. As massas nos EUA estão zangadas com muitas coisas, mas essa zanga é sempre canalizada através do nacionalismo.


Vou à loja, uso o cartão de crédito, crio dívida que é absorvida pelos bancos que a colocam em activos financeiros que são comercializados, dando origem a grande lucros que eu nunca vejo, mas que sem a minha dívida nunca aconteceriam.

Como é que o que está a acontecer na política neste momento se cruza com a crise económica e a crise do capitalismo?

Algures por trás desta deslocação para a direita há uma ligação com o que se passa com o capitalismo. E isso tem que ver com a financeirização. Esta é a grande história da economia, especialmente nos EUA, mas também na Europa e noutras partes do mundo. A economia já não se baseia na manufactura e na indústria, nos bens e serviços, mas na troca de instrumentos financeiros. É todo um novo mundo que não está assente na lógica de oferta e procura, que era a base da economia. Se o que estamos a vender são produtos que têm como base a dívida dos consumidores, não há limite. Não há escassez. Pode-se sempre continuar a ter mais. O mercado em produtos derivados é cinco a seis vezes o total do GDP global [PIB global]. Isso é a financeirização.

Acho que a ligação entre isto e o que está a passar-se na política tem como base uma falha de entendimento ou incapacidade de compreender a enorme importância da dívida. A dívida dos consumidores é a forma pela qual os bancos entram no mercado financeiro. O dinheiro que alimenta os 1% não vem das fábricas ou de alguma outra forma de produção que Marx tenha identificado. Está no mercado financeiro.

A dívida é o nosso principal trabalho hoje. Fazemos dívida para que outros possam monetarizar sobre ela. Enquanto isso não for entendido, torna-se mais fácil as pessoas pensarem que estão excluídas e esmagadas economicamente e transformar esse sentimento em hipernacionalismo, racismo, etc.

O que acontece é que vou à loja, uso o cartão de crédito, crio dívida que é absorvida pelos bancos que a colocam em activos financeiros que são comercializados, dando origem a grande lucros que eu nunca vejo, mas que sem a minha dívida nunca aconteceriam. Isto não é fácil de perceber.

Vê alguma possibilidade de voltarmos a uma economia baseada essencialmente na produção de bens e serviços?

Infelizmente, não. Nesta como noutras coisas não podemos fazer o relógio andar para trás. Temos de encontrar formas de nos apoderar destes instrumentos, de os tornar de todos. Talvez os dias da produção de bens não tenham ainda desaparecido completamente em alguns países do Sul, mas mesmo esses caminham para lá e rapidamente.

E como poderemos conquistar esse controlo dos mercados financeiros?

É duro, mas não é complicado. As pessoas que fazem especulação financeira, os bancos, os fundos de capital de risco, etc., pegam na sua dívida e na minha e jogam com isso. Você e eu podemos pegar nas nossas dívidas e fazer isso nós mesmos. Tecnicamente não é misterioso. Nós podemos criar um produto derivado.

Aquilo a que chamamos “a economia real” deixará de existir?

Terá sempre o seu lugar porque as pessoas continuam a precisar de casas, comida, haverá sempre coisas para comprar e vender. Mas foi descoberta outra coisa e essa outra coisa é que está a criar a verdadeira riqueza. Não é fictício. É muito real.

E qual será o impacto da inteligência artificial sobre a criação de emprego? De acordo com a sua lógica, poderá não ser uma ameaça tão grande como se julga?

O trabalho à antiga é óptimo para certas pessoas e sectores, não digo que deva desaparecer. Mas é importante perceber que foi descoberto um novo método para obter verdadeira riqueza. Porque é que havemos de dizer: “Dê-me um verdadeiro emprego e continue a fazer dinheiro com derivados financeiros enquanto eu ganho dez dólares por dia a fazer pão?”

Podemos todos entrar nisto e não estou a dizer que tenhamos de nos tornar especuladores a tempo inteiro. Mas podemos também estar directa e democraticamente envolvidos nos capitais de risco. O risco faz parte das nossas vidas de qualquer forma — só que há outras pessoas a transformá-lo em dinheiro. Porque é que não podemos ser nós?

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Republicano do Colégio Eleitoral anuncia que não vai votar em Trump

O paramédico recorda a sua experiência nas operações de salvamento do 11 de Setembro e o texto de Alexander Hamilton para justificar porque não vai votar em Donald Trump a 19 de Dezembro.

LILIANA BORGES 6 de Dezembro de 2016,


Christopher Suprun, republicano do Estado de Texas e membro do Colégio Eleitoral, anunciou esta segunda-feira que não irá atribuir o seu voto a Donald Trump. O paramédico começa por apontar, num artigo publicado no New York Times, que é um eleitor republicano, um dos escolhidos para decidir oficialmente quem é o Presidente dos EUA. Conta que, desde o dia das eleições, a 8 de Novembro, as pessoas têm-lhe pedido para mudar o seu voto, por não concordarem com as visões políticas de Trump.

O Colégio Eleitoral, composto por 538 membros escolhidos através dos votos dos norte-americanos para os candidatos presidenciais, é quem escolhe oficialmente o próximo Presidente dos EUA. Este é o segundo membro do Colégio Eleitoral do Texas a recusar votar em Trump. Na passada semana Art Sisneros renunciou ao cargo de eleitor para evitar o voto em Donald Trump. Ainda não é conhecido o sentido de voto do seu sucessor.

Como se elege um Presidente nos EUA

Para justificar a sua decisão, o republicano recorda a sua experiência nas operações de regaste do 11 de Setembro como bombeiro e reforça que há 15 anos fez a promessa de proteger os EUA e a Constituição “contra todos os inimigos, estrangeiros e nacionais”. “No dia 19 de Dezembro voltarei a fazê-lo”, vinca.

Christopher Suprun prossegue e recupera um dos textos que inspirou a Constituição norte-americana e a definição do Colégio Eleitoral, escrito por Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos EUA e personagem principal do musical Hamilton criticado por Donald Trump. A 14 de Março de 1788, Hamilton escrevia que “o processo eleitoral deve dar a garantia moral de que o lugar da Presidência nunca ficará nas mãos de alguém que não cumpre as qualificações requeridas”. “Um pequeno número de pessoas, seleccionadas pelos cidadãos, será, provavelmente, quem mais possui informação e discernimento para uma análise tão complicada [no processo de escolha do Presidente dos EUA]”, justificava aquele que se tornaria o primeiro secretário do Tesouro dos EUA. No mesmo documento, Hamilton sublinha que os membros do Colégio Eleitoral devem usar o seu discernimento para prevenir a “confusão e desordem” que resultariam “desse mal” dos candidatos presidenciais explorarem a "baixa intriga e as artes menores do populismo".

O republicano assevera que passou "muitas horas a servir o partido de Lincoln e a eleger os seus candidatos”, mas destaca que irá passar outras tantas a “ser fiel com o partido e não com quem está na sua liderança”. “Não devo nada a um partido. Devo sim às minhas crianças e devo deixar-lhes uma nação na qual possam confiar”, sublinha.

Recordando as controvérsias que marcaram a campanha e já as semanas que se seguiram à eleição de Trump, Christopher Suprun lembra que o Presidente eleito convidou a Rússia a invadir os e-mails de Clinton, acusa-o de ser um demagogo que incentiva a violência.

Christopher Suprun recorre até ao mais recente filme da saga Star Wars para explicar a sua opção, depois de afirmar que Stephen Bannon, de 62 anos, um dos conselheiros mais importantes do próximo Presidente dos Estados Unidos se aproxima de Darth Vader pelas suas posições racistas, anti-semitas e misóginas. “Não vou levar os meus filhos para celebrar o mal [o lado negro da Força], mas para lhes mostrar que a luz [a Força] pode vencer”, sustenta.

Trump ainda não é Presidente

“A eleição do próximo Presidente ainda não está concluída”, lembra. “Os eleitores conscientes ainda podem fazer a coisa certa pelo país. Os eleitores presidenciais têm o direito legal e a obrigação constitucional de votar com consciência”, apela o membro do Colégio Eleitoral. Não se pense, no entanto, que a oposição de Suprun é um apoio a Hillary Clinton. O paramédico acredita que existe uma alternativa dentro do Partido Republicano e aponta até o Governador do Ohio, John Kasich, como uma das hipóteses.

Ainda assim, para que a escolha do Colégio Eleitoral se alterasse e tivesse consequências práticas, seria necessário que mais 36 membros do Colégio Eleitoral fizessem o mesmo. Deixando Trump apenas com 269 e ficando aquém dos 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para oficializar a eleição à Casa Branca. Caso esse cenário aconteça é a Câmara dos Representantes a responsável por seleccionar o sucessor de Barack Obama. No entanto, a predominância de republicanos na Casa dos Representantes diminui as probabilidades de alteração do cenário.

Não obstante, muitos norte-americanos querem acreditar que esse cenário é ainda possível e decorre uma petição com mais de 4,7 milhões de votos dirigida ao Colégio Eleitoral, num apelo à escolha de Hillary Clinton no dia 19 de Dezembro. É já a maior petição alguma vez assinada na plataforma.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Ditados Populares Portugueses

O saber popular

*A ambição cerra o coração*
*A pressa é inimiga da perfeição*
*Águas passadas não movem moinhos*
*Amigo não empata amigo*
*Amigos amigos negócios à parte*
*Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura*
*A união faz a força*
*A ocasião faz o ladrão*
*A ignorância é a mãe de todas as doenças*
*Amigos dos meus amigos, meus amigos são*
*A cavalo dado não se olha a dente*
*Azeite de cima, mel do meio e vinho do fundo, não enganam o mundo*
*Antes só do que mal acompanhado*
*A pobre não prometas e a rico não devas.*
*A mulher e a sardinha, querem-se da mais pequenina*
*A galinha que canta como galo corta-lhe o gargalo*
*A boda e a baptizado, não vás sem ser convidado*
*A galinha do vizinho é sempre melhor que a minha*
*A laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata*
*A necessidade aguça o engenho*
*A noite é boa conselheira*
*A preguiça é mãe de todos os vícios*
*A palavra é de prata e o silêncio é de ouro*
*A palavras (ocas|loucas) orelhas moucas*
*A pensar morreu um burro*
*A roupa suja lava-se em casa*
*Antes só que mal acompanhado*
*Antes tarde do que nunca*
*Ao rico mil amigos se deparam, ao pobre seus irmãos o desamparam*
*Ao rico não faltes, ao pobre não prometas*
*As palavras voam, a escrita fica*
*As (palavras ou conversa ...) são como as cerejas, vêm umas atrás das outras*
*Até ao lavar dos cestos é vindima*
*Água e vento são meio sustento*
*Águas passadas não movem moinhos*
*Boi velho gosta de erva tenra*
*Boca que apetece, coração que padece*
*Baleias no canal, terás temporal*
*Boa fama granjeia quem não diz mal da vida alheia*
*Boa romaria faz, quem em casa fica em paz*
*Boda molhada, boda abençoada*
*Burro velho não aprende línguas*
*Burro velho não tem andadura e se tem pouco dura*
*Cada cabeça sua sentença*
*Chuva de São João, tira vinho e não dá pão*
*Casa roubada, trancas à porta*
*Casarás e amansarás*
*Criou a fama, deite-se na cama*
*Cada qual com seu igual*
*Cada ovelha com sua parelha*
*Cada macaco no seu galho*
*Casa de ferreiro, espeto de pau*
*Casamento, apartamento*
*Cada qual é para o que nasce*
*Cão que ladra não morde*
*Cada qual sabe onde lhe aperta o sapato*
*Com vinagre não se apanham moscas*
*Coma para viver, não viva para comer*
*Com o direito do teu lado nunca receies dar brado*
*Candeia que vai à frente alumia duas vezes*
*Casa de esquina, ou morte ou ruína*
*Cada panela tem a sua tampa*
*Cada um sabe as linhas com se cose*
*Cada um sabe de si e Deus sabe de todos*
*Casa onde entra o sol não entra o médico*
*Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém*
*Cesteiro que faz um cesto faz um cento,se lhe derem verga e tempo*
*Com a verdade me enganas*
*Com papas e bolos se enganam os tolos*
*Comer e o coçar o mal é começar*
*Devagar se vai ao longe*
*Depois de fartos, não faltam pratos*
*De noite todos os gatos são pardos*
*Desconfia do homem que não fala e do cão que não ladra*
*De Espanha nem bom vento nem bom casamento*
*De pequenino se torce o pepino*
*De grão a grão enche a galinha o paparrão*
*Devagar se vai ao longe*
*De médico e de louco, todos temos um pouco*
*Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és*
*Diz o roto ao nu 'Porque não te vestes tu?'*
*Depressa e bem não há quem*
*Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer*
*Depois da tempestade vem a bonança*
*Da mão à boca vai-se a sopa*
*Deus ajuda, quem cedo madruga*
*Dos fracos não reza a história*
*Em casa de ferreiro, espeto de pau*
*Enquanto há vida, há esperança*
*Entre marido e mulher, não se mete a colher*
*Em terra de cego quem tem olho é rei*
*Erva daninha a geada não mata*
*Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão*
*Em tempo de guerra não se limpam armas*
*Falar é prata, calar é ouro*
*Filho de peixe, sabe nadar*
*Gaivotas em terra, tempestade no mar*
*Guardado está o bocado para quem o há de comer*
*Galinha de campo não quer capoeira*
*Gato escaldado de água fria tem medo*
*Guarda o que comer, não guardes o que fazer*
*Homem prevenido vale por dois*
*Há males que vêm por bem*
*Homem pequenino ou velhaco ou dançarino*
*Ignorante é aquele que sabe e se faz de tonto*
*Junta-te aos bons, serás como eles, junta-te aos maus, serás pior do que eles*
*Lua deitada, marinheiro de pé*
*Lua nova trovejada, 30 dias é molhada*
*Ladrão que rouba a ladrão, tem cem anos de perdão*
*Longe da vista, longe do coração*
*Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar*
*Mal por mal, antes na cadeia do que no hospital*
*Manda quem pode, obedece quem deve*
*Mãos frias, coração quente*
*Mais vale ser rabo de pescada que cabeça de sardinha*
*Mais vale cair em graça do que ser engraçado*
*Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo*
*Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto*
*Madruga e verás trabalha e terás*
*Mais vale um pé no travão que dois no caixão*
*Mais vale uma palavra antes que duas depois*
*Mais vale prevenir que remediar*
*Morreu o bicho, acabou-se a peçonha*
*Muita parra pouca uva*
*Muito alcança quem não se cansa*
*Muito come o tolo mas mais tolo é quem lhe dá*
*Muito riso pouco siso*
*Muitos cozinheiros estragam a sopa*
*Não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe*
*Nuvem baixa sol que racha*
*Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu*
*Nem tudo o que reluz é ouro*
*Não há bela sem senão*
*Nem tanto ao mar nem tanto à terra*
*Não há fome que não dê em fartura*
*Não vendas a pele do urso antes de o matar*
*Não há duas sem três*
*No meio é que está a virtude*
*No melhor pano cai a nódoa*
*Nem contas com parentes nem dívidas com ausentes*
*Nem oito nem oitenta*
*Nem tudo o que vem à rede é peixe*
*No aperto e no perigo se conhece o amigo*
*No poupar é que está o ganho*
*Não dá quem tem, dá quem quer bem*
*Não há sábado sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça*
*O saber não ocupa lugar*
*Os cães ladram e caravana passa*
*O seguro morreu de velho*
*O prometido é devido*
*O que arde cura o que coça sara e o que aperta segura*
*O segredo é a alma do negócio*
*O bom filho à casa retorna*
*O casamento e a mortalha no céu se talha*
*O futuro a Deus pertence*
*O homem põe e Deus dispõe*
*O que não tem remédio remediado está*
*O saber não ocupa lugar*
*O seguro morreu de velho*
*O seu a seu dono*
*O sol quando nasce é para todos*
*O óptimo é inimigo do bom*
*Os amigos são para as ocasiões*
*Os opostos atraem-se*
*Os homens não se medem aos palmos*
*Para frente é que se anda*
*Pau que nasce torto jamais se endireita*
*Pedra que rola não cria limo*
*Para bom entendedor meia palavra basta*
*Por fora bela viola, por dentro pão bolorento*
*Para baixo todos os santos ajudam*
*Por morrer uma andorinha não acaba a primavera*
*Patrão fora, dia santo na loja*
*Para grandes males, grandes remédios*
*Preso por ter cão, preso por não ter*
*Paga o justo pelo pecador*
*Para morrer basta estar vivo*
*Para quem é, bacalhau basta*
*Passarinhos e pardais,não são todos iguais*
*Peixe não puxa carroça*
*Pela boca morre o peixe*
*Perde-se o velho por não poder e o novo por não saber*
*Pimenta no cu dos outros para mim é refresco*
*Presunção e água benta, cada qual toma a que quer*
*Quando a esmola é grande o santo desconfia*
*Quem espera sempre alcança*
*Quando um não quer, dois não discutem*
*Quem tem telhados de vidro não atira pedras*
*Quem vai à guerra dá e leva*
*Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte*
*Quem sai aos seus não degenera*
*Quem vai ao ar perde o lugar e quem vai ao vento perde o assento*
*Quem semeia ventos colhe tempestades*
*Quem vê caras não vê corações*
*Quem não aparece, esquece; mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece*
*Quem casa quer casa*
*Quem come e guarda, duas vezes põe a mesa*
*Quem com ferros mata, com ferros morre*
*Quem corre por gosto não cansa*
*Quem muito fala pouco acerta*
*Quem quer festa, sua-lhe a testa*
*Quem dá e torna a tirar ao inferno vai parar*
*Quem dá aos pobres empresta a Deus*
*Quem cala consente*
*Quem mais jura é quem mais mente*
*Quem não tem cão, caça com gato*
*Quem diz as verdades, perde as amizades*
*Quem se mete em atalhos não se livra de trabalhos*
*Quem não deve não teme*
*Quem avisa amigo é*
*Quem ri por último ri melhor*
*Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha*
*Quanto mais te agachas, mais te põem o pé em cima*
*Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto*
*Quem diz o que quer, ouve o que não quer*
*Quem não chora não mama*
*Quem desdenha quer comprar*
*Quem canta seus males espanta*
*Quem feio ama, bonito lhe parece*
*Quem não arrisca não petisca*
*Quem tem boca vai a Roma*
*Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão*
*Quando um cai todos o pisam*
*Quanto mais depressa mais devagar*
*Quem entra na chuva é pra se molhar*
*Quem boa cama fizer nela se deitará*
*Quem brinca com o fogo queima-se*
*Quem cala consente*
*Quem canta seus males espanta*
*Quem comeu a carne que roa os ossos*
*Quem está no convento é que sabe o que lhe vai dentro*
*Quem muito escolhe pouco acerta*
*Quem nada não se afoga*
*Quem nasceu para a forca não morre afogado*
*Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele*
*Quem não sabe é como quem não vê*
*Quem não tem dinheiro não tem vícios*
*Quem não tem panos não arma tendas*
*Quem não trabuca não manduca*
*Quem o alheio veste, na praça o despe*
*Quem o seu cão quer matar chama-lhe raivoso*
*Quem paga adiantado é mal servido*
*Quem parte velho paga novo*
*Quem sabe faz, quem não sabe ensina*
*Quem tarde vier comerá do que trouxer*
*Quem te cobre que te descubra*
*Quem tem burro e anda a pé mais burro é*
*Quem tem capa sempre escapa*
*Quem tem cem mas deve cem pouco tem*
*Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita*
*Quem tudo quer tudo perde*
*Quem vai ao mar avia-se em terra*
*Quem é vivo sempre aparece*
*Querer é poder*
*Recordar é viver*
*Roma e Pavia não se fez em um dia*
*Rei morto, rei posto*
*Se em terra entra a gaivota é porque o mar a enxota*
*Se sabes o que eu sei, cala-te que eu me calarei*
*Santos da casa não fazem milagres*
*São mais as vozes que as nozes*
*Toda brincadeira tem sempre um pouco de verdade*
*Todo o homem tem o seu preço*
*Todos os caminhos vão dar a Roma*
*Tristezas não pagam dívidas*
*Uma mão lava a outra*
*Uma desgraça nunca vem só*
*Vão-se os anéis e ficam-se os dedos*
*Vozes de burro não chegam aos céus*
*Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades*

* O mundo só pode ser melhor do que até aqui*

* Quando fizeres p'los outros, mais do que por ti !*

*António Aleixo (pastor e poeta)*

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Viva a tacanhez! Viva a carneirada!

Na refrega, a deputada do PSD berrava no hemiciclo: “Cognitivo és tu!”

FRANCISCO TEIXEIRA DA MOTA

"O projeto da direita enquanto governo sempre foi de privatização da Caixa. Aquilo que é dito aqui hoje é caso para dizer que o populismo chegou à cidade. O deputado (do PSD) Leitão Amaro, com a sua intervenção, revela uma de duas coisas: ou um profundo desconhecimento do funcionamento do Regime Geral das Instituições de Crédito ou uma disfunção cognitiva temporária", disse o secretário de Estado do Tesouro e Finanças, na passada sexta-feira, ao falar sobre a CGD na Assembleia da República.
Esclareça-se que a erudita expressão disfunção cognitiva temporária"
quer dizer uma “limitada no tempo, incapacidade de perceber e recordar” ou uma “branca”.

Infelizmente, a liberdade de expressão ou, mesmo o mero conhecimento da língua portuguesa não será um dos fortes da bancada parlamentar do PSD e a reacção – após uns momentos de estupefação pelo confronto com tantas palavras difíceis – foi heróica!



deputado Leitão Amaro

O secretário de Estado foi de imediato interrompido por numerosos deputados do PSD que, numa excitação crescente e prolongada, gritavam "é uma vergonha" e davam palmadas nos tampos ao mesmo tempo que exigiam um pedido de desculpas. O presidente da Assembleia da República, lamentavelmente, chamou a atenção ao secretário de Estado como se este tivesse proferido alguma acusação grave ou insulto soez, mas os parlamentares do PSD cada vez mais excitados, naquela alegria que a ignorância proporciona e a carneirada incentiva, continuavam a berrar impedindo o secretário de Estado de falar. É verdadeiramente pungente ver pessoas crescidas, quiçá pessoas integradas socialmente e com responsabilidades familiares, a berrarem contra palavras cujo sentido seguramente não tinham entendido. Para os deputados do PSD das últimas bancadas foi uma verdadeira rebaldaria: é confrangedor ver as imagens de uma senhora deputada a colocar as mãos abertas à volta da boca para servirem de amplificador à sua manifestação de indignação. O que gritaria ela? “Abaixo a disfunção”? “Cognitivo és tu”? “Não aos temporários”?

Certo é que quando, mais de dois minutos depois, o secretário de Estado conseguiu voltar a falar, começou – tristemente - por apresentar um pedido de desculpas: "Não foi minha intenção ofender ninguém e, se ofendi, peço desculpa por isso", o que acalmou as hostes/hordas parlamentares do PSD, que ficaram, seguramente, satisfeitas de terem cumprido o seu dever de defesa da honra cognitiva do colega de bancada.

É profundamente lamentável que a dimensão da liberdade de expressão seja entendida de uma forma tão ignorante e provinciana no coração da nossa democracia mas é o que temos.

Mais grave seguramente, neste campo do que se pode ou não dizer no debate político, são as recentes palavras do Presidente eleito dos EUA no twitter: “Não devia ser permitido a ninguém queimar a bandeira americana – se o fizerem, tem de haver consequências – talvez a perda da cidadania ou uma ano na prisão”.

A decisão do Supremo Tribunal norte-americano em 1989 no caso Texas v. Johnson que considerou protegido pela Constituição o acto de queimar a bandeira é um marco icónico na história mundial da liberdade de expressão, sendo sempre importante recordar as palavras do juiz Kennedy nesta decisão: “A dura realidade é que por vezes temos de tomar decisões que não gostamos. Fazemo-lo porque entendemos que são correctas, no sentido em que a lei e a Constituição, como nós as vemos, obrigam a tal resultado”, acrescentando “…a bandeira é uma constante na expressão das crenças que os americanos partilham, na lei, na paz e no facto de ser a liberdade que sustenta o espírito humano” e, que por isso mesmo, era “confrangedor mas ao mesmo tempo fundamental” que fosse a própria bandeira a proteger “aqueles que a desprezavam”.

Donald Trump conta, seguramente, com o Congresso, que os republicanos dominam, para aprovar uma lei federal criminalizando o queimar da bandeira e com um Supremo Tribunal com uma maioria conservadora ,que espera conseguir a curto prazo, para consumar este liberticídio.

Avizinham-se, seguramente, tempos sombrios.

domingo, 27 de novembro de 2016

Fidel Castro (1927-2016): A morte muito antes do sonho


Viveu como falava: aos borbotões, com gestos largos, a explicar a sua ideia de revolução, que uns seguiram, outros não, e uma parte deixou a meio. O último herói do socialismo ou o último pirata das Caraíbas, agora tanto faz, porque morreu muito antes do sonho.

FERNANDO SOUSA 26 de Novembro de 2016, 9:51 actualizado a 26 de Novembro 


Agora, sim, é verdade: Fidel Castro morreu. Talvez só para quem não gostava dele – porque para outros continua a viver, entre a incredulidade e a lenda. Na mais extensa das entrevistas que deu, a de cem horas, em 2005, ao antigo director do Le Monde Diplomatique Ignacio Ramonet, ele próprio antevia esta irrealidade: “No dia em que eu morrer de verdade, ninguém vai acreditar. 


Poderia andar como o Cid, o Campeador, que mesmo morto era levado a cavalo para vencer batalhas!” (Fidel Castro – Biografia a duas Vozes). Mas morreu mesmo; e ninguém o deverá levar para mais nenhuma batalha, porque as teve de sobra, e disso se falará de hoje em diante até que a História arrefeça. Ainda é muito cedo.


Um dos primeiros companheiros de jornada, Max Lesnick, descreveu-o uma vez como “jacobino, rebelde, radical”. Modos de ver. Ramonet retratou-o de uma maneira mais moderada: “Não é nem o monstro que certos meios de comunicação ocidentais descrevem, nem o super-homem que às vezes alguns meios de comunicação cubanos apresentam. É um homem com princípios éticos e morais rigorosos, que leva um modo de vida muito austero e frugal.”


Do campo ao mundo

Uma coisa é certa: Fidel, mesmo nascido num berço de ouro, voltou as costas à condição de filho de um fazendeiro, Ângel Castro, natural de Láncara, na Galiza, para desafiar vários líderes populistas da sua juventude, de Batista a Batista, passando por Grau San Martín ou Socarrás, e 11 presidentes norte-americanos durante cinco décadas – Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton, Bush filho e Obama –, em nome de uma ideia de revolução. Que amadureceria – ou que empobreceria, conforme as opiniões – com o tempo, a idade e os ciclos da história, para acabar num país onde os direitos económicos e sociais não quereriam saber dos direitos civis e dos políticos – como é a Cuba actual.

Na Roménia, em Maio de 1972 REUTERS/PRENSA LATINA

Um aviso: a maior parte dos autores que foram à fonte para beber a verdade sobre a vida do líder cubano ou tiveram de aceitar filtros, como Cláudia Furiati (Fidel Castro – Uma Biografia), que deveu parte dos seus apontamentos a gente da maior confiança do regime, ou revisões do entrevistado, como Gianni Miná, Frei Betto, Tomás Borge ou Ramonet.

Num jogo de basquetebol, em Cracóvia, Polónia, Junho de 1972

Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu em Birán, um lugarejo rústico do Oriente, no dia 13 de Agosto de 1927, mesmo que na ilha não se queira que tenha nascido nesse dia e mês, mas um ano antes (daí ser noticiado que morreu aos 90 anos). Isto porque, não podendo, por falta de idade, frequentar o grau a que tinha direito por mérito próprio no Colégio de Belén, o pai conseguiu que o registo civil aldrabasse a escrita para o garoto se poder inscrever. Pelo menos foi o que averiguou Furiati. Motivo aparente da controvérsia: 26 é o número fetiche do regime, por causa do 26 de Julho de 1953.

Num julgamento público, em Havana, em Abril de 1961

Nasceu de Dom Ângel e de Lina, com quem o pai passou a viver e se casaria mais tarde, depois de se divorciar de Maria Argota, cresceu no meio das selvajarias próprias dos garotos da terra e da idade – tinha, por exemplo, um gosto particular em operar pássaros e outros animais com lâminas de barbear –, tornou-se exímio no manejo de armas; e, com o tempo, um atleta sem competidores à altura, principalmente quando chegou aos 1,85 metros – no basebol era o melhor, fosse pitcher ou right.

Na ONU, em 12 de Outubro de 1979

Rebelde com causa
Aluno de escolas jesuítas, era aplicado. Estudava até desoras, decorava páginas só de lhes passar os olhos, estava sempre entre os melhores. Era forte em Psicologia, História, principalmente da Revolução Francesa, e um apaixonado de Rousseau e Diderot, mas também bom nos números. Tinha uma mania estranha: depois de ler uma página, rasgava-a e deitava-a fora. Um livro de 500 acabava em cem.

Com o chefe índio W.A.Raifford, em Havana, em Julho de 1959

A vida política, Fidel Castro inicia-a na Universidade de Havana, onde entra no dia 27 de Setembro de 1945, na Federação dos Estudantes Universitários (FEU), repartindo a militância com o estudo de Direito. Cuba era nesse tempo um alvoroço, cheia de zaragatas, golpes, conspirações, gangsterismo, comércio de favores, bordéis com clientes certos: os Marines. Era um país à procura do amor-próprio, refém da Emenda Platt, que desde 1901 o acorrentava aos Estados Unidos. A anacrónica base de Guantánamo veio daí.

Nas áreas libertadas do Vietname do Sul, Outubro de 1973

É nesses anos, na FEU, que se molda, na luta pela direcção dos estudantes, ou contra o sistema, na altura representado por Grau, alvo do seu primeiro discurso público, ou insignes bandidos como Salabarría ou Masferrer, que eram uma espécie entre os polícias e os pistoleiros. É nesses anos que mergulha na vida e nas memórias do “apóstol” José Martí, Bolívar, Antonio Jose de Sucre.

Com Malcolm X no hotel Theresa, em Nova Iorque, em Outubro, de 1960

 É nesses anos que sobe, desce e discursa, já então aos borbotões, na Escalinata, de acesso à escola. E é por esses anos também que anda com uma pistola entalada no cinto das calças, que conhece Lesnick, Alfredo Guevara e outros que o hão-de acompanhar. No meio de conjuras, flyers, jornais clandestinos e programas radiofónicos de curta duração, lá acaba o curso e abre um escritório em Havana, onde defende causas de operários em Melena del Sur ou de camponeses em Santa Cruz del Norte, frequentemente sem levar nada. Tem uma ideia fixa: derrubar Batista.

Nas ONU, Em Nova Iorque, em 12 de Outubro de 1972

Robin Hood na Sierra Maestra

No dia 26 de Julho de 1953, a coberto da paródia do carnaval cubano, o Movimento tenta a sorte, em Santiago, contra os quartéis de Moncada e Bayamo. Morrem três atacantes, 87 serão presos, torturados e mortos. O tiro de partida falha.

Em Odessa, Ucrânia, em 1981

 Fidel e outros, apanhados numa cabana, a dormir, e o irmão, vão para Boniato, a seguir para a da Ilha dos Pinheiros, de onde sairão mas para serem julgados, assumindo ele a própria defesa durante duas horas num trecho que se transformará num libelo contra o regime – A História Me Absolverá.

Com o líder da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, em Havana, em 1974

Amnistia, exílio no México, a casa de María Antónia, o encontro com um jovem argentino que andava a conhecer o mundo, um tal Guevara, que começava ou acabava as frases com "che", que tanto pode ser o nosso "pá", como "olá" ou "caramba"; treinos físicos em inocentes ginásios e de tiro em quintas emprestadas, mil fintas aos agentes de Havana; e um iate chamadoGranma, a cair de podre no porto mexicano de Tuxpan.

Num campo de concentração nazi em Oswiencin, Polónia, em 1972

Fidel Castro já levava algum lastro político. Participara no Bogotazo, em 1948 – na verdade, por acidente, pois ia para um encontro com Jorge Gaitán, que nunca conheceria –, tentara uma aventura contra Trujillo, o ditador dominicano, e contra Moncada, e comprara em Nova Iorque, onde foi com Hilda, já divorciado de Mirta, um livro extraordinário: O Capital.

A preparar um entrevista para a televisão chilena, em 1971

Agora era tudo ou nada. Numa madrugada de Novembro de 1956, o barco, de 12 metros e com uma capacidade máxima para 25 pessoas, largou a abarrotar de presuntos, laranjas, leite condensado e 82 homens. Uma semana depois chegava às costas de Cuba, com a ajuda, entre outros, de um mapa que o Movimento 26 de Julho conseguira de um navio português.

Com o presidente do Chile, Salvador Allende, e o presidente cubano Osvaldo Dorticos, em Havana, Dezembro de 1972

 Desembarque, pântanos, mosquitos, combates, emboscadas de toca-e-foge, Sierra Maestra; a entrevista a Herbert Mathews, do New York Times; baixas, fuzilamentos. No torvelinho, Célia Sánchez, tão próxima dele como da revolução. E Havana, no último dia de 1958.

Com Manuel Pineiro, Raul Castro, Vilma Espin e uma menina não identificada

O repórter ficou encantado. Desmente a morte do chefe do M-26, que a propaganda batista espalhava aos sete ventos, e descreve-o como um campeador: “A sua personalidade é cativante. (…) É fácil compreender porque os seus homens o adoram. (…) À primeira vista, fisicamente e como personalidade, é um homem educado, de uma dedicação fanática à causa, um homem de ideais, coragem e qualidades notáveis de liderança. 

Durante a inauguração do campeonato de basebol amador em Havana, em 1963

As suas ideias de liberdade, democracia, justiça social, necessidade de restaurar a Constituição, realizar eleições, estão bem arraigadas. (…) O programa é vago, com disposições generalizantes, mas traz uma nova proposta para Cuba, radical, democrática e (…) anticomunista”, escreve, comparando o entrevistado e Bolívar, Lincoln e Robin Hood.

A ver o cosmonauta cubano Arnaldo Tamayo Mendez e Iuri Romanenko, em Setembro de 1980

Mathews escreveu a quente. A Sierra Maestra não era Sherwood. Havana aproxima-se de Moscovo, os Estados Unidos eriçam-se; vem o embargo, no futuro revisto e aumentado, uma sucessão de episódios que marcaram a ilha e o mundo, a Baía dos Porcos, em 1961, a crise dos mísseis um ano depois, a exportação da revolução, a morte de Che na Bolívia, atentados, a aventura angolana, enquanto mesmo assim tomava forma uma sociedade que erradicaria o analfabetismo e faria da saúde um direito elementar, bem como a habitação.

Com Ernesto "Che" Guevara numa imagem com data desconhecida

Com Ernesto Che Guevara nos anos 60

Com Ernesto Che Guevara

Discurso em Havana, em 1972

Em Setembro de 1960 a discursar perante delegados das Nações Unidas

Havana, Cuba após a morte

Havana, Cuba

Havana, Cuba

Vaparaiso, Chile

La Paz, Bolívia

Livro de condolências, Manágua, Nicarágua

Embaixada cubana no México

Caracas, Venezuela

Embaixada cubana em Lima, Peru

Honduras

Paraguai

Paraguai

Colômbia

A jogar basebol em Havana, em 1964

Com o Papa Francisco

Com Nicolas Maduro

Com Vladimir Putin

Com Dilma Rousseff

Com Lula da Silva
Com Lula da Silva

Com Michelle Bachelet

Com Jimmy Carter

Com Mahmoud Ahmadinejad

Com Hu Jintao

Com Marcelo Rebelo de Sousa

Com Nong Duc Manh

Com Cristina Kirchner

Com Maradona e Hugo Chávez

Com Nicolás Maduro

Chávez visita Cuba ainda antes de ser presidente (

Chávez visita Cuba ainda antes de ser presidente (

Numa universidade da Venezuela (28/10/2000)

Chávez era um fã de basebol (29/10/2000)

A cortar cana de açucar, em 1962

Com o irmão Raul Castro, em 1978

Retrato do final dos anos 80

A entrar em Havana depois da vitória revolucionária, em Janeiro de 1959

Com Ernesto Che Guevara nos anos 60

Guerrilha liderada por Fidel, em 1958

Com o primeiro-ministro russo Nikita Khrushchev em Moscovo, em 1963

Com Ernesto Che Guevara nos anos 60

Discurso em Moscovo, em 1981

Retrato dos anos 60

Discurso em Havana, em 1970

Com Ernesto Che Guevara, nos anos 60

Com Camilo Cienfuegos e Ernesto Che Guevara, em Janeiro de 1959

Depois de derrotar a ditadura de Fulgencio Batista, em Janeiro de 1959


Marcha em Havana, em 1960

No memorial da batalha de Carabobo, na Venezuela (

O texto, intitulado “Perdemos o nosso melhor amigo”, termina com a frase “Hasta la victoria siempre, inolvidable amigo!” ("Até à vitória sempre, inesquecível amigo!")

“Patria o muerte!”


E por fim a partida da História com que Fidel não contava: a derrocada dos regimes comunistas do Leste europeu, a perda dos principais compradores do açúcar cubano, o “período especial”, a onda de balseros de 1994, a aflição económica, apesar das receitas turísticas e das remessa dos emigrantes, no grito com que sempre – e desde então ainda mais – terminava os seus intermináveis discursos: “Patria o muerte!”

Em Havana, em Novembro de 1976

Com o presidente cubano Osvaldo Dorticos, Anastas Mikoyan e Ernesto Che Guevara, nos anos 60

No dia 26 de Julho de 2006, em resultado de uma doença feita segredo de Estado, Raúl substituiu-o na presidência, o que levou alguns observadores a esperar um abrandamento da repressão, talvez uma abertura. Nada. Depois de um longo período de convalescença, com novos rumores sobre a sua morte, começou a receber chefes de Estado estrangeiros, alguns deles amigos, como o venezuelano Hugo Chávez, a escrever crónicas no Granma, sobre o Iraque, o Afeganistão, o ambiente, a globalização, a influenciar a política do país, até porque continuava a ser primeiro secretário do PCC, e a aparecer em público. Em Miami, o Nuevo Herald deu-se por fim conta que não ia haver nenhuma mudança com nome disso.


Com Camilo Cienfuegos num jogo de basebol em Havana entre os "Barbudos" e o "Occidente", em 1959 

Raúl começou entretanto a mudar pouco e aos poucos. Em 2011, num congresso histórico do PCC, adoptou uma série de medidas de abertura económica. Em 2014, aproveitando o espaço aberto com a retirada de cena de Fidel, Barack Obama passa seis meses a negociar com Cuba em segredo. No final desse ano, os dois países retomam relações e em Março último Obama visita Havana, uma estreia para um Presidente dos EUA desde 1928. Raúl demonstrou assim a sua natureza pragmática, surpreendendo o mundo.


Com membros da guerrilha, em Havana, em Janeiro de 1959

Mas, sim, Fidel Castro, morreu. Vários adivinharão uma reviravolta política como um ciclone das Caraíbas. Outros, como Ramonet, que todos os ajustamentos serão calmos. “O que é que acontecerá quando desaparecer, por causas naturais, o Presidente cubano? É óbvio que se produzirão mudanças, já que ninguém na estrutura do poder (nem o Estado, nem o partido, nem as Forças Armadas) tem a sua autoridade. Alguns analistas vaticinam que, como aconteceu na Europa do Leste depois da queda do Muro de Berlim, o regime actual será prontamente derrubado. 

Com Ernesto Che Guevara nos anos 60

Com uma chapka, em Janeiro de 1964, perto de Moscovo

Enganam-se”, escreveu o jornalista, em 2006, no prólogo das cem horas com Fidel, explicando que os regimes comunistas europeus eram impostos do exterior e detestados por uma parte importante da população, que não era o caso de Cuba. A palavra agora aos que lá vivem.

Com a guerrilha depois da vitória do golpe que derrubou Fulgencio Batista, em Janeiro de 1959