segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A clarividência de Natália...





Citações retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.

"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"


"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".

Natália Correia

PS- Natália de Oliveira Correia (Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 ? Lisboa, 16 de Março de 1993 ) foi uma intelectual, poeta e activista social açoriana, autora de extensa e variada obra publicada, com predominância para a poesia. Deputada à Assembleia da República (1980-1991), interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Autora da letra do Hino dos Açores. Juntamente com José Saramago (Prémio Nobel de Literatura, 1998), Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).

A obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Foi uma figura central das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas.

sábado, 28 de setembro de 2013

Carta de Putin sobre a Siria



Carta-aberta de Putin ao povo norte-americano, publicada no New York Times (11/9/13)
 


Vladimir V. Putin (New York Times)

Os recentes acontecimentos relacionados à Síria levam-me a dirigir-me diretamente ao povo norte-americano e aos seus líderes políticos. É importante que o faça, num momento em que não há suficiente comunicação entre nossas sociedades.

As nossas relações passaram por diferentes etapas. Enfrentamo-nos durante a Guerra Fria, mas também fomos aliados uma vez e, juntos, derrotamos os nazis. Criou-se então a Organização das Nações Unidas, para evitar voltasse a acontecer tal devastação.

Os fundadores das Nações Unidas perceberam que as decisões que afetam a guerra e a paz devem ser tomadas sempre por consenso e, com a anuência dos Estados Unidos, o direito de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança está consagrado na Carta das Nações Unidas. A profunda sabedoria que se condensa nesse dispositivo tem servido de base, há décadas, para a estabilidade das relações internacionais.

Ninguém deseja para a ONU o destino que teve a Liga das Nações, que entrou em colapso porque não tinha influência real. Mas é o que pode acontecer, se os países influentes ignorarem a ONU e optarem por uma ação militar sem a autorização do Conselho de Segurança.

O potencial ataque dos EUA contra a Síria, apesar da forte oposição de muitos países e dos principais líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, fará ainda mais vítimas inocentes e levará a uma escalada do conflito, que se espalhará para além das fronteiras da Síria. Esse tipo de ataque pode aumentar a violência e desencadear uma nova onda de terrorismo. Pode minar os esforços multilaterais para resolver a questão nuclear iraniana e o conflito entre israelenses e palestinos e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio e Norte da África. Pode quebrar o equilíbrio do sistema da lei e da ordem internacional.

O que a Síria vive hoje não é batalha por democracia, mas um conflito armado entre o Estado e grupos opositores, em país multirreligioso. Na Síria há poucos defensores de uma democracia. Mas há, sim, em grande número milícias da Al-Qaeda e extremistas de todas as falanges, que combatem contra o Estado. Os EUA classificaram como organizações terroristas a Frente Al-Nusra e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que lutam com a oposição, contra o Estado sírio. Esse conflito externo, alimentado por armas que estrangeiros fornecem à oposição, é dos mais sangrentos do mundo.

Ali lutam mercenários vindos de países árabes e centenas de milicianos de países ocidentais, inclusive da Rússia, o que muito nos preocupa. Sobretudo se voltarem para nossos países, com a experiência adquirida na Síria. Já se sabe que, depois de agirem na Líbia, muitos extremistas mudaram-se para o Mali. Tudo isso representa uma ameaça contra todos nós.

Desde o início, a Rússia mostrou ser a favor de um diálogo pacífico que capacitasse os sírios a desenvolver um plano para seu próprio futuro. Não estamos protegendo o governo ou o Estado sírio, mas a lei internacional. Precisamos de atuar com o Conselho de Segurança da ONU e acreditamos que preservar a lei e a ordem no mundo complexo e turbulento em que vivemos é um dos poucos modos que há para impedir que as relações internacionais deslizem para o caos. A lei é a lei, e temos de segui-la, gostemos ou não.

Nos termos da lei internacional vigente, permite-se o uso da força só para autodefesa ou por decisão do Conselho de Segurança. Qualquer outra opção é inaceitável nos termos da Carta da ONU e constitui um ato de agressão.

Não há dúvidas de que foi usado gás venenoso na Síria. Mas tudo faz crer que não foi usado pelo Exército sírio, mas por forças da oposição, para provocar uma intervenção a partir dos seus poderosos patrões estrangeiros, os quais, assim, estariam em aliança com os fundamentalistas. Relatos de que as milícias preparam outro ataque – dessa vez contra Israel – não podem ser ignorados.

É motivo de alarme em todo o mundo que a intervenção em conflitos internos em países estrangeiros se tenha convertido em ação corriqueira para os EUA. Isso corresponde aos interesses norte-americanos de longo prazo? Duvido. Cada vez mais milhões de pessoas em todo o mundo passaram a ver os EUA não como modelo de democracia, mas como nação que se serve da força bruta e depende de coaligações mal costuradas sob o slogan “ou estão conosco ou estão contra nós”.

Mas a violência já provou ser ineficaz e sem sentido. O Afeganistão gira sem sentido e ninguém pode prever o que acontecerá depois da retirada das forças internacionais. A Líbia está dividida em tribos e clãs. No Iraque, prossegue a guerra civil, com dúzias de mortos todos os dias. Nos EUA, já há quem trace uma analogia entre Iraque e Síria e se pergunte porque quer o seu governo repetir erros recentes.

Não importa o quanto os ataques sejam direccionados, nem o quão sofisticado sejam as armas, as baixas civis são inevitáveis, inclusive idosos e crianças, os mesmos que os ataques visariam a proteger.

O mundo reage. Se ninguém mais puder confiar na lei internacional, nesse caso passa a ser indispensável encontrar outros meios para garantir a autossegurança. Por isso, um número crescente de países busca comprar armas de destruição em massa. É lógico: se tem a bomba, então ninguém lhe toca. Há grande urgência em reforçar a não proliferação [nuclear] a qual, na realidade, está a erodir-se.

Temos de parar de usar a linguagem da força. Temos de retomar o caminho da discussão diplomática e política civilizada.

Nos últimos dias, emergiu uma nova oportunidade para evitar uma ação militar. EUA, Rússia e todos os membros da comunidade internacional devem aproveitar a disposição do governo sírio, que aceitou pôr seu arsenal químico sob controle internacional para depois ser destruído. A julgar pelas declarações do presidente Obama, os EUA veem aí uma alternativa à ação militar.

Acolho como bem-vindo o interesse do presidente em continuar o diálogo com a Rússia, sobre a Síria. Temos de trabalhar juntos para manter viva essa esperança, como concordamos fazer, em junho, na reunião do G-8 em Lough Erne na Irlanda do Norte. E trazer a discussão de volta na direção de mais negociações.

Se pudermos evitar o uso da força contra a Síria, a atmosfera internacional melhorará e fortalecer-se-á a confiança mútua. Será um sucesso partilhado que abrirá as portas para a cooperação em outras questões críticas.

As minhas relações pessoais e de trabalho com o presidente Obama são marcadas por crescente confiança. Aprecio essa confiança.

Examinei atentamente o discurso do presidente à Nação, na terça-feira. E devo discordar do [conceito de] defesa do excepcionalismo norte-americano. O presidente disse que a política dos EUA é o que “faz diferente os EUA, o que nos faz excepcionais.” É extremamente perigoso estimular as pessoas a que se vejam, elas próprias, como diferentes, seja qual for a motivação.

Há países grandes e países pequenos, ricos e pobres, os que têm longas tradições democráticas e os que ainda têm de encontrar as próprias vias até a democracia. As respectivas políticas também diferem. Todos somos diferentes. Mas quando pedimos que Deus nos abençôe, ninguém pode esquecer que Deus nos criou, todos, iguais.

Para que a memória não se apague ...!!!



O Acordo de Londres de 1953 sobre a divida alemã foi assinado em 27 de Fevereiro, depois de duras negociações com representantes de 26 países, com especial relevância para os EUA, Holanda, Reino Unido e Suíça, onde estava concentrada a parte essêncial da dívida.

A dívida total foi avaliada em 32 biliões de marcos, repartindo-se em partes iguais em dívida originada antes e após a II Guerra.Os EUA começaram por propor o perdão da dívida contraída após a II Guerra. Mas, perante a recusa dos outros credores, chegou-se a um compromisso. Foi perdoada cerca de 50% (Entre os paises que perdoaram a dívida estão a Espanha, Grécia e Irlanda) da dívida e feito o reescalonamento da dívida restante para um período de 30 anos. Para uma parte da dívida este período foi ainda mais alongado. E só em Outubro de 1990, dois dias depois da reunificação, o Governo emitiu obrigações para pagar a dívida contraída nos anos 1920.

O acordo de pagamento visou, não o curto prazo, mas antes procurou assegurar o crescimento económico do devedor e a sua capacidade efectiva de pagamento.

O acordo adoptou três princípios fundamentais:
1. Perdão/redução substantial da dívida;
2. Reescalonamento do prazo da divída para um prazo longo;
3. Condicionamento das prestações à capacidade de pagamento do devedor.

O pagamento devido em cada ano não pode exceder a capacidade da economia. Em caso de dificuldades, foi prevista a possibilidade de suspensão e de renegociação dos pagamentos. O valor dos montantes afectos ao serviço da dívida nao poderia ser superior a 5% do valor das exportações. As taxas de juro foram moderadas, variando entre 0 e 5 %.

A grande preocupação foi gerar excedentes para possibilitar os pagamentos sem reduzir o consumo. Como ponto de partida, foi considerado inaceitável reduzir o consumo para pagar a dívida.

O pagamento foi escalonado entre 1953 e 1983. Entre 1953 e 1958 foi concedida a situacao de carência durante a qual só se pagaram juros.

Outra característica especial do acordo de Londres de 1953, que não encontramos nos acordos de hoje, é que no acordo de Londres eram impostas também condições aos credores - e não só aos paises endividados. Os países credores, obrigavam-se, na época, a garantir de forma duradoura, a capacidade negociadora e a fluidez económica da Alemanha.

Uma parte fundamental deste acordo foi que o pagamento da dívida deveria ser feito somente com o superavit da balança comercial. 0 que, "trocando por miúdos", significava que a RFA só era obrigada a pagar o serviço da dívida quando conseguisse um saldo de dívisas através de um excedente na exportação, pelo que o Governo alemão não precisava de utilizar as suas reservas cambiais.

EM CONTRAPARTIDA, os credores obrigavam-se também a permitir um superavit na balança comercial com a RFA - concedendo à Alemanha o direito de, segundo as suas necessidades, levantar barreiras unilaterais às importações que a prejudicassem.

Hoje, pelo contrário, os países do Sul são obrigados a pagar o serviço da dívida sem que seja levado em conta o défice crónico das suas balanças comerciais

Marcos Romão, jornalista e sociólogo.

C.T. T. - A vergonha que vem de cima!



Presidente dos CTT recebia dois ordenados ....

*O Presidente do Conselho de Administração dos CTT, Estanislau Mata da
Costa - que se demitiu no final do mês passado, sem ter terminado o
mandato recebeu, durante cerca de dois anos, dois vencimentos em
simultâneo: um pelo cargo nesta empresa, de cerca de 15 mil euros, e outro
correspondente às suas anteriores funções na PT, de 23 mil euros.
E isto apesar de ter suspendido o vínculo laboral com a PT.*
*A descoberta foi feita pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF), na
sequência de uma auditoria realizada após denúncias da comissão de
trabalhadores dos CTT sobre actos de alegada má gestão na empresa.

Segundo soube o SOL, o Conselho de Administração da empresa terá recebido o relatório preliminar
desta auditoria no dia 29. A demissão de Mata da Costa foi anunciada no dia
seguinte e justificada pelo próprio com «razões exclusivamente do foro
pessoal e familiar».*
*A IGF classifica esta acumulação de vencimentos por parte de Mata da
Costa num valor mensal de cerca de 40 mil euros (ao todo, um milhão e 575,6
mil euros recebidos entre Junho de 2005 e Agosto de 2007) - como
«eticamente reprovável, ainda que possível do ponto de vista legal». Ainda
assim, a IGF decidiu encaminhar o caso para a Procuradoria-Geral da
República, ter «dúvidas quanto à legalidade» da situação.*

Segundo o relatório preliminar da IGF, a que o SOL teve acesso, Mata da
Costa, que era quadro da PT, foi nomeado para presidir aos CTT em Junho de
2005. Mas, em vez de se desligar desta empresa, fez um acordo de
«suspensão do contrato de trabalho, embora estranhamente sem perda de
remuneração.*

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Porto: O Bolhão pertence ao povo


ALBERTO PINTO NOGUEIRA
23/09/2013


A Confeitaria do Bolhão está no coração da cidade do Porto. Na Rua Formosa, logo à direita de quem surge da Rua Sá da Bandeira. Por provincianismo ou orgulho, chamavam-lhe a “Versailles do Porto”. É de 1896.

Encara com a porta sul do Mercado do Bolhão. Este vem dos meados desse século. Pode entrar-se por aí.

Edifício neoclássico, já com indícios da arquitectura do ferro no seu interior. Imenso, dono de um quarteirão na baixa da Invicta.

A imponência impõe-se. Impressiona! O desleixo da Câmara Municipal também! Sem exagero: está em ruínas.

Mercado do Povo. Inúmeras lojas em forma de espigueiro, distribuídas por diversas fileiras, de topo a topo. Velhas quase todas. Muitas encerradas que “eles não vendem as licenças quando a gente as deixa…”, diz D. Dulce que tem lá o seu negócio há 25 anos. Antes era da família. Mercadeja-se tudo. Galináceos, peixe, legumes, fruta, galos de Barcelos, souvenirs, rendinhas… Flores, muitas flores. Uma vendedeira jovem, bem torneada e cuidada, de olhos verdes ousados, vende fruta com amor: “Ó 'mor, não levas um quilo de uvas fresquinhas acabadas de chegar? Olha-me para estes pêssegos!”.

Está uma manhã quente de Setembro. Turistas, e não poucos, deleitam-se com a beleza do edifício. Abanam a cabeça em reprovação e espanto, ante o abandono e negligência a que se votou uma obra daquelas. Há um certo aperto no estômago. Um par de chinesas, baixinhas, de olhos argutos, indaga quem é o proprietário. A Câmara Municipal. Ficam atónitas, com os olhos mais em bico!

Londres mantém, há séculos, o seu mercado do Povo: Covent Garden. Um prazer. Reina a harmonia, os negócios pequenos, os pequenos restaurantes, os artistas, a música, pinturas a preços módicos, jogos, teatro e cinema. É objecto de atenção e cuidado. Sem a imponência do Bolhão. Os poderes públicos não são limitados à contabilidade tacanha, nem fazem negociatas ocultas com o “sector privado”… É outra visão política. Outra mundividência.

O Mercado do Bolhão é, no género, se não o maior, dos maiores da Europa. Em superfície e grandeza arquitectónica.
Está a cair. Uma vergonha e uma incompetência. Doze anos a governar a cidade e deixam-na assim.

Os tectos de ambos os andares estão escorados por tubos de ferro que assentam lá em cima em tiras de madeira. O andar superior espera que o derrubem. Tudo fechado. As lojinhas devolutas apodrecem, as paredes germinam bolor e rachaduras. O ferro enferrujado. Portões, portas, escadarias, chão. Tudo caduco e podre. Só visto. Não há criatividade literária que traduza tão criminoso desleixo.

Se rondam eleições, ressurge o interesse pelo mercado: conservar, manter, requalificar!

O mercado compra votos!

Segue-se o esquecimento do desinteresse. Diz D. Isabel, vendedeira de flores, ela também uma flor: "Eles vêm cá nas eleições, depois nunca mais ninguém os vê… Vieram cá ontem, uns de manhã, outros de tarde…”

Há sempre aquela miragem dos políticos míopes e que dá bons negócios: privatizar! Centro comercial! Concessões sem limite temporal. Lojas iguais a todas, aparcamentos subterrâneos. Chamam a isso, com embuste, “requalificar”.

Os cabouqueiros da gestão autárquica nunca perceberam, nem perceberão, que o mercado não é só edifício, sítio de pequenos negócios. Também é alma do povo. De encontro, de vida social, de estreitamento afectivo e solidário entre gentes. O Património une o passado ao presente, invade e projecta o futuro.

O dia-a-dia do Povo que se lixe!

O Mercado do Bolhão que se…

A cidade também.



domingo, 22 de setembro de 2013

Bomba nuclear por pouco não explodiu em 1961 na Carolina do Norte

A bomba seria 260 vezes mais poderosa do que a que devastou a cidade japonesa de Hiroxima DR

PÚBLICO
21/09/2013


Avião que transportava duas bombas desintegrou-se. Uma delas começou o processo de detonação e só o último dos quatro mecanismos de segurança “ficou entre os Estados Unidos e uma grande catástrofe”, diz documento secreto a que o Guardian teve acesso.




Uma bomba nuclear dos Estados Unidos por pouco não explodiu no estado da Carolina do Norte em 1961. A informação consta de um documento secreto a que o diário britânico Guardian teve acesso e que indica que o dispositivo seria 260 vezes mais poderoso do que o que devastou a cidade japonesa de Hiroxima.

De acordo com as informações avançadas pelo Guardian, a bomba seguia a bordo de um avião B-52 que se desintegrou no ar a 23 de Janeiro de 1961, quando sobrevoava aquele estado norte-americano. No aparelho seguiram duas bombas de hidrogénio Mark 39. Uma caiu no campo e outra na zona de Goldsboro. Nenhuma chegou a explodir, mas a segunda iniciou o processo de detonação — ainda que se tenha conseguido travar a tempo com um interruptor que funciona com uma tecnologia de dínamo e que era o último mecanismo de segurança possível.

A informação vem a público numa altura em que as autoridades dos Estados Unidos insistem que o arsenal nuclear do país em momento algum colocou a segurança ou a vida dos cidadãos em risco, omitindo alguns incidentes como este da Carolina do Norte.

O documento foi conseguido pelo jornalista Eric Schlosser através do chamado "Freedom of Information Act" — uma lei que visa garantir o direito à liberdade de informação e que permite o acesso a alguma informação federal do Governo norte-americano. O incidente aconteceu durante a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a Rússia e apenas um ano antes da crise com Cuba.

O jornal refere que, se a bomba não tivesse sido travada a tempo, as ondas radioactivas eram suficientemente potentes para afectarem Washington, Baltimore, Filadélfia e até mesmo Nova Iorque. Aliás, no documento secreto escrito oito anos depois por um engenheiro dos laboratórios de Sandia responsável pela segurança mecânica das armas nucleares, Parker Jones, é dito que as bombas estavam feitas de forma inadequada e que foi por mero acaso que não houve um grande acidente.

De quatro mecanismos para evitar a detonação de uma das bombas, três falharam, segundo o especialista. “O Governo dos Estados Unidos tentou consistentemente esconder informação dos cidadãos para evitar as questões que estão a ser colocadas sobre a nossa política de armamento nuclear”, disse Parker Jones, citado pelo Guardian. E acrescentou: “Disseram-nos que não havia possibilidade de estas armas serem detonadas acidentalmente, mas aqui está uma que esteve perto disso.” O engenheiro frisou que foi um “simples interruptor de baixa voltagem” que “ficou entre os Estados Unidos e uma grande catástrofe”.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Multiplicação dos pães e da fome

Por Carlos Pimenta
publicado em 5 Abr 2013

1. Se já emprestou dinheiro a um amigo sabe que ficou sem essa maquia, temporariamente se ele pagar, definitivamente se tal não acontecer.

Libertemos a imaginação. Para não ficar sem esse dinheiro imprime uns documentos que diz serem uma promessa de pagamento aos seus possuidores de um determinado montante da dívida que o seu amigo contraiu para consigo. Vende esses “documentos financeiros” prometendo uma taxa de juro compensadora. Como suspeita que terá dificuldades em vender, pede a um familiar que afiance aqueles “títulos”, reembolsando os compradores, se alguma coisa correr mal. Ainda pode tomar uma iniciativa adicional: contrata uma empresa, pagando-lhe, para que divulgue “cientificamente” que aqueles títulos são bons. Resultado, vendeu tudo.

 
Gerou-se o milagre. Emprestou ao seu amigo, que talvez nunca pague, mas já recebeu mais do que lhe entregou. Até poderá continuar a emprestar, mesmo a quem sabe que não tem possibilidades de pagar. Basta mostrar-lhes que o futuro é o melhor dos mundos. E se surgir algum entrave burocrático há sempre algum dinheiro para desenferrujar dificuldades.

2. Eu sei. Esta história parece-lhe mal contada. Mesmo sendo empreendedor não o conseguiria fazer.

Tem razão, mas muitas instituições bancárias, seguradoras e empresas de rating o fizeram. “Venderam latão por ouro”, criaram uma imensa teia de conflitos de interesse, alimentaram a fraude e a corrupção. Viveram o sonho do capitalismo sem regulação do Estado, onde o dinheiro gerava dinheiro, sem agricultura, sem indústria e outras actividades carentes de trabalho produtivo. Anunciava-se um futuro radioso sem crises, ao mesmo tempo que se agravavam as desigualdades sociais.

Viveu-se acima das suas possibilidades! O leitor? O seu amigo que lhe pediu emprestado? Não. Foi o núcleo empreendedor e dinâmico da elite financeira mundial que viveu acima das suas possibilidades, arrastando as sociedades para essa voragem galopante. Tão acima das suas possibilidades que, quando a crise se lhes atravessou no caminho, em 2007/8, havia uma dívida que não era pagável, de algumas dezenas de vezes o produto mundial anual.

3. O eticamente responsável seria fazer com que esse mundo da alta finança pagasse os desvarios que cometeu. Custasse o que lhes custasse. Mas a realidade não é cor-de-rosa porque quem tem o poder económico também está perto do poder político.

Longe da ética e da dignidade humana o caminho percorrido foi outro. Meteram nas nossas cabeças que nós é que éramos os culpados e precisávamos de pagar a dívida da fraude que os outros cometeram. Depois, especularam sobre os produtos alimentares e energéticos, responsabilizaram os cidadãos honestos pelo pagamento da dívida dos Estados. E assim se conseguiu aumentar as desigualdades sociais já antes brutais.

Como é que nós, cidadãos arrastados para mais desemprego e precarização poderemos pagar tais dívidas? Pagando mais impostos, não tendo direito a saúde e educação, passando fome. Entregando-lhes as contas bancárias e outros seus haveres. Transformando em barras de ouro exportadas as suas recordações dos ancestrais. Talvez amanhã entregando-lhes a mobília ou algum órgão humano comercializável.

Pensando bem, há uma outra “solução”: matar uma parte da população. Só tem um pequeno problema: se quem trabalha nos sectores produtivos morre eles também morrem.

4. Histórias das Arábias ou de África? De alguma temível ditadura?

Não, das democracias e do local onde o leitor vive.

Carne de cavalo? Ainda bem!


Por Carlos Pimenta
publicado em 1 Mar 2013

1. Foi detectada recentemente a venda de carne de cavalo, fazendo-se passar por vaca. Ainda bem! O que seria grave é que não a detectassem.

As situações que quotidianamente nos podem afectar são tantas que o perigo está em não as vermos, em dizerem-nos que “no nosso país não há, blá, blá”.

Na produção e comercialização de alimentos há muitas actividades ilegais. Parte dos 27 milhões de escravos (escravos, e não uma espécie de escravos!) actualmente existentes, incluindo na Europa, produzem diversos alimentos, “da fruta à carne e do açúcar ao café”, que aparecem nas nossas mesas. Como afirma um estudioso (Loretta Napoleoni), “a escravatura está dentro dos nossos frigoríficos”. E não se esqueça de englobar algumas migalhas das 400 mil toneladas anuais de pesca ilegal desembarcada na Europa.

Produção ilegal, eventual ausência de controlo sanitário, propagação de doenças. E se estiver doente tenha em atenção que, segundo a OMS, “um em cada dez comprimidos é falsificado”.

Muitos de nós não seremos afectados pela produção e pela distribuição de droga, pelo tráfico de órgãos humanos, pelo comércio de espécies em extinção, pela circulação de notas falsas, pelo transporte e “guarda” de resíduos tóxicos, pelos negócios da guerra, pela pedofilia, mas certamente muitos o serão.

Muitos de nós ainda não fomos vítimas de extorsão de verbas nas nossas contas bancárias, chantageados e controlados informaticamente, e a nossa identidade roubada, mas esse perigo existe sempre e muitos já o foram. E talvez uma parte do correio electrónico com publicidade não solicitada não seja um acaso, mas o resultado de uma devassa da nossa vida privada e filtragem da nossa actividade.

E a sua própria vida pode também estar em jogo. Sabia que há pirataria de peças sobressalentes para a aviação civil? Talvez utilizadas no avião em que vai viajar.

2. Eis alguns, poucos, exemplos da economia ilegal. Mas regressemos à carne de cavalo.

Quando uma ponta das actividades da criminalidade internacional se torna visível tornam-se evidentes algumas das suas características.

Estas actividades ilícitas têm uma dimensão internacional, planeada, afectando milhões de pessoas.

Pela sua dimensão não é o resultado de um abate ilegal numa “garagem de aldeia”. É uma actividade organizada, de grande dimensão, certamente susceptível de ser vista e controlada.

Admitindo-se, ou não, a idoneidade das marcas dos produtos afectados, constatamos que no circuito de comercialização estiveram presentes fornecedores “de confiança”. Hoje as fronteiras entre as máfias e as actividades legais são muito difusas, formando uma rede entrelaçada.

Desta constatação resulta imediatamente uma outra. O criminoso de colarinho branco é uma peça importante deste processo. Por outras palavras, alguns dos criminosos serão cidadãos com responsabilidades sociais relevantes, pessoas “da máxima confiança”, com quem eventualmente conversamos no fim da missa.

Há forte probabilidade de que esta casta de criminosos negoceie a cegueira do Estado e das forças de segurança, que haja, em alguns países, mais corrupção.

O esmagamento do custo por parte das empresas subestima o controlo de qualidade em detrimento do preço baixo e cria um ambiente favorável à propagação destes logros.

3. É verdade, criminalidade sempre existiu, mas como a que cresceu após a década de 80 do século passado até aos nossos dias, adubada pela lógica neoliberal da globalização, nunca houve anteriormente.

Crise criminável e criminogenética



Por Carlos Pimenta
publicado em 25 Jan 2013

1. As crises, fases do ciclo económico, fazem parte do após Revolução Industrial (XVIII), espalhada à escala mundial durante o século seguinte. À medida que o capitalismo submetia os anteriores modos de produção e abrangia mais países as crises passaram a ser mais frequentes, mais amplas e tendencialmente periódicas. Sendo cada uma diferente das restantes, todas apresentam características comuns. Antecipada, numa aparente contradição, por um aumento das cotações na bolsa, revela-se na diminuição do investimento privado, na quebra da procura agregada, no aumento dos estoques e dificuldade de venda, na diminuição do emprego e na subocupação das máquinas e equipamentos. Esta situação altera a dinâmica social e política pela insegurança e revolta, pela subserviência e ruptura, pela leitura clara do encoberto.


2. Estas crises são radicalmente diferentes das anteriores (até séc. XVIII). Antes as crises representavam fome porque a produção era insuficiente. Actualmente a fome resulta de haver produção a mais em relação às possibilidades de venda. É a miséria nascida na, e da, opulência. Alguns chamam--lhes crises de subconsumo, outros designam-nas por crises de sobreprodução. Há capital a mais em relação às possibilidades da sua rentabilização. A superação da crise passa pela não utilização, destruição, do capital e dos recursos: o capital fixo é destruído pela paralisação das máquinas e encerramento das instituições produtivas; o capital mercadoria é-o pela acumulação sem venda; o capital humano é-o pelo desemprego e pela deterioração das condições de vida; o capital monetário-financeiro desvaloriza-se e muitas das dívidas não são pagas.


3. Numa crise não está apenas em jogo a eficácia económica. A economia não é mais do que uma parte da sociedade em que outros valores são fundamentais e ajudam à resolução dos próprios desmandos da actividade económica. A vida humana e a preservação do nosso habitat são alguns desses valores fundamentais. Valores que exigiriam uma actuação adequada do Estado que tivesse em conta os princípios éticos fundamentais da sociedade contemporânea, indicados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Contudo não têm sido essas as referências fundamentais da União Europeia. A concubinagem entre o poder político e o capital financeiro, manifestada através da socialização dos prejuízos e privatização dos lucros dos bancos é a principal causa do actual prolongamento da crise. Salva-se o capital fictício gerado na loucura e na fraude da bolsa, profusamente acumulado nos bancos, mas matam-se muitos que empenharam todas as suas energias num negócio ou dependem do salário para viver.


4. A crise em que vivemos foi fortissimamente ampliada por fraudes e outros crimes económicos, muitos já investigados e julgados. Muitos dos que estiveram na origem de tal ambiente continuam a ser politicamente apoiados e salvaguardados, em detrimento de todos os demais.

E tudo isto acontece numa Europa onde existe uma poderosa criminalidade económica organizada em condições de aproveitar as debilidades dos Estados e as dificuldades das empresas para entrelaçar mais o legal com o ilegal, para aumentar a sua influência política.

Vivemos numa sociedade criminogenética, em crise, que tende a reforçar a sua toxidade, para o que contribui o neoliberalismo.

É um imperativo social, legal e ético promover uma política que beneficie tanto o capital produtivo como o trabalho, só viável numa lógica de combate à crise, de crescimento e de defesa da democracia.

Fraude, a hidra



Por Carlos Pimenta

1. A fraude é uma hidra que, em vez de encontrar um Hércules capaz de degolar as suas sete cabeças, se pavoneia entre os humanos, reproduzindo--se no consumismo, numa existência utilitarista alicerçada na convicção de que até os valores mais sagrados do humanismo são transaccionáveis, no turbilhão dos negócios, num enfraquecimento da honra e da coesão das relações sociais, na degenerescência ética.

Alimenta-se na organização social da globalização, no abandono do longo prazo e no encantamento pelo imediato e efémero, no aumento das desigualdades económico-sociais, na transformação do Estado-nação no Estado- -mercado, na degradação das relações de confiança entre os cidadãos e os seus representantes políticos. Uma degradação que resulta do folclorismo e clubismo irracional dos actos eleitorais, do aumento das desigualdades económico-sociais, da sobredeterminação da política pelos interesses económicos. Autoalimenta-se nas relações sociais criadas, na propagação do exemplo, nos processos automáticos de exclusão progressiva das boas pelas más práticas económicas, de afastamento dos referenciais éticos e ascensão dos seus contrários.

Os centros de decisão chafurdam em conflitos de interesses. Quem gere e representa os outros tem como primado a opípara beneficiação pessoal; quem deve regular, controlar e fiscalizar é comandado por aqueles que deve supervisionar. Um conflito de teias complexas, globalizadas, entrelaçando as mais diversas relações sociais.

2. A fraude é mimética, com capacidade de se ajustar ao ambiente, e também assumindo formas diversas. É a fraude cometida contra as empresas que sangra a sua capacidade de existência, é a fraude manipulada pelos conselhos de administração em seu benefício próprio ou angariando vantagens ilícitas para as suas instituições. É a corrupção nos mais diversos sectores de funcionamento social, nomeadamente os políticos. É o financiamento informal das campanhas eleitorais como “investimento” dos favores passados ou para obtenção de futuros. É a manipulação de rendimento e riqueza para encobrir a sua origem defraudadora ou criminosa. São os paraísos fiscais com a sua opacidade, que funcionam como bastiões fortificados de qualquer investigação criminal e espaço de debochante manipulação contabilística. É o aproveitamento das redes informáticas para transformar o conto do vigário numa actividade massificada à escala mundial, contra a qual não há vacina eficaz devido à mutabilidade dos procedimentos.

A fraude económico-financeira é mimética e a criminalidade económica internacional acompanha-a e aproveita-se para reforçar o seu poder, para aumentar o seu controlo sobre as actividades económicas legais, para se apropriar da capacidade de decisão dos Estados.

A situação de crise e a falta de liquidez das instituições, a dependência estatal do funcionamento dos mercados de capital de crédito (e usura), as privatizações e a forma como são realizadas são manás para o seu expansionismo, para a propagação da sua ditadura sob a capa dos formalismos democráticos.

3. É certo, fraudes sempre existiram. Mas a realidade forjada nos últimos 30 anos é quantitativa e qualitativamente nova.

É urgente e imperioso inverter a situação.

20% menos Vale a pena reflectir!...

Campanha em curso no Brasil

Óptimo Alerta!

Costa-Gravas: o dinheiro "é a nossa nova ditadura"

O realizador Constantin Costa-Gavras, nascido na Grécia e naturalizado francês, fez um filme sobre o poder do dinheiro e a influência que este tem na vida das pessoas. A ditadura do dinheiro, diz, está acima da democracia, e não tem medo de nada. Leia também a entrevista.

Grande ALERTA!

É bom ler com atenção. Grande ALERTA!  Este alerta está colocado na porta de um consultório: A enfermidade é um conflito entre a personalidade e a alma. O resfriado escorre quando o corpo não chora. A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições. O estômago arde quando as raivas não conseguem sair. Diabetes invade quando a solidão dói. O corpo engorda quando a insatisfação aperta. A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam. O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar. A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável. As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas. O peito aperta quando o orgulho escraviza. A pressão sobe quando o medo aprisiona. As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza. A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade. Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra. O câncer mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver. E as dores caladas? Como falam em nosso corpo? A enfermidade não é má, ela avisa quando erramos a direção.  O caminho para a felicidade não é recto, existem curvas chamadas EQUÍVOCOS, existem semáforos chamados AMIGOS, luzes de precaução chamadas FAMÍLIA, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada Decisão, um potente motor chamado AMOR, um bom seguro chamado DETERMINAÇÃO, abundante combustível chamado PACIÊNCIA.  Mas principalmente um maravilhoso CONDUTOR chamado INTELIGÊNCIA.


A enfermidade é um conflito entre a personalidade e a alma.

O resfriado escorre quando o corpo não chora.

A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.

O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.

Diabetes invadem quando a solidão dói.

O corpo engorda quando a insatisfação aperta.

A dor de cabeça deprime quando as dúvidas aumentam.

O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.

A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.

As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.

O peito aperta quando o orgulho escraviza.

A pressão sobe quando o medo aprisiona.

As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.

A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.

Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra.

O câncer mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver.

E as dores caladas? Como falam em nosso corpo?

A enfermidade não é má, ela avisa quando erramos a direcção.

O caminho para a felicidade não é recto, existem curvas chamadas EQUÍVOCOS, existem semáforos chamados AMIGOS, luzes de precaução chamadas FAMÍLIA, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada Decisão, um potente motor chamado AMOR, um bom seguro chamado DETERMINAÇÃO, abundante combustível chamado PACIÊNCIA. Mas principalmente um maravilhoso CONDUTOR chamado INTELIGÊNCIA.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pedro Afonso, médico psiquiatra no Hospital Júlio de Matos

(Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público)

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.
Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra



terça-feira, 17 de setembro de 2013

Hipnose


17 setembro 2013 Neue Zürcher Zeitung Zurique

Angela Merkel:
Durma. Está tudo bem. Vá votar

A alguns dias das eleições legislativas de 22 de setembro, a chanceler alemã pode descontrair porque a sua vitória está praticamente garantida. De facto, segundo as últimas sondagens, o seu partido, CDU, continua com 39% das intenções de voto contra 25% para os sociais-democratas.

A última fase da campanha eleitoral, durante a qual os gestos dos dois candidatos principais suscitaram mais interesse do que os seus discursos, foi muito criticada pela sua falta de seriedade e de conteúdo.

Indiscritível Alemanha


17 setembro 2013 La Repubblica RomaPotência hegemónica, mas temerosa da ideia de dominar, consciente da sua história. Voluntariosa, mas contemporizadora até à neurastenia. Estas contradições explicam a quantidade de lugares-comuns sobre um país que vota a 22 de setembro.
Barbara Spinelli

A recuperação


16 setembro 2013 Polisblog Milão

O resgate do Costa Concordia começou hoje, 16 de setembro, na ilha de Giglio, ao largo da Toscana, perante jornalistas de todo o mundo.

A operação começou pelo parbuckling do navio: trata-se de endireitar o navio, que inclinou ao encalhar, com a ajuda de cabos de aço para o fazer assentar sobre a plataforma colocada horizontalmente e estabilizá-lo com caixas metálicas soldadas ao longo dos flancos. Esta é a maior operação do género realizada até hoje, por causa do tamanho da embarcação (286 metros de comprimento) e do custo estimado em 600 milhões de euros.

O paquete naufragou a 11 de janeiro de 2012 depois de ter embatido contra um rochedo, provocando 30 mortos e dois desaparecidos. O capitão, Francesco Schettino, está a ser julgado por homicídio involuntário.

Uma espécie de nostalgia do dirigismo


16 setembro 2013 Hospodářské noviny Praga
Tornados arautos do liberalismo em matéria de política e economia, após a queda do comunismo, os países da Europa Central voltam agora as costas à ideologia que acompanhou a chegada à democracia.
Martin Ehl

A crise está ou não a acabar? A evolução das economias da Europa Central deve inspirar-nos otimismo ou cautela? Nem os economistas nem os dirigentes políticos, muito menos os empresários, souberam responder claramente a essas questões no mais recente Fórum Económico anual, realizado de 3 a 5 de setembro de 2013 em Krynica, no sul da Polónia.

Mas a novidade, aquilo que provavelmente nunca foi tão evidente, é o grau de submissão crescente das economias da Europa Central às decisões, humor e tomadas de posição dos dirigentes políticos. Depois de mais de vinte anos de construção de um mercado livre e capitalista, esperava-se que o mundo económico desse mostras de independência da esfera política e dos seus dirigentes.
Os paradoxos polacos

Do ponto de vista da relação entre política e economia, a Polónia é um caso bastante paradoxal. As duras reformas do início dos anos de 1990 permitiram criar um ambiente de mercado mais competitivo do que o que foi instaurado na República Checa pelo “socialismo bancário” do [ex-ministro do Tesouro e ex-Presidente Vaclav] Klaus. Mas isso não impede que o Estado polaco ainda mantenha uma forte influência em centenas de empresas. Embora muitas estejam listadas na Bolsa de Varsóvia, o Governo continua a ser o acionista maioritário. Isso gera combinações interessantes, em que se misturam poder e fluxos de dinheiro, uma realidade com que os checos não estão muito familiarizados, a não ser na empresa de energia ČEZ.

Na Polónia, existem dezenas de empresas como a ČEZ. Através delas, o Governo influi na economia. Mantém um elevado nível de emprego (nas minas e fábricas de armamento) e alimenta o seu orçamento taxando-as de acordo com as necessidades.
O recuo do liberalismo
Destino semelhante ao liberalismo político, que nos últimos anos tem vindo a recuar na Europa Central, espera o seu alter ego económico

Destino semelhante ao liberalismo político, que nos últimos anos tem vindo a recuar na Europa Central, espera o seu alter ego económico. Em Krynice, os empresários asseguraram-se de que eram realmente eles a orientar o desenvolvimento económico. Mas o papel crescente da regulamentação e as intervenções cada vez mais significativas e repetidas do Estado tornam-se muito mais sensíveis do que há uma década. A imprevisível política económica do Governo de Viktor Orbán, na Hungria, com o aumento de impostos e a transferência de muitos ónus para as empresas, foi acompanhada pela aquisição de algumas grandes empresas pelo Estado. O plano de privatizações originalmente desenvolvido pelo [primeiro-ministro polaco, Donald] Tusk foi suspenso. As novas regras postas em prática na Eslováquia pararam praticamente a criação de empregos no setor privado, desde o início do ano.

Ouve-se dizer com frequência, nos debates checos, que os eleitores foram “roubados” pelo Estado. Na Polónia, Eslováquia e Hungria, pelo contrário, o Estado e a sua influência têm-se reforçado. E são os políticos para quem um Estado forte é uma premissa importante na prossecução dos seus objetivos e concretização dos seus sonhos que têm mais poder e influência. O Presidente da República Checa, Milos Zeman, está a tentar fazer o mesmo no seu país. Mas, felizmente, não tem a energia de Viktor Orbán. Felizmente, os checos não mantêm a mesma relação epidérmica com a história que os polacos, sobre a qual construir um programa negativo semelhante ao previsto pelo [conservador] Jaroslaw Kaczynski, na Polónia. Também felizmente, não existe na República Checa uma base partidária e empresarial tão significativa como na Eslováquia, onde o partido Smer do [ex-primeiro-ministro] Robert Fico é, de facto, uma empresa gerida por vários grupos interesses.

A crise afetou seriamente a democracia liberal europeia, com os dirigentes políticos a revelar-se incapazes de dar respostas adequadas. Quanto aos não liberais, conseguem ocupar grande parte do espaço abandonado pelos liberais. Como se os eleitores, fartos de politiquice e corrupção, quisessem esquecer estes 23 anos de experiência liberal e desejassem regressar a um Estado forte, que assegure praticamente todos os aspetos das suas vidas. Parece que, a longo prazo, a democracia liberal acaba por ser a maior vítima da crise, na Europa Central. A questão está em saber se a economia liberalizada não espera o mesmo destino.

O ouro e os cães


13 setembro 2013 Jurnalul Naţional Bucareste
Na porta: Parlamento.

Se nos querem matar, usem ao menos o cianeto que compraram para Roşia Montana. Afinal, não vão precisar dele…

Após vários dias de manifestações em todo o país e em algumas capitais europeias, o Governo romeno anunciou o abandono do projeto de exploração com cianeto da mina de ouro de Roşia Montana.

Ao mesmo tempo, os deputados votaram uma lei que prevê a eutanásia dos cães vadios que não são reclamados ao fim de 14 dias. O voto teve lugar depois da morte de um rapaz de quatro anos, que foi atacado por uma matilha de cães vadios, em Bucareste, a 2 de setembro.

Barroso ao leme


12 setembro 2013 Jyllands-Posten Aarhus

No seu discurso sobre o estado da União Europeia, a 11 de setembro, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o presidente da Comissão afirmou:

Quando estamos no mesmo barco, não podemos dizer: "A vossa parte do barco está a afundar-se". Estivemos todos no mesmo barco quando as coisas corriam bem e é aí que estamos quando as coisas se complicam.

Regresso às aulas sob alta tensão




11 setembro 2013 Eleftherotypia Atenas
No quadro: Greve (Apergia em grego), Bênção (Agiasmos em grego)

O professor: “Para o ano aprenderemos a letra B”

Os professores gregos preocupam-se com o programa que visa dispensar ou transferir 12 500 funcionários, levado a cabo pelo Governo a pedido da troika de credores internacionais do país.

Seis mil professores manifestaram-se na praça Syntagma, em Atenas, no dia 10 de setembro. Os sindicatos de professores decidiram fazer uma greve de cinco dias a partir de 16 de setembro.

Serão acompanhados durante 48 horas pelos professores do setor privado.

Frustrações catalãs




1 setembro 2013 El Mundo Madrid

Um ano após a grande manifestação a favor da independência, o 11 de setembro, dia da Catalunha, voltará a ser dedicado a esta reivindicação. Mas o processo político, esse, não fez grandes progressos.
Enric González

Luz verde para os ataques


Luz verde para os ataques – Patrick Chappatte




















No documento: Acordo FACTA

O Parlamento suíço aprova ataques contra os seus bancos
A 9 de setembro, a câmara baixa do Parlamento suíço aprovou o acordo chamado FATCA, o nome da lei americana sobre o sigilo bancário. Após três anos de negociações, a Suíça e os Estados Unidos chegaram finalmente a um acordo sobre estas medidas de luta contra a evasão fiscal, que incluem, entre outras coisas, o levantamento do sigilo bancário entre os dois países.
Deverá entrar em vigor a partir de janeiro de 2014 e põe termo ao conflito fiscal que opunha a Suíça aos Estados Unidos.

Erguer a voz


9 setembro 2013 Cicero Berlim

Erguer a voz – Mohr
E tudo isto está a acontecer mesmo à nossa porta.
Na parte inferior: Miséria e ainda mais miséria
A UE considerou o uso de armas químicas no ataque contra civis sírios, no dia 21 de agosto, como “um crime contra a humanidade” mas pediu aos países ocidentais para não intervirem até as Nações Unidas publicarem o seu relatório sobre o incidente.
A chefe dos Negócios Estrangeiros da UE, Catherine Ashton, declarou existirem “provas contundentes” de que o regime de Bashar al-Assad esteve por trás do ataque lançado em Ghouta, perto de Damasco.

O meu país mudou de ADN


9 setembro 2013 Aftenposten Oslo

Ares/CaglecartoonsDesde que passaram a conhecer uma prosperidade sem precedentes, graças às receitas do petróleo, os noruegueses trocaram a solidariedade e a igualdade por liberalismo e fecho em si mesmos, lamenta um famoso colunista norueguês. As eleições legislativas de 9 de setembro devem refletir essa evolução.

Uma potência débil


9 setembro 2013 Rue89 Paris
Quer se trate de expressar a sua posição comum sobre o conflito sírio ou de defender as suas conquistas no domínio das novas tecnologias, a Europa parece incapaz de reagir aos desafios que o mundo lhe lança. Ainda será capaz de uma guinada?
Pierre Haski

A Geração Rasca e os Velhos


ALBERTO PINTO NOGUEIRA
17/09/2013

A “ Geração Rasca” tem vinte anos.

Manuela Ferreira Leite, ministra da Educação, avançara com a imposição de uma prova global no 10.º ano e a eterna questão das propinas. Teve a oposição da academia de estudantes que se manifestaram em Lisboa, em enorme protesto com várias centenas de milhares de alunos.

Desprezaram o respeitinho devido ao poder, excederam-se na linguagem, noutras exibições menos elegantes. Dos tenros traseiros! Desmandos da juventude!

Vicente Jorge Silva é um bom jornalista. Considero eu. Num editorial do PÚBLICO desancou-os: Geração Rasca. Cometeu aquele desvio fatal das generalizações. As gerações de jovens, adultos e velhos não são rascas. Em todas as gerações, há bolsas de rascas. É diferente...

Na Assembleia da República, Pedro Passos Coelho (PPC) ergueu a voz, corajoso que era, em defesa da bolsa rasca que bem lhe cabia e ora melhor lhe cabe. PPC representava essa bolsa. Dela dependia a sua vida política e não só. Como a história o demonstra.

Enformado por aquelas “teorias” do Estado que recebera no ninho da Jota laranja e das universidades de verão que, como é sabido, uma e outra, são escolas de ensino superior para futuros lugares nas empresas públicas e privadas. No Estado. Nas Jotas laranja e nas de todas as cores.

A “Geração Rasca” é também um produto da geração adulta e velha de hoje: os facilitismos oferecidos, o fomento negligente de irresponsabilidades, as passagens administrativas, o paternalismo. A cedência à ausência de valores. Uma geração hoje “velha” que prescindiu de transmitir à geração, ontem, jovem os princípios da liberdade responsável.

É desse “sítio bolseiro” que brotou o poder de hoje. Os Jotas laranja de então são hoje membros do Governo do país. Sem regras, sem princípios e sem moral. Que não tinham. Nem beberam na Jota.

A ausência de ética, de moral, de princípios gera, consequentemente, comportamentos políticos da mesma natureza: sem moral e sem ética. Alimenta e pratica a mentira, a manipulação, o golpe, as jogadas de interesses.

Um desrespeito profundo pela Lei. Eles são a lei. Para eles, lei é não haver lei. Mudam-na da noite para o dia, ao sabor dos seus interesses e dos interesses dos seus.

Supõem viver no Faroeste!

Escolheram como alvo da sua atrofia e indigência mentais, aqueles que, há vinte anos, os suportaram, os velhos!

O à- vontade quase orgásmico com que se ouve um (uns) rapazinho(s), com ar palerma(s) e convicto(s), falar de despedimentos na função pública, de machadadas nas reformas dos velhos que os sustentaram é uma coisa obscena e que exige resposta violenta dos velhos.

Uns meninos fazem de governo de um estado, não do Estado. Um governo de mancebos que se demite hoje, é governo amanhã! E que, com brincadeiras de sai e entra, delapida, em juros da dívida, mais uns milhões do Estado.

Enterram mil milhões e mais mil milhões a empanzinar bancos, swaps, parcerias.

Têm a desfaçatez de “poupar” com o dinheiro dos outros, com o dinheiro das reformas dos velhos! Para cobrir o défice que eles e amigos contraíram!

A pretexto do “perigo sistémico” dos primeiros responsáveis da crise, o poder financeiro, desinteressam-se pela pobreza e miséria do povo. Este paga a crise, também com reformas.

Deixem os velhos em paz, na sua paciência de velhos.

Aos quarenta e tal anos de trabalho a sério, falem de cortes nas reformas. Nas vossas.

Vicente Jorge Silva bem sabia o que escrevia.

sábado, 14 de setembro de 2013

Falar de Natália Correia


ALBERTO PINTO NOGUEIRA

13/09/2013

Fernando Dacosta criou e escreveu um belo livro: O Botequim da Liberdade. Fala deste, da vivência nele. Fala de Natália Correia, uma mulher de excepção que marcou uma época nas letras e na política.

Natália Correia trazia em si, diria Almada Negreiros, todas as virtudes e menos defeitos da natureza humana.
Não vou, por pudor e exigível modéstia, perorar sobre Natália Correia. É demasiado alma grande para me atrever a isso. Só lembrá-la, nos seus noventa anos. Sem quaisquer pretensões.

Tive a enorme sorte de, há umas dezenas de anos, a conhecer numa estalagem de Vila Nova de Cerveira, acompanhada de outro grande nome da poesia, José Carlos Ary dos Santos.

Nas bordas de um tanque que simulava ser piscina, ia lendo e sorrindo umas poesias de Natália Correia já com alguns anos, Rio de Nuvens e Passaporte. Seguida de Ary dos Santos, aproximou-se e interpelou-me. Se eu entendia alguma coisa do que lia. Respondi, meio admirado e atrapalhado, pois que a reconheci, com frases feitas: "não preciso de entender, é como na pintura, basta sentir". Verdade é que nunca tinha falado com um poeta ou escritor.

Da sua simplicidade e espontaneidade saiu qualquer coisa como “não percas tempo, lê outras coisas “, mais ou menos isto e ordenou-me que, com a família, jantássemos com eles.

E assim foi. Passou a chamar-me de “ tu” e “ó menino”, pois que a poetisa, verifiquei mais tarde, tinha uma forma muito sua de falar com os outros. O que, no íntimo, me envaidecia. Diz Fernando Dacosta que “havia uma Natália para cada pessoa”.
Organizava uma espécie de serões nas noites na estalagem. A noite exercia uma espécie de fascínio sobre Natália Correia. Liderava.

Personalidade multifacetada, carinhosa, extraordinariamente afectiva e muitas vezes provocante, encantava. Encantou-me.
Li mais Natália Correia.

Muito tempo volvido, o trabalho fez-me assentar vida em Lisboa. O Botequim, no Largo da Graça, era fascínio de muita gente. Natália Correia, quando a primeira vez fui lá, estava rodeada de gente das Letras e das Artes. Adoravam-na!

Reconheceu-me numa mesa a um canto e envergonhado, com dois ou três amigos. Levou-me pelo braço e fez-me ficar na mesa deles. Falavam de literatura e novas tendências. Coisas que não entendi.

Passei a frequentar o bar, olhar e sobretudo ouvir. Sempre que havia dinheiro para o táxi e consumo da casa. Aprendi a ler e sentir, de muitos outros ângulos, a sua prosa e poesia. A extrair de lá ensinamentos para olhar a vida também de outros ângulos.

De longe, a vaga consciência de que a não entendiam. Era isso. Não entendiam. Fernando Dacosta o constata agora: “vai ser preciso passarem duas décadas, ou mais, sobre a minha morte para começarem a entender o que escrevi". Assim é, tão rica aquela alma! Por mim, terei de esperar o seu centésimo décimo aniversário. Se conseguir lá chegar.

Quando, mais tarde, a vi na política e na Assembleia da República, senti uma certa angústia.

Não foi difícil perceber, logo a seguir.

Em Natália Correia, há um fio condutor: na poesia, no ensaio e na política. Na vida!

Chama-se Liberdade. É uma militante apaixonada da Liberdade

Como tal e como a outros, a traíram os políticos que dela, politicamente, se serviram. Que a abandonaram já no fim, a um passo da reforma. Foi de viagem, com bilhete de ida e volta. É ideia de Al Berto.

A Arte, a Literatura, a Poesia, ficam sempre. São a Vida.

Singela “homenagem”!

Que me era dado fazer, a uma alma tão grande?

Kerry em missão


6 setembro 2013 Al-Mustaqbal Beirute

Kerry na Europa

No tambor: Guerra na Síria

O secretário de Estado americano, John Kerry, vai passar o fim de semana na Europa para tentar convencer os Estados-membros da UE a apoiar uma eventual intervenção americana na Síria.

Deverá reunir-se com 28 ministros europeus dos Negócios Estrangeiros em Vilnius, no sábado, dia 7 de setembro, seguindo depois para Paris, antes de fazer escala em Londres, no domingo, dia 8.

O homem que mantém a Itália refém


6 setembro 2013 New York Review of Books Nova Iorque



Aprovem a minha libertação ou arrastarei o país na minha queda. É esta a mensagem de “Il Cavalieri” para o Governo italiano, poucos dias antes de uma comissão do Senado decidir sobre a sua permanência naquele órgão, depois de ter sido condenado por fraude fiscal. Uma chantagem elucidativa do estado em que se encontra a Itália, neste ano de 2013, considera o autor britânico Tim Parks.
Tim Parks

Ao cabo de uma dúzia de julgamentos, muitos dos quais passaram pelos três níveis da justiça italiana (julgamento em primeira instância, recurso e recurso de última instância), depois de ter feito aprovar leis ad personam, que despenalizavam os seus crimes, ou utilizado táticas dilatórias para conseguir que os processos fossem rejeitados pelo tribunal por os alegados crimes terem prescrito, ou correndo o risco de condenação a um nível para ser absolvido no nível seguinte, Berlusconi acabaria por ouvir proferir contra si, pela última instância judicial, uma sentença não passível de recurso, por fraude fiscal.

Condenado a quatro anos de prisão, o antigo primeiro-ministro beneficiou de um perdão destinado a descongestionar as prisões do país, que reduziu a sentença a um ano – apesar de o facto de ter mais de setenta anos já lhe permitir cumprir a pena numa das suas várias residências de luxo. No entanto, como membro eleito do Senado, Berlusconi goza de imunidade contra a prisão e só pode ser encarcerado depois de aquele órgão aprovar a sua expulsão, estando a votação agendada para setembro. Agora, Berlusconi deixou claro que, se os senadores votarem contra ele, toda a casa virá abaixo.
Que Berlusconi pode causar estragos é evidente

Que Berlusconi pode causar estragos é evidente. Dirige, e em certo sentido é dono de, um dos dois grandes partidos da atual coligação governamental, que está a ter dificuldades em lançar um programa de reformas destinadas a travar o forte declínio da economia italiana e a inspirar finalmente alguma confiança entre os investidores estrangeiros. Se Berlusconi retirar o seu partido da coligação, como ameaçou fazer, é improvável que possa ser formado um novo governo com base no atual Parlamento, literalmente suspenso.

O medo é que uma tal situação paralise o país, voltando a arrastar a Itália para o ponto em que se encontrava há dois anos, quando a pressão dos mercados financeiros quase pareceu obrigá-la a procurar o resgate da UE ou a ponderar a saída imediata do euro. Neste momento, cerca de 40% dos jovens do país estão desempregados e a produção industrial situa-se 26% abaixo do seu nível de 2007.
Encantador, carismático e sem piedade

Se se tivesse recusado a aceitar a destituição e tivesse tentado por todos os meios agarrar-se ao poder, Nixon teria sido sumariamente afastado. O mesmo se pode dizer de qualquer outro dirigente das principais democracias da Europa. A maior parte destes demite-se, ao primeiro indício de acusação grave contra si, pois estão cientes de que os seus partidos não apoiarão alguém que os prejudique.
O aspeto mais preocupante da situação atual em Itália não é tanto o descaramento de Berlusconi, mas o facto de a sua chantagem ser possível e credível

O aspeto mais preocupante da situação atual em Itália não é tanto o descaramento de Berlusconi, mas o facto de a sua chantagem ser possível e credível.

Por estranho que possa parecer a quem não conheça de perto o país, até alguns jornais sérios e comentadores respeitáveis se mostram relutantes em insistir no cumprimento da lei, raramente referindo os pormenores dos crimes de Berlusconi e, na prática, dando crédito ao argumento de que afastá-lo da cena política equivaleria a espantar os milhões de eleitores que o apoiaram em eleições anteriores, como se não houvesse no Parlamento nenhum partido autónomo capaz de representar as opiniões desses eleitores, como se estes não tivessem liberdade para escolher outro líder, antes do próximo escrutínio. Como foi que isto aconteceu?

A personalidade de Berlusconi é uma das razões. O homem tem encanto, é carismático, persuasivo e sem piedade. O seu grande império da comunicação social funciona como caixa de ressonância destas qualidades, permitindo-lhe moldar constantemente o debate nacional. De um modo geral, os seus opositores são vistos segundo a imagem distorcida veiculada pelos órgãos de informação que ele controla. Quando tentam atacá-lo, esses opositores são apresentados como pessoas obcecadas com Berlusconi e, quando denunciam os seus delitos, são acusados de tentarem derrotá-lo nos tribunais, em vez de nas urnas, o que será um sinal de fraqueza.

No entanto, estes motivos, considerados separadamente ou em conjunto, não bastariam por si mesmos para permitir que Berlusconi mantivesse prisioneiro um país, por tanto tempo, se não houvesse qualquer coisa na cultura italiana que predispõe as pessoas a deixarem-se cativar, enfeitiçar, convencer e, acima de tudo, intimidar. Em suma, a ficarem prontas a acreditar nas promessas de Berlusconi ou a aceitar que a sua presença é algo inevitável.
Crimes e falhas são irrelevantes
O sucesso de Berlusconi não é portanto um desvio nem uma anomalia: está intimamente ligado à cultura italiana

O sucesso de Berlusconi não é portanto um desvio nem uma anomalia: está intimamente ligado à cultura italiana e revela a descrença, muito comum em Itália, em que a política possa alguma vez ser saneada ou tornada justa, mesmo que remotamente. Por isso, a insistência de Berlusconi em que as infrações de que é acusado não passam de asserções dos seus inimigos encontra um terreno fértil. Na verdade, algumas pessoas até se sentem bastante satisfeitas com tal estado de coisas, na medida em que este justifica os seus próprios pequenos delitos e evasões fiscais. Por conseguinte, se o poder judicial levar a melhor e Berlusconi for excluído da vida política, milhões de italianos encararão esse facto não como uma afirmação do Estado de direito (algo que tornaria mais difícil a vida de toda a gente), mas apenas como uma batalha ganha pelo lado contrário.

Resumindo, em Itália, os extremos bem/mal, moral/imoral, ou mesmo eficaz/ineficaz, em função dos quais consideramos que os políticos devem ser avaliados e julgados, estão sempre subordinados à questão primordial de ganhar ou perder, que é de facto a única coisa que interessa. E Berlusconi sempre se apresentou, acima de tudo, como um vencedor.

Ao escrever sobre os hábitos italianos em 1826, o poeta Giacomo Leopardi disse que nenhum italiano alguma vez fora admirado ou condenado em absoluto, uma vez que todos tinham apoiantes e detratores, mesmo depois da morte. É indiscutivelmente uma verdade, se passarmos em revista os heróis e vilões da vida italiana, de Mazzini, Garibaldi e Cavour, passando por Mussolini, e até Craxi, Andreotti e Berlusconi.

A ideia de Leopardi é que os italianos têm dificuldade em imaginar um líder que seja mais do que o líder de uma fação ou grupo de interesses específico e, portanto, não irão mudar a opinião que sobre ele têm, sejam quais forem as consequências da sua liderança. Quando um setor do eleitorado considera que um líder se ocupa da sua luta contra um velho inimigo, os crimes e falhas desse líder são irrelevantes.

Por isso, quando sugerem que talvez seja oportuno salvar Berlusconi e preservar o Governo, os sábios colunistas de alguns dos jornais mais respeitados do país estão a aceitar a visão ancestral de que a política será sempre corrupta. Se Berlusconi escapar à prisão, mesmo que domiciliária, e lhe for permitido continuar na política, será definitivamente confirmado o ponto de vista segundo o qual um dirigente político é mais um senhor feudal do que um cidadão comum, e não haverá qualquer hipótese de, por muitos anos ainda, alterar as atitudes dos italianos.

Traduzido por Fernanda Barão

A Europa de amanhã é… a Suíça!


6 setembro 2013 Foreign Affairs Nova Iorque


A única maneira de a União Europeia poder ganhar legitimidade entre os seus cidadãos e manter um papel fundamental na política económica global é transformar-se numa união federal real, com base no modelo do seu pequeno vizinho, como pensam algumas das principais figuras políticas da Europa, reunidas no grupo de reflexão Berggruen. Excertos.
Nicolas Berggruen | Nathan Gardels

A história oferece poucos exemplos de federações políticas bem-sucedidas. No momento da sua federação, na década de 1780, os Estados Unidos eram um punhado de jovens Estados escassamente povoados com uma cultura e uma língua em comum, pelo que não oferece muitas lições relevantes para a Europa de hoje. Já a experiência da Suíça é mais produtiva, nomeadamente em termos de gestação lenta. “Federar requer tempo”, considera o ex-diplomata suíço Jakob Kellenberger. “Demorou séculos para as pessoas que vivem nos cantões suíços se conhecerem umas às outras, houve um longo período de confederação antes de se dar o passo para a federação integral, em 1848.”

A federação suíça tem funcionado, segundo ele, porque o centro tem sido respeitador da autonomia dos cantões (que nunca se manifestaram ansiosos por abdicar da sua autoridade) e tem tido cuidado para não abusar dos seus poderes. Assim, todos os poderes não especificamente delegados no governo federal pela Constituição Helvética continuam a ser assumidos pelos cantões. Com décadas de uma integração realizada a pequenos passos por trás de si e um mundo em aceleração pela frente, a Europa tem de dar o salto para uma união política, dentro de anos ou décadas, não séculos, e essa mudança pode ganhar muito se seguir em grande parte o modelo suíço. [...] Por outras palavras, como a Suíça, a Europa precisa de um governo central, forte mas limitado, que acomode a maior diversidade local possível.
A opinião pública democrática de cada Estado terá que decidir se é do seu interesse a longo prazo juntar-se à federação ou optar por sair

Apesar de uma Europa federal ter de ser aberta a todos os Estados-membros da União Europeia, a atitude de atirar-se para a frente não deve ser bloqueada porque alguns ainda não estão dispostos a fazê-lo, tal como não deve ser imposta de cima. A opinião pública democrática de cada Estado terá que decidir se é do seu interesse a longo prazo juntar-se à federação ou optar por sair. É uma ilusão acreditar que uma união política forte possa ser construída sobre acordos fracos que resultam em tratados titubeantes. A sua fundação tem de ter um mandato popular.
Um compromisso centrista

O local apropriado para estes debates seria uma convenção europeia aberta a todos os países. O ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt e o político alemão Daniel Cohn-Bendit (ambos membros do Parlamento Europeu), entre outros, propuseram transformar as eleições para o Parlamento Europeu de 2014 numa eleição para uma Assembleia Constituinte que redija uma nova Constituição para a Europa, incorporando este tipo de ideias.

Especificamente, como pode uma união política funcionar na Europa? O Parlamento Europeu poderia eleger o presidente-executivo da Comissão Europeia, que formaria um gabinete ministerial saído dos grandes partidos com assento no Parlamento – incluindo um ministro das Finanças com capacidade para cobrar impostos e formular um orçamento substancial sobre a Europa de base ampla. O foco de um ministro das Finanças seria a coordenação macroeconómica, e não a gestão microeconómica.

Outros cargos ministeriais cobririam áreas supranacionais de alguns domínios europeus (defesa, política externa, energia, infraestruturas, entre outros), deixando, sempre que possível, as decisões sobre outros assuntos nas mãos dos governos nacionais no âmbito da federação. O Tribunal de Justiça Europeu arbitraria quaisquer questões de soberania em litígio entre a Comissão e os Estados-membros.

Na seleção de um executivo para a União, porque o Parlamento teria maior poder, faria sentido ter eleições parlamentares de toda a Europa, em vez de listas partidárias nacionais. Aumentar o que está em jogo nas eleições levaria a uma maior discussão e maiores taxas de votação, o que significaria mais legitimidade para os resultados e para as instituições em geral.

Os partidos que obtivessem menos de 10 ou 15% dos votos em eleições de âmbito europeu participariam dos debates, mas não poderiam votar. Essa regra tenderia a empurrar a política para um compromisso centrista e evitar impasses resultantes de um poder de veto por pequenos partidos numa coligação.
Questões espinhosas
A representação deveria basear-se num sistema proporcional, de acordo com a população dos Estados-membros

Neste esquema, o atual Conselho Europeu seria transformado na câmara alta do poder legislativo da União. Os membros seriam selecionados pelos Estados-nação para mandatos mais longos do que o ciclo eleitoral da câmara baixa do parlamento, incentivando, assim, uma perspetiva de longo prazo em matéria de governação. Ao contrário da câmara baixa, que se concentraria principalmente sobre os interesses de curto prazo dos seus componentes nacionais, a câmara alta seria um corpo deliberativo mais centrado em questões mais vastas e de longo prazo. A representação deveria basear-se num sistema proporcional, de acordo com a população dos Estados-membros.

A fim de preservar um pouco da qualidade meritocrática apartidária da comissão atual, cada ministro na comissão teria um secretário permanente destacado de entre os funcionários públicos europeus da sua área de competência. Como num ideal “sistema de Westminster”, a formulação do orçamento seria da competência da comissão e não do parlamento. Esse orçamento seria apresentado para votação de braço no ar no Parlamento. Um voto de “não confiança construtiva” pelo Parlamento pode rejeitar a orientação política definida pela Comissão. Nesse caso, seria formado novo governo. (O voto de não confiança construtiva é um mecanismo de consenso em que um voto de não-confiança só pode ser apresentado se já estiver assegurado o apoio da maioria para uma nova coligação de governação.) Impostos e legislação teriam de ser aprovados por uma maioria de ambas as câmaras legislativas.
As novas instituições e as suas regras seriam idealmente estabelecidas de baixo para cima, numa assembleia constituinte

Qualquer passo na direção de uma união política levanta obviamente incontáveis questões espinhosas. As novas instituições e as suas regras seriam idealmente estabelecidas de baixo para cima, numa assembleia constituinte, e não por uma mudança instituída por tratado – mas como pode um processo verdadeiramente sedimentado ganhar ímpeto? Os grandes partidos, com a maioria dos lugares no Parlamento Europeu, precisariam de assinar um compromisso ou um programa comum suficientemente robusto para tornar possível a governação. Mas e se não o fizerem? E, mais importante, poderia uma união política exercer uma política se não fosse precedida de uma construção nacional a nível de todo o continente, destinada a forjar uma identidade comum para o futuro? No entanto, o que é crucial agora é o reconhecimento de que o sistema atual não está a resultar e que uma integração mais próxima é a opção mais sensata e atraente.

A única maneira de responder ao atual desafio da Europa, perante o grande leque de incertezas, é a concretização do compromisso dos dirigentes europeus e seus concidadãos com essa transformação, em vez de se manterem paralisados pela hesitação.

Traduzido por Ana Cardoso Pires

Ambiente glacial


5 setembro 2013 Le Temps Genebra

Sobre o papel de Obama: "Armas químicas"

No cavalete: Crise e desemprego


Vá, falemos de temas um pouco mais ligeiros!

Foi num contexto político tenso – nomeadamente devido às divergências entre Washington e os seus aliados, por um lado e Moscovo, por outro, sobre uma eventual intervenção na Síria – que começou a 5 de setembro o G20 de São Petersburgo, na Rússia.

Por outro lado, o dossiê da crise económica – em torno do qual esta cimeira foi agendada – deverá gerar um maior consenso. Segundo Le Monde:

Os dirigentes das vinte maiores potências económicas mundiais vão comprometer-se, num comunicado final, a desenvolver todos os esforços para adotar, entre eles, a partir de 2015, a troca automática de dados para fins de controlo fiscal.

À direita, os eurocéticos querem roubar o protagonismo

Conseguirá a Alternative für Deutschland passar a barreira dos 5% de votos para poder estar representada no Bundestag, em vez dos liberais do FDP aliados de Merkel? Mohr

5 setembro 2013 Les Echos Paris

Entre os – raros – indecisos sobre o voto a 22 de setembro, estão os do partido da “Alternative für Deutschland” (Alternativa para a Alemanha). Este partido eurocético dirige-se aos eleitores mais conservadores e mais velhos, uma das bases tradicionais do eleitorado de Angela Merkel.
Thibaut Madelin