quinta-feira, 28 de agosto de 2014

No processo BES, os portugueses exigem e merecem justiça





Os americanos usam uma expressão forte. Impressiva: “Too big to jail”! Demasiado grande para ser preso. Há processos em que a competência, a autonomia, a ética e a moral não chegam. É preciso coragem. Para enfrentar o poder político e financeiro. Sabe-se lá que mais.

O código dos banqueiros desconhece a moral e a lei. Falsidades, fraudes e irregularidades medraram à vontade anos a fio. A conjura com a política também. Ninguém sabia de nada! A troika não viu nada. Veio instalar a austeridade alemã.

Miguel Beleza, economista e financeiro, foi ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal. Está “desiludido”! Ricardo Salgado estava acima de qualquer suspeita!

A Justiça tem de ser rápida e eficaz. Sumária. Casos como o BES sucedem porque a Justiça não meteu nenhum banqueiro na prisão! Não encarcerou Ricardo Salgado e família. Autores dos crimes que se investigam e cujo cometimento, segundo as regras do Estado de Direito, ainda não se demonstrou. Esquece-se a grandeza civilizacional do processo penal. Os grandes princípios deste. Os direitos de defesa. Só somos culpados após condenação definitiva. Os banqueiros também. O resto é a selva.

O FBI é a maior e mais apetrechada polícia de investigação criminal do mundo. Richard Fuld, director do banco Lehmans Brothers, levou-o à falência em meados de 2008. Continua a sua vida alegremente na Wall Street. Federico Rampini, escritor e jornalista, diz que Richard Fuld “continua muito bem, graças a Deus”. A falência do Lehman Brothers provocou a maior crise económico-financeira das últimas dezenas de anos. O FBI investiga. Os americanos e o mundo aguardam.

Em Portugal, não se aceita o tempo da Justiça. Acelera-se-lhe sempre o relógio. Usurpam-se-lhe as funções. Condena-se ou absolve-se na sala de audiências dos julgamentos paralelos. No “tryal by newspaper”. Invertem-se os termos da questão e discussão. A Justiça não julga os crimes, é julgada pelos crimes. Os processos dissolvem-se, desacreditam-se. Os responsáveis criminalmente escapam no burburinho e turbilhão da discussão e especulação. Na manipulação da opinião pública. A violação do segredo de Justiça colabora.

O Estado não investe na investigação criminal. A criminalidade aperfeiçoa-se. Moderniza-se. O Estado minimiza-se. Faz de conta enquanto pode.

O Ministério Público (MP) tem os instrumentos do costume. Meia dúzia de magistrados e funcionários. A Polícia Judiciária para colaborar. Colabora como e quando lhe apetece. Tem “autonomia técnica”. Faz o favor de “ceder” ao MP os agentes que lhe apraz dispensar. Tem-se por magistratura! Pontualmente, terá a colaboração da Direcção-Geral dos Impostos. Não podem dar muito do seu saber e esforço. A cobrança de impostos é prioritária. Mais pontualmente, um técnico desta ou daquela especialidade. Em regime de biscate, part-time, acumulação de serviço.

Branqueamentos de capitais, falsificações, gestão danosa, burlas, falências dolosas, malas de dinheiro, fraudes disto e daquilo. Uma sucessão de muitos anos. O MP se não tem meios, deve exigi-los ao poder político, que tem obrigação legal de lhos dar. Denunciar agora a falta deles. Deve distanciar-se do poder. Também para isso, é preciso coragem.
Não se exigem condenações. Exige-se Justiça.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A história do maior conflito na cúpula do capitalismo português (BES) do pós-25 de Abril


Trabalho jornalístico da Cristina Ferreira. 
Veja o ficheiro em anexo ou clik em  
                                A-historia-do-maior-conflito-na-cúpula / BES

Eu Acredito .....





Eu acredito que quando Ricardo Salgado liderou a delegação de banqueiros que exigiu a vinda da troika não pretendia derrubar Sócrates e ajudar Passos Coelho ao poder. Também acredito que foi mera coincidência a posição de Passos Coelho de querer acabar com as golden shares que mais tarde facilitou a venda da Vivo por 7,5 mil milhões de euro, proporcionando uma entrada de dinheiro no GES de que Ricardo Salgado precisava desesperadamente.

Eu acredito que os relatórios entregues por Queirós Pereira ao governador do Banco de Portugal não continham informação suficiente para que se pudesse perceber a situação do GES e do BES. Acredito também que desde então Ricardo Salgado gerindo o BES e o GES beneficiando do desconhecimento do BdP para colocar uma parte da fortuna a salvo.

Eu acredito que a Troika nunca chegou sequer a suspeitar da situação do BES e que se alguém os tivesse avisado teria feito novos testes ao banco.

Eu acredito que o silêncio de Durão Barroso, de Passos Coelho e de Cavaco Silva se deve ao respeito institucional destas personalidades, que não conhecem, nunca beneficiaram ou não têm ou tiveram qualquer tipo de relação com membros da família Espírito Santo.

Eu acredito que quando Seguro disse estar tranquilo em relação à situação do BES, induzindo os clientes e pequenos accionistas num logro o fazia com as melhores das intenções e porque considera que deve haver uma relação íntima entre io líder do maior partido da oposição e o governador do BdP, cabendo ao primeiro colaborar com o segundo na tranquilidade dos mercados.

Acredito que a actual liderança do PS, a começar pela sua presidente Maria de Belém não aceitam qualquer tipo de relação entre política e negócios, a começar pelas empresas do universo GES.

Eu acredito que quando o governador do BdP anunciava o interesse dos privados não estava induzindo os pequenos accionistas na crença de que o BES sobreviveria e por isso deveriam manter as acções.

Eu acredito que o mesmo Goldman Sachs cujas compras de acções do BES foram brilhantemente usadas para tranquilizar clientes e pequenos accionistas as vendeu com as mesmas motivações ingénuas com que as tinha comprado, não tendo beneficiado de qualquer informação por parte de consultores e amigos em comum com o governo.

Eu acredito que a solução do BES se precipitou porque o governador do Banco de Portugal considerou transformar as acções do BES em lixo do BES mau do que assistir a mais alguma queda nas suas cotações em bolsa.

Acredito que o governo foi apanhado de surpresa nas últimas semanas e que só teve noção da situação do BES na passada sexta-feira.

Eu acredito que Vítor Bento, que foi proposto pela família Espírito Santo para presidir o BES não confiava nos accionistas que confiaram nele e que a recusa em assumir as funções de imediacto não visou dar tempo a Ricardo Salgado para completar o serviço.

Eu acredito que os responsáveis pelo descalabro do GES vão ser exemplarmente punidos dando razão à ministra da Justiça que em tempos anunciou o fim da impunidade e a garantia dada pela ministra Maria Luís de que os responsáveis seriam exemplarmente punidos.

Eu acredito que a notícia envolvendo Sócrates no processo Monte Branco é mentira e que se trata de uma manobra de diversão destinada a distrair os cidadãos que dedicavam maior atenção ao caso BES, designadamente aos pequenos accionistas.

Eu acredito que Ricardo Salgado conduziu a maior fraude na história do capitalismo português, que movimentou mais de dez mil milhões de euros em poucos meses, que sacou quase mil milhões de euros à PT, que enganou milhares de depositantes que converteram depósitos a prazo em obrigações do GES, que conseguiu manter os pequenos accionistas tranquilos, tudo porque ao governo não cabe saber o que se passa nas empresas e porque os reguladores não dispunham de informação.

Eu acredito em tudo isto e quer acreditem, quer não, podem crer que também acredito no Pai Natal. No que não acredito é que o Dia de Natal seja a 3 de Agosto e que o Pai Natal tem o cabelo branco mas não usa barbas e que em vez de entrar pela chaminé passou a entrar pelas televisões às dez e meia de um domingo de Verão. Afinal de contas, este blogue não passa de um jumento como muitos dos seus críticos gostam de recordar, é natural que acredite em tudo o que os jornalistas dizem ou sugerem

Eu acredito: É tudo gente de bem ....

A mentira... como modo de vida ​




O folhetim BES !!!

Cronologia dos (errados) diagnósticos de gente, tida por competente, na matéria, mas que a realidade dos factos desmente ...

Ainda há dias tudo ía bem, tudo estava acautelado ... e tudo ruiu como um baralho de cartas!
Com estas "ilustres" (in)competências estamos entregues à bicharada ...
Chamem a polícia ...

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal:


3 de Julho de 2014 - “A situação de solvabilidade do BES é sólida, tendo sido significativamente reforçada com o recente aumento de capital. O Banco de Portugal tem vindo a adotar um conjunto de ações de supervisão, traduzidas em determinações específicas dirigidas à ESFG e ao BES, para evitar........


10 de Julho de 2014 - O Banco de Portugal voltou hoje a afirmar que o Banco Espírito Santo (BES) está sólido, no dia em que os receios em torno da situação no Grupo Espírito Santo (GES) se adensaram e contribuíram para penalizar os mercados europeus.

15 de Julho de 2014 - Governador do Banco de Portugal volta a garantir que o Banco Espírito Santo está sólido e que não há risco sistémico.

18 de Julho de 2014 - O governador do Banco de Portugalassegura que o BES está sólido.

Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças de Portugal:

17 de Julho de 2014 - "Não estamos a preparar a recapitalização do BES. Nada da informação que temos indica que a recapitalização pública seja necessária"

Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal:24 de Junho de 2014 -

 O Primeiro Ministro diz que os problemas de grupos privados com o Espírito Santo não são responsabilidade do Estado. Passos Coelho reagiu assim às notícias que dão conta de que Ricardo Salgado tinha pedido ajuda ao Governo.

11 de Julho de 2014 - «Não há nenhuma razão que aponte para que haja uma necessidade de intervenção do Estado num banco que tem capitais próprios sólidos, que apresenta uma margem confortável para fazer face a todas as contingências, mesmo que elas se revelem absolutamente adversas, o que não acontecerá com certeza.»

Cavaco Silva, presidente da República Portuguesa:
21 de Julho de 2014 - "O Banco de Portugal tem sido categórico a afirmar que os portugueses podem confiar no BES, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem na parte não-financeira, mesmo na situação mais adversa."

Neste estudo, Eugénio Rosa analisa a destruição da capacidade produtiva do país causada por um nível de investimento verificado nos últimos anos que nem consegue repor o consumo de capital fixo verificado (desgaste do stock de investimento existente) assim como a destruição maciça de valor no BES, que se tenta salvar com fundos públicos que não existem para o investimento e para o desenvolvimento do país.

Espero que possa ser um contributo útil para uma reflexão sobre um problema que preocupa atualmente todos os portugueses, até porque não estão a salvo de pagar uma elevada fatura com a solução engendrada pelo Banco de Portugal e pelo governo, à semelhança do que sucedeu com o BPN..

Com consideração,

Eugénio Rosa

Economista

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ex-banqueiro do BES cita Papa Francisco para falar do que perdeu e do facto de ser visto como bandido.


“Vou lutar pela honra e dignidade, minha e da minha família” 


PÚBLICO
14/08/2014


Ex-banqueiro do BES cita Papa Francisco para falar do que perdeu e do facto de ser visto como bandido.( ....mas há margem para dúvidas! )

Pela primeira vez desde que rebentou o escândalo do BES, Ricardo Salgado falou a um jornalista. Evitou responder a muitas das perguntas que o Diário Económico lhe colocou numa conversa no Hotel Palácio do Estoril, mas deixou clara a ideia de que não vai desistir de defender a sua honra e da sua família.

“Vou lutar pela honra e dignidade, minha e da minha família”, disse o ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), numa das poucas citações que lhe são atribuídas nesta conversa.

Depois de, no início do mês, ter emitido um comunicado a dizer que aguardará “o tempo e o contexto” adequados para contar a sua versão do que aconteceu no BES, Ricardo Salgado voltou a remeter explicações para mais tarde, escudando-se também em questões jurídicas para não abordar a sua detenção e as acusações de práticas ilegais durante a sua gestão.

Segundo o Diário Económico, Ricardo Salgado foi dizendo que não se considera responsável pela queda do banco, que tem planos para o futuro, que admite que a sua geração não pode recuperar o prestígio do nome Espírito Santo. Além disso, o ex-gestor desmente ter dinheiro na Ásia e diz que o que tem é o que está registado.

Ricardo Salgado foi ainda confrontado com o facto de ter deixado de ser visto como um dos homens mais poderosos para ser olhado como um bandido. Respondeu com uma citação do Papa Francisco: ““Não chores pelo teu sofrimento, luta pela tua felicidade.”

Salgado voltou a usar palavras do Papa em mais duas ocasiões. Quando lhe falaram do que terá perdido com a derrocada do BES, respondeu. “Não chores pelo que perdeste, luta pelo que tens.”

O gabinete onde tem estado acompanhado apenas pela secretária de sempre e mais duas ou três pessoas, com o telefone calado, contrasta com a agitação de outros tempos. Algo que não preocupa o ex-banqueiro, que recorreu outra vez a palavras do Papa Francisco: “Não chores pelos que te abandonaram e luta pelos que estão contigo.”


“Vou lutar pela honra e dignidade, minha e da minha família”

A queda do império Espírito Santo - Empresas - Jornal de Negócios

A queda do império Espírito Santo - Empresas - Jornal de Negócios

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Nicolau Santos e o BES



Há cerca de um ano que Ricardo Salgado não devia ser presidente do Banco Espírito Santo. Em meados de 2013, quando se soube que tinha recebido uma comissão de 8,5 milhões de euros de um construtor civil por causa de um qualquer serviço que lhe terá prestado em Angola, nesse mesmo dia o Banco de Portugal deveria tê-lo declarado pessoa não idónea para se manter à frente do banco verde. Era o mínimo. Nos Estados Unidos, uma situação idêntica dá também direito a prisão, com punhos algemados e as televisões a filmarem em direto.

Nenhum banqueiro em exercício pode receber comissões por fora. É das regras, é da deontologia do cargo, é do mais elementar bom senso. Mas Salgado fê-lo e o Banco de Portugal calou-se. Salgado corrigiu três vezes a sua declaração de rendimentos e o Banco de Portugal calou-se. Agora, duas jornalistas do Jornal de Negócios, Maria João Gago e Maria João Babo escrevem um livro sobre a ascensão e queda de Salgado, mostrando, preto no branco, que os 8,5 milhões de euros afinal foram um «presente» de 14 milhões do tal construtor civil (José Guilherme, para os mais distraídos, um homem que não usa telemóvel por ser demasiado «perigoso») e o Banco de Portugal cala-se. O dr. Salgado queria presidir ao Conselho Estratégico e o Banco de Portugal cala-se. O dr. Salgado já não vai presidir ao conselho estratégico mas vai integrá-lo e o Banco de Portugal cala-se. O dr. Salgado continua a dirigir o banco até à assembleia geral de 28 de Julho e o Banco de Portugal cala-se. As bolsas europeias caem, o Banco Popular trava uma emissão de 500 milhões, a Mota-Engil África interrompe um IPO, o Financial Times on line dá manchete ao caso, o principal jornal de economia da CNN abre com o banco verde e o dr. Salgado continua todos os dias a entrar na instituição pela Rua Barata Salgueiro como se o mundo estivesse calmo e sereno.

Há clientes que perderam 25 milhões que tinham aplicados no Banque Privée na Suíça. A Porto Editora também vai levar um rombo grande. E há o caso da Portugal Telecom, que está a ser devastada na sua governação, na fusão com a Oi e nas suas contas, depois de ter aplicado 897 milhões na Rioforte, que nunca mais verá – e o dr. Salgado continua com o seu ar olímpico a governar o banco como se ele não estivesse em chamas.

O dr. Salgado não merece ficar nem mais um minuto à frente do banco ou em qualquer dos seus órgãos de gestão. Mostrou não ter os mínimos padrões de ética exigidos para ocupar esses cargos. A ganância matou-o. Ao Banco de Portugal exige-se que remova o cadáver o mais depressa possível do caminho, sob pena de nos afundarmos todos com ele. Ou, mais grave, nos virmos todos a tornar colegas acionistas do dr. Salgado. Livra!

As ações caíram mais de 17% na quinta-feira, estiveram suspensas há um ror de tempo, os mercados estão em pânico, os investidores e os clientes também, e o dr. Salgado continua a levitar sobre tudo e sobre todos, sem perceber que aquilo que tinha antes – todo o tempo do mundo para resolver os problemas e a confiança de todos para executar essas tarefas – acabou abrupta e definitivamente na semana passada.

Bem pode o dr. Salgado mandar dizer que o banco tem uma almofada de 2,1 mil milhões e que a exposição ao GES é de apenas 1,2 mil milhões. Bem pode dizer que o GES é uma coisa e o BES outra, embora os administradores do banco estivessem todos na administração do grupo. Bem pode culpar o contabilista, a crise, a informática, o dr. Álvaro Sobrinho, os jornais e tutti quanti pela evidente falência em que está o Grupo Espírito Santo e pelos enormes problemas que o BES está a enfrentar. A questão, simples, muito simples, é que o tempo do dr. Salgado acabou. E acabou no dia em que a sua ganância o levou a aceitar um presente de 14 milhões de euros. Ou de 8,5 milhões. Um presente que ele nunca explicou à opinião pública, dizendo sobranceiramente que já tinha explicado tudo a quem de direito. É essa sobranceria que conduziu o grupo e o banco até aqui e que está a colocar em causa o sistema financeiro e a credibilidade da República, que tinha sido conquistada a duras penas dos trabalhadores e dos contribuintes nacionais.

Não, o dr. Salgado não merece ficar nem mais um minuto à frente do banco ou em qualquer dos seus órgãos de gestão. Mostrou não ter os mínimos padrões de ética exigidos para ocupar esses cargos. A ganância matou-o. Ao Banco de Portugal exige-se que remova o cadáver o mais depressa possível do caminho, sob pena de nos afundarmos todos com ele. Ou, mais grave, nos virmos todos a tornar colegas acionistas do dr. Salgado. Livra!

Vladimir Putin desafia a elite banqueira


Vladimir Putin desafia a elite banqueira
Por Ariadna Theokopoulos

Os banqueiros internacionais querem a cabeça de Putin, e eles têm $20,000,000,000 motivos dolorosos para tal. Uma recente revelação por parte duma fonte Francesa detalha o incrível golpe duplo que fez com que Rússia ganhasse $20 biliões no espaço de alguns dias, e recuperasse a maioria das acções nas maiores companhias de energia Russas que eram propriedade de investidores Americanos e Europeus ocidentais.

O facto dos donos da maior parte das acções da indústria energética Russa serem Europeus e Americanos significava que quase metade de todas as receitas da indústria do gás e do petróleo iam para os bolsos dos "tubarões" financeiros Ocidentais, e não para os cofres da Federação Russa, afirmou o comentador Francês.

No princípio da crise na Crimeia, o rublo começou a cair mas o Banco Central da Rússia nada fez para conter essa queda. Começaram a surgir rumores de que a Rússia simplesmente não tinha as reservas necessárias para suster o rublo.

Estes rumores e as declarações de Putin feitas com o propósito de apoiar a população Russa da Ucrânia levaram a uma queda nos preços das acções das companhias energéticas Russas; isto fez com que os "tubarões" se apressassem a vender as suas acções antes que elas perdessem todo o seu valor.






Putin esperou uma semana inteira, aparentemente não fazendo outra coisa senão sorrir durante as conferências de imprensa, (o que foi interpretado como alguém a tentar manter uma postura valente), mas quando as acções atingiram o ponto mais baixo, Putin deu instruções para que elas fossem rapidamente compradas dos donos Europeus e Americanos.

Quando os "tubarões" se aperceberam que eles haviam sido enganados, era tarde demais: todas as acções já se encontravam em mãos Russas.

Não só Rússia ganhou $20 biliões em alguns poucos dias, como trouxe também para casa as quotas de mercado das suas indústrias. Agora, as receitas do petróleo e do gás ficarão na Rússia e não no estrangeiro, e o rublo foi restaurado sem que fosse necessário tocar nas reservas de ouro (para além do facto dos planos dos "tubarões" terem sido frustrados).

Via

Putin está muito longe de ser um democrata, mais longe ainda de ser um Cristão, para não falar no seu neo-conservadorismo altamente suspeito. Mas no entanto, uma coisa ele parece ter que o distingue da maioria dos líderes Europeus: ele quer o bem para a sua nação, e não quer que a Rússia seja mais uma vítima do império Rothschild (FMI, etc), tal como aconteceu com a Rússia durante a presidência de Ieltsin.

É precisamente por isso - ou também por isso - que a Rússia tem recebido um ódio especial por parte dos média Ocidentais (controlados pelas mesmas pessoas cujas ações foram compradas pelos Russos), que tentam com todas as suas forças usar a cultura (P---y Riot, activismo homoerótico, etc) para fazer na Rússia o que já foi feito na maior parte dos países da Europa Ocidental - isto é, destruir a sua espinha dorsal conservadora.

Resistir aos banqueiros internacionais é uma declaração de guerra (algo já demonstrado pela História) mas resta saber se o exército armado dos banqueiros internacionais (o exército americano) estará disposto a dar inicio a uma confronto bélico com a Rússia como forma de esmagar a petulância do seu líder de não deixar que financiadores estrangeiros lucrem com o sangue e suor dos Russos.

Dinastia Espírito Santo


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

CUIDADO COM AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES !!!



Meu nome é Patrícia, tenho 17 anos, e encontro-me no momento quase sem forças, mas pedi para a enfermeira Dane minha amiga, para escrever esta carta que será endereçada aos jovens de todo o Brasil, antes que seja tarde demais. Eu era uma jovem "sarada", criada em uma excelente família de classe média alta de Florianópolis. Meu pai é Engenheiro Eletrônico de uma grande estatal, e procurou sempre para mim e para meus dois irmãos dar tudo de bom e o que tem de melhor, inclusive liberdade que eu nunca soube aproveitar. Aos 13 anos participei e ganhei um concurso para modelo e manequim para a Agência Kasting e fui até o final do concurso que selecionou as novas Paquitas do programa da Xuxa. Fui também selecionada para fazer um Book na Agência Elite em São Paulo. Sempre me destaquei pela minha beleza física, chamava a atenção por onde passava. Estudava no melhor colégio de "Floripa", Coração de Jesus. Tinha todos os garotos do colégio aos meus pés. Nos finais de semana frequentava shopping, praias, cinema, curtia com minhas amigas tudo o que a vida tinha de melhor a oferecer às pessoas saradas, física e mentalmente.
Porém, como a vida nos prega algumas peças, o meu destino começou a mudar em outubro de 1994. Fui com uma turma de amigos para a OCTOBERFEST em Blumenau. Os meus pais confiavam em mim e me liberaram sem mais apego. Em Blumenau, achei tudo legal, fizemos um esquenta no "Bude", famoso barzinho da Rua XV. À noite fomos ao "PROEB" e no "Pavilhão Galego" tinha um show maneiro da Banda Cavalinho Branco. Aquela movimentação de gente era trimaneira". Eu já tinha experimentado algumas bebidas, tomava escondido da minha mãe o Licor Amarula, mas nunca tinha ficado bêbada. Na quinta feira, primeiro dia de OCTOBER, tomei o meu primeiro porre de CHOPP. Que sensação legal curti a noite inteira "doidona", beijei uns 10 carinhas, inclusive minhas amigas colocavam o CHOPP numa mamadeira misturado com guaraná para enganar os "meganha", porque menor não podia beber; mas a gente bebeu a noite inteira e os "otários" não percebiam. Lá pelas 4h da manhã, fui levada ao Posto Médico, quase em coma alcoólico, numa maca dos Bombeiros. Deram-me umas injeções de glicose para melhorar. Quando fui ao apartamento quase "vomitei as tripas", mas o meu grito de liberdade estava dado.
No dia seguinte aquela dor de cabeça horrível, um mal estar daqueles como tensão pré- menstrual. No sábado conhecemos uma galera de S.Paulo, que alugaram um "ap" no mesmo prédio. Nem imaginava que naquele dia eu estava sendo apresentada ao meu futuro assassino.
Bebi um pouco no sábado, a festa não estava legal, mas lá pelas 5:30h da manhã fomos ao "ap" dos garotos para curtir o restante da noite. Rolou de tudo e fui apresentada ao famoso baseado "Cigarro de Maconha", que me ofereceram. No começo resisti, mas chamaram a gente de "Catarina careta", mexeram com nossos brios e acabamos experimentando. Fiquei com uma sensação esquisita, de baixo astral, mas no dia seguinte antes de ir embora experimentei novamente. O garoto mais velho da turma o "Marcos", fazia carreirinho e cheirava um pó branco que descobri ser cocaína. Ofereceram-me, mas não tive coragem aquele dia.
Retornamos a "Floripa" mas percebi que alguma coisa tinha mudado, eu sentia a necessidade de buscar novas experiências, e não demorou muito para eu novamente deparar-me com meu assassino "DRUGS". Aos poucos meus melhores amigos foram se afastando quando comecei a me envolver com uma galera da pesada, e sem perceber eu já era uma dependente química, a partir do momento que a droga começou a fazer parte do meu cotidiano. Fiz viagens alucinantes, fumei maconha misturada com esterco de cavalo, experimentei cocaína misturada com um monte de porcaria. Eu e a galera descobrimos que misturando cocaína com sangue o efeito dela ficava mais forte, e aos poucos não compartilhávamos a seringa e sim o sangue que cada um cedia para diluir o pó. No início a minha mesada cobria os meus custos com as malditas, porque a galera repartia e o preço era acessível. Comecei a comprar a "branca" a R$ 7,00 o grama, mas não demorou muito para conseguir somente a R$ 15,00 a boa, e eu precisava no mínimo 5 doses diárias. Saía na sexta-feira e retornava aos domingos com meus "novos amigos". Às vezes a gente conseguia o "extasy", dançávamos nos "Points" a noite inteira e depois farra.
O meu comportamento tinha mudado em casa, meus pais perceberam, mas no início eu disfarçava e dizia que eles não tinham nada a ver com a minha vida. Comecei a roubar em casa pequenas coisas para vender ou trocar por drogas. Aos poucos o dinheiro foi faltando e para conseguir grana fazia programas com uns velhos que pagavam bem. Sentia nojo de vender o meu corpo, mas era necessário para conseguir dinheiro. Aos poucos toda a minha família foi se desestruturando. Fui internada diversas vezes em Clínicas de Recuperação. Meus pais sempre com muito amor gastavam fortunas para tentar reverter o quadro. Quando eu saía da Clínica aguentava alguns dias, mas logo estava me picando novamente. Abandonei tudo: escola, bons amigos e família.
Em dezembro de 1997 a minha sentença de morte foi decretada; descobri que havia contraído o vírus da AIDS, não sei se me picando, ou através de relações sexuais muitas vezes sem camisinha. Devo ter passado o vírus a um montão de gente, porque os homens pagavam mais para transar sem camisinha. Aos poucos os meus valores, que só agora reconheço, foram acabando, família, amigos, pais, religião, Deus, até Deus, tudo me parecia ridículo. Meu pai e minha mãe fizeram tudo, por isso nunca vou deixar de amá-los.
Eles me deram o bem mais precioso que é a vida e eu a joguei pelo ralo. Estou internada, com 24kg, horrível, não quero receber visitas porque não podem me ver assim, não sei até quando sobrevivo, mas do fundo do coração peço aos jovens que não entrem nessa viagem maluca... Você com certeza vai se arrepender assim como eu, mas percebo que é tarde demais pra mim.

OBS.: Patrícia encontrava-se internada no Hospital Universitário de Florianópolis e descreve a enfermeira Danelise, que Patrícia veio a falecer 14 horas mais tarde que escreveram essa carta, de parada cardíaca respiratória em conseqüência da AIDS.
Por favor, repassem esta carta. Este era o último desejo de Patricia

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

“Zé Grande”, o empresário que dá prendas de milhões


 
 


José da Conceição Guilherme é um dos homens com quem Ricardo Salgado não pode falar por ordem judicial. Suspeita-se que o banqueiro tenha recebido cerca de 14 milhões de euros do empresário.

Os alegados 14 milhões de euros que ofereceu a Ricardo Salgado, como forma de agradecimento às portas que o banqueiro lhe abriu para prosperar em Angola, são apenas um entre vários gestos que teve para com diversos empresários e políticos que têm sido investigados nos últimos anos. “Zé Grande”, como é conhecido o misterioso empresário do ramo da construção, foi assim apelidado não por mero acaso. José da Conceição Guilherme, que nunca aparece publicamente, chegou a oferecer um almoço ao autarca de Oeiras, Isaltino Morais, por altura do seu aniversário – que lhe custou 3400 euros. Era este o valor aproximado, aliás, dos cabazes que oferecia pelo Natal. Uma carrinha cheia deles. À frente de uma mão cheia de empresas, o empresário até “deu” o seu escritório ao ex-ministro José Sócrates, para a sede de uma empresa que teve com Armando Vara.
14 milhões foram uma "liberalidade" em troca de conselhos e de contactos.

Uma das suspeições que recaem sobre Ricardo Salgado será a prenda de milhões que o empresário lhe deu. Quando testemunhou, em dezembro de 2012, o banqueiro justificou aquele valor como uma “liberalidade”. Segundo o Negócios, esta oferta em dinheiro teria sido um agradecimento. Salgado conhecia José Guilherme “há décadas” e este veio pedir-lhe conselhos para investir no Leste. O banqueiro tê-lo-á aconselhado a virar-se para Angola e até lhe deu contactos. E é por aqui que o empresário tem prosperado nos últimos anos.

Um gerente da financeira suíça no centro da investigação Monte Branco colaborou com a justiça depois de detido© Hugo Amaral

Num interrogatório feito a um gestor da Akoya – a financeira suíça que está no centro da investigação Monte Branco – Nicolas Weber Figueiredo, detido em maio de 2012, confirmou a ligação do empresário a Salgado. Segundo a revista Sábado, Salgado tinha contas no Credit Suisse em nome da “entidade Savoices”, que recebeu “fundos com origem em contas controladas” de uma outra chamada Solutec. Por sua vez, os beneficiários da Solutec eram José Guilherme e o seu filho Paulo. O gestor explicou que estas sociedades seriam usadas para “transações financeiras no exterior de Portugal suspeitas de fuga ao fisco”.

Os “fundos” da Solutec enviados para a Savoices teriam origem em contas bancárias da família Guilherme abertas no BESA e cujos pagamentos resultavam de negócios em Luanda, designadamente um empreendimento situado na zona de Talatona, “ao que se recorda designado Dolce Vita”, prossegue a Sábado. Nicolas Figueiredo confirmou que “os movimentos financeiros (…) entre a Solutec e a Savoices poderão ter atingido o montante de cerca de 14 milhões de euros”.

Ricardo Salgado na apresentação dos resultados do BES em Outubro de 2013Jose Sena Goulao/LUSA

Mas esta não foi a primeira vez que o nome de José Guilherme apareceu associado a negócios investigados por suspeitas de corrupção. Durante dez anos o Ministério Público (MP) investigou alegadas irregularidades na câmara da Amadora. O processo acabou arquivado em finais de 2012. E foi no âmbito deste processo que a Polícia Judiciária (PJ) escutou, entre 2003 e 2005, José Guilherme e percebeu que as suas ligações a políticos e empresários decorriam ao mais alto nível.

José Guilherme, natural de Abrantes e residente na Amadora, onde está à frente de mais de uma dezena de empresas (algumas já extintas), foi escutado a falar com o antigo ministro-adjunto de Durão Barroso, José Luís Arnaut, com quem se encontrava pessoalmente no edifício da presidência do Conselho de Ministros. Pedia-lhe ajuda para uma licença de um couto de caça. Ao Diário de Notícias, que teve acesso ao relatório final da investigação, Arnaut admitiu ser amigo de José Guilherme e da sua família e disse nunca ter sido notificado de qualquer processo. Garantiu que nunca tomou qualquer decisão que lhe dissesse respeito.

José Luís Arnaut foi escutado quando falava com José GuilhermeGetty Images

Um dos outros contactos que a PJ escutou foi com o antigo secretário de estado da Agricultura e presidente da Câmara de Gouveia (atualmente da Guarda), Álvaro Amaro. Este terá tentado, através de Luís Marques Mendes, convencer a então presidente da câmara de Oeiras, Teresa Zambujo, para aprovar um projeto nos terrenos que comprara da Fundição de Oeiras.

Aliás, a propósito da discussão sobre o índice de construção no concelho de Oeiras, o Público deu conta em 2008 de uma reunião ocorrida, quatro anos antes, com Teresa Zambujo. Presentes estavam o dono dos terrenos da Fundição de Oeiras, o construtor civil José da Conceição Guilherme, bem como José Manuel de Sousa, presidente da empresa do Grupo Espírito Santo que gere o Invesfundo, o fundo de investimento fechado – que acabou depois por adquirir os terrenos.
Empresa do BES comprou terrenos da Fundição de Oeiras a José Guilherme.

A 3 de julho de 2005 o jornal Expresso publicava uma manchete onde dizia que o ex-autarca Isaltino Morais e alguns empresários de construção civil estavam a ser investigados. Entre eles estaria José Guilherme. O processo levou o autarca a sentar-se no banco dos réus, em Sintra, por suspeitas de corrupção. Numa das sessões, a ex-secretária e ex-chefe de gabinete de Isaltino falou na relação do autarca com os empresários locais. Um desses empresários, José Guilherme, chegou mesmo a pagar um jantar de aniversário do presidente camarário na Fortaleza do Guincho, que custou 680 contos (3 400 euros), disse na altura a principal testemunha de acusação, Paula Nunes. No final da sessão, o presidente da Câmara de Oeiras afirmou que “todas as testemunhas têm dito a verdade e é com a verdade que se faz um julgamento”, considerando que Paula Nunes não foi uma exceção.

José Guilherme pagou um almoço a Isaltino Morais no dia do seu aniversárioManuel Almeida/LUSA

No processo que investigava a autarquia da Amadora, e que foi arquivado, os inspetores da PJ referem ainda que José Guilherme e o filho chegavam a oferecer mais que um cabaz de Natal por pessoa, a autarcas e a funcionários de câmaras. Os cabazes eram comprados no Largo do Rato, em Lisboa, e custavam entre três mil e quatro mil euros.

O dinheiro não é um problema para José Guilherme. Neste mesmo relatório policial, José Guilherme é escutado a pedir bilhetes do Benfica ao já falecido Eusébio. “Eu não me importo que seja duzentos, seja aquilo for”. Alguns bilhetes foram depois oferecidos a Joaquim Raposo, então presidente da câmara da Amadora.
José Guilherme é acionista da SAD do Benfica. A explorar a Herdade dos Arrochais, em Mora, decidiu produzir vinhos, com o seu nome, que são um sucesso em Angola.

Nesta altura José Guilherme já tinha ligações à SAD do Benfica. A história já foi contada pelo Correio da Manhã e envolve, mais uma vez, o BES. Segundo aquele jornal, quando Manuel Vilarinho precisou, em 2001, de fazer um aumento de capital da SAD, os construtores José Guilherme e Vítor Santos avalizaram a operação, que foi conduzida pelo Banco Internacional de Crédito, entretanto fundido por incorporação com o Banco Espírito Santo (BES), em 2006. Atualmente o empresário detém 856 900 ações, o que equivale a 3,28% da SAD das águias.

A PJ traçou também ligações ao ex-deputado Duarte Lima. Em causa a história de um piano que o construtor comprou para que o político e advogado oferecesse a um jovem promessa da música de nome Domingos António. O caso ocorreu em março de 2004 e também foi apanhado nas escutas, como contou oJornal i depois de o processo ser arquivado anos depois. Duarte Lima terá pedido que o ajudasse a adquirir o piano para oferecer ao rapaz. A PJ considerou que “Zé Grande”, como constatou que era apelidado José Guilherme, quis “agradar” ao deputado. O contexto político, diz a PJ, “era, e continuou a ser, bastante favorável a Duarte Lima, dada a sua proximidade ao novo primeiro-ministro [Pedro Santana Lopes]“.

José Guilherme comprou um piano para Duarte Lima oferecer a um jovem talentoPedro Nunes/LUSA

Outra das ligações que a PJ estabeleceu durante as escutas foi ao próprio antigo primeiro-ministro, José Sócrates. A 16 de março de 2003, o filho de José Guilherme foi ter com José Bernardo Pinto de Sousa (primo de Sócrates) a uma dependência do BES para lhe entregar “um saco que ali se encontrava guardado há seis meses de uma conta antiga de José ou de Paulo”, revelou a PJ. Pinto de Sousa foi referenciado no processo Freeport por suspeitas de ter recebido dinheiro.

José Guilherme terá também beneficiado, em 2005, com a alteração dos limites da Zona de Proteção Especial (ZPE) de Moura/Mourão, no mesmo dia em que foi alterada a ZPE de Alcochete – o que deu origem ao chamado processo Freeport. É no município de Moura que José Guilherme explora a zona de caça turística da Herdade dos Arrochais por despacho publicado em Diário da República em 2007, era Sócrates primeiro-ministro. Aliás, José Guilherme não se dedica só à caça por aqui (onde acabou por ser visitado por inspetores da PJ). O empresário está agora a dedicar-se à produção de vinho e até já deu nome a algumas garrafas, que têm feito sucesso emAngola. Por cá, só podem comprar-se através da internet.

As suas ligações a Sócrates vão mais longe. José Guilherme é gestor de uma série de empresas na zona da Venteira, Amadora. E foi numa delas que teve sede, em 1989, a empresa Sovenco – Sociedade de Venda de Combustíveis, da qual José Sócrates, Armando Vara e Jorge Silvério foram sócios durante cerca de dois anos.

José Sócrates teve a sede de uma empresa na mesma morada de uma empresa de José GuilhermeANTONIO COTRIM/EPA

José Guilherme, homem que não aparece publicamente que não fala a jornalistas, chegou a ser referido numa outra notícia do Correio da Manhã, quando um advogado foi torturado e deixado misteriosamente à sua porta. O caso ocorreu em março deste ano e está a ser investigado pela PJ. O advogado Francisco Cruz Martins teve negócios em Angola e será responsável por um buraco de milhões de euros para o Estado angolano com a compra de ações do Banif.

O empresário José da Conceição Guilherme foi investigado e constituído arguido com outros sete suspeitos numa investigação a alegadas irregularidades na câmara da Amadora. Mas o Departamento Central de Investigação e Ação Penal do MP arquivou o processo e nunca o acusou.

BES - porquê só agora?




I N T R O I T O

ACTIVOS DA FAMÍLIA ESPÍRITO SANTO

Herdade da Comporta
 (onde, candidamente, iam brincar aos pobrezinhos) com uma área de 12,5 mil hectares (área cultivada de arroz, 1 100 hectares e produz também: vinho, milho, batata-doce e gurgetes). A parte florestal tem uma área de 7 100 hectares de pinheiros e carvalhos. Existe um projecto imobiliário e turístico.
 Industria hoteleira
Possui 14 unidades hoteleiras (Tivoli, Hotels & Resorts), todos de 4 e 5 estrelas. No Brasil 2 unidades ( S.Paulo e Praia do Forte em S.Salvador da Baía). Em Portugal 12 unidades (6 no Algarve, 3 em Lisboa, 2 em Sintra e um em Coimbra). Tem uma oferta total de 3000 quartos.
Operador Turístico
Tem mais de 50 balcões espalhados pelo País. A actividade alarga-se até Angola, Itália e Espanha. Opera com as marcas Top Atlântico, Carlson Wagonlit e BCD Travel. Detém a operadora online Netviagens.
Portucale
 Proprietários da herdade Vargem Fresca (Ribatejo) com cerca de 510 hectares, alberga dois campos de golfe, Ribagolfe I e II. A Portucale esteve envolvida num escândalo em conjunto com o governo Santana Lopes/Durão Barroso/Paulo Portas, acerca de um abate ilegal de sobreiros, autorizado às pressas e após terem perdido as eleições para o PS. Conta-se, que na altura o CDS teria recebido um milhão de euros e justificado ter sido oferecido por diversos donativos de militantes, entre eles, o muito glosado MANUEL LEITE DO REGO.
 Esta Propriedade foi destacada da Companhia das Lezírias (do Estado), com o argumento/justificação de que iriam ali plantar novas espécies arbóreas!!! Era bom, conveniente, que alguém fizesse uma investigação sobre a forma como esta propriedade foi transaccionada. Como foi retirada ao Estado, a que preço!
Espírito Santo Saúde
O grupo tem cerca de 18 unidades clínicas, 1200 camas e cerca de 9000 funcionários. Os três principais hospitais são o da Luz, em Lisboa, o da Arrábida, em Vila Nova de Gaia e o Beatriz Ângelo, em Loures.
Fazendas no Brasil
O Grupo Espírito Santo tem duas grandes fazendas no interior do Brasil. Uma no Estado de S. Paulo com 12 mil hectares, mais propriamente em Botucatu, chamada Fazenda Morrinhos. Produz, laranjas, limões, eucalipto e cana de açúcar.
A outra, é a Fazenda Pantanal de Cima, no estado de Tocatins, com uma área de 20 000 hectares, 3 mil dos quais asseguram produção de arroz no verão e de soja no inverno.
Herdade no Paraguai
 É a maior herdade do Grupo, Estende-se por cerca de 135 mil hectares, no Paraguai. Este terreno tem uma dimensão equivalente à do quinto maior concelho do País (Uma área onde caberiam 16 Lisboas) Alberga mais de 53 mil cabeças de gado e possui 75 mil hectares de pastagens, 12 mil hectares de floresta e 5 mil de cultivo agrícola, nomeadamente de soja e algodão.
Atlantic Meals - Agroalimetar
 Produz arroz, milho e alimento para crianças, como as farinhas sem glúten. Tem três unidades industriais em Portugal (Coruche, Biscainho e Alcácer do Sal) e uma outra em Sevilha. Opera com as marcas Ceifeira, Sorraia, Atlantic e Atlantic Le Chef. A Atlantic Meals é fornecedora das indústrias cervejeira e agroalimentar. Tem uma capacidade de secagem de arroz e milho de 50 mil ton. ano.
 Espírito Santo Property Brasil
É a empresa imobiliária do grupo no Brasil associada à OA (Oscar Americano), com vários projectos residenciais, de comércio, parques logísticos, escritórios e loteamento. As actividades principais são em S.Paulo, onde desenvolve projectos imobiliários emblemáticos, como o complexo Villa Lobos, com área comercial e residencial, ou a Alameda dos Pinheiros. Tem expandido a actividade a outros estados brasileiros, como é o caso da Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Baía. Já concretizou empreendimentos fora do Brasil, como é o caso do edifício Plaza Miami, no centro desta cidade norte americana, um prédio com uma área total de 120 mil metros quadrados com área residencial, escritórios e hotel.
Espírito Santo Property (Portugal)
É um dos maiores promotores imobiliários de Portugal. Vocacionado para o segmento alto, a empresa foi criada com o nome Espart, designação que acabou por ser alterada em Novembro do ano transacto. Um dos primeiros grandes trabalhos foi o desenvolvimento da Quinta do Patiño, no Estoril (onde está o Dias Loureiro e o Rendeiro), transformando um antigo palácio e respectivos jardins numa das áreas mais exclusivas de Portugal. Conta além disso, no seu portefólio, com edifícios em Lisboa, com o nº. 15 da Rua Castilho e o 238 da Avª. da Liberdade, o Ivens 31, no Chiado e o Parque dos Príncipes, em Telheiras. E tem as residências do Palácio Estoril, a Quinta do Peru, em Azeitão, as Casas de São Francisco, em Santiago de Cacém, o Oeiras Golf & Residence, o Doro Atlantic Garden, em Gaia e as Quintas D'Al-Gariya, em Portimão, entre outros edifícios.
Companhia de Seguros Tranquilidade
Valor de activos sob gestão 800 (oitocentos) milhões de Euros.
Banco Espírito Santo
 
A GALINHA DOS OVOS DE OURO.
 Não consta neste rol, as "poupanças estratégicas" eventualmente acantonadas em offshore´s (do BES/Angola, não se sabe onde param, cerca 5,7 mil milhões de $USA).
Sabe-se é que:
O BES/Portugal, emprestou 3 mil milhões de Euros. ao BES/Angola, os quais, dizem, estão perdidos.
 O BES emprestou ao Grupo Espírito Santo 1 200 milhões de €. Com insolvência deste grupo, a liquidação desta verba é um sonho.
A Caixa Geral de Depósitos, desembolsou 300 milhões de €, recebendo como garantia as acções do grupo, nesta altura do campeonato valem um grandíssimo ZERO. A C.G.D. (empresa pública), empresta 300 milhões de €? E quem será o responsável? Logicamente a ministra das finanças. Estão todos calados que nem ratos...
 No cômputo geral, a exposição de empresas portuguesas no Espírito Santos Financial Group (maior accionista do BES), é de cerca 5 000 milhões de € (cinco mil milhões de euros).
Ao ser aceite o pedido de protecção de credores e/ou em alternativa ser declarada a insolvência deste grupo, lá vem mais um "tsunami" financeiro (Quando o mar bate na rocha quem se lixa, quem é?, quem é?: Obviamente o mexilhão).
No meu mail de cinco do corrente, aconselhava a quem tivesse muita fé, a pôr uma velinha aos pés da N.S.de Fátima e que rezassem muito e com toda a veemência, a fim de não ser outra vez o "mexilhão" a pagar estes desmandos. Hoje, não peço que ponham uma velinha mas sim uma palete delas e não rezem, acampem na igreja e se possível, peçam acompanhamento pelo Duarte Lima.
A desgraça deste país é o sistema bancário e tudo o que rodeia. Não foi esta oligarquia, com o conforto do sr. governador do Banco de Portugal e do residente de Belém os incentivadores da chamada do FMI? com que objectivo? O objectivo era a salvação das suas casas bancárias, as maiores causadores da dívida soberana, hoje sobejamente sabido, ser ela mais privada do que pública em detrimento do povo português, vilmente sacrificado, para satisfação da ambição destes malandros.
 Enoja, ver, ler e ouvir os mais diversos gurus do regime, tentar minimizar os desmandos desta "trupe". No entanto, o excremento é tanto, que a carpete da "sopeira", já não tem capacidade para acolher tanto lixo e este, já incontrolavel, é exposto à saciedade.
Onde estarão as críticas do Marcelo Rebelo de Sousa (cardeal Richelieu) e de Sousa Tavares? O primeiro tem como companheira, há longuíssimos anos, Rita Berta Cabral, administradora não executiva do BES e um dos três membros da Comissão de Vencimentos do BES, entre 2008/2012. Assíduo acompanhante de Ricardo Salgado nas férias no Mediterrâneo. Os netos do segundo (Sousa Tavares), são os mesmos netos do sr. Ricardo Salgado.
Em súmula, que tem o sr. Cavaco Silva e o Governo a comentar sobre estas turbulências? Terão o moral suficiente para tomar decisões adequadas e criticar o seu aliado mais forte no derrube do governo anterior? Já começa a ser trágico (para o povo português) o constante envolvimento destas entidades com esta pirataria bancária. E o que é constrange mais, desde o mais brilhante quadro até ao mais humilde servente? O saber-se que esta gente vai usufruir de chorudas pensões de reforma e passam incólumes perante esta (in)justiça portuguesa.
Por fim, descobriu-se um novo super-homem, Vítor Bento. Este sr. foi convidado para presidir à administração do BES (antes tinha sido convidado para ministro das finanças. Declinou (sempre é melhor banqueiro que ministro) e assim avançou outro super-homem Vítor Gaspar (...afinal havia outro..."vítoraf" ... como diz uma famosa canção), o que me leva a acreditar que o Vítor (Gaspar), não era tão super como os "gurus do regime" nos quiseram vender e este (Bento) será?
Desconfio e muito. Para já, o sr. Vítor Bento (protegido do Catroga) não tem qualquer experiência bancária. Teremos que acreditar na sua perspicácia e inteligência e apesar de lhe conceder o benefício da dúvida nestes requisitos, não acredito nele. E porquê? Quando este individuo afirma e reafirma que a actual situação económica/financeira tem por culpado primário o POVO PORTUGUÊS, por ter VIVIDO ACIMA DAS SUAS POSSIBILIDADES, vai agora presidir a uma entidade, testemunho vivo, contrário à sua pseudo-teoria.
 Por fim, constata-se o aumento da dívida em 40%, desde a chegada da troika. A intervenção do Estado em 3 bancos (BCP, BANIF e BPI) BPN E BPP são casos de polícia e agora o estrondo do BES a somar às chorudas reformas dos ex-presidentes banqueiros, autores, no mínimo, de gestão danosa, com direito a prisão. E os "gurus do regime" não comentam nada? Ou será que comem todos na mesma gamela doirada?
O povo no alto da sua sabedoria: "ROUBAS UM PÃO ÉS UM LADRÃO, ROUBAS UM MILHÃO ÉS UM BARÃO"
Grupo Espírito Santo: "too big to fail" ou "too holy to jail?"
Por Ana Gomes
 Eu proponho voltarmos a 6 de Abril de 2011 e revisitarmos o filme do Primeiro Ministro José Sócrates, qual animal feroz encostado as tábuas, forçado a pedir o resgate financeiro. Há um matador principal nesse filme da banca a tourear o poder político, a democracia, o Estado: Ricardo Salgado, CEO do BES e do Grupo que o detém e controla, o GES - Grupo Espírito Santo. O mesmo banqueiro que, em Maio de 2011, elogiava a vinda da Troika como oportunidade para reformar Portugal, mas recusava a necessidade de o seu Banco recorrer ao financiamento que a Troika destinava à salvação da banca portuguesa.
 A maioria dos comentaristas que se arvoam em especialistas económicos passou o tempo, desde então, a ajudar a propalar a mentira de que a banca portuguesa - ao contrário da de outros países - não tinha problemas, estava saudável (BPN e BPP eram apenas casos de polícia ou quando muito falha da regulação, BCP era vítima de guerra intestina: enfim, excepções que confirmavam a regra!). Mas revelações recentes sobre o maior dos grupos bancários portugueses, o Grupo Espírito Santo, confirmam que fraude e criminalidade financeira não eram excepção: eram - e são - regra do sistema, da economia de casino em que continuamos a viver.
 Essas revelações confirmam também o que toda a gente sabia - que o banqueiro Salgado não queria financiamento do resgate para não ter que abrir as contas do Banco e do Grupo que o controla à supervisão pelo Estado - esse Estado na mão de governantes tão atreitos a recorrer ao GES/BES para contratos ruinosos contra o próprio Estado, das PPPs aos swaps, das herdades sem sobreiros a submarinos e outros contratos de defesa corruptos, à subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. À conta de tudo isso e de mecenato eficiente para capturar políticos - por exemplo, a sabática em Washington paga ao Dr. Durão Barroso - Ricardo Salgado granjeou na banca o cognome do DDT, o Dono De Tudo isto, e conseguiu paralisar tentativas de investigação judicial - sobre os casos dos Submarinos, Furacão e Monte Branco, etc.. e até recorrer sistematicamente a amnistias fiscais oferecidas pelos governos para regularizar capitais que esquecera ter parqueado na Suíça, continuando tranquilamente CEO do BES, sem que Banco de Portugal e CMVM pestanejassem sequer...
Mas a mudança de regras dos rácios bancários e da respectiva supervisão - determinados por pressão e co-decisão do Parlamento Europeu - obrigaram o Banco de Portugal a ter mesmo de ir preventivamente analisar as contas do BES/GES. A contragosto, claro, e com muito jeitinho - basta ver que, para o efeito, o Banco de Portugal, apesar de enxameado de crânios pagos a peso de ouro, foi contratar (cabe saber quanto mais pagamos nós, contribuintes) uma consultora de auditoria, a KPMG - por acaso, uma empresa farta de ser condenada e multada nos EUA, no Reino Unido e noutros países por violações dos deveres de auditoria e outros crimes financeiros e, por acaso, uma empresa contratada pelo próprio BES desde 2004 para lhe fazer auditoria...
 Mas a borrasca era tão grossa, que nem mesmo a KPMG podia dar-se ao luxo de encobrir: primeiro vieram notícias da fraude monstruosa do GES/BES/ESCOM no BESA de Angola, o "BPN tropical", que o Governo angolano cobre e encobre porque os mais de 6 mil milhões de dólares desaparecidos estão certamente a rechear contas offshore de altos figurões e o povo angolano, esse, está habituado a pagar, calar e a ...não comer... Aí, Ricardo Salgado accionou a narrativa de que "o BES está de boa saúde e recomenda-se", no GES é que houve um descontrolo: um buracão de mais de mil e duzentos milhões, mas a culpa é... não, não é do mordomo: é do contabilista!
 Só que, como revelou o "Expresso" há dias, o contabilista explicou que as contas eram manipuladas pelo menos desde 2008, precisamente para evitar controles pela CMVM e pelo Banco de Portugal, com conhecimento e por ordens do banqueiro Salgado e de outros administradores do GES/BES. E a fraude, falsificação de documentos e outros crimes financeiros envolvidos já estão a ser investigados no Luxemburgo, onde a estrutura tipo boneca russa do GES sedia a "holding" e algumas das sociedades para melhor driblar o fisco em Portugal.
 Eu compreendo o esforço de tantos, incluindo os comentadores sabichões em economia, em tentar isolar e salvar deste lamaçal o BES, o maior e um dos mais antigos bancos privados portugueses, que emprega muita gente e que obviamente ninguém quer ver falir, nem nacionalizar. Mas a verdade é que o GES está para o BES, como a SLN para o BPN: o banco foi - e é - instrumento da actividade criminosa do Grupo. E se o BES será, à nossa escala, "too big to fail" (demasiado grande para falir), ninguém, chame-se Salgado ou Espírito Santo, pode ser "too holy to jail" ( demasiado santo para ir preso).
Isto significa que nem os empregados do BES, nem as D. Inercias, nem os Cristianos Ronaldos se safam se o Banco de Portugal, a CMVM, a PGR e o Governo continuarem a meter a cabeça na areia, não agindo contra o banqueiro Ricardo Salgado e seus acólitos, continuando a garantir impunidade à grande criminalidade financeira - e não só - à solta no Grupo Espírito Santo.

A hidra



por BAPTISTA-BASTOS06 agosto 2014

Um espectro percorre Portugal: é o espectro da pobreza, da miséria moral, da fraude, da mentira, do embuste, da indecência, da ladroagem, da velhacaria. Este indecoro do BES foi o destapar do fétido tacho da pouca-vergonha. Os valores mais rudimentares das relações humanas pulverizaram-se. Já antes haviam sido atingidos por decepções constantes daqueles que ainda acreditavam na integridade de quem dirige, decide, organiza. Agora, o surto alcançou a fase mais sórdida. Creio que, depois de se conhecer toda a extensão desta burla, algo terá de acontecer. Com outra gente, com outros padrões, não com estes que se substituem, num jogo de paciências cujo resultado é sempre o mesmo. Mas esta afirmação pertence aos domínios da fé, não aos territórios das certezas.

O Dr. Carlos Costa revelou ter avisado a família Espírito Santo de que ia ser removida. Na TVI, Marques Mendes, vinte e quatro horas antes, anunciara o cambalacho. Já destituído, Ricardo Salgado e os seus estabeleceram três negócios ruinosos para o banco, abrindo o buraco da vigarice para quase cinco mil milhões de euros. Quem são os outros cúmplices, e quais as razões explicativas de não estarem na cadeia?

Enquanto o País mergulha num atoleiro, o Dr. Passos nada o crawl, com esfuziante aprazimento, nas doces águas algarvias. Há dias, afirmou que os contribuintes não serão onerados com as aldrabices dos outros. Mas já foi criado um chamado Fundo de Resolução, com dinheiro procedente, de viés, do nosso próprio dinheiro, embuçado na prestação de um grupo de bancos. Quanto ao extraordinário Dr. Cavaco, o reconhecimento generalizado da sua inutilidade como medianeiro de conflitos, e conivente com o que de mais detestável existe na sociedade portuguesa, converteu-se num lugar-comum.

Foi o "sistema" que criou esta ordem de valores espúrios. Este poder dissolvente fez nascer, por todo o lado, a ideia do facilitismo, oposta às regras da convivência que estruturaram os princípios da nossa civilização, dando-lhe um sentido humano. Tudo é permitido, e esta noção brutal, inculcada por "ideólogos" estipendiados ou fanatizados concebeu as suas próprias regras. A impunidade nasce do "sistema", e Salgado é o resultado, não a causa, o resultado de um aproveitamento imoral estimulado pelas fórmulas dessa ordem de valores. Surpreendemo-nos com o comportamento de quem assim foi educado, porém temos de estudar e de analisar aquilo que os explica.

O "sistema", em cuja origem está a raiz do mal, não carece de "regulação", exactamente porque a "regulação" nada resolve e apenas prolonga a crise sobre a crise. O capitalismo sabe e consegue simular a sua própria regeneração. Mas é uma hidra que se apoia em referências na aparência inexpugnáveis, realmente falaciosas. Enfim: o nosso dinheiro está à guarda de ladrões.

OS HOMENS DO "BES"


EIS A CAMORRA PORTUGUESA, COMANDADA PELO "PADRINHO" RICARDO ESPÍRITO SANTO ...

TUDO GENTE FINÍSSIMA QUE VAI À MISSA TODOS OS DIAS, COMO DEVE SER !

RICARDO QUANTO DO TEU SAL É O SUOR DE PORTUGAL..



Estão preocupadíssimos com a "língua" de Ricardo Salgado.
E se ele conta o que sabe?
E o que saberá?
22 anos é muito tempo. 30 anos depois das reprivatizações acomodadas com fundos comunitários. Estradas, casas e cimenteiras. Bancos e imobiliário. De Miami às Ilhas Caimão.
E logo depois lembram-nos que Durão Barroso foi "‘consultor' do BES".
Que Passos Coelho foi dirigente na Fomentinvest, "sociedade de que um dos accionistas é precisamente do Grupo Espírito Santo".
Que o nosso honestíssimo e incorruptível "Cavaco Silva foi convidado a candidatar-se à presidência da República num jantar em casa de Ricardo Salgado, no qual estiveram presentes Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa e a sua milenar companheira, também ela administradora não executiva do BES."
Salgado só terá sido detido quando já não era banqueiro. É a "justiça de pelourinho" que trabalha com um sistema legal que não sendo cego se move "por ressentimento social e oportunidade popular".
Sócrates foi directo ao assunto: "Não vi até hoje nenhuma explicação que me convencesse que era necessário deter Ricardo Salgado. As razões que vêm nos jornais são pueris", disse Sócrates, acrescentando: "Acho que a Justiça ganhava em explicar-nos a todos porque deteve Salgado".

Piratas de gravata


Por mais negas do governo PSD/CDS, por mais "especialistas" pagos a peso de ouro nos "merdia" a garantir que o BES não é um novo caso BPN, a realidade vem pouco a pouco ao de cima.
Andam a utilizar montes de "expressões técnicas" para tapar a intervenção pura do estado.
Ainda não nacionalizaram os prejuízos e deixaram aos privados as riquezas dos proprietários ricos (SLN) como fez Sócrates. Mas lá vai...
Mas para quem negou que nunca iria deixar usar o Estado e os nossos impostos, como disse Coelho, a procissão vai a caminho do mesmo fim.
Agora o caso é ainda maior.
COMO É POSSÌVEL ???

Banqueiros? Ou piratas de gravata e carros topo de gama blindados e vidros fumados?

Dos jornais de Sexta, 1Ago14:

ps - Atenção que vai ficar tudo em «segredo de justiça» (nota) até ao arquivamento total daqui a muitos anos.
Mas com muitas deixas nos "merdia" para estes terem audiências.
nota - «Segredo de justiça», expressão que no séc.XXI significa congelamento em prateleira de um qualquer juíz bem engraixado e de um qualquer PGR bem oleado.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Biscates, por Carlos de Matos Gomes



Para que servem as primeiras páginas dos jornais e os grandes casos dos noticiários das TV?

Se pensarmos no que as primeiras páginas e as aberturas dos telejornais nos disseram enquanto decorriam as traficâncias que iriam dar origem aos casos do BPN, do BPP, dos submarinos, das PPP, dos SWAPs, da dívida, e agora do Espírito Santo, é fácil concluir que servem para nos tourear.

Desde 2008 que as primeiras páginas dos Correios das Manhas, os telejornais das Moura Guedes, os comentários dos Medinas Carreiras, dos Gomes Ferreiras, dos Camilos Lourenços, dos assessores do Presidente da República, dos assessores e boys dos gabinetes dos ministros, dos jornalistas de investigação nos andam a falar de tudo e mais alguma coisa, exceto das grandes vigarices, aquelas que, de facto, colocam em causa o governo das nossas vidas, da nossa sociedade, os nossos empregos, os nossos salários, as nossas pensões, o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos. Que me lembre falaram do caso Freeport, do caso do exame de inglês de Sócrates, da casa da mãe do Sócrates, do tio do Sócrates, do primo do Sócrates que foi treinar artes marciais para a China, enfim que o Sócrates se estava a abotoar com umas massas que davam para passar um ano em Paris, mas nem uma página sobre os Espirito Santo! É claro que é importante saber se um primeiro ministro é merecedor de confiança, mas também é, julgo, importante saber se os Donos Disto Tudo o são. E, quanto a estes, nem uma palavra... O máximo que sei é que alguns passam férias na Comporta a brincar aos pobrezinhos. Eu, que sei tudo do Freeport, não sei nada da Rioforte! E esta minha informação, num caso, e falta dela, noutro, não pode ser fruto do acaso. Os directores de informação são responsáveis pela decisão de saber uma e desconhecer outra.

Os jornais, os jornalistas, andaram a tourear o público que compra jornais e que vê telejornais.

Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados, moços de estoques, em vez de notícias temos chicuelinas.

Não tenho nenhuma confiança no espirito de autocritica dos jornalistas que dirigem e condicionam o meu acesso à informação: todos eles aparecerão com uma cara à José Alberto de Carvalho, à Rodrigues dos Santos, à Guedes de Carvalho, à Judite de Sousa (entre tantos outros) a dar as mesmas notícias sobre os gravíssimos casos da sucata, dos apelos ao consenso do venerando chefe de Estado, do desempenho das exportações, dos engarrafamentos do IC 19, das notas a matemática, do roubo das máquinas multibanco, da vinda de um rebenta canelas uzebeque para o ataque do Paiolense de Cima, dos enjoos de uma apresentadeira de TV, das tiradas filosóficas da Teresa Guilherme. Todos continuarão a acenar-me com um pano diante dos olhos para eu não ver o que se passa onde se decide tudo o que me diz respeito.

Tenho a máxima confiança no profissionalismo dos directores de informação, que eles continuarão a fazer o que melhor sabem: tourear-nos. Abanar-nos diante dos olhos uma falsa ameaça para nos fazerem investir contra ela enquanto alguém nos espeta umas farpas no cachaço e os empresários arrecadam o dinheiro do respeitável público.

Não temos comunicação social: temos quadrilhas de toureiros, uns a pé, outros a cavalo.

Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espirito Santo, um passe de peito.

Uma segunda página será uma sorte de bandarilhas.

Um editor é um embolador, um tipo que enfia umas peúgas de couro nos cornos do touro para a marrada não doer.

Um director de informação é um “inteligente” que dirige uma corrida.

Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Gomes Ferreira, um Judice, um Marcelo, um Miguel Sousa Tavares, um Angelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados: Os Amadores do Espirito Santo, por exemplo.Eles pegam-nos sempre e imobilizam-nos. Caem-nos literalmente em cima.

As primeiras páginas do Correio da Manhã podiam começar por uma introdução diária: Para não falarmos de toiros mansos, os nossos queridos espectadores, nem de toureios manhosos, os nossos queridos comentadores, temos as habituais notícias de José Sócrates, do memorando da troika, da imperiosa necessidade de pagar as nossas dividas.

Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a música de um passo doble. Ou com a premonitória “Tourada” do Ary dos Santos, cantada pelo Fernando Tordo.

O silêncio que os “negócios “ da família Dona Disto Tudo mereceu da comunicação social, tão exigente noutros casos, é um atestado de cumplicidade: uns os jornalistas venderam-se, outros queriam ser como os Espirito Santo. Em qualquer caso, as redacções dos jornais e das TV estão cheias de Espíritos Santos. Em termos tauromáticos, na melhor das hipóteses não temos jornalistas, mas moços de estoques. Na pior, temos as redacções cheias de vacas a que se chamam na gíria as “chocas”.

O que o silêncio cúmplice, deliberadamente cúmplice, feito sobre o caso Espirito Santo, o que a técnica do desvio de atenções, já usada por Goebels, o ministro da propaganda de Hitler, revelam é que temos uma comunicação social avacalhada, que não merece nenhuma confiança.

Quando um jornal, uma TV deu uma notícia na primeira página sobre Sócrates (e falo dele porque a comunicação social montou sobre ele um operação de barragem pelo fogo, que na altura justificou com o direito a sabermos o que se passava com quem nos governava e se esqueceu de nos informar sobre quem se governava) ficamos agora a saber que esteve a fazer como o toureiro, a abanar-nos um trapo diante dos olhos para nos enganar com ele e a esconder as suas verdadeiras intenções: dar-nos uma estocada fatal!

Porque será que comentadores e seus patrões, tão lestos a opinar sobre pensões de reforma, TSU, competitividade, despedimentos, aumentos de impostos, gente tão distinta como Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Angelo Correia, Soares dos Santos, Ulrich, Maria João Avilez e esposo Vanzeller, não aparecem agora a dar a cara pelos amigos Espirito Santo?

Porque será que os jornais e as televisões não os chamam, agora que acabou o campeonato da bola?

Um grande Olé aos que estão agachados nas trincheiras, atrás dos burladeros!

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O Novo Banco e uma nova política


Novo Banco


JOÃO MIGUEL TAVARES

05/08/2014


Sem uma nova política jamais teria sido possível um Novo Banco – e isso deve ser sublinhado.

Seria muito fácil estar aqui a fazer a lista de todas as coisas que podem correr mal, ou que simplesmente não estão bem explicadas, na solução encontrada pelo Banco de Portugal e pelo Governo para o descalabro do BES. Também não seria difícil apontar contradições nos discursos de Carlos Costa e Passos Coelho. Mas, muito de vez em quando, convém pôr em suspensão o modo-trauliteiro com que habitualmente nos dirigimos a quem manda em nós, olhar bem para o contexto, e reconhecer o esforço feito para encontrar uma saída justa e decente para a injusta e indecente gestão do Banco Espírito Santo.

Isto não é, de todo, habitual. A política e a economia não são actividades de meninos de coro, e num país tão pequeno e informal como o nosso os interesses corporativos têm uma força desmesurada. E é precisamente por ser tão pouco habitual que deve ser celebrado – este fim-de-semana houve muita gente, do Banco de Portugal ao Governo, passando pela própria Presidência da República, que esteve empenhada em defender o interesse nacional, e que quando foi obrigada a escolher entre contribuintes e accionistas, optou por proteger os contribuintes e deixar cair os accionistas. Parece evidente, não é? Só que ninguém antes o tinha feito. Há um ou dois anos, o BES teria sido considerado too big to fail.

Perante isto, reagir à solução encontrada por Carlos Costa, Vítor Bento e governo com o velho encolher de ombros é apenas uma forma cínica de igualar tudo, como se entre BPN e BES não existissem diferenças radicais. Convém tirar a rezinga do piloto-automático. A solução encontrada para o caso BES foi o anti-BPN – antes, o que era bom (a SLN) permaneceu escandalosamente nas mãos dos accionistas, enquanto o que era mau (o BPN) ficou nas mãos dos contribuintes; agora, o que é bom fica nas mãos dos contribuintes (o Novo Banco), enquanto o que é mau (o lixo do BES) fica nas mãos dos accionistas. Esta solução, para os pequenos accionistas e para alguns credores, poderá até ser injusta – mas, por uma vez, ninguém poderá acusar o Estado de estar a manobrar para proteger os “poderosos”. Mesmo que a venda do Novo Banco fique aquém dos 4,9 mil milhões agora injectados, é o sistema financeiro português que terá de assumir a diferença. O Zé Povinho fica de fora.

Claro que ainda falta um segundo momento em todo este processo – aquele em que os administradores do BES serão punidos pela justiça. As acusações de Carlos Costa foram de tal forma explícitas que ninguém pode acreditar que um buraco de cinco mil milhões de euros se cavou sozinho. O povo precisa desesperadamente de ver certos frequentadores da Comporta atrás das grades: nós não podemos continuar a viver num país em que o Sr. Santos vai preso porque roubou 100 mil euros com uma pistola, enquanto o Dr. Espírito Santo é convidado a demitir-se porque fez desaparecer 100 milhões de euros com uma caneta.

Mas se há muito por fazer, muito por julgar, e muita coisa para correr mal, a verdade é que nos últimos dias as instituições portuguesas e europeias enfrentaram competentemente uma situação dificílima. Quando até o PS reconhece isso, é porque estamos perante o óbvio ululante. Mais: se o governo vier a conseguir vender o Novo Banco até ao fim do ano, chutando-o para fora das contas do défice, então este será, após o “irrevogável”, o segundo coelho consecutivo que Passos tira da cartola. O Verão faz-lhe bem.



Três homens desiludidos com Barack Obama

ISABEL COUTINHO (em Paraty)
03/08/2014

Glenn Greenwald, Charles Ferguson e David Carr estiveram na Festa Literária Internacional de Paraty a reflectir sobre a América, espionagem, terrorismo e crise económica. Em comum têm a mesma desilusão com Barack Obama.



Glenn Greenwald na conferência de imprensa
FLIP



David Carr
WALTER CRAVEIRO



Charles Ferguson
WALTER CRAVEIRO

Há seis semanas, o jornalista Glenn Greenwald, que foi um dos escolhidos pelo colaborador da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA), Edward Snowden, para revelar ao mundo que o governo dos Estados Unidos estava a fazer espionagem generalizada, esteve em Moscovo.

Foi encontrar-se com Snowden que ali pediu asilo há um ano quando foi revelado que era ele a fonte de todas as provas na posse dos jornalistas do jornal britânico The Guardian. “Ele está muito bem, anda por Moscovo à vontade. Às vezes as pessoas reconhecem-no, outras vezes não. Ele [apesar dos seus 29 anos] parece um miúdo de 18 nas suas primeiras férias. Tem liberdade para fazer isso e para participar no debate que ele ajudou a provocar em todo o mundo.”

O visto de Snowden expirou há três dias mas o Governo russo já garantiu que o vai renovar pelo menos por mais um ano. “O facto de Snowden estar em liberdade e não numa prisão americana é muito importante para inspirar futuros Edwards Snowdens”, acrescentou o autor do livro Sem Esconderijo - O caso Snowden nas palavras de quem o revelou (ed. Bertrand), que partilhou no sábado o palco da Tenda dos Autores na Festa Literária Internacional de Paraty com outro norte-americano, Charles Ferguson, realizador de Inside Job, que venceu em 2011 o Óscar de Melhor Documentário.

Quando souberam que iriam estar os dois no palco ao mesmo tempo, tentaram perceber porque teriam sido colocados no mesmo painel. O trabalho de Charles Ferguson é sobre o sistema financeiro, o de Glenn Greenwald sobre política internacional, espionagem e terrorismo. Pode até parecer que não há uma ligação, mas há. Em ambos os casos ninguém foi punido, ninguém foi condenado.

Na sexta-feira fizeram perguntas ao Presidente Obama sobre a investigação que o Senado está a fazer quanto ao uso da tortura pela CIA nos últimos dez anos”, lembrou Glenn Greenwald. Para este jornalista, que recebeu o Prémio Pulitzer pelo trabalho no The Guardian, a agência norte-americana de serviços secretos está muito preocupada com o que este inquérito possa vir a revelar. “A CIA cometeu sérios crimes de guerra. O tipo de crimes por que outros países e outras agências têm sido condenados e, por isso, quis saber o que os senadores andavam a fazer: entraram nos computadores que eles estavam a usar e leram os seus emails.”

Quando em Março isto foi revelado pela primeira vez, o director da CIA, John Breenan, “conselheiro da Casa Branca, muito próximo de Obama”, negou que estivesse a acontecer. Esta semana soube-se através de um inquérito feito dentro da própria CIA que esta, de facto, invadiu a rede de Internet do Senado e seguiu emails dos senadores. “Parece que o director da CIA mentiu e por isso Obama teve de responder que ainda tem toda a confiança nele. Aparentemente o Presidente Obama não está preocupado com a espionagem no Senado. Mas também falou da investigação sobre a tortura - aconteceu pela primeira vez desde que está no poder - e disse a frase: ‘Nós torturámos algumas pessoas [some folks].’ A terminologia aqui é significante, mostra a forma descontraída como falou de um assunto de tanta gravidade.”

Glenn Greenwald acha que isto é sintomático dos últimos seis anos que Obama passou na Casa Branca. “Diz coisas bonitas às pessoas mas na política tem práticas imperialistas. Acredita que ‘somos os mais poderosos’ e podemos até torturar pessoas sem consequências”.

As surpresas

Também o cineasta e jornalista Charles Ferguson está desiludido com o governo de Obama. Ele que veio do establishment, fez um PhD em Ciências Políticas no MIT e consultoria para a Casa Branca, percebeu que de repente os Estados Unidos começaram a mudar embora a América nunca tivesse sido um lugar perfeito. Começou a investigar a crise e as suas consequências - tema do seu filme e também do livro que editou mais tarde -, mesmo antes da crise. Em 2007, os amigos começaram a alertá-lo de que algo estava muito mal e Charles R. Morris deu-lhe o manuscrito do livro The Two Trillion Dollar Meltdown: Easy Money, High Rollers, and the Great Credit Crash. Depois de o ler, Ferguson disse-lhe: ‘O que está neste livro é assustador mas o mundo parece estar bem’. Morris respondeu-lhe: ‘Espera para ver’”.

Uma das surpresas para Charles Ferguson é o quão severa foi esta crise. O mero facto de que uma coisa como esta pudesse acontecer nos Estados Unidos e se pudesse espalhar para todo o mundo e tivesse estas consequências enormes foi a sua surpresa número um. A sua surpresa número dois foi que “isto não aconteceu por acidente, não aconteceu por erro, foi um crime”. Se alguém lhe tivesse dito em 2008 o que se estava a passar na banca americana, ele teria dito que não podia ser, que nos Estados Unidos isso não seria permitido. Mas hoje, depois de todas as investigações, sabe-se que se tratou de facto de uma fraude criminal maciça. “Agora temos esse conhecimento e aconteceram zero processos criminais”, afirmou Charles Ferguson. Lembrou que o Presidente Obama, de uma forma muito parecida com o que disse na sexta-feira, já foi questionado várias vezes sobre este assunto e a sua resposta tem sido sempre a mesma: sabemos que fizeram coisas muito más mas legalmente não são criminosos, por isso não há nada que possamos fazer. “O Presidente Obama andou na Universidade de Direito de Harvard. Não é nenhum estúpido por isso sabe que está a mentir. Não há nenhuma dúvida disso. Ele sabe que está a mentir.”

O muro de silêncio

A falta de reacção das pessoas ao que se está a passar na sociedade americana também surpreende Charles Ferguson, que a considera oposta à que se tem passado no Brasil com as manifestações. “Nos últimos 30 anos, os americanos, principalmente os jovens, tornaram-se mais cínicos e mais fatalistas, mais resignados a aceitar que o seu governo é corrupto e que não podem fazer nada quanto a isso. Estão concentrados, como dizia o Voltaire, a cuidar do seu próprio jardim. Acho uma vergonha e espero que seja temporário.”

Depois de ter recebido o Óscar, Charles Ferguson começou a fazer um documentário sobre Hillary Clinton que interrompeu. “Parece que há um lado mau de se ser conhecido”, brincou o cineasta, a quem a CNN ofereceu a oportunidade de fazer um documentário em que teria a decisão da montagem final. “No dia em que assinei o contrato recebi um telefonema da assessora de imprensa de Hillary Clinton dizendo: ‘senhor Ferguson, sabemos que está a pensar fazer um filme…’ E nesse dia começou uma jornada extraordinária que foi basicamente eu contra os Clinton.” O cineasta, que se orgulha quando consegue descobrir alguma coisa que alguém não quer que ele saiba, diz que nunca na sua carreira enfrentou um muro tão grande de silêncio como com a família Clinton. “Falei com centenas de pessoas, seis dela combinaram falar comigo desde que fosse off the record e privadamente e duas concordaram serem filmadas. Com aquele material eu podia fazer um filme, mas não poderia fazer um filme de que me orgulhasse e decidi que não o faria. E estou a fazer um novo filme e muito entusiasmado.”

Este novo filme, que deverá ser lançado em Outubro de 2015, é sobre o desafio global das mudanças climáticas e a sustentabilidade energética. Esteve seis meses a pesquisar e em produção e começaram a filmar. Já rodaram nos Estados Unidos e em alguns sítios da Europa e vão filmar no Brasil, em Curitiba, e também na Indonésia, na China e em alguns países africanos. “Neste caso também posso dizer que cheguei a uma surpresa titânica. Foi surpresa positiva para mim, mesmo que não o seja para outros, é a que este é um problema resolúvel. Se nós decidirmos que queremos lidar com o problema climático e o problema energético e o problema da alimentação, nós podemos. Sabemos como o fazer. E se calhar até poupávamos dinheiro com as energias renováveis e a agricultura sustentável e fazíamos com que a nossa vida fosse melhor. Este lugar, é um dos mais bonitos da Terra, por favor não o deixem estragar.”

E como a Festa Literária Internacional de Paraty tem destas coisas, horas depois de Charles Ferguson e Glenn Greenwald terem estado sentados no palco da Tenda dos Autores, o jornalista do The New York Times David Carr subiu ao palco para falar sobre o seu livro de memórias, The Night of The Gun: A reporter investigates the darkest story of his life. His own, uma reportagem sobre si próprio, onde conta o seu passado de toxicodependência e como ser pai solteiro lhe salvou a vida. Como jornalista, David Carr às vezes sente-se pessimista. “Tem sido uma desilusão para mim - e ainda para mais tendo feito parte dos jornalistas que cobriram as eleições e que seguem a política da administração - ver que com esta administração Obama, que prometia ser a mais aberta da história, estamos num impasse político. E apesar de vivermos numa democracia e de termos uma imprensa livre, não estamos a conseguir fazer muito.”

Contou também que esteve no Rio de Janeiro em casa de Glenn Greenwald, onde este vive com o marido brasileiro, e se meteu com ele dizendo: “Então é aqui que vive o futuro do jornalismo.” Glenn Greenwald tem sido muitas vezes acusado de misturar jornalismo com activismo. Para Carr, isto não é novo. “O jornalismo e o activismo já andam de mão dada há muito tempo. O problema é que às vezes não sabemos quem está a usar quem.” Considerou as revelações feitas pelos jornalistas do The Guardian como das mais importantes da década. “Mas a figura foi Edward Snowden, não nos podemos esquecer dele. O facto de ele ter escolhido Glenn e de este ter resistido às suas aproximações é uma prova do que ele é como jornalista/activista. Ele tem um ponto de vista claro mas é sempre baseado em factos. Ele é advogado, vocês ouviram-no esta manhã e eu não gostaria de ter de o enfrentar no tribunal. É como um cão que tem um osso, não o largará, e a sua parceria com o The Guardian resultou.”

David Carr lembrou que Snowden conhecia o trabalho que o The New York Times fez há uns anos e como trabalhariam e analisariam com cuidado os documentos e que a história levaria o seu tempo a ser feito. No entanto ele queria “apertar o botão e que tudo explodisse!”

domingo, 3 de agosto de 2014

A morte de Salgado é muito exagerada



JOÃO MIGUEL TAVARES

29/07/2014

Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de ser um desgraçado

Desde que Ricardo Salgado foi detido, não faço mais nada se não ler na imprensa lamentos sobre a actuação da justiça, que, segundo dois terços dos nossos opinadores, parece só ter coragem de deitar a mão aos poderosos quando eles já não o são. Basta pegar no último número do Expresso. Martim Avillez Figueiredo: “A justiça tende a actuar apenas depois de se assegurar que os poderosos agonizam no chão.” Pedro Adão e Silva: “A justiça, em Portugal, só chega aos poderosos quando estes já perderam a sua influência social ou o seu poder político.” Daniel Oliveira: “Foi preciso Salgado passar para o lado dos fracos para ser possível esta detenção de necessidade duvidosa.” Luís Marques: “Se ainda fosse presidente do Banco Espírito Santo, será que Ricardo Salgado teria sido detido pelo Ministério Público?” Devo dizer que este coro grego de indignados acaba por produzir uma ladainha falsamente piedosa, que é uma autêntica ode à Dona Inércia.

Todos nós sabemos que a justiça portuguesa tem problemas e que a venda que lhe tapa os olhos está mais puída do que o Santo Sudário. Mas ainda que Salgado esteja a responder tardiamente por crimes que possa ter cometido, ao menos ele está a responder. Colocar a ênfase, neste momento, não nas razões dos seus crimes e no clima político e económico que os permitiram, mas notiming da sua detenção, é preferir ficar a olhar para o dedo em vez de olhar para onde o dedo aponta. É uma escolha. Mas é uma escolha triste.

Em primeiro lugar, porque a probabilidade de terem surgido novas provas que justifiquem a detenção de Salgado é altíssima. Não percebo, sequer, onde esteja o espanto. O Grupo Espírito Santo começou a desmoronar há cerca de mês e meio, e desde então temos assistido a uma verdadeira enxurrada de notícias. Na Suíça, no Luxemburgo e nos Estados Unidos, há investigações a decorrer. Em Portugal, milhares de investidores coléricos estariam capazes de escalpar Ricardo Salgado se lhe deitassem a mão. Perante um cenário destes, não será provável que o Ministério Público tenha uma longa fila de novos informadores a bater à porta, mortinhos por se vingarem e exigindo a cabeça de Salgado?

Em segundo lugar, convém explicar que andar a fustigar a justiça numa altura destas é prestar um fantástico favor a Ricardo Salgado e ao seu vasto exército de beneficiários e serventuários. Não é certamente por acaso que José Sócrates aproveitou o seu comentário de domingo para se colocar fervorosamente ao lado do ex-DDT. Vale a pena rever a sua prestação na RTP, para que se vejam as diferenças entre o tom do comentário sobre os problemas do BES e do GES – onde Sócrates foi redondinho como uma bola de bilhar – e o tom do seu comentário sobre a detenção de Salgado – onde o velho animal feroz exigiu explicações à justiça.

Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de ser um desgraçado. É por isso que tantos lamentos me parecem deslocados. Salgado acaba de constituir um gabinete de crise financiado pela sua fortuna pessoal e que, segundo Pedro Santos Guerreiro, deverá custar cerca de um milhão de euros ao ano. Deixem passar a fumaça e aguardem pelo que aí vem. Um homem que teve o poder que ele teve e que sabe o que ele sabe não é coitadinho nenhum. Se Ricardo Salgado abre a boca, metade do regime parte o pescoço ao cair das escadas. As suas contas bancárias até podem ficar a zeros – enquanto ele tiver memória, continuará a ser um dos homens mais poderosos do país.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Os dias da ira, de Miguel Torga, e nossos



25 Julho 2014, 09:52 por Baptista Bastos |


As deficiências culturais correspondem à insignificância de uma época na qual tudo parece permitido, inclusive o desprezo pelo humano. (…) Vou, amiúde, aos clássicos antigos e contemporâneos, talvez para me refrescar da ignorância e da pesporrência circundantes.


A avaliação aos professores talvez devesse ser alargada, pelo ministro Crato, aos membros do Governo de que faz parte. A sabatina daria resultados surpreendentes. Já não falo, por pudor, à avaliação acaso aplicada ao dr. Cavaco. Como se sabe, este ignora quantos Cantos tem "Os Lusíadas" e estabelece a mais atroz confusão ente Thomas Mann e Thomas More. Esta gente que nos governa trocou as humanidades pelos números, e se insisto nestas anotações é porque as deficiências culturais correspondem à insignificância de uma época na qual tudo parece permitido, inclusive o desprezo pelo humano.

Vou, amiúde, aos clássicos antigos e contemporâneos, talvez para me refrescar da ignorância e da pesporrência circundantes. E, assim, há dias, fui ao Miguel Torga, que a Dom Quixote teve a feliz ideia de reeditar, já há anos. E lembrei-me de um episódio ocorrido, também há anos, com uma pequenota, feiota e atrevidota, agora senhora de meia-idade, que pinta o cabelo com descuidada minúcia. A então raparigota, onzenada por um intriguista matreiro, escreveu, no semanário onde ainda parece esgaravatar prosa, um texto miserável, por insultuoso, para o grande autor.


É verdade que Miguel Torga, pelo feitio rezingão, pela independência moral e ideológica, e por um carácter pouco dado à socialidade, não arregimentava muitos amigos. Um dos últimos foi Paulo Quintela, grande professor de Coimbra, com o qual também se azedou. Mas Torga deixou páginas admiráveis de limpidez e grandeza, de uma modernidade sem par, e propostas de estudo como nenhum outro escritor do seu tempo. Lembro os dezasseis volumes de o Diário, onde se recolhem alguns dos mais belos poemas da língua portuguesa; "A Criação do Mundo", "O Senhor Ventura", que esteve para ser adaptado ao cinema por Fonseca e Costa; tudo num idioma marcado por um rigor, um halo poético e uma criatividade absolutamente invulgares.


Torga pagou caro a sua feroz independência, o seu acrisolado gosto pela liberdade e as raízes portuguesas que sempre defendeu. Foi preso, esteve nas masmorras do Aljube e, mesmo ali, compôs poemas à liberdade que fazem parte do armorial da Resistência ao fascismo. Falei uma vez com ele e recebeu-me, no consultório da Portagem, com desconfiada cordialidade, mas evidente simpatia. Um dia, hei-de contar um episódio então ocorrido, que só não estilhaçou a minha estima por ele porque a admiração pelo poeta era superlativa.


Foi este sufoco social, intelectual, político e moral sob o qual estiolamos que me induziu a ir à estante e à prateleira tirar o poema "Dies Irae", do livro "Cântico do Homem", incluído na "Poesia Completa" da Dom Quixote, e que constitui um retrato cruel dos tempos da ditadura, tão semelhantes aos de hoje.


Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.


Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje


Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.


Oh! Maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas.


Miguel Torga, a obra magnífica deste autor singular, está cheia de apelos à dignidade do homem; à resistência, mesmo que tudo pareça perdido; à grandeza do sonho e à consistência das esperanças. Nada daquilo que a senhora de cabelo pintado e meninge curta esgaravatou ou tem esgaravatado possui a mínima comparação com o sopro do homem que injuriou. É, também, em memória do grande poeta e prosador, e em homenagem aos que não desistem, mesmo que tudo pareça desmoronar-se, que escrevi esta crónica.