domingo, 30 de junho de 2013

Alimentar o AMOR, Miguel Esteves Cardoso

 

Alimentar o Amor

Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Chega-se sempre à primeira frase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humano vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha na página branca, da luz e do barulho das portas a abrir.
Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades. Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter.
Em Portugal quase tudo se resume a começos e a encerramentos. Arranca-se com qualquer coisa, de qualquer maneira, com todo o aparato. À mínima comichão aparece uma «iniciativa», que depois não tem prosseguimento ou perseverança e cai no esquecimento. Nem damos pela morte.
É por isso que eu hoje respeito mais os continuadores que os criadores. Criadores não nos faltam. Chefes não nos faltam. Faltam-nos continuadores. Faltam-nos tenentes. Heróis não nos faltam. Valtam-nos guardiões.

É como no amor. A manutenção do amor exige um cuidado maior. Qualquer palerma se apaixona, mas é preciso paciência para fazer perdurar uma paixão. O esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas — sejam amores ou tradições, monumentos ou amizades — é o que distingue os seres humanos. O nascimento e a morte não têm valor — são os fados da animalidade. Procriar é bestial. O que é lindo é educar.
Estou um pouco farto de revolucionários. Sei do que falo porque eu próprio sou revolucionário. Como toda a gente. Mudo quando posso e, apesar dos meus princípios, não suporto a autoridade.

É tão fácil ser rebelde. Pica tão bem ser irreverente. Criar é tão giro. As pessoas adoram um gozão, um malcriado, um aventureiro. É o que eu sou. Estas crónicas provam-no. Mas queria que mostrassem também que não é isso que eu prezo e que não é só isso que eu sou.
Se eu fosse forte, seria um verdadeiro conservador. Mudar é um instinto animal. Conservar, porque vai contra a natureza, é que é humano. Gosto mais de quem desenterra do que de quem planta. Gosto mais do arqueólogo do que do arquitecto. Gosto de académicos, de coleccionadores, de bibliotecários, de antologistas, de jardineiros.

Percebo hoje a razão por que Auden disse que qualquer casamento duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões. Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las desse destino é a coisa mais bonita que se pode fazer. Haverá verbo mais bonito do que «salvaguardar»? É fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora. O que é difícil é ficar. Isto ensinou-me o amor da minha vida, rapariga de esquerda, a mim, rapaz conservador. É por esta e por outras que eu lhe dedico este livro, que escrevi à sombra dela.
Preservar é defender a alma do ataque da matéria e da animalidade. Deixadas sozinhas, as coisas amarelecem, apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que já não existe. Começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam todos os revolucionários do mundo, é gratuito. Faz com que não seja preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar. Criar é fácil. As obras de arte criam-se como as galinhas. O difícil é continuar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'


O "Norte" de Miguel Esteves Cardoso

O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País. O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela. As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.

Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.

Mais verdades.
No Norte a comida é melhor.
O vinho é melhor.
O serviço é melhor.
Os preços são mais baixos.
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia
Estas são as verdades do Norte de Portugal

Mas há uma verdade maior.
É que só o Norte existe. O Sul não existe.
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, etcaetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.

Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?
No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país

Não haja enganos.
Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.
Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.

Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.
Mas o Norte é onde Portugal começa.
Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.

Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.

Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa.
Mais ou menos peninsular, ou insular.

É esta a verdade.

Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.

No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.

O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.

O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade.

Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.

O Norte é feminino.

O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.

São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.

Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial.

O Norte é a nossa verdade.

Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi.

Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".

Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.

No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.

O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm e dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?

Os lambe-cus

"Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma
modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução
de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos
exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios
ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador
mais poderoso do que ele.

Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um
agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los,
lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em
dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo
os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.

Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por
amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como
«engraxanço».

Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os
alunos engraxavam os professores, os jornalistas engraxavam os ministros, as
donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc. ..

Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos
engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia
engraxavam imenso. Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada.

O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da
turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho
era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava de um engraxador.

Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se
irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até
ao cu.

O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu.
Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e
flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu.

Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos
Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da
American Federation of Ass-licking and Brown-nosing. Os praticantes
portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e
aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo.

(...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal
tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa
sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida,
como começa a exigi-lo como habilitação profissional.

O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje
tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês."

Miguel Esteves Cardoso, in "Último Volume"

Ruy de Carvalho





Pena é que tenha sido um acérrimo defensor deste governo.

Ruy de Carvalho é, nos dias que correm, um homem que, finalmente, aprendeu com quem estava a lidar.

Num texto publicado ontem no Facebook, o veterano ator revela-se indignado com o ministro das Finanças, que acusa de “institucionalizar o roubo”, perante “o silêncio do Primeiro–Ministro e os olhos baixos do Presidente da República”.
Ruy de Carvalho esclarece que decidiu manifestar a sua indignação depois de ter recebido uma carta das Finanças que indica que já não é “artista” e passou a ser apenas “prestador de serviços”, deixando de ter direitos conexos e de propriedade intelectual.
Eis a carta:

Senhores Ministros:

Tenho 86 anos, e modéstia à parte, sempre honrei o meu país pela forma como o representei em todos os palcos, portugueses e estrangeiros, sem pedir nada em troca senão respeito, consideração, abertura – sobretudo aos novos talentos – e seriedade na forma como o Estado encara o meu papel como cidadão e como artista.

Vivi a guerra de 38/45 com o mesmo cinto com que todos os portugueses apertaram as ilhargas. Sofri a mordaça de um regime que durante 48 anos reprimiu tudo o que era cultura e liberdade de um povo para o qual sempre tive o maior orgulho em trabalhar. Sofri como todos, os condicionamentos da descolonização. Vivi o 25 de Abril com uma esperança renovada, e alegrei-me pela conquista do voto, como se isso fosse um epítome libertador.

Subi aos palcos centenas, senão milhares de vezes, da forma que melhor sei, porque para tal muito trabalhei.

Continuei a votar, a despeito das mentiras que os políticos utilizaram para me afastar do Teatro Nacional. Contudo, voltei a esse teatro pelo respeito que o meu público me merece, muito embora já coxo pelo desencanto das políticas culturais de todos os partidos, sem excepção, porque todos vós sois cúmplices da acrescida miséria com que se tem pintado o panorama cultural português.

Hoje, para o Fisco, deixei de ser Actor… e comigo, todos os meus colegas Actores e restantes Artistas destes país – colegas que muito prezo e gostava de poder defender.

Tudo isto ao fim de setenta anos de carreira! É fascinante. Francamente, não sei para que servem as comendas, as medalhas e as Ordens, que de vez em quando me penduram ao peito?

Tenho 86 anos, volto a dizer, para que ninguém esqueça o meu direito a não ser incomodado pela raiva miudinha de um Ministério das Finanças, que insiste em afirmar, perante o silêncio do Primeiro-Ministro e os olhos baixos do Presidente da República, de que eu não sou actor, que não tenho direito aos benefícios fiscais, que estão consagrados na lei, e que o meu trabalho não pode ser considerado como propriedade intelectual.

Tenho pena de ter chegado a esta idade para assistir angustiado à rapina com que o fisco está a executar o músculo da cultura portuguesa. Estamos a reduzir tudo a zero… a zeros, dando cobertura a uma gigantesca transferência dos rendimentos de quem nada tem para os que têm cada vez mais.

É lamentável e vergonhoso que não haja um único político com honestidade suficiente para se demarcar desta estúpida cumplicidade entre a incompetência e a maldade de quem foi eleito com toda a boa vontade, para conscientemente delapidar a esperança e o arbítrio de quem, afinal de contas, já nem nas anedotas é o verdadeiro dono de Portugal: nós todos!

É infame que o Direito e a Jurisprudência Comunitárias sirvam só para sustentar pontualmente as mentiras e os joguinhos de poder dos responsáveis governamentais, cujo curriculum, até hoje, tem manifestamente dado pouca relevância ao contexto da evolução sociocultural do nosso povo. A cegueira dos senhores do poder afasta-me do voto, da confiança política, e mais grave ainda, da vontade de conviver com quem não me respeita e tem de mim a imagem de mais um velho, de alguém que se pode abusiva e irresponsavelmente tirar direitos e aumentar deveres.

É lamentável que o senhor Ministro das Finanças, não saiba o que são Direitos Conexos, e não queiram entender que um actor é sempre autor das suas interpretações – com diretos conexos, e que um intérprete e/ou executante não rege a vida dos outros por normas de Exel ou por ordens “superiores”, nem se esconde atrás de discursos catitas ou tiradas eleitoralistas para justificar o injustificável, institucionalizando o roubo, a falta de respeito como prática dos governos, de todos os governos, que, ao invés de procurarem a cumplicidade dos cidadãos, se servem da frieza tributária para fragilizar as esperanças e a honestidade de quem trabalha, de quem verdadeiramente trabalha.

Acima de tudo, Senhores Ministros, o que mais me agride nem é o facto dos senhores prometerem resolver a coisa, e nada fazer, porque isso já é característica dos governos: o anunciar medidas e depois voltar atrás. Também não é o facto de pôr em dúvida a minha honestidade intelectual, embora isso me magoe de sobremaneira. É sobretudo o nojo pela forma como os seus serviços se dirigem aos contribuintes, tratando-nos como criminosos, ou potenciais delinquentes, sem olharem para trás, com uma arrogância autista que os leva a não verem que há um tempo para tudo, particularmente para serem educados com quem gera riqueza neste país, e naquilo que mais me toca em especial, que já é tempo de serem respeitadores da importância dos artistas, e que devem sê-lo sem medos e invejas desta nossa capacidade de combinar verdade cénica com artifício, que é no fundo esse nosso dom de criar, de ser co-autores, na forma, dos textos que representamos.

Permitam-me do alto dos meus 86 anos deixar-lhes um conselho: aproveitem e aprendam rapidamente, porque não tem muito tempo já. Aprendam que quando um povo se sacrifica pelo seu país, essa gente, é digna do maior respeito… porque quem não consegue respeitar, jamais será merecedor de respeito!

RUY DE CARVALHO

sábado, 29 de junho de 2013

Elefantes Brancos: A Casa do Cinema que nunca foi usada

“O arquitecto fez uma obra bonita, mas esqueceu-se da sala de projecções” foi um comentário do realizador Manoel de Oliveira, na primeira visita efectuada à Casa do Cinema. Foi construída na Foz, entre 1998 e 2003, segundo projecto do arquitecto Souto Moura, no âmbito da Capital Europeia da Cultura - Porto 2001, e terminada com 2 anos de atraso. Com um custo inicial de 750 mil euros, é propriedade do município desde então. Após 8 anos permanece por inaugurar.

II
A história da Casa do Cinema vem do interesse do município em reunir o espólio do centenário cineasta num centro de documentação. Fitas, prémios e demais património cultural, propriedade de Manoel de Oliveira, seriam assim conservados num edifício público criado para tal.
O projecto, premiado e documentado, não respondeu porém ao programa. Dificuldades de diálogo ou problemas financeiros, as desculpas sucederam-se desde então
perante os erros acumulados.
O acervo cedido pelo cineasta foi colocado, provisoriamente, num apartamento alugado pela CMP, para a sua catalogação. Desde 2005 a renda deixou de ser paga pelo município e passou a ser o realizador a custear a sua conservação.

III
Quanto ao edifico, permanece fechado e sem uso desde então. Construído numa zona residencial da Foz, situa-se escondido e isolado no centro do lote. Sem sinalética ou informação quanto à sua localização, é hoje apenas lugar de romaria arquitectónica, com claros sinais de degradação e vandalismo no exterior.
Para evitar mais degradação a Câmara Municipal do Porto propôs, em 2007, acolher na casa alguns serviços municipais, após algumas obras de remodelação. Os sinais de abandono permanecem inalterados.
O realizador homenageado recusou, em 2011, receber a “Chave da Cidade” no seu 100º aniversário. Argumentou a recusa pelos anos de “comportamento incorrecto” do município para com o seu espólio e para com a Casa do Cinema que nunca o acolheu.

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Elefante Branco


 
 
Antigamente, na Índia e na Tailândia, o elefante branco era um animal sagrado que não podia ser usado em trabalho. Quando o rei oferecia um destes animais a um cortesão, este tinha de o alimentar, mas não retirava daí nenhum proveito, ou seja, possuía algo muito valioso, mas que só lhe dava despesas, conduzindo-o, muitas vezes, à ruína. É esta a origem da expressão “elefante branco”, tantas vezes aplicada aos estádios construídos para o Europeu de futebol de 2004.

O Cidades visitou no último mês os cinco estádios públicos construídos para o Europeu e os autarcas, mesmo sem falarem em “elefantes brancos”, olham para essas obras como uma fonte de problemas financeiros. Os números, aliás, não deixam dúvidas. Braga paga seis milhões de euros por ano à banca, Leiria paga cinco milhões anuais só em amortizações e juros, Aveiro despende quatro milhões no pagamento de empréstimos e na manutenção, enquanto Faro e Loulé gastam, em conjunto, 3,1 milhões por ano em empréstimos e manutenção. Coimbra é que menos paga e mesmo assim, este ano, vai transferir para a banca 1,8 milhões de euros. Somando estes valores (e em alguns casos a manutenção não está contabilizada), as seis câmaras que construíram os recintos para o Euro 2004 gastam anualmente 19,9 milhões de euros, ou 54.520 euros por dia, montante que terá tendência para aumentar com a subida das taxas de juro.

E se somarmos o que as câmaras de Porto e Guimarães pagam aos bancos pelos apoios que deram aos clubes locais nas obras dos estádios e acessos, a factura anual das autarquias com os empréstimos e manutenção de estádios do Europeu eleva-se para 26,1 milhões de euros. A autarquia portuense pagou 3,6 milhões de euros em 2009, tendo ainda pela frente 44,5 milhões até 2024. Em Guimarães, a câmara gastou 2,5 milhões de euros no ano passado. Já a Câmara de Lisboa afirma que não contraiu empréstimos por causa do Euro.

Na ronda pelos cinco estádios municipais, algo ficou à vista. Não há, ou pelo menos não houve até agora, soluções para rentabilizar os recintos, de forma a cobrir as despesas que a sua construção gerou. Todas as autarquias têm um pesado fardo anual e nenhuma encontrou “a galinha dos ovos de ouro”. Umas invejam o Algarve, porque recebe o Rali de Portugal. Outras Coimbra, porque tem lojas na estrutura do estádio. Outras Braga, porque vendeu o nome do estádio a uma seguradora. E se umas (como Leiria) lamentam que o recinto tenha sido construído no centro da cidade, sem espaço para edificar mais equipamentos desportivos à volta, outras (como Braga e Aveiro) deparam-se com críticas da população, porque os estádios estão fora da cidade. E outras ainda (Algarve) lamentam não ter uma equipa da I Liga a utilizar o recinto.

Contra a demolição

Nas seis cidades envolvidas, Carlos Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, é o único autarca assumidamente contra a construção do estádio. “Nenhum país decente constrói dez estádios para um Europeu”, critica aquele autarca do PSD. Outros, como o líder das câmaras de Leiria ou a oposição de Braga, só questionam que os montantes investidos tenham sido demasiado elevados para os benefícios que geraram. E em Faro lastima-se que não tenha havido mais apoios regionais e que o recinto não esteja associado a áreas comerciais, que poderiam aumentar a sustentabilidade financeira.

“Muitas cidades que queriam o Euro agora dão graças por não ter um estádio”, desabafa Raul Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria. “Estes estádios foram pensados para uma realidade que não é a portuguesa. O Estádio de Aveiro leva metade dos [60.000] eleitores da cidade. Está sobredimensionado”, acrescenta Pedro Ferreira, presidente da empresa que gere o recinto aveirense, ao que Alberto Souto, antigo presidente da Câmara de Aveiro, contrapõe que 30.000 lugares era a lotação mínima para receber jogos de Europeu.

Com o Europeu de futebol de 2004, o Estado português gastou, pelo menos, 1035 milhões de euros, o equivalente ao custo da Ponte Vasco da Gama. Apurado por uma auditoria do Tribunal de Contas, realizada em 2005, este valor inclui, por exemplo, os encargos com os estádios (384 milhões), acessibilidades (228 milhões), bem como os apoios indirectos das câmaras do Porto (152 milhões) e de Lisboa (59 milhões).

Nas últimas semanas, os gastos anuais com os pagamentos de empréstimos e os custos de manutenção dos estádios têm gerado discussão um pouco por todo o país. O economista Augusto Mateus, que foi ministro da Economia entre Março de 1996 e Novembro de 1997, sugeriu uma solução radical: demolir.

Mas a demolição é algo que os autarcas envolvidos colocam de parte. “Não faz sentido implodir obra desta envergadura”, afirma Raul Castro, autarca de Leiria, que tem o estádio à venda. Em Aveiro, também se encara a venda como uma boa saída (caso não houvesse contestação da população) e o Algarve também está disposto a estudar o assunto, caso surjam interessados. A venda poderá implicar a devolução dos apoios comunitários, mas todos sublinham que isso “não será um obstáculo”, porque as autarquias assumiram grande parte dos custos.

Na rentabilização dos estádios, as câmaras têm-se defrontado com um problema: a especificidade destes equipamentos, que servem praticamente só para jogos de futebol (à excepção de Coimbra e Leiria, que têm pista de atletismo). Uma característica que merece críticas de Augusto Mateus, que recorda, por exemplo, uma visita à sede mundial da Chrysler, onde pôde ver um edifício capaz de ser transformado num centro comercial.

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Contra a escola-armazém Daniel Sampaio


Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde.

Ao contrário do que parecia em declarações minhas mal transcritas no PÚBLICO de 7 de Fevereiro, eu não creio à partida que será muito mau para os alunos ficar tanto tempo na escola. Quando citei o filme Paranoid Park, de Gus Von Sant, pretendia apenas chamar a atenção para tantas crianças que, na escola e em casa, não conseguem consolidar laços afectivos profundos com adultos, por falta de disponibilidade destes. É que não consigo conceber um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem.

O meu argumento é outro: não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?

Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos,são agentes decisivos para o seu bem-estar; perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por issoentendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.

A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.

Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional,conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.

Como viver com a crise



Desde que o país foi submetido ao tratamento de austeridade do triunvirato FMI-UE-BCE, os portugueses mudaram os seus hábitos de consumo. A crise obriga-os a poupar, mas também a ser mais criativos.
Francisco Cardoso Pinto | Maria João Gago

Como é bom ter vizinhos como o Sr. Antunes!

Como é bom ter vizinhos como o Sr. Antunes!
Assim já não custa engolir os sapos, porque está tudo muito bem explicadinho.

Explicação à mesa do café

A Primavera esmerou-se. Um sol agradável acariciava-nos na esplanada do café à beira da minha porta.
A chegada do Senhor Antunes, o mais popular dos meus vizinhos, deu ensejo a uma lição sobre Europa e finanças a nós todos que disto pouco ou nada percebemos.
- Oh Sô Antunes explique lá isso do Banco Central Europeu, aqui à rapaziada do Café.
- Então vá, vá lá, Só por esta vez. O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.
- E donde veio o dinheiro do BCE?
- O capital social, o dinheiro do BCE, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim à Alemanha corresponde a 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuíram com 30%.
- E é muito, esse dinheiro?
- O capital social era 5,8 mil milhões de euros mas no fim do ano passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de 2012, até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.
- Então se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a Portugal, não? Como qualquer banco pode emprestar dinheiro a um ou outro dos seus accionistas.
- Não, não pode.
- ?? Porquê?
- Porque... porque, bem... são as regras.
- Então a quem pode o BCE emprestar dinheiro?
- A outros bancos, já se vê, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.
- Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de dinheiro emprestado não vai ao BCE, vai aos outros bancos que por sua vez vão ao BCE e tal.
- Pois.
- Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a Alemanha irem directamente ao BCE?
- Não. Sim. Quer dizer... em certo sentido... mas assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!
- ??!!..
- Sim os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos XPTO, a 1% e esse conjunto de bancos XPTO emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.
- Mas isso assim é um "negócio da China"! Só para irem a Bruxelas buscar o dinheiro!
- Neste exemplo ganharam uns 3 ou 4 mil milhões de euros. E não têm de se deslocar a Bruxelas, nem precisam de levantar o cu da cadeira. E qual Bruxelas qual carapuça. A sede do BCE é na Alemanha, em Frankfurt, onde é que havia de ser?
- Mas então isso é um verdadeiro roubo... com esse dinheiro escusava-se até de cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou de nos tirarem o 13º mês, que já dizem que vão tirar...
- Mas, oh seu Zé, você tem de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles ordenados aos administradores que são gente muito especializada.
- Mas quem é que manda no BCE e permite um escândalo destes?
- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.
- Deixa ver se percebo. Então os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE para eles emprestarem aos bancos a 1% para depois estes emprestarem a 5 e a 7% aos Governos donos do BCE?
- Não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar é que levam juros a 6%, a 7 ou mais.
- Nós somos os donos do dinheiro e nós não podemos pedir ao nosso banco...
- Nós, nós, qual nós? O país, Portugal ou a Alemanha, é composto por gentinha vulgar e por pessoas importantes que dão emprego e tal. Você quer comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês ou com um calaceiro que anda para aí desempregado com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.
- Mas e os nossos Governos aceitam uma coisa dessas?
- Os nossos Governos, os nossos Governos... mas o que é que os governos podem fazer? Por um lado são na maior parte amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos. Em resumo, não podem fazer nada, senão quem é que os apoiava?
- Mas oh que porra de gaita então eles não estão lá eleitos por nós?
- Em certo sentido sim, é claro, mas depois... quem tem a massa é que manda. Não viu isto da maior crise mundial de há um século para cá?
Essa coisa a que chamam sistema financeiro que transformou o mundo da finança num casino mundial como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam e que ia levando os EUA e a Europa à beira da ruína? É
claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gentinha que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos a ver navios. Os governos então, nos EUA e cá na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram que repor o dinheiro.
- E onde o foram buscar?
- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. Donde éque havia de vir o dinheiro do Estado.
- Mas meteram os responsáveis na cadeia.
- Na cadeia? Que disparate. Então se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofistícadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rathing que classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram passados à reforma. O Sr. McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.
- Oh Sô Antunes, então como é? Comemos e calamos?
- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar.

Cartoon

“As pessoas não devem ter de pagar pelas loucuras dos Bancos”

Entrevista realizada por Claudi Pérez – do Jornal El País,ao Presidente da Islândia em 7 de Abril de 2011. Tradução Helena Pitta.

“A Europa não enfrenta só uma crise económica: esta é uma crise política. Os Governos não podem continuar a arrastar-se atrás dos mercados”. Entrevista a Ólafur Ragnar Grímsson, Presidente da Islândia.
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Persona é um velho vocábulo que significa máscara. As diversas máscaras deste homem alto e forte que é Ólafur Ragnar Grímsson (Isafjodur, 1943) não deixam ninguém indiferente. O presidente da Islândia provoca grandes adesões (está há 15 anos no cargo), mas também a oposição cerrada de uma parte dos islandeses. Grímsson, que foi politólogo, líder socialista e até editor de jornais, desempenhou um papel extraordinário durante a crise. Apesar de ser visto como uma figura decorativa, recusou-se por duas vezes a sancionar uma lei que obriga os islandeses a pagamentos ao Reino Unido e à Holanda pela falência de um dos seus bancos, no denominado caso Icesave.

“Grímsson foi fundamental para evitar que o Banco Icesave se transformasse numa condenação para uma geração de islandeses, pelo menos”, garante o economista Jon Danielsson. Mas esta é uma região de extremos, tal como a sua gente. Guderburg Bergsson, um dos gigantes da literatura islandesa, atribui-lhe “grande parte da culpa” do pesadelo dos últimos anos devido a algumas dessas máscaras. “Grímsson virou a casaca várias vezes, perdeu-a e arranjou outra que voltou a perder por ser oportunista. E imediatamente arranjou mais uma. Os seus anos na presidência são o reflexo de uma nação parecida com ele, confusa e isolada”, ataca.

Grímsson recebe o El País em sua casa, numa biblioteca luminosa – talvez devido às janelas enormes, talvez aos muitos livros de poesia que se amontoam nas prateleiras – e, antes de pôr o gravador a trabalhar, interessa-se por Espanha e Portugal, cujo primeiro-ministro, José Sócrates, acusado por alguns de “socialista neoliberal”. O presidente arranca com uma sentença que, com ligeiras variações, repetirá algumas vezes ao longo da entrevista:

- “A Europa não enfrenta só uma crise económica: esta é uma crise política. Os Governos não podem continuar a arrastar-se atrás dos mercados”.

Relativamente ao Banco Icesave, não parece disposto a dar o braço a torcer. Não estará a assumir um papel que não lhe corresponde?

-Até agora não tinha sido usada essa prerrogativa, mas vivemos tempos de grandes desafios. O que é fundamental é que a Islândia é uma democracia, não um sistema financeiro, e que esta não é apenas uma crise económica: é uma crise política. Uma das razões pelas quais a Islândia está a recuperar rapidamente é a formidável resposta democrática, e não só financeira, que o país está a dar. Os islandeses provocaram uma mudança de Governo, activaram uma investigação e vão mudar a Constituição. Os referendos inscrevem-se nessa vaga. As anteriores condições de pagamento eram muito injustas. As novas são melhores, mas se os islandeses vão ter de suportar uma dívida dos seus bancos devem ter o direito de decidir.

Há dois anos o euro parecia um paraíso para divisas pequenas como a coroa. Agora o vento mudou e, mesmo assim, o Governo quer que a Islândia entre na UE. E o senhor?

-Os recursos energéticos, a pesca, o turismo, tudo isso foi fundamental para sairmos da crise; as divisas também o foram. A forte desvalorização é um paradoxo: por um lado ficamos mais pobres mas, por outro, aumenta a competitividade da indústria.

-Com o euro, essa vantagem desapareceria.

É evidente que a moeda foi parte da solução e que a Grécia e a Irlanda não tiveram esse recurso. Mas a conveniência ou não da entrada na UE dependerá das negociações. Verifica-se uma contradição interessante: as sondagens revelam que uma maioria deseja que as negociações continuem. E uma maioria ainda mais esmagadora está contra esta entrada.

A Islândia deixou cair os seus bancos e persegue os banqueiros. Vê aí um modelo islandês de saída da crise?

-Talvez não tivesse havido outra opção além dessa: os bancos eram tão grandes que não havia maneira de os resgatar. Mas não interessa se havia ou não opções. A Islândia não aceita a noção de o cidadão comum ter de pagar toda a factura das loucuras dos bancos, como aconteceu com essas nacionalizações feitas noutros lugares pela "porta do cavalo". Volto ao argumento inicial: a solução para a crise não é simplesmente económica.

Estabeleceram controlo de capitais, subiram os impostos e diminuíram as despesas de carácter social, o que desencadeou o descontentamento popular. Esse descontentamento é dirigido contra os bancos ou contra os políticos?

-É difícil de dizer. Apesar do controlo, o país continua a funcionar bem e o impacto fiscal é inegável, mas era necessário e está a fazer-se razoavelmente bem. As crises são dolorosas.

-Irá alguém para a cadeia?

Não sou eu quem deve dizê-lo.

Há anos o senhor falava do “capitalismo viking”, de um grupo de jovens banqueiros “prontos para conquistar o mundo”. Mudou o seu ponto de vista?

Talvez tudo tenha acontecido depressa demais e não tenhamos sabido ver os riscos. Não os souberam ver também as agências de notação financeira ou as autoridades europeias. Houve vozes críticas. Tal como muitos outros, não as soube ouvir. Mas é preciso aprender com tudo isto.

Ah, se tivéssemos mar...


"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."
Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco. Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.

Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti? Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano. Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras? fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar..

Programa de luta contra a fome.

Nada é o que parece.
Ora veja:

Decorreu este fim de semana mais uma ação, louvável, do programa da luta contra a fome mas....façam o vosso juízo!

A recolha em hipermercados, segundo os telejornais, foi cerca de 2.644 toneladas! Ou seja 2.644.000 Kilos.

Se cada pessoa adquiriu no hipermercado 1 produto para doar e se esse produto custou, digamos, 0.50 ¤ (cinquenta cêntimos), repare que:

2.644.000 kg x 0,50 ¤ dá 1.322.000,00 ¤ (1 milhão, trezentos e vinte e dois mil euros), total pago nas caixas dos hipermercados.

Quanto ganharam???:

- o Estado: 304.000,00 ¤ (23% iva)

- o Hipermercado: 396.600,00 ¤ (margem de lucro de cerca de 30%).

Nunca tinha reparado, tal como eu, quem mais engorda com estas campanhas...

Devo dizer que não deixo de louvar a ação da recolha e o meu respeito pelos milhares de voluntários.

MAIS....
É triste, mas é bom saber...

- Porque é que os madeirenses receberam 2 milhões de euros da solidariedade nacional, quando o que foi doado eram 2 milhões e 880 mil?

Querem saber para onde foi esta "pequena" parcela de 880.000,00 ¤?

A campanha a favor das vítimas do temporal na Madeira através de chamadas telefónicas é um insulto à boa-fé da gente generosa e um assalto à mão-armada.

Pelas televisões a promoção reza assim: Preço da chamada 0,60 ¤ + IVA. São 0,72 ¤ no total.

O que por má-fé não se diz é que o donativo que deverá chegar (?) ao beneficiário madeirense é de apenas 0,50 ¤.
Assim oferecemos 0,50 ¤ a quem carece, mas cobram-nos 0,72 ¤, mais 0,22 ¤ ou seja 30%.

Quem ficou com esta diferença?

1º - a PT com 0,10 ¤ (17%) isto é a diferença dos 50 para os 60.

2º - o Estado com 0,12 ¤ (20%) referente ao IVA sobre 0,60 ¤.

Numa campanha de solidariedade, a aplicação de uma margem de lucro pela PT e da incidência do IVA pelo Estado são o retrato da baixa moral a que tudo isto chegou.

A RTP anunciou com imensa satisfação que o montante doado atingiu os 2.000.000,00 ¤.

Esqueceu-se de dizer que os generosos pagaram mais 44%, ou seja, mais 880.000,00 ¤ divididos entre a PT (400.000,00 ¤ para a ajuda dos salários dos administradores) e o Estado (480.000,00 ¤ para auxílio do reequilíbrio das contas públicas e aos trafulhas que por lá andam).

A PT cobra comissão de quase 20% num acto de solidariedade!!!

O Estado faz incidir IVA sobre um produto da mais pura generosidade!!!

ISTO É UMA TOTAL FALTA DE VERGONHA, SOB A CAPA DA SOLIDARIEDADE. É BOM QUE O POVO SAIBA QUE ATÉ NA CONFIANÇA SOMOS ROUBADOS.

ISTO É UM TRISTE ESBULHO À BOLSA E AO ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE DO POVO PORTUGUÊS!!!

"O que me preocupa não é o grito dos maus`. É o silêncio dos bons."

ALEMANHA ... e a falta de memória!

Em 1953, a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou Kaput, ou seja, ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica do país. Tal qual como a Grécia actualmente.

A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que entraram em incumprimento na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido.

Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã.

O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia, a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a Jugoslávia.
As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas.

Durante 20 anos, como recorda esse acordo, Berlim não honrou qualquer pagamento da dívida.

Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se encontrava.

Ora os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 mil milhões de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade, pelos danos causados à economia grega, e pagar compensações às vítimas do exército alemão de ocupação.

As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38960 executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável.

Qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da Grécia?

Segundo esta, a Grécia devia considerar vender terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida.
Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas, defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da chanceler Merkel. Os dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota. "Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus credores", disseram ao jornal "Bild". Depois disso, surgiu no seio do executivo a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em Atenas.

O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida grega de hoje parecer insignificante.

"No século XX, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece esquecido", sublinha Ritsch.
O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas.
A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros países.

Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a Grécia deve actualmente.


Da ingratidão, crueldade e falta de memória histórica dos alemães

Convém lembrar aqui, que o descalabro da República de Weimar, que esteve na génese do nazismo, teve o seu epicentro não só nos termos do Tratado de Versalhes (já nessa altura contestado por Keynes), como também na estúpida política de austeridade determinada pelo crash bolsista de 1929! Como a memória histórica dos neo-liberais é curta,aqui vai uma pequena súmula (vid. Wikipedia) do que aconteceu à Alemanha nazi, depois de perder a guerra:

1) Acordo sobre as indemnizações de guerra. Os aliados estimaram as suas perdas em 200 mil milhões de dólares. Após insistências das forças ocidentais (excluindo assim a URSS), a Alemanha foi obrigada apenas ao pagamento de 20 mil milhões, em propriedades, produtos industriais e força de trabalho. No entanto, a Guerra Fria impediu que o pagamento se processasse na totalidade.

2) Estaline propôs que a Polónia não tivesse direito a uma indemnização directa, mas sim que tivesse direito a 15% da compensação da URSS (esta situação nunca aconteceu).

Nota: Não esquecer o papel que o Plano Marshall (do nome do secretário de Estado dos EUA), desempenhou na recuperação dos destroços da guerra.

A memória dos Povos não devia ser curta, mas é?
A ingratidão dos países, tal como a das pessoas, é acompanhada quase sempre pela falta de memória.

Em 1953, há menos de 60 anos - apenas duas gerações - a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou kaput, ou seja,ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica do país.
Tal qual como a Grécia actualmente.

A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que
entraram em incumprimento na década de 1930, após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido.

Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a pagar (32 mil milhões) foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã.

O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia, a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a Jugoslávia. As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas.

Durante 20 anos, como recorda a história da aplicação desse acordo,Berlim não honrou qualquer pagamento da dívida.

Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se encontrava.

Ora, os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 mil milhões de euros sem juros.

Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade,pelos danos causados à economia grega, e pagar compensações às vítimas do exército alemão de ocupação. As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38 960 executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável.

E qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da Grécia? Entre outras coisas, achou que a Grécia devia considerar a venda de terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida!

Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas - defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da chanceler Ângela Merkel.
Estes dois (ir)responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota.

«Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus credores», disseram ao jornal "Bild".

Depois disso, surgiu no seio do Governo alemão a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em Atenas.

O historiador Albrecht Ritsch, da London School of Economics, recordou
recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século XX. Este historiador destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida grega de hoje parecer insignificante.

«No século XX, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há memória», afirmou. «Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto,lamentavelmente, parece esquecido», sublinha Ritsch. O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas. A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros países. Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a
contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte
o que a Grécia deve actualmente.


Morrer...de pé!



Um porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI) declarou-se hoje, em resposta a um pedido de comentário, "profundamente triste" com o dramático suicídio de um reformado grego devido à austeridade.

"Gostaria de dizer que ficamos profundamente tristes ao saber de qualquer morte nestas circunstâncias e quero manifestar as nossas condolências", disse o porta-voz do FMI Gerry Rice, questionado sobre o caso num encontro regular com a imprensa.

Na quarta-feira de manhã, à "hora de ponta", um farmacêutico reformado de 77 anos suicidou-se com um tiro na cabeça junto a uma saída do metro na praça Syntagma,

"O governo de ocupação aniquilou literalmente a minha capacidade de sobrevivência, baseada numa pensão que paguei durante 35 anos. Não encontro outra solução para um fim digno, antes de começar a procurar no lixo com que me alimentar", escreveu o homem na nota, segundo excertos publicados hoje.

MORRER DE PÉ NA PRAÇA SYNTAGMA

Quando se ouviu um tiro na Praça Syntagma,
logo houve quem dissesse:

- É a polícia que ataca !?.

Mas não, Dimitris Christoulas trazia consigo a arma,
a carta de despedida, a dor sem nome, a bravura,
e vinha só, sem medo, ele que já vivera os tempos
de silêncio e chumbo, do terror dos coronéis.

Mas nessa altura era jovem e tinha esperança.
Agora tudo isso findara, mas não a dignidade,
que essa, por não ter preço, não se rende nem desiste.

Dimitris Christoulas podia ser apenas um pai cansado,
um avô sem alento para sorrir, um irmão mais velho,
um vizinho tão cansado de sofrer. Mas era muito mais
que isso. Era a personagem que faltava
a esta tragédia grega que nem Sófocles ou Édipo
se lembraram de escrever, por ser muito mais próxima
da vida do que da imaginação de quem efabula.

Ouviu-se o tiro..., seco e certeiro, e tudo terminou ali
para começar logo no instante seguinte sob a forma
de revolta que não encontra nas bocas
as palavras certas para conquistar a rua.

Quando assim acontece, o silêncio derruba muralhas.
Aos jovens, que podiam ser seus filhos e netos,
o mártir da Praça Syntagma pediu apenas
para não se renderem, para não se limitarem
a ser unidades estatísticas na humilhação de uma pátria.

Não lhes pediu para imitarem o seu gesto,
mas sim que evitassem a sua trágica repetição.
E eles ouviram-no e choraram por ele, e com ele,
sabendo-o já a salvo da humilhação
de deambular pelas lixeiras para não morrer de fome.

Até os deuses, na sua olímpica distância,
se perfilaram de assombro ante a coragem deste gesto.
Até os deuses sentiram desprezo, maior do que é costume, pela
ignomínia de quem se vende para tornar ainda maior a riqueza de quem manda.

A Dimitris bastou um só disparo... limpo e breve,
para resumir a fogo toda a razão que lhe ia na alma. Estava livre!

Tornara-se herói de tragédia
enquanto a Primavera namorava a bela Atenas,
deusa tantas vezes idolatrada e venerada.
Assim se despedia um homem de bem,
com a coragem moral de quem o destino não vence.

Quando o tiro ecoou na praça de todas as revoltas,
Dimitris Christoulas deixou voar uma pomba,
uma borboleta, uma gaivota triste do Pireu
e disse, com um aceno:

- "Eu continuo aqui, de pé firme, porque nada tem a força de um homem

quando chega a hora de mostrar que tem razão."

Depois vieram nuvens, flores e lágrimas,
súplicas, gritos e preces, e o mártir da Syntagma,
tão terreno e finito como qualquer homem com fome...,
ergueu-se nos ares e abraçou a multidão com ternura.


José Jorge Letria

6 de Abril de 2012

D. Januário Torgal

Bispo das Forças Armadas comparou Passos Coelho a Salazar



Em declarações à TSF, D. Januário declarou-se “profundamente chocado” com o agradecimento de Passos à paciência dos portugueses, numa intervenção na quarta-feira comemorativa do primeiro aniversário da vitória do PSD nas legislativas de 2011.

“Portugal não tem Governo neste momento, e vão certos senhores dar uma passeata um certo dia a fazer propaganda tipo União Nacional, de não saudosa memória, pelo país a dizer que somos os melhores do mundo”, acentuou o bispo. D. Januário Torgal continuou: “Ao fim, ainda aparece um senhor que, pelos vistos, ocupa as funções de primeiro-ministro, dizendo obrigado à profunda resignação de um povo tão dócil e amestrado que merecia estar num jardim zoológico”.

O bispo foi, ainda, mais explícito. Retomando os elogios do primeiro-ministro à paciência dos portugueses que, no entender de Passos Coelho, se deve a “uma sociedade que está apostada em vencer as dificuldades e em resgatar o futuro”, D. Januário referiu: “Parecia-me que estava a ouvir o discurso de certa pessoa há 50 anos atrás”. Já em declarações ao canal SIC Notícias, o prelado concretizou a comparação, referindo o nome de Oliveira Salazar. Concluindo, D. Januário Torgal Ferreira deixou outra mensagem: “Apetecia-me dizer assim, vamos todos para a rua, não para fazer tumultos, vamos fazer democracia”.

Não é a primeira vez que o bispo das Forças Armadas suscita celeuma. Há alguns anos, admitiu o preservativos em relações sexuais de risco. E, aquando de uma visita do primeiro-ministro Cavaco Silva a Macau e Pequim, sugeriu que o chefe do Governo devia defender os direitos humanos.

Frontal e polémico no que diz respeito a temas da doutrina moral e disciplinar da Igreja, D. Januário é tolerado apenas com condescendência por vários dos seus pares, que consideram as suas posições demasiado heterodoxas e olham de soslaio para a sua atitude crítica. O bispo utiliza a sua formação na área da Filosofia para argumentar e defender as suas posições.

Luís Marques Mendes, antigo líder do PSD e actual comentador político no canal TVI 24, do cabo, diz que "comparar Passos Coelho a Salazar é ridículo e ofensivo".

Marques Mendes reagiu com muitas críticas às declarações de D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas, que comparou o actual primeiro-ministro ao homem que liderou a ditadura do Estado Novo.

Em declarações à TSF, D. Januário declarou-se “profundamente chocado” com o agradecimento de Passos à paciência dos portugueses, numa intervenção na quarta-feira comemorativa do primeiro aniversário da vitória do PSD nas legislativas de 2011.

Marques Mendes reagiu a isto nesta quinta-feira à noite no seu comentário semanal. "O elogio que o primeiro-ministro fez à paciência e à resistência dos portugueses foi uma atitude genuína, correcta e de grande sensibilidade política e social. É, de resto, um virar de página, uma mudança no discurso político de Passos Coelho", sustenta o antigo líder do PSD. Que acrescentou: "As declarações de D. Januário Torgal Ferreira a criticá-lo são declarações absolutamente inaceitáveis. No conteúdo e na forma."

D. Januário considerou que “Portugal não tem Governo neste momento, e vão certos senhores dar uma passeata um certo dia a fazer propaganda tipo União Nacional, de não saudosa memória, pelo país a dizer que somos os melhores do mundo. “Ao fim, ainda aparece um senhor que, pelos vistos, ocupa as funções de primeiro-ministro, dizendo obrigado à profunda resignação de um povo tão dócil e amestrado que merecia estar num jardim zoológico”.

Para Marques Mendes, "comparar Passos Coelho a Salazar não é só ridículo. É ofensivo."

O bispo foi, ainda, mais explícito. Retomando os elogios do primeiro-ministro à paciência dos portugueses que, no entender de Passos Coelho, se deve a “uma sociedade que está apostada em vencer as dificuldades e em resgatar o futuro”, D. Januário referiu: “Parecia-me que estava a ouvir o discurso de certa pessoa há 50 anos atrás”.

Marques Mendes respondeu: " Passos Coelho não assaltou o poder. Foi eleito de forma democrática, governa de modo legítimo, não é o responsável pela situação a que o país chegou e ainda por cima tem tido uma enorme coragem". Além disso, prosseguiu, "ninguém se recorda de o sr. Bispo ter criticado Sócrates quando deixou o país à beira da bancarrota". "O "senhor bispo não precisa de ser elogioso. Cada um tem as ideias que quer. O que não devia era ser insultuoso. E foi."

Não é a primeira vez que o bispo das Forças Armadas suscita celeuma. Há alguns anos, admitiu o preservativos em relações sexuais de risco. E, aquando de uma visita do primeiro-ministro Cavaco Silva a Macau e Pequim, sugeriu que o chefe do Governo devia defender os direitos humanos.

Frontal e polémico no que diz respeito a temas da doutrina moral e disciplinar da Igreja, D. Januário é tolerado apenas com condescendência por vários dos seus pares, que consideram as suas posições demasiado heterodoxas e olham de soslaio para a sua atitude crítica.

Marques Mendes considera que, além do conteúdo, também a forma "agressiva, crispada e intolerante" como o bispo se expressou não foi adequada. "Este homem prestou um mau serviço ao país, à Igreja e a si próprio".

|| Obviamente um exagero



O velho, porque sempre foi velho desde a idade de ser novo, de Santa Comba Dão era muito menos básico, dito de outra forma, muito mais inteligente. E tinha António Ferro. Pedro Passos Coelho tem Miguel Relvas. Et pour cause…

[Na imagem Salazar com António Ferro no lado direito da fotografia]

Paciência? Olhe que não, olhe que não

Com a declaração que a populaça é paciente, Passos Coelho meteu uma “argolada”: o pessoal não tem paciência, tem é consciência que as alternativas seriam bem piores. O que não sucede ao tal Torgal Ferreira, bispo e, por coincidência, das Forças Armadas. Daí, talvez as influências “golpistas” de português “básico”: pontapé p’rá frente e fé em Deus.

Já no tempo de Salazar não havia paciência: havia medo. O que sucede agora. Só que no passado ansiávamos pela liberdade e, hoje, receamos que nos deem a liberdade ao estilo: desenrasquem-se.

Mas se o tal Torgal de nome e bispo de profissão (penso que é profissão), souber de outras fontes de dinheiro dispostas a suportar tais preocupações cristãs… eu alinho.

Podemos correr com o salazarento do Passos e, tal como os bebés, mandar vir o Sócrates; porque se temos quem nos garanta a massa, precisamos de quem a saiba gastar. Dai, que venha o melhor: Sócrates. E pode o Sampaio voltar à presidência para explicar à malta que défice é tópico anedoteiro.

Ando receoso de também ser contaminado pela eurodemia “syriza” que, além da esquerda, também está a afetar a direita espanhola. Os sintomas levam os doentes a abandonar o velho ditado: “paga e não bufes”; sendo apossados da paranoia: “bufo e não pago”. Os comportamentos de juventude inconsequente, ao estilo: a gente tem direito a gozar a vida, são o sintoma mais notório.

Um Torgal cheio de fé em que é preciso, não mais Deus, mas bagunça ruada e Rajoy com fé que é preciso mais Europa, são soluções convergentes no… é preciso que alguém pague para que a malta gaste.

Encontrada a solução, resta-nos – com a bênção do Torgal - oferecer um par de patins ao Passos e empurrá-lo para Santa Comba Dão.

Depois… bem, depois é só crescer como se não houvesse amanhã.

Cinco mulheres mais importantes do que se pensava na vida de Jesus



Foi uma mulher a primeira a receber o anúncio da ressurreição de Jesus, que os cristãos hoje assinalam. Mas há outras mulheres importantes na vida de Cristo, mais decisivas do que tradicionalmente se acreditava.Foi uma mulher a primeira a receber o anúncio da ressurreição de Jesus, que os cristãos hoje assinalam. Mas há outras mulheres importantes na vida de Cristo, mais decisivas do que tradicionalmente se acreditava.







Maria de Nazaré, Maria Madalena, a Samaritana ou a Cananeia. Elas estavam lá desde o início. Apesar de desprezadas pela história, várias mulheres tiveram um papel fundamental na vida de Jesus. Muito mais decisivo do que se pensava tradicionalmente. A investigação bíblica recente começa a desvendar factos que contradizem a ideia feita. E a vincar que as mulheres fazem parte do grupo de discípulos de Jesus de forma igual à dos homens.

Assim é: elas estavam lá desde o início e foram apóstolas, discípulas, evangelizadoras, financiadoras, interpeladoras de Jesus. “Jesus aceitou-as e não as discriminou pelo facto de serem mulheres”, diz à 2 Maria Julieta Dias, religiosa do Sagrado Coração de Maria e co-autora de A Verdadeira História de Maria Madalena (ed. Casa das Letras). “Jesus não foi misógino, foi sempre ao encontro das mulheres”, acrescenta Cunha de Oliveira, que acaba de publicar Jesus de Nazaré e as Mulheres (ed. Instituto Açoriano de Cultura).

Os evangelhos citam várias vezes as mulheres que seguiam Jesus “desde a Galileia”, onde ele começara o seu ministério de pregador itinerante. No momento da crucificação, são elas que estão junto a Ele. Lê-se no evangelho de S. Mateus: “Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.” E é a uma mulher que primeiro é anunciada a ressurreição de Jesus, que os cristãos assinalam hoje, Domingo de Páscoa.

Maria Julieta Dias recorda que, em outra passagem do evangelho de Lucas, já se diz que acompanhavam Jesus “os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens”.

As mulheres estavam lá, como discípulas. Em Um Judeu Marginal (ed. Imago/Dinalivro), John P. Meier, um dos mais conceituados exegetas bíblicos contemporâneos, não tem dúvidas: “O Jesus histórico de facto teve discípulas? Por esse nome, não; na realidade (...), sim. Por certo, a realidade, mais do que o rótulo, teria sido o que chamou a atenção das pessoas. (...) Quaisquer que sejam os problemas de vocabulário, a conclusão mais provável é que ele considerava e tratava essas mulheres como discípulas.”

Julieta Dias explica que só se fala em discípulo, no masculino, porque, em aramaico, a palavra não existia. Discípulo era aquele ou aquela que servia o mestre. Mesmo assim, “deve ter sido tão forte o testemunho dessas mulheres que foi quase impossível ignorar o seu testemunho, 40 anos depois, quando os evangelhos foram escritos”.

Em Jesus e as Mulheres dos Evangelhos (ed. Multinova), Maria Joaquina Nobre Júlio recorda que, na ressurreição, o desconhecido que se dirige às mulheres que iam perfumar o corpo de Jesus, lhes diz: “Porque buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia.” Este facto revela que as mulheres estavam incluídas entre o auditório de Jesus, comenta. Sobre o seu ministério, “Jesus não falou afinal só aos discípulos homens”.

A teóloga espanhola Isabel Gómez Acebo (que é também empresária, casada e dirigente das associações de Teólogas Espanholas e Europeia de Mulheres para a Teologia) diz à 2 que “a todos os discriminados, incluindo às mulheres, Jesus veio devolver a dignidade e a liberdade”.

“As mulheres mostram uma forma nova de Jesus se aproximar”, diz Maria Vaz Pinto, freira das Religiosas Escravas do Sagrado Coração de Jesus há 26 anos e provincial (responsável) portuguesa da congregação desde Setembro de 2009. “Com elas, Jesus mostra a sua ternura e o seu humor, chama à verdade da vida e à radicalidade da entrega.”

Como se apagou então o protagonismo das mulheres? Com o tempo, as primeiras comunidades assumiram a cultura envolvente e voltaram a dar predominância aos homens. No momento da redacção dos evangelhos, entre os anos 70 e 100, já essa realidade é inexorável. Explica Joaquina Nobre Júlio: “A recordação do acolhimento de Jesus às mulheres foi-se esvaindo, a visibilidade e a autonomia que ganharam com Ele foram-se perdendo.” O protagonismo dado aos doze apóstolos como líderes da comunidade cristã tem outra razão, na opinião de Julieta Dias: “É um valor simbólico, para dizer que no grupo de Jesus havia capacidade de levar a boa nova às doze tribos de Israel, ou seja, a todo o povo.”

Mas várias mulheres foram decisivas na vida de Jesus: a mãe, Maria de Nazaré; Maria Madalena, a primeira a quem é anunciada a ressurreição; ou as amigas de Betânia, as irmãs Maria e Marta. A samaritana ou a cananeia discutem com ele e acabam por ser fundamentais para que Cristo repense a sua própria missão. Há ainda a mulher pecadora que entra em casa de Simão e unge Jesus com perfume, e outras a quem ele liberta de pesos pesados: a mulher com fluxo de sangue, a que é curada ao sábado, a viúva que intercede pelo filho, a adúltera que querem apedrejar. Ou ainda as que são nomeadas junto da cruz.

Elas estavam lá, também, na Última Ceia. “Seria anacrónico se não estivessem. A Última Ceia era uma ceia pascal e a ceia pascal dos judeus era familiar, onde estavam as mulheres e os filhos”, diz Julieta Dias, que no próximo sábado, com a teóloga Teresa Toldy, intervém num debate sobre Jesus, Mulheres e Igreja, promovida pelo movimento Nós Somos Igreja (Convento de São Domingos, Lisboa, 16h). Isabel Gómez Acebo ironiza: “Quem cozinhou na noite da Última Ceia? As mulheres.”

Maria de Nazaré: de máe a discípula
Descontadas as narrativas da infância de Jesus, de carácter simbólico, não são muitas as referências dos evangelhos à figura da sua mãe. E quando as há nem sempre são simpáticas. Nos três textos sinópticos (os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, assim designados por terem narrativas paralelas), há mesmo discussões porque a família de Jesus queria que ele deixasse o ministério itinerante de pregação. “Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, responde um convicto Jesus quando a família o procura.

Geza Vermes, nascido na Hungria, actualmente professor emérito da universidade inglesa de Oxford, e um dos estudiosos da Bíblia mais conceituados na actualidade, comenta (Quem é Quem no Tempo de Jesus, ed. Texto): “Depreende-se ser óbvio que a família não era bem-vinda. Eles representavam a atitude dos familiares que estavam determinados a [impedir Jesus] de prosseguir a sua carismática missão.” Outras frases semelhantes apontam “claramente para um desacordo sério entre ele e os seus mais próximos e mais amados.”

Maria aparece junto da cruz apenas no evangelho de S. João. Depois, está com os discípulos no Pentecostes, 50 dias após a Páscoa. Jacques Ducquesne (Maria — A Verdadeira História da Mãe de Jesus, ed. Asa) refere outro mistério que é preciso esclarecer: Maria ocupa um lugar “considerável” nos evangelhos apócrifos, que não foram reconhecidos como autênticos pelas primitivas comunidades cristãs, “muitíssimo maior” do que nos quatro evangelhos canónicos. Aliás, as narrativas da infância de Jesus dos textos de Mateus e Lucas são, em alguns aspectos, próximas das narrativas dos evangelhos apócrifos.

Em Dizer Deus — Imagens e Linguagens (ed. Gótica), escreve Julieta Dias: “Maria, a mãe de Jesus (…) é a discípula por excelência”, é o “paradigma do discipulado de Jesus”. Foi a personagem de Maria de Nazaré que levou Julieta Dias a estudar teologia, conta agora: “A forma como falavam dela irritava-me e levava-me a pensar que não podia ser o meu modelo: ela era virgem e mãe; eu, sendo virgem, não podia ser mãe; se fosse mãe, não seria virgem.” E quando rezava, na comunidade de religiosas, a oração do Magnificat ao final da tarde, achou que “qualquer coisa não batia certo”. Aquele hino, que Maria de Nazaré recita quando visita a prima Isabel, depois de ambas ficarem grávidas, diz: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. (…) Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias (…).”

Este é o “texto mais revolucionário” que se poderia cantar, diz Isabel Gómez Acebo. “Há uma linha de pensamento no catolicismo que fala do silêncio de Maria, mas ela questiona muito: quando faz perguntas ao anjo na anunciação, no Magnificat ou quando diz ao filho, nas bodas de Caná, que não há vinho... É uma personalidade muito marcada.”

Tema debatido é também se ela teve ou não mais filhos. A posição católica e ortodoxa diz que não, várias igrejas protestantes admitem que sim. Frédéric Manns (Maria, Uma Mulher Judia, ed. UCEditora) recorda argumentos linguísticos de ambos os lados para resumir: “A exegese não pode apoiar com certeza a posição tradicional católica e ortodoxa. Mas a posição contrária também não se impõe.”

Maria Madalena: a apóstola dos apóstolos
“Quem foi, de facto, Maria Madalena: uma pecadora arrependida, uma discípula predilecta, a enviada (apóstola) a anunciar a ressurreição, a esposa de Jesus?”, perguntam Julieta Dias e Paulo Mendes Pinto no livro já citado. Foi o Papa Gregório Magno (590-604) que, num sermão de Páscoa, identificou Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora que unge Jesus com o perfume como a mesma mulher. Nada mais errado, pois os evangelhos são claros em distinguir três pessoas diferentes.

Natural de Magdala (Madalena será corruptela do nome), pequena cidade da Galileia (no Norte do actual Israel), Maria é referida nos evangelhos como alguém que, a par de outras mulheres, cuidava de Jesus e colocara os seus bens ao serviço do grupo. O facto “sugere que Maria Madalena era uma pessoa com recursos, que ofereceu a sua devoção a Jesus, que a curara” de “sete demónios”, nota Geza Vermes, que dirige o Centro de Estudos Hebraicos de Oxford. A expressão “sete demónios”, escreve Régis Burnet (Maria Madalena — De Pecadora Arrependida a Esposa de Jesus, ed. Gradiva) remete para “um poder nefasto que a ultrapassa”, um problema do foro psicológico.

“Era uma mulher com posses, que se apaixonou por Jesus enquanto profeta itinerante”, comenta Cunha de Oliveira à 2. “É alguém que gostou de Jesus de modo incrível”, diz Maria Vaz Pinto. “Não me importa de que cor era o amor que ela tinha, o que interessa é que era tão grande que mudou a sua vida.”

“Gosto de pensar que ela estava enamorada de Jesus”, acrescenta Isabel Gómez Acebo. “Os evangelhos apócrifos apresentam Maria Madalena como rival de Pedro. Ela tinha tido um protagonismo tão forte que algumas comunidades cristãs do início a seguiram a ela.”

Madalena é, disso não há dúvida, a primeira pessoa a quem Jesus aparece após a ressurreição. “É a ela que ele diz: vai e anuncia; é patente que Jesus não aparece a Pedro nem à mãe”, nota a teóloga espanhola. E Maria Vaz Pinto recorda que, após a ressurreição, quando Maria pensa que é o jardineiro e reconhece Jesus ao ouvir chamar pelo seu nome, ela quer agarrá-lo. Mas Jesus diz-lhe “não me detenhas” — o célebre “Noli me tangere” fixado em dezenas de obras ao longo da história da arte. “Ele empurra-a para os outros e ela vai”, o que faz dela uma das principais seguidoras. Isabel Gómez Acebo observa que, durante séculos, as relações de Jesus com mulheres foram reduzidas “à sua mãe ou a mulheres pecadoras”. Não convinha, diz, que fossem “amigas nem discípulas”. Mas Maria “foi a primeira discípula”. Por isso a tradição irá apresentá-la “como prostituta a quem Jesus tinha tirado da miséria”. O que “nada tem a ver com a personagem real”.

Maria de Betânia: a discípula que escuta o hóspede
Irmã de Marta e Lázaro (amigos de Jesus), Maria de Betânia, aldeia próxima de Jerusalém, aparece em duas cenas no evangelho: quando as irmãs choram a morte de Lázaro (texto do evangelho de João, lido nesta semana que antecede a Páscoa) e quando Jesus passa por sua casa e Maria se senta a escutá-lo enquanto Marta se atarefava “com muitos serviços”, como conta Lucas. Marta queixa-se da irmã a Jesus, mas este repreende-a: “Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.”

“Estar aos pés do mestre é, na literatura rabínica, ser discípulo de alguém”, diz à 2 a religiosa espanhola Isabel Maria Fornari, autora de uma tese com o título La Escucha del Huésped (ed. Verbo Divino, Espanha), onde estuda este episódio. Mas a cena remete também para a hospitalidade bíblica, que inclui um elemento importante: o da comunicação. “É importante servir, comer, mas, quando alguém vem a nossa casa, mais importante é a comunicação que se estabelece.”

Isabel Fornari relaciona este episódio com outro passado já depois de Jesus ter deixado o convívio com os seus: no livro dos Actos dos Apóstolos, conta-se que a comunidade cristã de Jerusalém tem de optar por colocar um grupo a servir à mesa para que os apóstolos possam dedicar-se ao anúncio da mensagem de Jesus. “O mandato de Jesus ‘ide, fazei discípulos e ensinai’ supõe aprender. E isso faz-se num novo horizonte de hospitalidade que dá prioridade à comunicação.”

Este episódio foi lido durante muito séculos como afirmando a primazia da vida contemplativa sobre a vida activa. “Não tem nada que ver”, diz Isabel Gómez Acebo. “Jesus foi um homem de acção, que orava de noite mas de dia estava com as pessoas”, diz. “Jesus era um homem activo que tinha a presença de Deus a seu lado; não ficou a orar no deserto, foi de cidade em cidade falar às pessoas.”

O facto de Maria de Betânia se colocar à escuta, diz ainda Maria Vaz Pinto, é “também uma manifestação de amor: estar quieta, aprender, ouvir, deixar-se tocar”.

Samaritana: saltar todas as normas da moral
É, provavelmente, um dos textos mais notáveis dos evangelhos, este em que Jesus pede água a uma samaritana. Duplo pecado: dirigir a palavra a uma mulher, ainda por cima da Samaria — “os judeus não se dão bem com os samaritanos”, explica a narrativa de São João. A cena decorre por volta do meio-dia, junto ao poço de Jacob, em Sicar. Jesus está cansado e quer descansar e refrescar-se.

“Jesus adopta logo, implicitamente, o lugar inferior. As suas palavras não são uma ordem, mas um pedido. Dirige-se [à samaritana] de mãos vazias, à procura de qualquer coisa que só ela é capaz de lhe dar”, escreve o Irmão John, de Taizé (À Beira da Fonte, ed. AO).

“Jesus salta todas as normas da moral judia”, diz Isabel Acebo. “Os patriarcas de Israel encontravam-se naquele poço. Jesus aparece a esta mulher, que já tinha tido seis maridos, como um esposo novo”, de cariz diferente. A mulher espanta-se: “Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?” Jesus responde: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!” Jesus acrescenta depois: “Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; mas, quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna.”

O diálogo prossegue com Jesus a dizer que chegará a hora em que Deus será adorado “em espírito e verdade” e não num qualquer templo. E quando a mulher diz que todos esperam o messias, Jesus diz-lhe: “Sou eu, que estou a falar contigo” — é a única vez em que se assume como tal perante alguém.

Em Dizer Deus, escreve a teóloga italiana Nicoletta Crosti: “Esta mulher representa-nos a todos (...) representa o caminho do ‘acreditar’, (...) a nossa sede de uma vida mais rica (...), as infinitas perguntas sobre as coisas últimas e penúltimas.”

A pecadora de Betânia: Jesus deixa-se acariciar
É uma mulher que “entra e sai em silêncio, mas o leitor sente que a sua passagem se revestiu de uma eloquência ímpar”, escreve o biblista José Tolentino Mendonça em A Construção de Jesus (ed. Assírio & Alvim). Nesta obra, o autor analisa o episódio em que uma pecadora irrompe pela casa de Simão, um fariseu, que convidara Jesus.

“Estando por detrás, aos seus pés, chorando começou a banhar-lhe os pés com lágrimas e com os cabelos da sua cabeça os enxugava e beijava-lhe os pés e ungia-os com perfume”, conta o texto de São Lucas. Simão diz para consigo: “Se este fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que o toca, pois é uma pecadora!” Jesus pressente o que ele pensa e, depois de lhe contar uma parábola, diz que a mulher lhe banhou os pés com as suas lágrimas e o perfumou. E conclui: “São perdoados os pecados dela, os muitos, porque amou muito.”

“É impressionante como Jesus se deixa acariciar e não faz nenhum gesto para a afastar”, diz Isabel Gómez Acebo. Para Maria Vaz Pinto, a mulher traduz “outra característica de quem ama, o lado feminino do que não é estritamente necessário, a extravagância que enche a vida de cor e de perfume”. Trata-se, acrescenta, de algo que “não serve para nada, mas que é um gesto muito bonito no seu excesso”.

“A transformação do estatuto da mulher derrama um perfume novo” pelo próprio evangelho, comenta Tolentino Mendonça. E “nesse encontro, mais do que noutros”, essa mulher “assinala, reconhece, toca, molha e unge o mistério de Jesus”.

Charles Chaplin



“Sinto muito, mas não pretendo ser imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar todos se possível, judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver para a felicidade do próximo e não para o seu infortúnio. Não desejamos odiar ou desprezar.
Neste mundo há espaço para todos. A querida Terra é rica e pode prover às necessidades de todos. O caminho da vida pode ser livre e lindíssimo, porém, nós perdemos o rumo.
A ganância envenenou as nossas almas, levantou muralhas de ódio, fez-nos chegar à miséria e ao derramamento de sangue. Desenvolvemos velocidade, mas isolámo-nos uns dos outros. A maquinaria que nos poderia dar abundância, deixou-nos na penúria. O nosso conhecimento tornou-nos cínicos e a nossa inteligência, cruéis e egoístas. Pensamos demais e sentimos de menos.
Mais do máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de compaixão e gentileza. Sem estas virtudes, a vida será violenta, e tudo estará perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destas coisas apela à bondade, apela à fraternidade universal para sermos todos um. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões em todo o mundo, milhões de homens, mulheres e crianças desesperadas, vítimas de um sistema que põe homens a torturar e encarcera inocentes.
Aos que me ouvem, eu digo:
Não desespereis. A miséria que nos assola é simplesmente o último suspiro da ganância. A amargura de homens que temem o progresso humano. O ódio dos homens desaparecerá e os ditadores sucumbirão, e o poder que arrebataram ao povo regressará ao povo. Enquanto morrerem os homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutos! Homens que vos desprezam e escravizam, que controlam as vossas vidas! Que vos ditam o que fazer, pensar e sentir! Que vos condicionam, vos tratam como gado e se servem de vós como carne para canhão! Não vos entregueis a esses desumanos, homens-máquina, com mentes de aço e corações de pedra! Não sois máquinas! Não sois gado! Homens é o que sois! E levam o amor da Humanidade nas vossas almas! Só odeiam os que nunca foram amados. Os mal-amados e os desumanos. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! (…) Vós, o povo, tendes o poder! O poder de criar máquinas, de criar felicidade! Tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazer dela uma aventura maravilhosa. Então, em nome da democracia usemos esse poder! Unamo-nos! Lutemos por um mundo novo. Um mundo decente que assegure a todos a oportunidade de trabalho, que dê futuro à juventude e segurança à velhice. Com estas promessas, os desalmados subiram ao poder. Mas eles mentem. Esses não cumprem as suas promessas, nunca cumprirão! Os ditadores libertam-se mas escravizam o povo! Lutemos agora para cumprir essas promessas! Lutemos para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, pôr termo à ganância, ao ódio e à intolerância. Lutemos por um mundo de razão. Um mundo no qual a ciência e o progresso conduzam à felicidade de todos nós.

-Soldados! Em nome da democracia, unamo-nos!”

Charles Chaplin, in "O Grande Ditador" de 1940.

1ª Guerra Mundial – Como os EUA entraram

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O método pelo qual os Estados Unidos foram levados para a guerra começou em 25 de Outubro de 1911, quando Winston Chruchill foi nomeado o 1º Lorde do Almirantado em Inglaterra.
    [...][Um outro passo foi dado] quando a Linha Cunard, os armadores do paquete transatlântico “Lusitania”, entregaram o navio ao 1º Lorde do Almirantado, Winston Churchill. O navio ficou então a pertencer à armada britânica e estava sob o controle do governo inglês. 

[...] O navio foi enviado para Nova Iorque onde foi carregado com 2,700 toneladas de munições, cujo dono era J.P. Morgan & Co., para serem vendidas a Inglaterra e a França para as ajudar na guerra contra a Alemanha.


Era conhecido que os grandes magnatas estavam interessados em envolver o governo americano nessa guerra e o Secretário de Estado, William Jennings Bryan, fora um dos que constataram essa situação, “Como o Secretário [Bryan] antecipara, os grandes bancos estavam profundamente interessados na Grande Guerra devido às vastas oportunidades para a obtenção de lucros volumosos.”

[...] Em 7 de Maio de 1915, o “Lusitania” foi afundado no Canal da Mancha por um U-boat [tipo de submarino alemão, ed.] depois de ter abrandado de modo a esperar pela chegada do navio de escolta “Juno”, que estava previsto escoltá-lo até ao porto inglês. O 1º Lorde do Almirantado, Winston Churchill, emitiu ordens para que o “Juno” regressasse ao porto e o “Lusitania” ficou à espera sozinho no canal. Porque Churchill sabia da presença de três U-boats nas vizinhanças, é razoável presumir que ele tinha planeado que o “Lusitania” fosse afundado, e foi o que aconteceu. 1,200 pessoas perderam a vida no afundamento.

O afundamento foi descrito por Colin Simpson, o autor de um livro intitulado “O Lusitania” como “o acto de assassínio premeditado mais chocante que alguma vez foi cometido no mar.”

Epperson, A Ralph. 2006. The Unseen Hand – An Introduction to the Conspirational View of History. pp. 257-9

http://www.suzuki.floripa.com.br/Naufragio/lusitania.htm