sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Deviam estar todos presos



Deviam estar todos presos

Até agora considerava-se que, entre todos os bancos portugueses que tiveram problemas, só o BPN era verdadeiramente um caso de polícia. Mas à medida que se conhecem mais pormenores sobre o que se passou nos últimos meses no BES cada vez temos mais a certeza que estamos perante um segundo caso de polícia. Daí a pergunta: porque é que não estão todos presos?

Se não, vejamos. Depois de ter sido proibido pelo Banco de Portugal de continuar a conceder novos créditos ao Grupo Espírito Santo a partir de Janeiro deste ano, o BES continuou a fazê-lo - e, segundo as indicações, fê-lo no montante de 1,2 mil milhões de euros. E das duas uma: ou fê-lo com conhecimento de toda a administração, que sabia da proibição do Banco de Portugal; ou fê-lo por decisão de apenas duas pessoas - Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires.

No primeiro caso, todos deviam estar já presos; no segundo, os dois deviam estar detidos. Para além de desobedecerem ao banco central, lesaram gravemente o património do banco, sabendo conscientemente que o estavam a fazer.

Quanto aos outros membros do conselho de administração, se não foram coniventes, foram pelo menos incompetentes. Tinham responsabilidades em várias áreas de controlo da actividade do banco e ou não deram por nada ou, se deram, não fizeram nada. Por isso, fez muito bem o Banco de Portugal em afastar Joaquim Goes, António Souto e Rui Silveira.

Mas e a Tranquilidade? A Tranquilidade que também continuou a investir em empresas do GES este ano sabendo do estado em que se encontravam? O presidente executivo Pedro Brito e Cunha, que é primo de Ricardo Salgado, tomou essas decisões com base em quê? Na relação familiar, como é óbvio. Devia estar detido igualmente.

Lesou gravemente e de forma consciente o património da seguradora. E Rui Leão Martinho, o presidente não executivo da Tranquilidade e ex-presidente do Instituto de Seguros de Portugal, não sabia de nada?

De novo, das duas uma: ou é incompetente ou foi conivente. Em qualquer caso, já se devia ter demitido ou ter sido demitido. Mas a verdade é que o Instituto de Seguros de Portugal parece estar perdido em combate. O presidente José Almaça não tem nada para dizer? Não tem nada para fazer?

Já agora, António Souto, que o BdP suspendeu da administração do BES é membro do conselho de administração da Tranquilidade. Vai continuar neste cargo? E Rui Silveira, igualmente afastado da administração do BES, é do conselho fiscal da Tranquilidade. Também se vai manter na seguradora?

Por tudo isto se vê o polvo em que se tornou o GES, tendo no seu centro o BES. Nem todos têm as mesmas responsabilidades. Mas há vários dos seus dirigentes que já deviam estar detidos e sem direito a caução pelos danos que estão a causar a muitos dos que neles País confiaram e ao próprioPaís.

Então, a pergunta é:

- Porque é que não estão todos presos?

E a resposta, óbvia, só pode ser:

- Porque eles são, de facto, os donos disto tudo. Das leis, da Justiça, dos governos, do parlamento. E, por consequência, de todos nós.

Não ouviram, na passada terça-feira, na Assembleia da República, a propósito destruição da PT devido ao caso BES – e às opções dos seus gurus – Pedro Passos Coelho dizer que não é nada com ele? Mesmo que o país perca milhões com isso, nacionalizar está fora de questão? Só se podem nacionalizar os prejuízos, não é verdade?!

domingo, 26 de outubro de 2014

Entrevista a um repórter comunista, antes de ser Papa. (sobre a América Latina)



Agora entendemos melhor porque este cardeal argentino foi escolhido para papa. Ele tem ideias firmes e nunca foge (e nunca fugiu) de uma resposta polêmica.

O mundo se acostumou à hipocrisia da política que diz o que o povo quer ouvir e faz o que eles bem entendem.

Com este papa não é assim, como podemos ver nesta entrevista com um repórter COMUNISTA, antes de ser papa.

A entrevista começou quando o jornalista, tentando embaraçar o Cardeal, perguntou-lhe o que ele pensava sobre a pobreza no mundo.

O cardeal respondeu:

" - Primeiro na Europa e agora nas Américas, alguns políticos têm se dedicado a endividar as pessoas, fazendo com que fiquem dependentes.

- E para quê? Para aumentar o seu poder. Eles são grandes especialistas em criação de pobreza e isso ninguém questiona. Eu me esforço para lutar contra esta pobreza.

- A pobreza tornou-se algo natural e isso é ruim. Minha tarefa é evitar o agravamento de tal condição. As ideologias que produzem a pobreza devem ser denunciadas. A educação é a grande solução para o problema.

- Devemos ensinar as pessoas como salvar sua alma, mas ensinar-lhes também a evitar a pobreza e a não permitir que o governo os conduza a esse estado lastimável "

Mathews ofendido pergunta: - O senhor culpa o governo?

" - Eu culpo os políticos que buscam seus próprios interesses. Você e seus amigos são socialistas. Vocês (socialistas) e suas políticas, são a causa de 70 anos de miséria, e são culpados de levar muitos países à beira do colapso. Vocês acreditam na redistribuição, que é uma das razões para a pobreza. Vocês querem nacionalizar o universo para poder controlar todas as atividades humanas. Vocês destroem o incentivo do homem, até mesmo para cuidar de sua família, o que é um crime contra a natureza e contra Deus. Esta vossa ideologia cria mais pobres do que todas as empresas que vocês classificam de diabólicas”.

Replica Mathews: - Eu nunca tinha ouvido nada parecido de um cardeal.

" - As pessoas dominadas pelos socialistas precisam saber não têm que ser pobres"

Ataca Mathews: - E a América Latina? O senhor quer negar o progresso conseguido?

"O império da dependência foi criado na Venezuela por Hugo Chávez, com falsas promessas e mentindo para que se ajoelhem diante de seu governo. Dando peixe ao povo, sem lhes permitir pescar. Se na América Latina alguém aprende a pescar é punido e seus peixes são confiscados pelos socialistas. A liberdade é castigada.

- Você fala de progresso e eu falo de pobreza. Temo pela América Latina. Toda a região está controlada por um bloco de regimes socialistas, como Cuba, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela, Nicarágua. Quem vai salvá-los (a América Latina) dessa tirania?"

Acusa Mathews: - O senhor é um capitalista.

" - Se pensarmos que o capital é necessário para construir fábricas, escolas, hospitais, igrejas, talvez eu seja capitalista. Você se opõe a este raciocínio?"

- Claro que não, mas o senhor não acha que o capital é retirado do povo pelas corporações abusivas?

- "Não, eu acho que as pessoas, através de suas escolhas econômicas, devem decidir que parte do seu capital vai para esses projetos. O uso do capital deve ser voluntário. Só quando os políticos se apropriam (confiscam) esse capital para construir obras públicas e para alimentar a burocracia é que surge um problema grave. O capital investido voluntariamente é legítimo, mas o que é investido com base na coerção é ilegítimo ".

- “Suas ideias são radicais”, diz o jornalista.

- "Não. Há anos Khrushchev advertiu: "Não devemos esperar que os americanos abracem o comunismo, mas podemos ajudar os seus líderes com injeções de socialismo, até que, ao acordar, eles percebam que abraçaram o comunismo". Isto está acontecendo agora mesmo no antigo bastião da liberdade. Como os EUA poderão salvar a América Latina, se eles próprios se tornarem escravos de seu governo? "

Mathews diz: - “Eu não consigo digerir (aceitar) tal pensamento”.

O cardeal respondeu: - "Você está muito irritado porque a verdade pode ser dolorosa. Vocês (os socialistas) criaram o estado de bem-estar que consiste apenas em atender às necessidades dos pobres, pobres esses que foram criados por vocês mesmos, com a vossa política. O estado interventor retira da sociedade, a sua responsabilidade. Graças ao estado assistencialista, as famílias deixam de cumprir seus deveres para obterem o seu bem-estar, incluindo as igrejas. As pessoas já não praticam mais a caridade e vêem os pobres como um problema de governo.

- Para a igreja já não há pobres a ajudar, porque foram empobrecidos permanentemente e agora são propriedade dos políticos. E algo que me irrita profundamente, é o fato dos meios de comunicação observarem o problema sem conseguir analisar o que o causa. O povo empobrece e logo em seguida, vota em quem os afundou na pobreza ".

A NOVA LÍNGUA PORTUGUESA...

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos',com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .

De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes operacionais'.

Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.

E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.

O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';

Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'

Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';

As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo' Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.

Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)

As p.... passaram a ser 'senhoras de alterne'.

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.

Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress.

Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta...

Helena Sacadura Cabral

Se Portugal tivesse mar....



Por: JOÃO QUADROS . NEGÓCIOS ONLINE
(TEXTO ESCRITO EM COMPLETO DESACORDO ORTOGRÁFICO)

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo
Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores
portugueses!!!"

"Porque é que estes dados não me causam admiração?

Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de
frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de
pescado e marisco.
Uma verdadeira ONU do ultra-congelado!

Eu explico.
Por alto, vi:

- Camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji,
abrótea do Haiti?

Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado
que nós.

Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do
Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que
fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso,
tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber
como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.
Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas
cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo.
Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer
compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra
que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz
vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da
Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer
durante todo o ano.
Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém
interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras.
Fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A
minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num
supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das
compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.
Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo
marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo
marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria
quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e
rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não
há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.
Eu, às vezes penso:

O que não poupávamos se Portugal tivesse mar....!

sábado, 25 de outubro de 2014

Divino poema erótico de Drummond de Andrade



Poema erótico de Drummond de Andrade


'Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me
fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando,
sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no
meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos
lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em
meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante
a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando
chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as
forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu
corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta! '

Generosidades....





Fonte :O Observador



Os maiores financiadores dos partidos políticos são empresários, muitos com negócios com o Estado.

Depois de o Presidente da República ter pedido no 5 de outubro maior transparência no financiamento partidário, o Observador consultou os processos das contas dos partidos do poder, PS, PSD e CDS, para lhe dizer de onde partem os donativos e a angariação de fundos.


A família dona da construtora Mota-Engil distribuiu cerca de 95 mil euros entre PS, PSD e CDS entre os anos de 2004, 2005, 2008 e 2009. António Manuel Mota, Maria Manuela Vasconcelos Mota, Maria Paula Vasconcelos Mota Meireles e Maria Teresa Vasconcelos Mota Neves da Costa são quatro dos dirigentes do grupo Mota-Engil que aparecem com maior frequência nos donativos aos partidos políticos.

Todos estes quatro membros da família deram dinheiro ao PS, PSD e CDS, registados no exercício dos partidos, em anos de eleições legislativas. António Manuel da Mota, chairman do grupo Mota-Engil, é mesmo um dos principais financiadores dos vários partidos, tendo doado mais de 32 mil euros aos três partidos.

O Observador tentou obter um comentário dos membros da família Mota sobre estes donativos, mas tal não foi ainda possível.

Com ligações ao Grupo Mota-Engil aparece ainda o nome de Carlos Manuel Marques Martins, presidente da Martifer, empresa da qual a Mota-Engil é acionista. O presidente da empresa doou cerca de 10.000 euros ao PS e ao PSD em 2004 e 2005.
Distribuir o bem pelas várias aldeias

Mas há mais famílias mãos largas para os partidos. No topo da tabela entre os que mais dão a partidos, estão dois membros da família Neiva de Oliveira: Adalberto Neiva Oliveira e Tiago Neiva de Oliveira.

Os dois empresários do Grupo Cabelte, da área da energia e telecomunicações, são os que abriram mais o cordão à bolsa e distribuíram 75 mil euros em donativos no ano de 2009. Nas contas declaradas ao Tribunal Constitucional, encontram-se donativos ao CDS (5.000 euros), PSD (20.000 euros) e ao PS (50.000 euros registados nas contas da campanha eleitoral para as legislativas).

Adalberto Oliveira é mesmo o maior doador singular a vários partidos, tendo distribuído 40.000 euros em 2009. Uma justificação para a disponibilidade do empresário poderá ser o facto de já ter feito parte do mundo da política. Adalberto Oliveira foi deputado da Aliança Democrática entre 1979 e 1983. Tiago Neiva de Oliveira está também na parte de cima da tabela com 35.000 euros.

E quem doa uma vez, doa duas ou três. Depois dos dois empresários da família Neiva de Oliveira, António da Silva Rodrigues é o empresário que mais distribui por vários partidos. O presidente da Simoldes, a empresa líder na construção de moldes para automóveis na Europa, de Oliveira de Azeméis, deu ao todo 32.750 euros ao PS, PSD e CDS entre 2008 e 2009 (pode ter dado ao mesmo tempo, mas os partidos registam em contas de anos diferentes).

No topo dos empresários que dão 30 mil euros ou mais, aparece um empresário desconhecido, João Crisóstomo Silva, que deu 20 mil euros à campanha para as legislativas do PS em 2005, mas em 2009 aparece como doador nas listas do PSD, com um valor de 10 mil euros.



Financiar rima com família

Financiar partidos políticos é obra de família, seja ao mesmo partido ou a partidos diferentes. Nas contas que o Observador consultou (campanhas legislativas 2005 e 2009 e contas anuais dos partidos 2004, 2005, 2008 e 2009), há várias famílias que dão largos donativos aos partidos.

Luís Melo Champalimaud e a mulher, Andrea Dahmer Baginski Champalimaud, deram quase 32 mil euros em 2009 ao PS e ao PSD. O empresário da Cimentos Liz, e herdeiro da família Champalimaud, deu o máximo permitido por lei para as contas anuais do partido (25 vezes o IAS – Indexante de Apoios Sociais), 10.625 euros ao PSD e outros tantos ao CDS. A mulher deu o mesmo ao PSD.

Na lista dos que jogam em mais do que um tabuleiro no que aos financiamentos diz respeito, há ainda doisempresários do grupo Adriparte (com ligações à construtora Monteadriano, que entretanto foi assumida pelo Vallis, um fundo detido pelos principais bancos portugueses): Carlos Alberto Alves Gonçalves e Luís Manuel Vieira Santo Amaro. Estes dois homens deram exatamente o mesmo a cada partido: 9.000 euros ao PS cada (registados em 2004) e 7.500 euros cada ao PSD (registados em 2005).

Contudo, estes donativos são feitos pelos empresários em nome individual e não pela empresa que dirigem ou que detêm. Os financiamentos feitos por empresas são proibidos por lei, contudo, o Tribunal Constitucional tem estado atento ao financiamento indireto. Foi o que aconteceu em 2002, quando a Entidade das Contas considerou ilegal um financiamento da Somague ao PSD, no valor de 233 mil euros. Na época, José Luís Arnaut, secretário-geral do partido assumiu a responsabilidade, dizendo, no entanto, desconhecer o procedimento que levou o partido a aceitar esse financiamento.
Os apoios polémicos que deram que falar no PS

Entre os donativos feitos diretamente ao partido ou às campanhas eleitorais, o Observador contou 1.388 donativos acima de mil euros, nove deles acima de 20.000 euros.

O limite máximo dos donativos para as campanhas eleitorais é maior do que para as contas anuais dos partidos: até 60 vezes o IAS em vez de 15 IAS. Foi o que fizeram seis doadores em relação ao PS, nas duas campanhas de 2005 e 2009. Na campanha de 2011, o partido de José Sócrates já não inscreveu donativos tão elevados.

Mas é só mesmo este partido que é possível escrutinar, porque tanto PSD como CDS não registaram nos processos os nomes de quem deu dinheiro para as campanhas eleitorais de 2005, 2009 ou 2011. Aliás, o CDS nem registou qualquer donativo na última campanha e o PSD registou 160 euros de Lucinda Dâmaso, a presidente da UGT.



O dono da Delta e o dono do Grupo Semapa são os dois nomes que mais deram dinheiro ao PS em 2005. O comendador alentejano, Rui Nabeiro, injetou nas contas da primeira campanha eleitoral de José Sócrates 22.645 euros, à data, o máximo permitido por lei. Mas não é, nos nomes registados, o que mais contribuiu.

O dono do grupo Semapa, Portucel e Secil, Pedro Queirós Pereira, é um tradicional contribuinte para as contas socialistas. Em 2005, deu os 22.645 euros para a campanha e em 2009 contribuiu para a conta do partido com 10 mil euros, o máximo permitido para quem dá diretamente ao partido político.

Além destes nomes mais conhecidos, Ernesto Mendes Ribeiro, atual presidente da Sagestamo e à época gestor privado, doou 20 mil euros, o mesmo que o empresário João Crisóstomo Silva e que outra desconhecida, Maria Celeste Ramalho Martins.

Nestas eleições, o PS registou 64 doadores acima de mil euros (dado o volume de informação disponível, o Observador restringiu a análise mais fina aos doadores que entregaram mais de mil euros, os restantes nomes foram apenas verificados e não trabalhados).

Nas legislativas de 2009, que Sócrates ganhou, o PS recebeu donativos de apenas oito pessoas.

Nada como a exactidão dos números ...!


Parlamento Europeu

Remunerações de um deputado português


Inicio, hoje, aqui, no site do Partido Democrático Republicano (PDR), a publicação dos recibos que o Parlamento Europeu emitiu e emitirá em meu nome desde a minha tomada de posse, em 1 de Julho de 2014, bem como das declarações que eu próprio emitirei relativamente às remunerações sobre as quais o PE não emite qualquer recibo.

Faço-o por um imperativo de consciência e em obediência ao princípio republicano da transparência.

Sou deputado eleito pelo povo português e sou remunerado por isso pelos contribuintes portugueses (recorde-se que Portugal é um contribuinte líquido da União Europeia). Portanto, tudo que receber pelo exercício dessa função deverá ser do conhecimento de quem me elegeu e me paga.

Não se trata de uma dimensão privada da minha vida pessoal nem sequer de uma dimensão que deva ser protegida pelo direito/dever de reserva, mas antes de uma dimensão pública que deve ser claramente assumida como tal, sem complexos, sem receios nem falsos pudores.

É certo que não deveria ser eu a fazer esta publicitação, mas sim a própria entidade que me paga. O Parlamento Europeu e a própria Assembleia da República deveriam publicar todos os recibos de todos os pagamentos processados a todos os deputados, seja a que título for, pois os cidadãos têm do direito de saber quanto recebem (quanto custam) efectivamente todos e cada um dos seus mandatários parlamentares.

Mas sabemos como os nossos partidos políticos gostam de esconder certas coisas que a eles se referem.

E não são apenas as verbas recebidas pelos deputados; são também as vultuosas verbas que o estado paga aos partidos políticos quer a título de subvenções directas, quer de despesas das campanhas eleitorais, quer das subvenções aos grupos parlamentares, quer dos pagamentos dos vencimentos dos funcionários dos grupos parlamentares, quer sobretudo das escandalosas isenções de impostos que a si próprios se atribuíram.

Os recibos e as declarações pessoais que aqui serão publicados referem-se ao meu vencimento base (8.020,53 €), ao subsídios diários, denominados per diem (de 304,00 € por dia), ao pagamento de todas as viagens, incluindo de avião, de táxi ou outras, bem como aos quilómetros efectuados em carro próprio entre a residência e o meu aeroporto de referência em Portugal, que é o Porto, e outras deslocações referentes a trabalho político que faça em Portugal.

Além disso, recebo todos os meses, por transferência directa para uma das minhas contas bancárias, a quantia denominada Subsídio para Despesas Gerais (SDG) no montante de 4.299,00 € para despesas, pelas quais, estranhamente, o Parlamento Europeu não emite qualquer recibo ou documento que titule esse pagamento. Essa omissão será suprida através de uma declaração pessoal que eu próprio emitirei.

De referir que sobre esta última quantia não há necessidade de apresentar quaisquer justificativos para as despesas efectuadas. Ou seja, se fizer as despesas, muito bem, ficam pagas, mas se as não fizer, muito bem também, pois fico com o dinheiro para mim. Trata-se, obviamente, de um expediente para furtar ao pagamento de impostos uma fatia importante da remuneração dos deputados.

Além disso, beneficio também de um generoso seguro de saúde que cobre a quase totalidade de todas as despesas relativas a consultas médicas, tratamentos clínicos (incluindo, obviamente, dentários e oftalmológicos), medicamentos, cirurgias, próteses, etc.

Por fim devo ainda sublinhar que, se, porventura, concluísse o mandato de cinco anos no PE, ficaria com uma pensão de reforma vitalícia de cerca de 1.300,00 € mensais, que acresceria aos meus rendimentos ou vencimentos, incluindo outras pensões de reforma.

Sei que a publicação destes recibos irá incomodar algumas pessoas que viviam muito bem com o silêncio sobre estes factos e irá trazer-me, a mim próprio, bastantes incómodos também, sobretudo com os guardiães do nosso sistema político-partidário-mediático. Mas há muito que aprendi que a prática é o único critério para aferir a validade dos princípios que proclamamos.

Eu prometi mais verdade na política e isto é apenas o princípio. Se não formos capazes de viver de acordo com aquilo que pensamos acabaremos inevitavelmente a pensar de acordo com a vida que fazemos.



Coimbra, 11 de Outubro de 2014



António Marinho e Pinto

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Moçambique: Do Frelimistão à parte incerta

HENRIQUE BOTEQUILHA (Moçambique) e ANDRÉ CATUEIRA

13/10/2014

Terra dos pais da nação em Gaza, berço da guerra na Gorongosa e origem do sonho alternativo na Beira – três bastiões dos partidos dominantes em Moçambique, em vésperas das eleições gerais que vão testar 40 anos de governação Frelimo e uma paz alcançada em plena campanha.

GIANLUIGI GUERCIA/AFP
Apoiante da Renamo em Maputo

Se quisesse seguir o caminho mais fácil, Miguel Jamisse teria um cartão tão vermelho como as bandeiras que se erguem ao longo de centenas de quilómetros em Gaza, uma faixa monocolor do partido no poder, no sul do Moçambique.

Inhambane não é assim e Maputo muito menos. Mas a província que se encrava entre ambas irrompe como uma manifestação constante da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), que na quarta-feira defende em eleições gerais a continuidade de 40 anos de governação do país.

Contra tudo e todos, Jamisse fez subir uma solitária bandeira do MDM (Movimento Democrático de Moçambique) no poeirento mercado de Macia, mesmo ao lado de mais uma do partido adversário. Fundador local daquela força política em ascensão, denuncia uma campanha de perseguição contínua e frequentemente ouve ameaças de que a sua loja de mobílias vai arder. Tal como aconteceu ao interior da sede do partido em Abril passado.

“Fiz essa casa com as minhas próprias mãos. Eu também já fui da Frelimo quando todos éramos Frelimo, mas nunca queimei casas”, declara o líder local, junto do que restou da construção em blocos de cimento, agora revestida com cartazes do candidato presidencial do partido, Daviz Simango, e seu slogan “Moçambique para todos”.

Apoiantes da Renamo em Maputo
GIANLUIGI GUERCIA/AFP
 “Quando saímos à rua, perseguem-nos e bloqueiam-nos com os carros, levantam tanto pó que nem se vê mais nada. Obrigam os nossos apoiantes a despir as camisetas do MDM e a vestir as deles e a polícia ainda nos prende arbitrariamente”, descreve o dirigente político, que, antes da campanha esteve detido cinco dias. “Não há condições para eleições aqui.”

A vila de Macia foi um dos palcos de ataques de apoiantes da Frelimo, na terceira de seis semanas da campanha, à caravana eleitoral de Simango, em vários pontos da província, resultando em violentos confrontos entre membros dos dois partidos e posteriores acusações de tentativa de assassínio do líder político.

“Pelo que vi na televisão, quem levou porrada foram os homens da Frelimo e quem levava paus era a oposição”, comenta Samuel Matsinhe, primeiro secretário da Frelimo em Xai-Xai. Embora autorizado a falar apenas sobre o que se passa na capital de Gaza, a ideia de que toda a província é dominada pelo partido no poder “não passa de um mito”.

‘Chapa 100’

A longa avenida que atravessa Xai-Xai cobre-se com cartazes do partido no governo e seu candidato, vendedores informais vestem literalmente Frelimo, à sombra das arcadas dos prédios coloniais e, mais uma vez, a oposição está ausente, por alegada falta de autorização dos donos dos edifícios. “Se os outros não conseguem, problema deles. Há muitos postes e sítios públicos por aí”, observa Matsinhe.


Apoiante da Frelimo em Maputo
GIANLUIGI GUERCIA/AFP

Da sede do partido de Armando Guebuza, colunas potentes lançam para a rua hinos da Frelimo cantados em changana. É lá o ponto de partida e chegada de activistas que promovem Filipe Nyussi, o primeiro candidato presidencial do partido sem origem na elite do sul, de forma “ordeira e pacífica”, garante o primeiro secretário. Mas, para o porta-voz local da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Bento Mavie, “Gaza é o inferno da democracia”.

“Quem não se identifica com a Frelimo está condenado. Não tem emprego, não tem casa, não tem nada”, declara o ex-professor primário, que diz ter sido afastado há 22 anos do ensino pela sua filiação na oposição. “Quando os meus grupos saem para a campanha estou sempre a perguntar-me o que lhes pode acontecer.”

A sede da Renamo em Xai-Xai situa-se no interior de um bairro residencial, assinalada por bandeiras do partido da perdiz que só os vizinhos conseguem ver. Precisa de obras. As fotos do líder histórico do partido, Afonso Dhlakama, têm décadas e ali a Frelimo ainda é referida como um partido comunista.

A intolerância na província é ainda mais grave nos distritos rurais, miseráveis e isolados, segundo a oposição, que enfrenta dificuldades de recrutamento de membros para as mesas de voto e delegados de candidatura por “medo de represálias”. Em Chibuto, Pedro Pelembe, dirigente local da Renamo, interrompeu a campanha “por causa dos maus-tratos dos homens da Frelimo”. Tanto a sua casa como a sede local do partido foram invadidas por adversários. “Não destruíram nada, foi só para humilhar mesmo.”

Terra natal de Eduardo Mondlane, Samora Machel e Joaquim Chissano, Gaza é mais do que o berço dos pais da nação, é a única província moçambicana onde a oposição nunca elegeu deputados e a vitória da Frelimo permanece certa: “Chapa 100”, como ironizam apoiantes do partido, em alusão ao nome das carrinhas de transporte semipúblico, ou “Frelimistão”, capa do semanário privado Savana, após o desfile de pancadaria à passagem do líder do MDM.


Cartazes da Frelimo em Maputo
GIANLUIGI GUERCIA/AFP

 Imprevisível Dhlakama

As eleições gerais em Moçambique decorrem pouco mais de um mês após o silêncio das armas na província de Sofala. Foi algures na Gorongosa que o líder da Renamo se refugiou, a chamada parte incerta, depois de a sua base ter sido atacada, a 21 em Outubro de 2013, pelo exército, às ordens do então ministro da Defesa, Filipe Nyusi, e actual adversário da Frelimo na corrida à sucessão do Presidente Armando Guebuza.

"Foi então que comecei a pensar que os homens políticos podem fazer discursos bonitos, mas por dentro são maus", disse Dhlakama em finais de agosto. Foi naquele dia – “o dia que estava destinado a morrer” – que decidiu intensificar a crise e incendiar a região, numa “luta para salvar milhões de moçambicanos", a partir do mesmo local onde a Renamo em 1977 estabeleceu a sua base central em 16 anos de guerra civil.

Formalmente terminado a 5 de Setembro, o mais recente conflito durou 17 meses e deixou um número desconhecido de mortos e milhares de deslocados. Ao fim de quase 80 rondas de diálogo, Dhlakama abandonou finalmente a parte incerta, assinou a paz com Guebuza, a troco de uma amnistia, uma nova lei eleitoral e progressiva desmilitarização do braço armado do seu partido. Logo a seguir, surgiu na campanha como um furacão, arrastando multidões que o aclamam como “pai”, “herói” e “salvador” do domínio da Frelimo.

“Ele provou ser o único lutador da democracia e merecedor do poder”, considera Ricardo Mbondo, chefe do gabinete eleitoral da Renamo na Gorongosa, garantindo que o recorrente uso das armas do seu partido como argumento político não o penalizará, uma vez que “a população já percebeu que os belicistas e torturadores são os outros”.

O início da campanha, segundo Paulo Majacunene, administrador do distrito da Gorongosa, “esteve bastante perturbado porque a Renamo não deixava que os outros partidos fossem para o interior”. Mas o clima serenou entretanto, “reflectindo a maturidade das forças políticas e a particularidade que a Gorongosa tem de saber perdoar”, comenta por seu lado Tobias Dai, ex-ministro da Defesa e chefe local da brigada central da Frelimo.

As marcas do conflito insistem porém em desafiar memórias, como o cartaz do MDM simulando um boletim de voto gigante, no qual Daviz Simango surge junto dos outros candidatos, simbolizados por armas automáticas. “Nós representamos o voto não belicista”, comenta Daniel Missasse, dirigente local do partido, repetindo uma das principais mensagens do seu líder.

Na quarta-feira, Moçambique testa também a paz de 5 de Setembro. Cerca de seis mil deslocados sabem disso por experiência própria e recusam-se a voltar às suas terras de origem, “porque os militares da Renamo ainda estão na zona”, explica o administrador do distrito.

“Não há garantias”, afirma Rosalina Alface, duplamente deslocada, em 1986 e 2013, e que não esconde o medo de uma terceira guerra caso alguém falte à palavra. “Só depois de votar e da saída dos resultados é que regresso”, garante por seu lado Nharussai Almoço, outro residente do campo de trânsito de Nhataca 2, que se alonga em centenas de tendas militares. Todas elas estão decoradas com a imagem do candidato da Frelimo, apesar de o histórico eleitoral na Gorongosa ser favorável à Renamo.

Na actual campanha, Nyusi foi recebido em apoteose por milhares de pessoas, embora muitas tenham sido transportadas em camiões de regiões próximas. Quanto a Dhlakama, era suposto votar na Gorongosa - onde se recenseou, numa delicada operação em plena guerra - mas o seu partido anunciou na quinta-feira que o fará em Maputo.

“Para onde vai a seguir não é relevante”, afirma António Muchanga, porta-voz de Dhlakama, que, após quatro derrotas eleitorais, prometeu que reconhecerá pela primeira vez os resultados de uma votação em Moçambique. A paz chegou, mas o seu movimento continua armado e o exército conserva uma presença forte na Gorongosa, vigiando os fantasmas da parte incerta mesmo ali ao lado

Cartazes do MDM em Maputo
GIANLUIGI GUERCIA/AFP

"Filho indisciplinado"

Uma oração bilingue, em sena e ndau, línguas dominantes na Beira, suplica protecção para a ausência de violência à saída de grupos do MDM para a campanha. Inevitavelmente vão cruzar-se com jovens de todos os partidos, alterados pelo consumo das aguardentes locais “boina vermelha” e “negrita”.

Foi na segunda maior cidade do país que o partido nasceu, quando Afonso Dhlakama se recusou a reencaminhar Daviz Simango como candidato à liderança do município da Beira, em 2008. Mas ele não só ganhou as autárquicas como independente como no ano seguinte fundou o MDM e roubou à Renamo o seu bastião no centro do país. Desde então, elegeu oito deputados para a Assembleia da República em apenas duas províncias e ganhou mais três edilidades, entre as quais Nampula e Quelimane, capitais dos maiores círculos eleitorais moçambicanos.

“Daviz, sou tua afeiçoada”, entoa o grupo de apoiantes, adaptando uma canção religiosa que sugere “fidelidade total” a uma causa à medida de um partido e seu baluarte: “Beira por tradição é nossa, sem competição.”

Na campanha porta-a-porta nos subúrbios e pantanosos bairros de solo preto, nas centenas de bandeiras do MDM que tremulam nos “chapas” e em esquinas estratégicas, o MDM reivindica a liderança da oposição para correr com a Frelimo do poder. Já o fez na cidade, falta o resto do país.

A popularidade do MDM “não se deve apenas ao facto de o partido ser originário de um bastião da oposição, mas à força de vontade da população que o criou, para Moçambique ser um país de inclusão”, afirma José Domingo, do gabinete de candidatura de Simango na Beira.

Antes da campanha, uma sondagem colocava o MDM como segunda força política moçambicana, quebrando a hegemonia dos dois partidos históricos. Mas isso foi antes dos banhos de multidão de Dhlakama e da demonstração de força da máquina da Frelimo em todo o país para eleger Nyusi e preservar o controlo do parlamento.

Para Manuel Severino, porta-voz de campanha da Frelimo na Beira, o crescimento do movimento de Simango, e seu grande acolhimento no eleitorado urbano e jovem, é apenas “um acidente de percurso”. E, segundo, Luís Chitato, presidente da Liga da Juventude da Renamo em Sofala, esse sucesso tem os dias contados, face à “monumental popularidade” do seu líder, que também é apresentado como o único em toda a oposição que pode ganhar.

“A população já entendeu que a Renamo tem o único lutador pela causa de Moçambique e um líder que se compara a Messias. A população já anuncia a nossa vitória”, assegura, eufórico, Luís Chitato, reduzindo à mínima expressão a força do MDM, tratado no seu partido como “o filho indisciplinado”.

PÚBLICO/Agência Lusa

domingo, 12 de outubro de 2014

Redes sociais? Não obrigado!

Facebook pede desculpas por manipular feed de notícias para fazer estudos!

Fonte : Jornal Público

Rede social justifica-se ante os utilizadores, dizendo que realiza investigações porque quer melhorar o seu funcionamento.



Três meses depois de ter sido revelado o polémico estudo do Facebook sobre a forma como os utilizadores reagiam a conteúdos negativos e positivos no seu feed de notícias para determinar se havia contágio emocional, a rede social apresentou um pedido de desculpas. Assinado pelo chefe do departamento de tecnologia da empresa, o pedido revela que foram alterados os métodos para experiências que envolvam os utilizadores do Facebook, através de novas directivas de como devem ser realizadas estas investigações.

No final de Junho, eram apresentadas as conclusões de um estudo feito a 689.003 utilizadores da rede social. Ao longo de uma semana foram expostos a conteúdos menos negativos ou menos positivos do que o habitual nos seus feeds de notícias. A investigação concluiu que, ainda que de forma pouco significativa, o comportamento dos utilizadores alterava-se.

As críticas ao trabalho multiplicaram-se, desde a forma como o estudo foi realizado ao facto de os utilizadores não estarem informados de que estavam a ser sujeitos a uma investigação ou à dúvida de que quantidade de informação pessoal foi usada para chegar aos resultados apresentados ao Facebook. O Information Commissioner’s Office, o equivalente no Reino Unido à Comissão de Protecção de Dados portuguesa, anunciou mesmo que iria investigar a forma como o trabalho foi desenvolvido.

Em Março, um outro estudo era revelado, mais uma vez para analisar o possível contágio emocional nas redes sociais, principalmente no Facebook, parceiro na investigação ao lado de duas universidades.“Este é o primeiro estudo que demonstra que o mundo online pode estar a criar uma sincronia emocional global. Isso significa que devemos esperar e prepararmo-nos para uma maior volatilidade nas coisas que são afectadas pelas emoções, como sistemas políticos ou mercados financeiros”, concluiu o trabalho.

Esta quinta-feira, numa nota publicada na página de notícias do Facebook, o responsável Mike Shroepfer sublinha que a empresa realiza investigações “para melhorar os produtos e serviços que desenvolve e disponibiliza a cada dia”. “Estamos empenhados em fazer investigação para tornar o Facebook melhor, mas queremos fazê-lo da forma mais responsável possível”, acrescenta.

No caso do estudo que acabou criticado, a rede social alega que considerou “importante” analisar as reacções emocionais dos utilizadores, “para ver o que poderia ser alterado no Facebook”. Mas a empresa admite que “não estava preparada para as reacções ao estudo”. “É claro agora que houve coisas que podíamos ter feito de forma diferente. Por exemplo, devíamos ter considerado outras formas não experimentais para fazer essa investigação”, escreveu Mike Shroepfer.

Ela era a 'senhora' do PSD


Ela era a 'senhora' do PSD

Miguel Carvalho (Texto publicado na VISÃO 1125, de 25 de setembro)
9:52 Quarta feira, 1 de Outubro de 2014

Porto. Manhã de sexta, 19. O BMW X6 de Cristina Ferreira está estacionado junto ao consulado-geral de Angola, na zona da Boavista. Quem a conhece, não se espanta. Nos últimos dias ganhara consistência a informação de que a verdadeira dona da WeBrand marcara uma viagem para si e para o marido no final do mês, tendo como destino Luanda, e ali estava a aparente confirmação. As notícias sobre as investigações à agência, a Luís Filipe Menezes e às campanhas eleitorais do PSD terão acelerado as diligências. Se Cristina vai manter os hábitos de outrora não se sabe.

Mas se o fizer, é certo que o fará em executiva, nunca menos.

Nos anos de ouro da WeBrand assim foi: marido, família, amigos, viajavam a expensas da empresa, sem cuidar de miudezas. No final de 2009, ano de três eleições contratadas com o PSD, atingiu o zénite: a WeBrand ganhara muito dinheiro com o partido, distribuíra prémios por funcionários e Cristina decidira passar o ano em Nova Iorque com um pequeno grupo familiar e amigo. O local eleito foi o Hotel Carlyle, um cinco estrelas na famosa Madison Avenue, onde a estadia para duas pessoas por uma semana rondou os 5 mil euros. O pequeno-almoço por casal, pago à parte, superou os 1600 euros. ?A cereja no topo do bolo terá sido, segundo antigos colaboradores da agência, a viagem panorâmica de helicóptero para apreciar as vistas sobre Manhattan.

Das raízes ao deslumbramento

Na verdade, Cristina sempre sonhou em ver o mundo do topo. Mas veio de baixo. Nascida há 49 anos no seio de uma família humilde de Gondomar, perdeu o pai cedo e foi à luta para ganhar sustento. O primeiro emprego que lhe recordam foi na Triângulo, uma empresa de publicidade, onde ganhara a febre dos negócios com outdoors. Seguiram-se outras, ao longo de anos, em que as influências políticas e o fito dos negócios com partidos e autarquias, sobretudo a Norte, iam dando estofo às suas ambições e diminuindo as preocupações com a idoneidade, que chegaram a elogiar-lhe.

Do seu rol de amizades contam-se governantes, ex-ministros, deputados, autarcas, gestores de topo e diplomatas que navegam nas áreas do chamado "bloco central de interesses". Na Grafinvest, nos primeiros anos do século, "ela ainda se preocupava com a situação dos trabalhadores, mas depois deslumbrou-se", conta quem com ela lidava. Na empresa, que chegou a reunir "uma equipa fabulosa" e era então "uma das mais bem equipadas do País na área da impressão digital", circulava já "muito dinheiro vivo, favores e comissões para gente dos partidos e das autarquias, sobretudo PSD e PS", refere quem lá trabalhou. Sucedem-se as viagens, gastos, cartões de crédito, carros. "Houve um tempo em que a Grafinvest ficou conhecida como a empresa dos Audis, mas também se viveram períodos de salários em atraso". Peanuts. "Temos que viver da imagem, dar a ideia de que temos muito e vivemos bem", justificara ela, sempre à cata de novos negócios, de braço dado com Renato, o companheiro.

Só estilo

A WeBrand bordaria a vida de Cristina e Renato a ouro. Os gastos pessoais do casal e familiares são quase sempre debitados à empresa. Os ordenados reais não aparecem no papel, as casas estão em nome de amigos, os carros, e os gastos associados, são pagos pela WeBrand. A vida de Cristina divide-se entre o atraso nos pagamentos das prestações das habitações de Gondomar e Mira, dívidas antigas, penhoras e fins de semana na Herdade dos Salgados (Albufeira) ou em Paris. Compra carteiras Birkin Hermes - as mais caras do mundo, que custam entre 4000 a 11 mil euros - e malas de viagem Louis Vuitton. Nunca gasta menos de 400 euros no cabeleireiro. Manda vir botas da Austrália e sandálias de Nova Iorque, e encomenda mobiliário a lojas de luxo com ordens para que a fatura seja passada à WeBrand como se fossem ofertas a clientes.

Houve anos recentes em que as despesas mensais fixas de Cristina Ferreira seriam superiores a 9 mil euros. E mesmo quando os funcionários reclamavam pelo facto de receberem o ordenado às pingas - e assim aconteceu, pelo menos, ao longo de um ano - Cristina não se apoquentava. Pelo contrário. O que verdadeiramente a stressava era partir uma unha de gel, as invejas, o facto de o Yorkshire não fazer as necessidades no mesmo sítio, e as indecisões quanto à compra de uma cadela Bichon Maltês, a 200 euros a pata, preços por baixo.

Enquanto isso, os jantares e convívios na vivenda de Gondomar deixavam de queixo à banda os visitantes menos prevenidos. Serviços Vista Alegre, cerveja bebida em copos do designer Ritzenhoff, brindes em flutes de champanhe Christofle, chá e café saboreados em peças desenhadas por Siza Vieira. Nas paredes, quadros de Cargaleiro, Noronha da Costa, José Guimarães, Cruzeiro Seixas, António Cruz e Júlio Resende, serigrafias de João Ribeiro e esculturas de Rosa e Júlia Ramalho. Em sapatos, carteiras, joias e relógios, Cristina e Renato teriam, há poucos anos, bens avaliados em cerca de 240 mil euros.

Ódios de estimação

Sempre desejosa de manter clientes apaparicados ou tentar abrir portas, Cristina não escolhe fronteiras. Nem políticas nem geográficas. Pelo Natal, envia pequenas lembranças da WeBrand para gabinetes ministeriais de sucessivos governos, hospitais, institutos públicos, grupos de construção civil, empresas prestigiadas. Organiza eventos sem cobrar, recebendo a promessa de portas abertas em instituições financeiras e grupos económicos, em Portugal e no estrangeiro. A rede de contactos alcança a África lusófona e até a Guiné Equatorial.

No meio profissional em que se move, cultiva ódios de estimação: Luís Paixão Martins, da LPM, João Tocha, da F5C, e António Cunha Vaz, da Cunha Vaz e Associados, figuras das mais importantes agências de comunicação, as quais associa a várias "asneiras", "flops" e "incapacidades" para gerir os clientes.

Após as Legislativas de 2011, o mundo de Cristina ameaçou desabar. A lista de clientes não é a mesma e a falência da WeBrand é, no momento, uma hipótese real. Nas últimas semanas, amigos fugiram dela como da lepra. Outros, antes dados a confidências e pedidos de favores, dizem agora desconhecê-la. Entre figuras do PSD, há falhas de memória. Os tempos difíceis, a descapitalização da agência, trouxe tormentas.

As investigações fiscais e judiciais são nuvens negras a pairar. Quem a conhece diz que Cristina é daquelas pessoas que convém não deixar cair. "Se acontecer, levará toda a gente com ela", avisa quem lhe provou o fel.

Em fevereiro, contudo, Renato e ela ainda não pareciam preocupados. Se assim fosse, teriam rumado ao Rio de Janeiro, para curtir o Carnaval em pleno Sambódromo? Talvez, dizem fiéis servidores da "madame" noutros tempos. "Ela é do género catch me if you can".

No final do mês, Cristina tem Angola na agenda. Terá, porém, de comunicar o destino e a duração da viagem ao tribunal, pois está com Termo de Identidade e Residência na sequência de processos judiciais. Mas se sair por Vigo, na Galiza, talvez não tenha problemas. Não seria a primeira vez.

Gaiagate: seis casos nas mãos da PJ


Gaiagate: seis casos nas mãos da PJ

Miguel Carvalho (Texto publicado na VISÃO 1125, de 25 de setembro)
12:11 Terça feira, 30 de Setembro de 201

O património de Menezes

A história fez capa, pela primeira vez, na VISÃO, a 27 de fevereiro deste ano: livre de cargos públicos, Menezes juntara-se a ex-governantes e amigos na Urban Value, uma imobiliária com fortes ligações a Angola. Nessa edição, revelámos a compra de uma quinta em Baião por parte do ex-autarca e levantámos o véu sobre os seus rendimentos e património. Há dias, o Correio da Manhã fez manchete com a história, acrescentando um dado: a PJ quer ver as contas bancárias de Menezes.

560 mil euros em propaganda

Entre 2011 e 2013, a Câmara de Gaia e as empresas municipais terão gasto cerca de 560 mil euros em anúncios e propaganda destinada a publicações locais e nacionais, numa altura em que o endividamento da autarquia era já sufocante. Além das suspeitas quanto aos fins a que se destinaram as verbas, a PJ está particularmente interessada em averiguar as relações entre várias publicações e diversas figuras próximas de Menezes, algumas das quais ocupavam cargos no organigrama do município.

Em SUMA, lixo...

O contrato de concessão de recolha de resíduos que obrigará Gaia a pagar 150 milhões de euros à SUMA, do grupo Mota Engil, até 2026, está na mira dos investigadores. A notícia veio no Público e no JN, mas o caso é de filigrana. O contrato estará relativamente blindado do ponto de vista jurídico e Menezes passou a ideia de que acautelou o interesse público. Mas há um antigo dirigente do PSD, figura até há pouco próxima do ex-autarca, que poderá ser uma personagem-chave no deslindar do caso: Amorim Pereira.

Gaianima: poço sem fundo

Neste momento, a PJ já não terá dúvidas: a empresa municipal Gaianima, em fase de liquidação, terá servido para financiar as campanhas eleitorais de Luís Filipe Menezes ou pagar favores a amigos do anterior presidente. A WeBrand é uma das empresas que terá beneficiado de contratos públicos em compensação de serviços prestados às campanhas do ex-autarca. A VISÃO teve acesso a documentação que comprova ligações e combinações suspeitas entre a agência e administradores da Gaianima, durante o consulado de Guilherme Aguiar na empresa. Do tempo de Ricardo Almeida, sobram dois contratos polémicos com as agências Next Power e Boston Media, ligadas a João Paixão Martins, que a Judiciária também investiga.

Mais vale parecer...

Quando estava no auge a polémica em torno da lei de limitação de mandatos que poderia impedir Menezes de se candidatar ao Porto, a autarquia encomendou pareceres jurídicos a dois jurisconsultos (Pacheco de Amorim e Paulo Otero) sobre a interpretação da lei. A Câmara pagou-os, mas, mais tarde, o PSD solicitou à autarquia que lhe cedesse a sua posição contratual. A PJ já pediu documentação sobre este processo.

Agências e assessorias a pente-fino

Há contratos de assessoria e comunicação que a PJ também solicitou à autarquia. Um foi celebrado com a Mediana, empresa dirigida pela mulher de Joaquim Couto, autarca socialista de Santo Tirso e ex-vereador da oposição em Gaia, que rendeu 72 500 euros àquela agência. Outro contrato que está a ser analisado é com a Beleza das Letras, uma empresa pertencente ao ex-jornalista Manuel Neto, ativo colaborador de Menezes na campanha autárquica do Porto. O contrato de "consultoria na área da comunicação" foi celebrado no ano passado e a Câmara pagou mais de 33 mil euros.

sábado, 11 de outubro de 2014

Os Filhos de hoje!




O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista. 

'Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê.
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.
É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.
A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!'

Deputados acusados de corrupção, cobardes, não aparecem.


Deputados acusados de corrupção, cobardes, não aparecem.

Funcionário ausente promovido por mérito



Desde 1 de Janeiro de 2008 que Vítor Bento teve uma "progressão salarial por mérito". A circular informativa do Banco de Portugal refere que se trata "de benefícios salariais por mérito relativamente ao desempenho do empregado durante o ano de 2007", facto que a comissão de trabalhadores desde logo considerou estranho, uma vez que Vítor Bento não trabalhou durante esse ano na instituição, sendo administrador da SIBS e da UNICRE ( instituições que actuam no âmbito da gestão dos cartões bancários).

Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, endereçou ontem uma pergunta ao governador do Banco de Portugal , Vítor Constâncio, em que questiona esta prática, numa altura em que a "contenção salarial" tem sido o conselho mais repetido nos últimos anos. Segundo Louçã "não é minimamente plausível aumentar por mérito alguém que não está no serviço activo em determinada instituição".

O deputado bloquista refere que desde 2000 que Vítor Bento tem estado a trabalhar fora do Banco de Portugal, pelo que quer que "Vítor Constâncio explique ao Parlamento as razões desta promoção".

A questão da promoção de Vítor Bento foi levantada pela Comissão de Trabalhadores do Banco de Portugal que a 13 de Maio escreveu ao Conselho de Administração do Banco Central a questionar as suas razões.

Na resposta, o Banco de Portugal refere à sua Comissão de Trabalhadores que Vítor Bento "se encontra em situação de licença sem retribuição desde 8 de Junho de 2000".

Explica, ainda, que "a promoção e progressão do trabalhador, com efeitos desde 1 de Janeiro de 2008, teve como fundamento critérios de gestão e de equidade".

São precisamente estes critérios de gestão e de equidade que Francisco Louçã considera precisarem de esclarecimentos completos, pois ninguém "pode avaliar quem nem sequer se encontra ao serviço da instituição".

Por outro lado, tal como refere a Comissão de Trabalhadores em informação sobre este caso, a própria regulamentação interna do Banco de Portugal estabelece como regime para a duração da licença sem retribuição o limite de um ano, podendo ir ao máximo de três, seguida ou interpolada. Mas, frisa a Comissão de Trabalhadores do Banco de Portugal, "embora o normativo interno admita a hipótese de situações excepcionais, a administração não objectivou qualquer eventual excepcionalidade do caso em apreço", pelo que estão igualmente por esclarecer as razões para o quadro estar fora do BP desde 2000.|

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O Porto e a identidade. Ponto.








30 Setembro 2014


Sintetizar é, artisticamente, um exercício heróico. Em muito semelhante àquele que o legislador abraça quando pretende que uma lei nasça, viva e perdure em espelho com o Mundo que a rodeia. Ser capaz de considerar toda a realidade, múltipla, sem nada deixar escapar, tipificando o menos possível para que não exclua o que não cabe dentro da enunciação, mas evitando criar um conceito tão aberto e decotado que nada represente, signifique ou acrescente. A síntese é um demónio, sobretudo quando o assunto é de responsabilidade pública e se apresenta como um tradutor de afectos, transmissor em cadeia ou repouso histórico com encanto emocional. Sintetizar, artisticamente, é um acto de transgressão à espera de ser compreendido. É dizer muito com peças simples, montar sinais de encontros sem data marcada à espera de serem olhados. É marcar livres directos com a baliza a milhas. Só uma grande cidade se compromete com este risco.

O trabalho do designer Eduardo Aires para a nova identidade da cidade do Porto é notável. O primeiro doutorado em Design pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, premiado com o prestigiado prémio internacional Red Dot, assumiu com Rui Moreira uma escolha de risco. Goste-se mais ou menos ao primeiro olhar, o risco que a autarquia assumiu tem forte contexto e enraizamento. Daí que se sinta que a nova simbologia tem uma relação com a cidade que só a pode fazer crescer. À pergunta "como é o Porto?", responde-se o Porto é o Porto. Ponto. Como se refere à laia de cartão de identidade, indiscutível, incontornável, incomparável, sendo que a afirmação não é exterior à cidade, antes intrínseca à mesma.

A possibilidade de resumir graficamente uma cidade e as suas gentes, as suas valências e instituições - como aconteceu em Amesterdão ou Nova Iorque - é um objecto de desejo por inteiro, que vale por si e pela cidade que tentou compreender. E acresce em valor de decisão pelo erário público que não se vê onerado num acréscimo suplementar no orçamento de comunicação, através da simples suspensão de dois ou três números da revista municipal da cidade para que, também ela, volte renovada e com novos protagonistas. Os compromissos existem e esse é também um sinal de que as heranças que pintavam o Porto a verde estão cada vez mais ultrapassadas. Hoje, a cidade acorda inundada no azul que é nosso, espaço a ser preenchido sobretudo pelo que nós, portuenses, temos para dar.

Oxalá a compreensão da cidade acompanhe esta mudança, o que não será difícil face ao apelo de um novo Porto de encontro. Desde logo, porque devolve à cidade a cor que a envolve há séculos: o azul dos azulejos históricos do Porto, estendendo-se como passadeira de convite para ícones urbanos à medida de cada um, ainda com quadrículas em aberto para que possam ser preenchidas. Depois, porque é um Porto declarado, com uma visão cosmopolita da sua história, um Porto que não é de fachada. Nem um depósito do que foi ou é. É um Porto que quer ser. Um ponto que se projecta no "claim" mais pequeno do Mundo. Porto. Ponto de afirmação. Ponto.

AA identidade pode amplificar-se pela descrição, pelo que é mais denotativo, pelo pormenor que faz as delícias numa história deliciosa e bem contada. Momentos há em que cada um dos artífices forja o seu próprio ferro, a ferro e fogo. Neste caso, granito, em formas desenhadas a azul, minimalistas, a fazer adivinhar que há todo um Porto de honra dentro de si. Gente diversa, multicultural, aberta à distância porque se aproxima sem complexos, que se explica por afectos que desembrulham as palavras e as descodificam a coração aberto, coração, matéria de eleição de uma cidade que não pode parar. E assim se envolve na simbologia para renovar os lugares do senso comum, os locais onde toda a gente se encontra. A dada altura, diz-se que esta visão gráfica da cidade se procura afirmar sem adjectivar porque os adjectivos são acessórios a toda esta realidade. Os adjectivos dispensam-se, como num acto de amor profundo. Amar uma cidade é também ter esta coragem.