Durante longas semanas, Portugal foi vítima de obscuros propósitos, e de enganosas ameaças. Os portugueses foram castigados, diariamente, por notícias caudalosas de pagamento de uma dívida, afinal inexistente. Foi um massacre muito bem preparado e melhor cautelado. O semblante dos senhores de Bruxelas estava carregado de medonhas ameaças, veladas e mesquinhas. A Imprensa estrangeira reduzia o que era considerado rotundo a meras meia dúzia de linhas nas páginas interiores. A portuguesa, por seu turno, puxava o que entendia serem factos para as primeiras páginas. Letras fortes, conteúdos medianos. O português comum, esse, já trucidado pela vida medíocre a que o obrigava a situação, mordia os lábios e estancava a sua miséria.
Por outro lado, membros do Governo viajavam de cá para lá, tentando minimizar a natureza de um problema cuja importância aparecia como medonha, enorme e assustadora. Especialmente um diário português, muito dado a aumentar factos perversos e em reduzir a quase nada a natureza fundamental dos casos reais.
Eu próprio, longo de vida e longo de trabalho insano e diário, andava baralhado, sem saber como resolver um problema que me impunham. Ocultava à minha mulher as características violentas da situação, mas certos jornais, sem pudor nem grandeza, aumentavam os parágrafos do meu desespero. Pelos vistos, tinha de pagar a Bruxelas por um crime, ou uma ofensa, que não cometera.
Nesta angústia que nos levava a um desespero incontido, surgiu a notícia benéfica. Portugal nada tinha a pagar. Aliás, vários tinham sido os países, a Alemanha e a França, por exemplo, que, em condições semelhantes, haviam escapado à punição.
Este longo episódio, que macerou os portugueses, espantadíssimos com a absurda punição de Bruxelas, testifica que a "União" Europeia é um maléfico imbróglio. Apenas destinado a punir os países europeus mais débeis. E adverte-nos, com a solenidade determinada pelos factos, que não podemos estar constantemente à mercê de uma política que age consoante o que pensam alguns dos seus mandantes.
Portugal e os portugueses não podem estar constantemente sujeitos a uma clique de madraços, que mandam impunemente na Europa. Nós sabemos quem são. Os seus nomes e as suas acções surgem nas televisões com o ar de coelhos desavergonhados, e desprovidos de qualquer resquício de cultura e de entendimento. Temos, urgentemente, de pôr cobro a esta infâmia. Ela está à espreita em cada esquina da nossa desatenção.
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