quarta-feira, 20 de julho de 2016

É mesmo a isto que chamamos democracia?

JOSÉ VÍTOR MALHEIROS  19/07/2016

O golpe foi “uma oferenda de Deus” diz Erdogan. Haverá agora mais poderes presidenciais e menos poderes para as elites laicas, incluindo o sistema judicial.


Um golpe de estado militar na Turquia. Um golpe falhado e esmagado, graças à oposição popular e a um iPhone com FaceTime. Mas, durante umas horas, a expectativa em todo o mundo, com prudentes declarações dos poderes políticos mundiais, que exprimem a sua “preocupação” e a absoluta necessidade de manter a “estabilidade” política na Turquia e que se abstêm de declarações de apoio a qualquer dos lados.



Durante umas horas, o medo de que este golpe se possa transformar no início da explosão daquele barril de pólvora que faz de rolha entre a Europa e a Ásia, que tem a cabeça na Europa mas que tem fronteiras com a Síria, o Iraque e o Irão, ali ao pé do território ocupado pelo Daesh, que tem uma guerra civil e uma guerra extra-fronteiras em curso e que tem um dos maiores exércitos do mundo, que quer entrar na União Europeia e está na NATO mas cujo estado teoricamente laico está em vias de islamização. 

A Turkish soldier who took part in the attempted coup is kicked and beaten. Photograph: Selcuk Samiloglu/AP


Durante umas horas, a expectativa e a dúvida perante este golpe levado a cabo por militares, um sector tradicionalmente autoritário e habituado durante séculos a exercer o seu poder, por vezes em ditadura absoluta, mas que há um século é uma força opositora do islamismo. Durante umas horas, a ténue esperança de que este golpe de estado (cujos autores anunciam que querem “restaurar a ordem constitucional, os direitos humanos, as liberdades e o primado da lei”) possa restabelecer a abalada democracia e o estado de direito laico, de forma semelhante ao que aconteceu no 25 de Abril em Portugal.


Mas estas dúvidas duram apenas umas horas, porque o regime depressa abafa a rebelião, captura os revoltosos e passa à ofensiva, prendendo 6.000 militares e 1500 civis, suspendendo ou detendo 2750 juízes e procuradores. O golpe foi “uma oferenda de Deus” diz o próprio presidente Recep Tayyip Erdogan, que aponta as alterações que quer pôr em prática na sua “nova Turquia”: mais poderes presidenciais e menos poderes para as elites laicas, incluindo o sistema judicial.


Após o desfecho, os poderes instalados congratulam-se pelo “regresso à normalidade constitucional e democrática” e recordam que a Turquia é uma democracia constitucional e que nem a UE nem os EUA nem ninguém pode, em nome da estabilidade, do direito e da democracia, aceitar uma mudança de regime pela força. O argumento tem força.


Mas será isto uma democracia? Este país que expulsa os jornalistas estrangeiros independentes e lança na cadeia os turcos que se atrevem a escrever sobre a corrupção do governo? Que pede anos de cadeia por “insulto ao presidente” para os que criticam a sua política? Que reprime pela força protestos e prende peticionários? Que quer restaurar a pena de morte para condenar os autores deste golpe? Este país que é o número 151 (entre 180) doranking da liberdade de imprensa?



Será que a existência de partidos e de eleições (por limitada que seja a liberdade de acção de certos partidos e grupos sociais e por duvidoso que seja o funcionamento das eleições) chegam para classificar um país como uma democracia e para tornar todas as suas acções aceitáveis?


As perguntas não têm sentido apenas para os países muçulmanos ou para os povos de tez morena.

Vivemos numa democracia quando toda a nossa vida pública é condicionada por tratados europeus que não aprovámos em eleições e cujo teor e consequências não discutimos? Vivemos sob o primado da lei quando pertencemos a uma organização onde as regras (e as sanções) não são iguais para todos?

Vivemos numa democracia e num estado de direito quando podemos ser envolvidos numa guerra de consequência devastadoras através de mentiras e manipulações, como agora se prova (pela enésima vez) no relatório Chilcot? Podemos dizer que vivemos numa democracia quando um governo, eleito sem mandato para tal e sem que nada o justifique a não ser a ganância de determinados interesses particulares, nos envolve numa guerra? Podemos dizer que vivemos numa democracia quando, mesmo depois de apurados os factos, é impossível responsabilizar os políticos que usurparam direitos que não tinham, invocando factos que não existiam, causando milhões de vítimas entre mortos, feridos e refugiados?

A democracia é a capacidade de eleger parlamentos, governos e presidentes e a capacidade de os demitir e substituir, mas é algo ainda mais importante: a capacidade de escolher as políticas, de escolher não aqueles a quem vamos obedecer, mas a forma como vamos viver. Não apenas os governantes, mas a vida pública. É por isso que elegemos partidos na base de programas eleitorais. Uma democracia que elege ditadores não é uma democracia. As formalidades são essenciais à democracia mas precisamos de respeitar todas as formalidades: os direitos humanos, o primado da lei, as regras institucionais, os compromissos assumidos, a transparência.

Quando chamamos “democracia” a algo como o regime que vigora na Turquia, na Rússia, na Venezuela ou em Angola - ou na UE - estamos a aviltar o conceito de democracia e a justificar todos os ataques que os inimigos da democracia lhe queiram lançar.

Presidente da Turquia pode ter forjado golpe militar, afirmam especialistas

Erdogan teria "oportunidade para ele se livrar de focos de descontentamento" com seu governo


Presidente defendeu a pena de morte contra os golpistas, afirmando ser a “opinião do povo"Reuters

A tentativa de golpe na Turquia na noite de sexta-feira (15) pegou muitos analistas internacionais de surpresa e provocou o caos nas ruas do país. Após horas de instabilidade — nas quais seCtores do exército turco fecharam importantes vias da capital, Ancara, e de Istambul — o governo do presidente eleito Recep Tayyip Erdogan afirmou ter retomado o controle da nação.

Depois do incidente, o governo turco acusou o clérigo Fethullah Gulen — que atualmente está exilado nos Estados Unidos — de ter planejado o golpe. No entanto, Gulen afirma que o responsável pelo levante teria sido o próprio presidente Erdogan — uma hipótese que vem ganhando força nas redes sociais.



Turkey coup: National security takes a blow - BBC News

Turkey's armed forces have been dealt a significant psychological blow by the attempted coup, with their pre . . .

http://www.bbc.com/news/world-europe-36833733



”Evidentemente, houve uma tentativa de golpe”, analisa o coordenador do NEOM (Núcleo de Estudos do Oriente Médio) da UFF (Universidade Federal Fluminense), Paulo Hilu. No entanto, segundo o especialista, não é possível afirmar categoricamente se o levante foi forjado ou não.

Recep Tayyip Erdogan: quem é o presidente de pulso firme que divide a Turquia

— É uma troca de acusações. O Erdogan desde o início acusou o Gulen. A questão é que, obviamente, o fracasso do golpe beneficia o Erdogan, porque dá a oportunidade para ele se livrar de focos de descontentamento com seu governo, tanto dentro do exército quanto do judiciário.


Erdogan é acusado de impor uma “islamização forçada” ao país Reprodução/Facebook

Desde a tentativa fracassada de golpe, 30 governadores e 7.899 policiais foram detidos na Turquia, segundo o Ministério do Interior do país. Na segunda-feira (18), o presidente Tayyip Erdogan defendeu a pena de morte contra os golpistas, afirmando que “o povo tem a opinião de que esses terroristas deveriam ser mortos”. Ele também pediu a extradição do clérigo Fethullah Gulen dos Estados Unidos e anunciou que vai “limpar” o exército turco.

Todas essas medidas, somadas à denúncia de um membro da União Europeia de que os nomes de quase 3.000 juízes e oficiais militares presos após o golpe fracassado já constavam de uma lista preparada pelo governo antes do levante, reforçam a teoria de que as autoridades do país poderiam ter conhecimento prévio da trama.


Também na segunda-feira, os Estados Unidos alertaram o governo turco para não “ir longe demais” ao levar à justiça os responsáveis pela tentativa de golpe.

Tradição

Fundado em 1922 por Mustafa Kemal Ataturk, o estado moderno da Turquia tem como modelo o secularismo (é um estado laico) e o nacionalismo turco. Ao longo dos anos, os seguidores dessa corrente passaram a ser denominados kemalistas — cujos maiores defensores se concentraram no exército turco.


Turkish forces are facing a series of unprecedented threats

Nas últimas décadas, o exército foi responsável por quatro golpes de estado na Turquia — em 1960, 1971, 1980 e 1997 —, justificados pela suposta defesa dos valores kemalistas. Essa motivação teria sido a mesma que levou os setores militares a se levantarem contra Erdogan e tentar conquistar o poder à força na noite de sexta-feira.

No poder desde 2003 — inicialmente como primeiro-ministro e, a partir de 2014, como presidente —, Erdogan é membro do partido AKP, e vem, ao longo dos anos, sendo acusado por seus inimigos políticos de impor uma “islamização forçada” ao país, o que contraria a tradição secular do estado moderno da Turquia.

The purges will cripple the effectiveness of the armed forces for some time to come

Seu compromisso com a democracia também é colocado em dúvida, tendo seu governo perseguido e prendido jornalistas arbitrariamente e impondo a censura aos órgãos de comunicação do país e até mesmo às redes sociais. Ele também já comparou a democracia com “um ônibus que você pega até seu destino, e depois desce.

Cientista político e professor de Relações Internacionais da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Bruno Lima Rocha também desconfia da informação oficial divulgada pelo governo turco a respeito do golpe militar.

Primeiro-ministro da Turquia anuncia sua renúncia

Ele lembra que Erdogan já foi acusado de ter forjado atentados contra o próprio povo, e vem usando a retórica da segurança nacional para perseguir as minorias do país, como os curdos no sul. Além disso, seu governo foi acusado pela Rússia de favorecer o grupo extremista Estado Islâmico na Síria — país que faz fronteira com a Turquia.


— A conspiração dos militares para tomar o poder pode ter existido, mas com requintes de manipulação. Aposto que se houve autogolpe, poucos oficiais sabiam que se tratava de uma farsa. Eu entendo que existe tal possibilidade, assim como algo semelhante pode ter ocorrido com o atentado ao aeroporto de Istambul.

De acordo com Rocha, com a fracassada tentativa de golpe no país, o presidente Erdogan deverá endurecer ainda mais seu governo e, ao mesmo tempo, avançar “de forma paulatina” para a islamização da Turquia.

*Por Luis Jourdain

Professores, juízes, militares: quem são os mais de 50 mil alvos de expurgos pós-golpe na Turquia

Prisões e exonerações atingem pessoas supostamente ligadas a rival de Erdogan


Expurgo de militares e funcionários públicos envolve mais de 58 milBBC Brasil

Após a tentativa fracassada de golpe na Turquia, o número de pessoas presas ou exoneradas na Turquia chama atenção.

De juízes a professores, servidores a soldados, a lista é enorme.

Há temores sobre o que acontecerá em seguida.

Quem está sendo atingido e por quê?

Assim que ficou claro que o golpe havia fracassado, a repressão começou - primeiro nas forças de segurança, depois por toda a estrutura civil da Turquia. Nas palavras de um colunista turco, foi um "contra-golpe" - uma limpeza do sistema, em estilo de golpe, com prisões, exonerações e demissões de dezenas de milhares de pessoas.

O objetivo expresso do presidente é "limpar todas as instituições do Estado". E o alvo é o que ele chama de um "Estado paralelo", um movimento encabeçado pelo clérigo Fethullah Gulen, arquirrival de Erdogan exilado nos EUA acusado de tramar o golpe.




WikiLeaks sofre bloqueio na Turquia

Presidente da Turquia diz que foi salvo por "milagre" na noite do golpe

Ninguém sabe realmente o tamanho deste movimento, mas seguidores de Gulen são suspeitos de se infiltrarem em postos próximos ao presidente, como o auxiliar chefe das Forças Armadas Ali Yazici e conselheiro militar Erkan Kivrak.

Um "grupo gulenista" nas Forças Armadas estava por trás do golpe, dizem autoridades turcas. E eles chegaram tão perto, diz o presidente, que estavam a 10 ou 15 minutos de sequestrá-lo ou assassiná-lo.

Quem está sendo exonerado?
A exoneração é tão extensa que poucos acreditam que não estivesse planejada com antecedência. E é improvável que todos na lista sejam gulenistas.

Cerca de 9.000 pessoas estão detidas e muitas outras perderam o emprego. Embora seja difícil conseguir detalhes precisos, esta é a lista atual:

7.500 soldados foram detidos, incluindo 85 generais e almirantes

8.000 policiais foram retirados de seus postos e 1.000 presos

3.000 integrantes do Judiciário, incluindo 1.481 juízes, foram suspensos

15.200 autoridades do Ministério da Educação perderam seus empregos

21.000 professores tiveram sua licença para trabalhar revogada

1.577 reitores de universidades tiveram que renunciar ao cargo

1.500 funcionários do Ministério das Finanças foram demitidos

492 clérigos, religiosos e professores de religião foram demitidos

393 funcionários do ministério de políticas sociais foram dispensados

257 integrantes da equipe do primeiro ministro foram demitidos

100 agentes de inteligência foram suspensos

Esta lista pode estar incompleta, porque a situação está mudando constantemente. Mas está claro que o expurgo afetou mais de 58 mil pessoas.




Por que a educação?
O presidente Erdogan vê o crescimento da educação islâmica nas escolas e universidades turcas como uma missão pessoal.

Desde que seu partido com base islâmica chegou ao poder, em 2002, o número de crianças em escolas religiosas conhecidas como "Imam-Hatip" aumentou 90%. Ele disse repetidamente que quer criar uma "geração devota" e reformou a educação do Estado neste sentido.

Erdogan tenta reverter o fechamento de muitas escolas religiosas ocorrido após o último golpe na Turquia, em 1997, que ele comparou ao corte de uma artéria.

Ele também agiu para fechar escolas controladas por gulenistas fora da Turquia. Relatos da Romênia dizem que autoridades da Turquia ordenaram o fechamento de 11 delas, mas as escolas argumentam que estão sob jurisdição romena, e não turca.


Não está tão claro é por que reitores de universidades estão sendo atingidos. Há pouca probabilidade de que os oficiais que tiveram que deixar seus postos sejam gulenistas. Alguns fatos sugerem que uma renovação completa das 300 universidades turcas estaria sendo planejada.

Nesta quarta-feira (20), acadêmicos foram proibidos de viajar para o exterior. Os que estão no exterior receberam ordem para retornar.


E por que tantos funcionários públicos?
Isso pode remontar ao escândalo envolvendo concursos públicos em 2010. Houve suspeita de fraude quando mais de 3,2 pessoas foram aprovados com nota máxima, e de que elas terim sido organizadas por gulenistas.

O expurgo pós-golpe pode ser uma tentativa de se livrar dos supostos fraudadores.

Turkish soldiers

Outra possibilidade é que o governo esteja se livrando também de opositores da comunidade alevita turca, que tem cerca de 15 milhões de integrantes.

O partido governista da Turquia, o AKP, é predominantemente uma sigla muçulmano sunita apoiada por uma base islâmica. A seita alevita combina elementos xiitas com costumes folclóricos pré-islâmicos.

O que Erdogan fará em seguida?
Há suspeitas e temores disseminados sobre os planos do presidente. Ele deve fazer um grande anúncio nesta quarta-feira.

Alguns compararam o expurgo ao efeito do golpe militar de 12 de setembro de 1980. Mas, naquela ocasião, houve execuções e 600 mil detenções. Os fatos atuais são menos drásticos.

E por trás disto...


Há poucas chances de a lei marcial ser declarada, já que a imagem do Exército foi profundamente afetada pelo golpe fracassado.

Mas medidas de emergência podem ser consideradas. Detenções sem acusações formais podem ser estendidas e a demissão em massa de funcionários públicos não precisaria de aprovação do Parlamento.

A imposição de um toque de recolher parece improvável, já que é favorável para o governo ter seus simpatizantes com liberdade de movimento nas ruas à noite.

Outra possibilidade é a volta da pena de morte, após 12 anos.

Quem é este arquirrival de Erdogan?
O objetivo declarado do presidente Recep Tayyip Erdogan é se livrar dos seguidores de seu antigo aliado, o clérigo islâmico Fethullah Gulen, que virou seu arquirrival e se autoexilou nos EUA em 1999.

Fethullah Gülen


Gulen fez muitos inimigos mas também tem um grande número de seguidores, e eles são acusados de tramar o golpe. Acredita-se que os gulenistas, que adotam uma forma tolerante de islamismo, doem até 20% de sua renda para o movimento.

Eles tinham posições em todos os setores da sociedade turca e relatos locais dizem que alguns confessaram envolvimento na tentativa de golpe.

A ordem para o golpe, segundo um seguidor, teria vindo de um professor civil conhecido como "Big Brother".






terça-feira, 19 de julho de 2016

Será possível julgá-los?

ISABEL DO CARMO  18/07/2016

De que é que serve a nossa razão moral, anos depois de centenas de milhares de mortos?


Durão Barroso, Blair, Bush e Aznar protagonizaram a cimeira DANIEL ROCHA (ARQUIVO)

Suspeita-se, com fortes indícios, que os grandes decisores da invasão do Iraque em 2003 mentiram voluntariamente, provocando centenas de milhares de mortes. Sendo este um crime contra a humanidade, pode haver alguma esperança de que sejam julgados e eventualmente condenados? Ou vamos acreditar de vez que os caminhos da justiça política e social têm mesmo que ser percorridos fora da ordem estabelecida?

A 16 de Março de 2003 Tony Blair, José Maria Aznar, George Bush e o anfitrião Durão Barroso reuniam-se em território nacional português, a Base das Lajes, para dar uma “última oportunidade” ao Iraque. Recordamo-los na fotografia oficial, os quatro sorridentes e bem-dispostos. O crime estava decidido. Quatro dias depois as tropas dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Polónia e da Austrália invadiam o Iraque, seguidas de soldados de mais 36 países para solidificar a ocupação. É altura de lembrar, porque a memória é curta ou trapalhona, que as Forças Armadas portuguesas nunca estiveram incluídas nem na invasão, nem na ocupação do Iraque, porque, sendo Jorge Sampaio, como Presidente da República, chefe das Forças Armadas, opôs-se à sua utilização para esse fim. Há sempre formas de dizer não, mesmo nos mais estritos formalismo e legalidade. Só a GNR foi, porque não dependia da presidência.

O que seguiu é uma tragédia, cuja amplitude se tem de avaliar em função das suas consequências. Morreram centenas de milhares de iraquianos, morreram pelo menos mil soldados invasores. E sobretudo desencadeou-se uma catadupa de guerras no Médio Oriente, uma situação de conflito permanente no Iraque e o nascimento da organização de assassinos do autoproclamado Estado Islâmico, com território próprio, criado exactamente a partir de território do Iraque. Centenas de milhares de mortos, milhões de deslocados. Em nome de uma mentira. Em nome de um álibi, cujo enredo estamos longe de conhecer — parece haver provas de que o plano para a invasão já existia antes do 11 de Setembro. Em nome do petróleo, claro, e de acordo com os aliados locais.

A mentira foi desde logo desmontada em vários focos informativos de contracorrente. Mas é agora formalmente denunciada no Reino Unido no Relatório Chilcot.

Tony Blair aceita a acusação, mas desculpa-se dizendo que foi para bem do Iraque. Quanto aos outros personagens ainda não se pronunciaram. Tony Blair criou a sua terceira via do socialismo, atraiçoando toda a história trabalhista da Grã-Bretanha e enfiando uma grande parte dos partidos socialistas europeus no caminho colaboracionista do domínio financeiro. Veja-se o comportamento da maior parte dos ministros das Finanças socialistas, que são a maioria do Ecofin e que obedecem reverentes à ditadura de Schäuble, o infame. Tony Blair enriquece com a sua actual fundação mercantil. É boa altura para revermos o filme O Escritor Fantasma de 2010 de Polansky, sobre “um ex-ministro britânico”, quase explicitamente retratando Blair e traçando-lhe compromissos políticos ocultos que nos dizem muito sobre o seu comportamento na cena internacional. Durão Barroso é o retrato da sua promoção, que vai directamente de presidente da Comissão Europeia e adepto da Alemanha e das indignas sanções a Portugal para o topo do gangsterismo financeiro, o Goldman-Sachs. Todos eles se desculparão. Lembrando uma série francesa recente do segundo canal, Uma Aldeia Francesa, que descrevia a ocupação e a resistência na II Guerra Mundial, o chefe local das SS, depois de torturar barbaramente e de matar, dizia para a amante: “C’est la guerre, Hortense.” Estes dirão com um sorriso: “C’est la politique, chérie.”

Ora o julgamento era possível. Paulo Portas afirmou taxativamente que viu as provas das armas de destruição maciça. Poderá explicar o que viu, como viu, quem lhe mostrou. Todos eles poderão explicar-se. Mas parece que a ordem estabelecida não o permitirá. Blair irá ao tribunal de Haia?

Fica-nos a sensação de beco sem saída. Em 2003 fomos milhões os que se manifestaram nas ruas das cidades portuguesas e de outras cidades do mundo. Convocados sem os apelos dos partidos e com as palavras de ordem e os cartazes que escolhemos. Por mim escolhi o grupo que mostrava uma grande ampliação do Grito do Munch. E como vivemos em democracias, eles toleraram-nos. Deixá-los manifestar-se. Assim descarregam a sua raiva...

De que é que serve a nossa razão moral, anos depois de centenas de milhares de mortos?

Pode ser que um dia aconteça como no Campeonato Europeu de Futebol e que actores políticos improváveis, vindos de baixo, demonstrem, como diz o nosso humorista, que as “criadas” podem vencer as patroas.

Médica, activista política

segunda-feira, 11 de julho de 2016

CAMPEÕES, CAMPEÕES, NÓS SOMOS CAMPEÕES!

Rui Patrício - Guarda-redes (Sporting) - 14 milhões €

Anthony Lopes - Guarda-redes (Lyon) - 12 milhões €

Eduardo - Guarda-redes (Dínamo Zagreb) - 1,5 milhões €

Bruno Alves -Defesa (Fenerbahçe SK) - 2,2 milhões €

Cédric – Defesa (Southampton) - 11 milhões €

José Fonte – Defesa (Southampton) - 5 milhões €

Eliseu – Defesa (Benfica) - 2 milhões €

Pepe – Defesa (Real Madrid) - 6 milhões €

Raphael Guerreiro – Defesa (Lorient) -7,5 milhões €

Ricardo Carvalho – Defesa (Mónaco) - 500 mil €

Vieirinha – Médio (Wolfsburgo) - 8 milhões €

Adrien Silva – Médio (Sporting) - 14 milhões €

João Mário – Médio (Sporting) - 12 milhões €

William Carvalho – Médio (Sporting) - 26 milhões €

André Gomes – Médio (Valência) - 18 milhões €

Danilo Pereira – Médio (Porto) - 8 milhões €

João Moutinho (AS Monaco FC)

Renato Sanches – Médio (Bayern) - 35 milhões €

Cristiano Ronaldo – Avançado (Real Madrid) - 110 milhões €

Éder - Avançado (Lille) - 5 milhões €

Nani - Avançado (Valência)

Rafa Silva – Avançado (Braga) - 11 milhões €

Ricardo Quaresma – Avançado (Besiktas) - 4 milhões €

Fernando Santos - Seleccionador português

Rui Patrício; Vieirinha, Pepe, Ricardo Carvalho e Raphaël; João Mário, Danilo, Moutinho e André Gomes; Ronaldo e Nani


PORTUGAL 1-1 ICELAND







PORTUGAL 0-0 AUSTRIA




HUNGARY 3-3 PORTUGAL

Croatia  0-1  Portugal

Quaresma 117 ET


UEFA EURO 2016 - Croatia-Portugal 



Europe's football website, UEFA.com, is the official site of UEFA, the Union of European Football Associatio . . .






Poland 1-1 Portugal (aet; Portugal win 5-3 on penalties)






Patrice Evra of France looks dejected at the end of their UEFA EURO 2016 final match against Portugal
UEFA EURO 2016 - Highlights - EURO 2016 final highlights: Portugal 1-0 France - UEFA.com

Watch the stunning goal by Éder in extra-time which guided Portugal to UEFA EURO 2016 glory.

http://www.uefa.com/uefaeuro/video/highlights/videoid=2390739.html

França vice-campeã

O gesto de Mathis














Cristiano Ronaldo, capitão da selecção campeã da Europa, começou por falar de sentimentos agridoces. "Hoje senti tristeza e alegria. O que posso dizer é que foi dos momentos mais felizes da minha vida, de carreira, de profissional. É um momento único na minha vida. Chorei", assumiu o capitão.

Ronaldo destacou um momento-chave: "Antes do jogo com a Croácia, ouvi o seleccionador dizer que só ia dia 11 para Portugal. Eu via muita gente a duvidar e a gozar. Isso para mim marcou-me". "O que tentei fazer como capitão foi mostrar aos meus companheiros que devíamos seguir o intuito do seleccionador", destacou.


Só falta Portugal conquistar Jerusalém

ALEXANDRA LUCAS COELHO  11/07/2016

Depois do que vi no domingo, mesmo sem televisão e a vários milhares de quilómetros, do Terreiro do Paço à cave da última conciérge de Paris, é chegada a hora de Portugal cumprir o sonho que o levou aos quatro cantos do planeta.

1. Creio estar no lugar certo para dizer isto, não planeei, mas aconteceu. Por motivos profissionais tenho pensado bastante no Encoberto, e acho que é chegada a hora. Depois do que vi no domingo, mesmo sem televisão e a vários milhares de quilómetros, do Terreiro do Paço à cave da última conciérge de Paris, é chegada a hora de Portugal cumprir o sonho que o levou aos quatro cantos do planeta, às sete partidas do mundo e, para chegar em forma ao Campeonato do Mundo, conquistar já a derradeira taça, essa Taça da Cristandade que é Jerusalém. Fernando Santos, Cristiano Ronaldo, Pepe, Rui Patrício, Éder, Renato Sanches (nada de cortar as rastas, por favor), estou à vossa espera, aqui debaixo da minha nogueira. Uma oliveira seria mais bíblico, mas será tudo vosso de qualquer forma, Logo iremos ao Monte das Oliveiras, e ao poente, que é mais bonito. Tragam só o repelente, que este ano os mosquitos estão terríveis (é sério).

2. Os judeus têm aquele ditado, no próximo ano em Jerusalém, mas isso agora calha bem é aos franceses, multiplicando por quatro. Alô, francius, vemo-nos em 2020, e rezem para não jogar com Portugal logo. Quem mandou mudarem-se todos para Lisboa? Estava-se mesmo a ver que em breve Lisboa seria uma quinta-coluna no reinado gaulês. Vão mas é treinando os abdominais a ver se chegam aos calcanhares de Ronaldo, e adieu. Depois do Assírio, do Persa, do Grego e do Romano, o Quinto Império será já este ano, e português, claro, como antevia o padre Vieira na sua História do Futuro, no seu Clavis Prophetarum, desde os calabouços da Inquisição. Chega de esperar, chega de nevoeiro, chega de Encobertos, é o momento. Imagino que, lá no sítio onde Deus guarda os reis de Portugal depois de mortos, até D. Manuel chorou no domingo, quando aquele francês que tem um nome parecido com peyote transformou Ronaldo num Cristo. D. Manuel, ele que tanto quis levar a grandeza de Portugal ao Bastião da Cristandade, terá certamente reconhecido em Fernando Santos (repararam no nome?) o Último dos Cruzados. E, depois da Vitória, o mister confirmou a profecia, lendo aquela carta escrita muito antes de 10 de Julho, em que ele já começava dizendo: “Quero agradecer a Deus Pai por este momento e por tudo na minha vida” e terminava com o desejo: “Ir falar com o meu maior Amigo e sua Mãe. Dedicar-lhe esta conquista e agradecer-lhe por me ter convocado e concedido o dom da sabedoria, da perseverança e da humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Por tudo o que faço, espero e desejo seja para Glória do Seu Nome.” Mister Fernando Santos, é Portugal inteiro mais a diáspora que lhe agradece, e creio que todos agora lhe entregariam de coração esta nova Conquista. Tem tempo de pensar no Campeonato do Mundo, vá ver a família, dar uns mergulhos, e entretanto acarinhe esta ideia, com afecto, como diria o presidente Speedy Gonzalez, aka Marcelo. Nem precisa de se preocupar com Meca, que quando Afonso de Albuquerque tentou não deu lá grande resultado. Esqueça o Mar Vermelho, se por acaso estava a pensar nisso, parece que as praias são boas, mas aquilo está sempre um bocado engarrafado. Vá antes pela Portela, e guie de lá os moços até Jerusalém. Parece que agora no Verão há voos directos duas vezes por semana, domingo, depois quinta. Olhe, quinta é um dia óptimo, véspera de dia santo para os não-cristãos, fica tudo aberto até mais tarde, pão fresquinho à noite, e o que é um bom cristão sem pão? Quando chegarmos a domingo já o senhor tem a Taça. Além disso, o Santo Sepulcro está em obras, tudo cheio de andaimes, muito esconderijo, vai ser canja.

3. Não percebo nada de futebol, mas é como religião. Gosto de ver os jogadores como as aldeias gostam de ver as procissões, porque é bonito de ver, as pernas, os abdominais, o tronco de Ronaldo, as rastas de Renato Sanches, o redemoinho de Rui Patrício. É bonito de ver quando marcam golo, aquele monte de homens a atirarem-se uns para cima dos outros. E sobretudo é bonito ver quem gosta de futebol a ver futebol, conhecidos e desconhecidos, toda a gente (menos hooligans apoiantes do Brexit). Fico feliz que estejam felizes, que acreditem, começo logo a chorar (juro pela minha saúde). Nem posso ver coisas como no domingo, lembro-me das pessoas de quem gosto que gostam de futebol, e se alguma coisa corre mal, o que elas vão sofrer. Uma aflição. Então não vejo, fico a torcer para que corra tudo bem, para elas serem felizes.

4. E como se viu no domingo, fé e futebol são tão inseparáveis como Portugal e o Quinto Império, pelo menos do ponto de vista dos actuais Campeões da Europa e do seu mister, futuros condecorados com a Ordem de Mérito. Aqui, debaixo da minha nogueira, suspeito aliás que Marcelo aka Speedy Gonzalez também estava destinado a ser o presidente de todos os portugueses no 10 de Julho. Estou a imaginá-lo em Jerusalém a acordar antes do primeiromuezzin, do primeiro rabino, a pôr o statu quo do Santo Sepulcro num virote, tudo a mexer, com muito afecto. Ainda não me tinha ocorrido, mas é fascinante pensar na aplicação de Marcelo ao conflito israelo-palestiniano.

5. Porque, vejam bem, ainda há isso. Ao conquistar Jerusalém, Portugal acabará com este imbróglio que forçou todos os líderes americanos, europeus, árabes, até mesmo alguns israelitas, a dizer que o queriam solucionar, quando nenhum deles, claro, tinha a menor intenção de o fazer. O Quinto Império do Mundo, essa Era do Bem que reinará por mil anos até ao Juízo Final, vai finalmente pôr fim a este fartote que tanto emprego criou ao longo das décadas, tanta comissão, tanta cimeira, tanto telegrama, tanto fax, tanto telefonema de Tony Blair para Bush, tanto email pessoal de Hillary Clinton. Fernando Santos irá ao Muro das Lamentações, à Esplanada das Mesquitas e finalmente ao Santo Sepulcro onde os guardiões ortodoxos da Cristandade hoje teclam nos seus smartphones, sentados junto à coluna que diz Ò To the Holy Tomb (que me caia uma noz na cabeça se não é verdade). A todos pedirá Confiança, União neste momento decisivo da Humanidade, fará ouvidos moucos aos descrentes, aos trocistas, e jurará só ir embora no último dia de 999 da Era do Bem. Segue-se o Juízo Final, mas não vale a pena estarmos a pensar agora nessa parte. Façamos como D. Manuel, e aquela fatia messiânica da sua corte que acreditava na Derradeira Cruzada, ou como o seu descendente D. Sebastião, que também lá estará, no lugar onde Deus guarda os reis de Portugal, ou o seu descendente D. João III, em cujas mãos o padre Vieira depositou o Quinto Império. Todos eles tiveram Fé, sem estarem a pensar no problema do Juízo Final. Mil anos dá para muitos Campeonatos da Europa e do Mundo, e o Encoberto já deixou de o ser: chama-se Fernando Santos, tem consigo toda a Humanidade que fala português com sotaque de Portugal ou luso-descendente, e ainda o embaixador dos EUA em Lisboa. Ficou algum português de fora? Pacheco Pereira? Que venha também, mesmo sem ver a bola, isto aqui é tudo gente do Livro. Porque onde o padre Vieira achou que tudo (re)começaria em 1666, o que afinal estava escrito nas estrelas era o Ano da Graça de 2016.

Éder: "O povo português merece"

Fernando Santos: "Desta vez não digam que foi demérito dos adversários"

Cuidado connosco!

MIGUEL ESTEVES CARDOSO  11/07/2016

Com que então a França não podia falhar. E falhou. E a selecção portuguesa não podia ganhar sem o Cristiano Ronaldo. E ganhou. A França tinha uma equipa tão jovem, tão fresca, tão invencível, tão favorita. E a última vez que perdeu com Portugal foi em 1975. E, no entanto, perdeu. Com Portugal. Em 2016. Sejam bem-vindos a 2016.

Quem é que ganhou? A França ganhou a esperança de ganhar o Euro 2016. Tinha a certeza que ia ganhar. Mas perdeu. Por 1-0. Nem um golo conseguiu marcar a Portugal. Nem sequer conseguiu chegar aos penáltis. Era o mínimo que pediam os pacientes adeptos franceses.

Nunca a selecção teve um público à altura. Até hoje. Em Paris, na capital da França, os adeptos – sobretudo os emigrantes que lá vivem – souberam puxar pelos jogadores, dando-lhes força, dando-lhes crença e dando-lhes vontade de ganhar aquela merda.

Os ditos peritos, incluindo quase todos os portugueses, habituados às previsões fáceis e a seguir as opiniões dos colegas estrangeiros, mostraram as cores e a verdadeira alegria de ver o nosso país ganhar contra todas as estatísticas e todos os lugares-comuns. Deram o braço a torcer. Ou fingiram que sempre acreditaram que Portugal seria campeão da Europa. Pois sim, meus filhos. Juntem-se à festa que também fazem cá falta.

Ser campeão da Europa significa que ninguém foi capaz de nos bater. Todas as outras selecções foram derrotadas. Esta é que é esta. O Fernando Santos bem avisou ao que vínhamos.

Viemos para ganhar e ganhámos. A França que nos perdoe. Mas já era tempo de saber o que todas as outras equipas da Europa já sabiam: que é doloroso perder contra Portugal. Sobretudo quando se está convencido que isso é impossível.

Portugal foi o único país que foi ao Euro ganhar o que todas as outras equipas queriam mas, matematicamente e futebolisticamente, só uma equipa pode ter: a taça.

Agora vou reler todas aqueles sábios vaticínios que me garantiam que Portugal, apesar de ser bom a chegar às meias-finais, não era capaz de ser campeão. Então neste Euro. Com a França a jogar como estava a jogar. E sem Cristiano Ronaldo, então...

Pois é, meus queridos. Agora a conversa passa a ser outra: Portugal só foi campeão da Europa de 2016 a 2020. Mas aqui vos garanto: esta foi apenas a primeira vez. Também houve uma primeira vez em que chegámos a uma meia-final. E outra em que chegámos a uma final. Pois esta foi a primeira vez em que fomos campeões.

Tudo indica que estamos a apanhar o gosto de sermos campeões.
Cuidado connosco!


O batismo do avião da seleção com as cores da bandeira portuguesa

A chegada da Seleção: somos os campeões, we are the champions




Avenida dos Aliados

Portugueses silenciam a Marselhesa


JOÃO SOARES NETO  13/07/2016

A Família Real portuguesa, em 1808, com medo da França e de Napoleão fugiu para o Brasil. Agora, neste 2016, de forma pacata, mas varonil, Portugal demonstra, em Paris, de forma esportiva, a vez dos pequenos.

Sou João, igual a meu avô paterno, Soares. Esse nome vem de longe. Desde o século 12. Começou com outro João Soares, esse de Pávia, nome de rio e lugarejo ao norte de Portugal. Esse João Soares foi poeta/trovador, considerado, por muitos, como o precursor da literatura galego-portuguesa. Poderia, tal meus irmãos, ter sido Caminha, ou, como meus avós maternos, Saraiva e Monteiro. Em verdade, digo, o que importa não é o nome, nem a sua origem. O que dá sentido aos nomes é o alvitre das nossas vidas, hoje. Não o dos ancestrais.

Esse parágrafo acima é para falar da descendência portuguesa, tão humilhada nos últimos tempos, pela migração como alívio para o pequeno país ibérico que, no século 16, tornou-se o grande descobridor, dono de novas terras e de novos caminhos para o mundo que saía da Idade Média.

No começo do século 20, tais quais nordestinos, portugueses passaram a migrar em busca de novas oportunidades. A França foi um desses destinos. Depois, nos anos 1940 e 1960, novas correntes migratórias inundaram os países tidos como ricos na Europa Central. Entre eles, a França.

Hoje, moram em França 600 mil portugueses genuínos, quase todos ocupando funções subalternas como porteiros, pedreiros e empregados de hotel. Esses velhos ou quase velhos, 600 mil têm famílias, e delas surgiram filhos de portugueses que, juntos com os ascendentes, devem somar mais de um milhão de pessoas. Entre elas, há importantes figuras políticas, empresários bem-sucedidos e cientistas renomados.

Domingo passado, no Estádio da França, em Saint Denis, completamente lotado, entre os 75 mil espectadores havia um bom espaço povoado por portugueses, vindos de todas as partes da Europa. Decidia-se a Eurocopa, um bilionário campeonato de futebol com transmissão simultânea para dezenas de países.

Portugal vinha de campanha nutrida de empates, vitória apenas em prorrogação, e era candidato a vice, pois a valorosa equipe gaulesa, com todo o apoio dos seus torcedores, inclusive a presença de François Hollande, Presidente da República. A França cantava de galo, o símbolo aposto em suas camisas azuis. Entoavam alto a Marselhesa, o seu hino de louvor à pátria.

Era noite de domingo, 10 de julho de 2016. Despontavam, nas duas seleções, descendentes de emigrados de antigas colônias africanas. Pois foi um desses, Eder, o herói da partida, homônimo do nosso boxeador Éder Jofre, exato aos 11 minutos, na segunda etapa da prorrogação, quem pôs a França em “Knockout”. Ele entrou, saído do banco de reservas, para a glória, essa volúvel palavra e sensação que atrai vaidades. Poderiam ser outros, pois, repito, em ambas as seleções pululavam filhos de africanos.

O fato é: Portugal venceu. O futebol prega peças, iguala os diferentes em átimos de talento, lampejos de força e de descortino. Assim, de fora da área, saiu o golo, na versão lusa, que daria o primeiro grande título internacional a Portugal. A França já fora bafejada, vezes sem conta, pela volúvel glória.

A Família Real portuguesa, em 1808, com medo da França e de Napoleão fugiu para o Brasil. Agora, neste 2016, de forma pacata, mas varonil, Portugal demonstra, em Paris, de forma esportiva, a vez dos pequenos.

Para o Senhor dos destinos, Cristiano Ronaldo foi liberado do jogo, ao se contundir. Bastavam os demais, não tão famosos, mas briosos. Como diz estrofe do Hino Português: “Levantai hoje de novo/ o esplendor de Portugal”.

Escritor e empresário brasileiro


Aliados encheram para a noite mais feliz do futebol português

Como a imprensa viu a vitória de Portugal

















Imagens do EURO

















































Centeno com o cachecol da Selecção é felicitado no Eurogrupo




Centeno com o cachecol da Selecção é felicitado no Eurogrupo




Portugal’s Bruno Alves celebrates with his daughter and the trophy after winning Euro 2016 against France in the Stade de France




A supporter displays a French flag in the Paris fan zone in front of the Eiffel Tower.




France’s Olivier Giroud heads the ball under pressure from the Portugal defence.




Portugal’s Cristiano Ronaldo is carried off on a stretcher during the Euro 2016 Final at the Stade de France, Paris.

Portugal fans in the stands prior to the match.

France’s Andre Pierre Gignac shoots past Portugal goalkeeper Rui Patricio, to hit the post

A general view of the action during the Final at the Stade de France.

Portugal’s Eder scores his sides only goal of the match.

France players appear dejected at full time of the Final at the Stade de France.

Portugal’s Cristiano Ronaldo celebrates with team mates and the trophy after winning Euro 2016.


Date: July 10, 2016



Result: Portugal 1 France 0



Scorers:

Portugal: Eder109

France: none



Venue: Stade de France, Paris







Cristiano Ronaldo (C) of Portugal celebrates with the trophy on stage in Lisbon after winning the UEFA EURO 2016 against France




Portugal players celebrate their victory with Portugal's President Marcelo Rebelo de Sousa (C) at Belém Palace after winning the UEFA EURO 2016 against France


Nani of Portugal Celebrates with the Henri Delaunay trophy at the end of their UEFA EURO 2016 final match against France

Pepe (C) of Portugal of lifts the Henri Delaunay trophy at the end of their UEFA EURO 2016 final match against France




























Euro 2016 finally got underway on Friday, as Dimitri Payet's stunning strike gave France a 2-1 win over Romania and reduced the West Ham attacker to tears

The footballing action may have started at Euro 2016, but disgraceful scenes of hooliganism have dominated the opening two days, with England, Russia and local French fans seemingly most at fault.

Luka Modric's superb volley was enough for Croatia to beat Turkey, though Ozan Tufan might feel he could have done more to stop it as replays showed him tidying his hair instead of closing the Real Madrid man down…

Fellaini's nest is second best: Much-fancied Belgium met their match and more on Monday as well-drilled underdogs Italy put two past the star-studded Red Devils without a response.

Frozen out! After receiving a threatening message from Game of Thrones' The Mountain last week, Cristiano Ronaldo fared poorly in a 1-1 draw against a hard-fighting Iceland side.


Joachim gets low for a sniff: The Germany boss promised to conduct himself more accordingly after being caught giving his hand a whiff after scratching his genitals

After Jamie Vardy and Daniel Sturridge both came off the bench to score and turn the game on its head, St George's England managed to slay the Welsh dragon with a 2-1 win

Crowd trouble again overshadowed Euro 2016 as Croatia's players were left to act as peacemakers after a group of supporters threw a series of flares onto the pitch during their clash with Czech Republic…


A tight encounter: Cristiano Ronaldo appeared to be wearing women's tights as he arrived for Portugal's clash with Austria, a match in which the attacker missed several clear chances to score.

Group B came to its conclusion on Monday, with Gareth Bale and Wales finishing on top to be crowned Britain's best ahead of Wayne Rooney and England

Luka Modric may have missed Croatia's clash with Spain at Euro 2016, but he still played a massive role in their win after his message from the bench led to Real Madrid club-mate Sergio Ramos missing from the penalty spot…

Cristiano Ronaldo put his mic-throwing antics behind him with two goals in Portugal's 3-3 draw with Hungary, while there will be celebrations in Iceland and Ireland as the two sides made it to the knock-out rounds


Iceland's remarkable Euro 2016 journey continued on Monday as they defeated England 2-1, with the Vikings sinking Roy Hodgson, Wayne Rooney and Joe Hart…


Wales' remarkable Euro 2016 run continued on Friday as Chris Coleman's side defeated Belgium 3-1 to set up a semi-final clash with Portugal, pitting Gareth Bale against Cristiano Ronaldo... 

Germany finally beat Italy in a major tournament as they reached the Euro 2016 semi-finals, with Simone Zaza's grasshopper run-up and subsequent missed penalty leading to tears from goalkeeper Gianluigi Buffon..

France's dominant 5-2 win over Iceland set up a sweet-smelling semi-final with Germany but who will come out on top between the two heavyweight nations...


From choker to joker: Ronaldo's form has taken a dramatic turn for the better at Euro 2016 while eternal rival Lionel Messi faces prison time for tax fraud...

Not-So-Super Schweini! The Germany captain's body was all over the place as he handled the ball while trying to clear a set piece in his own box, leading to Antoine Griezmann's first goal for France


Two men, two prizes, one game: With Cristiano Ronaldo and Antoine Griezmann both in the running for the Ballon d'Or, winning the Euro 2016 final would go a long way to securing the annual award...




Portugal were crowned Euro 2016 champions on Sunday, with Cristiano Ronaldo going off injured but putting his captain's armband back on to lift the trophy as an Eder goal gave them a 1-0 win over France in Paris...