sábado, 29 de junho de 2013

Charles Chaplin



“Sinto muito, mas não pretendo ser imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar todos se possível, judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver para a felicidade do próximo e não para o seu infortúnio. Não desejamos odiar ou desprezar.
Neste mundo há espaço para todos. A querida Terra é rica e pode prover às necessidades de todos. O caminho da vida pode ser livre e lindíssimo, porém, nós perdemos o rumo.
A ganância envenenou as nossas almas, levantou muralhas de ódio, fez-nos chegar à miséria e ao derramamento de sangue. Desenvolvemos velocidade, mas isolámo-nos uns dos outros. A maquinaria que nos poderia dar abundância, deixou-nos na penúria. O nosso conhecimento tornou-nos cínicos e a nossa inteligência, cruéis e egoístas. Pensamos demais e sentimos de menos.
Mais do máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de compaixão e gentileza. Sem estas virtudes, a vida será violenta, e tudo estará perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destas coisas apela à bondade, apela à fraternidade universal para sermos todos um. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões em todo o mundo, milhões de homens, mulheres e crianças desesperadas, vítimas de um sistema que põe homens a torturar e encarcera inocentes.
Aos que me ouvem, eu digo:
Não desespereis. A miséria que nos assola é simplesmente o último suspiro da ganância. A amargura de homens que temem o progresso humano. O ódio dos homens desaparecerá e os ditadores sucumbirão, e o poder que arrebataram ao povo regressará ao povo. Enquanto morrerem os homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutos! Homens que vos desprezam e escravizam, que controlam as vossas vidas! Que vos ditam o que fazer, pensar e sentir! Que vos condicionam, vos tratam como gado e se servem de vós como carne para canhão! Não vos entregueis a esses desumanos, homens-máquina, com mentes de aço e corações de pedra! Não sois máquinas! Não sois gado! Homens é o que sois! E levam o amor da Humanidade nas vossas almas! Só odeiam os que nunca foram amados. Os mal-amados e os desumanos. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! (…) Vós, o povo, tendes o poder! O poder de criar máquinas, de criar felicidade! Tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazer dela uma aventura maravilhosa. Então, em nome da democracia usemos esse poder! Unamo-nos! Lutemos por um mundo novo. Um mundo decente que assegure a todos a oportunidade de trabalho, que dê futuro à juventude e segurança à velhice. Com estas promessas, os desalmados subiram ao poder. Mas eles mentem. Esses não cumprem as suas promessas, nunca cumprirão! Os ditadores libertam-se mas escravizam o povo! Lutemos agora para cumprir essas promessas! Lutemos para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, pôr termo à ganância, ao ódio e à intolerância. Lutemos por um mundo de razão. Um mundo no qual a ciência e o progresso conduzam à felicidade de todos nós.

-Soldados! Em nome da democracia, unamo-nos!”

Charles Chaplin, in "O Grande Ditador" de 1940.

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