domingo, 21 de julho de 2013

NATUREZA E ECCEIDADE



Henri Matisse, Nu Azul II, 1952. 

O ser-se pessimista e o ser-se optimista relativamente à natureza humana constituem duas maneiras de ver o mundo igualmente capazes de desencadearem gasto de tempo, decréscimo de energia e desperdício de palavras. Não que escasseiem argumentos para suportar as teses provenientes de ambos os lados, mas porque nada garante que haja uma natureza humana, no sentido de uma essência imutável pelos séculos dos séculos. Tanto quanto podemos constatar, somos semelhantes em aspectos vários, todavia não redutíveis a um modo fixo e eterno de existir.
Duns Escoto usava o termo haecceitas para se referir ao princípio da individuação. A ecceidade é, portanto, aquilo que faz com que uma entidade seja ela mesma e se distinga de qualquer outra. Aplicando noções aristotélicas, diremos que a ecceidade não é a matéria, nem a forma, nem sequer o composto. Então é o quê? É a realidade última da coisa. Porém, esta definição embacia mais do que ilumina. Quase parece que a ecceidade se resume a um vocábulo empregue para circunscrever o que não é delimitável, para aludir ao que não é traduzível. Ainda assim, tal conceito encerra a grande virtude de nos alertar para o concreto, o singular, o imprevisto. Em simultâneo, obriga-nos a repensar, por exemplo, as teorias políticas baseadas em firmes perspectivas acerca da natureza humana: as pessimistas, as optimistas e as intermédias. Prudente seria que elas se apoiassem na ecceidade e valorizassem a narrativa de cada pessoa. Claro que isso costuma resultar num exercício longo e trabalhoso.

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