René Magritte, O Império das Luzes, 1954. |
Entende David Hume que só há três princípios de conexão de ideias, princípios susceptíveis de lhes conferirem método e regularidade: a semelhança – por exemplo, a pintura de um cisne em lacustre superfície desperta-nos para a ave majestosa e para o remanso de água que lhe serviram de inspiração –, a contiguidade no tempo e no espaço – mencionar a janela que de súbito se ilumina traz-nos à lembrança noites fechadas, cortinas vaporosas, vidros baços – e a causalidade – eflúvios emanados de pocilga (causa) obrigam-nos a adivinhar incómodos olfactivos nas imediações (efeito). Admitamos que Hume tem razão, embora alguns pontos merecessem ser amplamente discutidos.
Acrescenta este cavalheiro empirista que «mesmo nos nossos mais desordenados e errabundos devaneios, ou antes, nos nossos sonhos, verificaremos, se nos entregarmos à reflexão, que a imaginação não deambulou ao acaso» (1). Tal nota remete-nos, em parte, para o âmbito do inconsciente, seja do individual, sobretudo o da concepção de Freud, seja do colectivo, em concreto o da teoria de Jung. Também aí (perguntar-se-á) a associação de pensamentos obedece, de forma rigorosa, à tríade proposta pelo filósofo escocês? Se a resposta for negativa, então será difícil expor, com recurso a leis da mente, leis que excedem a mente e suas leis. Se a resposta for afirmativa, então talvez nenhum mistério, para lá dos sentidos, gere em nós afinal grande surpresa.
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