Hieronymus Bosch, A Ascensão para o Paraíso Celestial (pormenor), c. 1500-04. |
As chamadas experiências de quase-morte – uma designação com que Raymond A. Moody, emLife After Life (1975), se refere a um conjunto de vivências que inclui o flutuar fora do corpo, o sentir-se consciência pura, a quietude e a paz, as boas-vindas recebidas de amigos e entes queridos que já habitam o Além, uma estranha percepção do tempo, vibrações e ruídos, música celestial, o túnel obscuro, a claridade ao fundo, deslumbrante e amorosa, cálida e inefável, o ser de luz, a revisão panorâmica dos dias idos, a barreira de água, a porta e a névoa, a linha e a sebe, a necessidade de regresso e o desejo de partir –, as chamadas experiências de quase-morte, dizíamos, não são suficientes para provar cientificamente que há vida depois da morte. Não o são, mas quase.
O segredo parece residir no tal limite que não se chegou a transpor e que, uma vez transposto, inviabilizaria o retorno. De qualquer modo, tudo isso acaba por deixar intacta a dúvida mais séria. Até excluindo a hipótese de eventos do género se reduzirem inteiramente à mera ilusão, é legítimo admitir que, após atravessar a alegada fronteira, a consciência se dissolva em nada – mesmo se, no instante anterior, ela vislumbrou alguma coisa (e só aqui residiria o equívoco) para lá dessa fronteira. A ser verídica semelhante conjectura, as experiências de quase-morte equivaleriam à quase-morte das experiências.
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