quarta-feira, 24 de julho de 2013

BPN: A promiscuidade e, claro, o roubo



O chamado "caso BPN" é o maior exemplo da promiscuidade existente entre a política e o sector financeiro - além de um roubo, naturalmente. A factura desta gigantesca fraude levará anos a ser paga pelos contribuintes, que esperam os resultados da investigação policial e vão assistir à segunda comissão de inquérito. Ao fim de todos estes anos, infelizmente, continuamos a não ter certezas, nem sequer sobre se a nacionalização do BPN foi a melhor solução. Até disto já podemos duvidar, sobretudo quando o valor da factura desta decisão, que ainda não está completamente auditada, parece não parar de crescer. Visto da actualidade, o "risco sistémico" que foi na altura arguido em favor desta opção parece não valer a sangria ao Estado feita através da intervenção da Caixa Geral de Depósitos. Por outro lado, também nunca foi explicada de forma clara a relação do Presidente Cavaco Silva com os seus "amigos", pessoais e políticos, em particular a permuta do terreno onde construiu a casa de férias na Quinta da Coelha, avaliado pelo mesmo valor da casa de Montechoro, ficando assim isento de impostos - um negócio que, avaliado à luz do mercado imobiliário, tem todos os ingredientes para fazer inveja a qualquer outro português. Mais uma vez, apesar das várias tentativas, e das perguntas que endereçámos ao Presidente, não houve respostas.

Este trabalho jornalístico que começamos hoje a publicar coincide com o arranque de uma segunda comissão de inquérito, que vai da nacionalização à reprivatização (a venda ao BIC), sem esquecer o passado e as conclusões do anterior inquérito parlamentar. Do que se trata é de facultar aos leitores o máximo de informação possível sobre este caso, para que todos possam formar a sua opinião. Para isso, recorremos a inúmeras conversas, à consulta de milhares de documentos, num trabalho que levou meses a ser executado.

A discussão política é importante. Mas o verdadeiramente fundamental é que, em qualquer circunstância, se apure no plano judicial tudo aquilo que houver para apurar. Não é tolerável que na sociedade portuguesa continue a fazer caminho a perigosa ideia de que a justiça é cega perante os poderosos. As evidências deste caso são muitas. Os cidadãos não deixarão de estar atentos quer à coragem dos políticos quer à vontade dos investigadores.



Um banco que dava milhões a quem pedia


por DN.ptHoje

Enquanto ao comum dos mortais eram exigidos uma pilha de documentação e garantias para assegurar um empréstimo para a compra da casa, durante vários anos o BPN estendeu uma passadeira vermelha a um grupo restrito de pessoas: dos processos que decorrem nos tribunais e das auditorias realizadas nos últimos anos, percebe-se que praticamente bastava pedir crédito.

Sendo que Oliveira e Costa parecia ter uma especial predilecção por terrenos, já que grande fatia deste tipo de crédito tinha como finalidade o investimento no sector imobiliário. O DN faz uma radiografia sobre os maiores créditos concedidos, passando por contratos de publicidade com Scolari e Figo e ainda os pagamentos feitos em numerário a membros do antigo conselho de administração do banco

Miguel Cadilhe continua convicto de que tinha a solução para o BPN com um custo mínimo, de 600 milhões, para os contribuintes.

O economista, que presidiu seis meses ao grupo BPN/SLN, conta que encontrou "ilicitudes graves e negócios ruinosos" e acusa o Banco de Portugal de inoperância e silêncio. Crítica a opção de Teixeira dos Santos pela nacionalização e acusa Vítor Constâncio de nada ter feito na fase das "desonestidades" e de ter sido enérgico na oposição ao seu trabalho: "Asfixiou o BPN privado".

Ascenção e queda do 'Zeca Diabo'


por DN.ptHoje

Oliveira e Costa ia de bicicleta para o primeiro emprego, mas alcançou outra velocidade. Esta é a história do bancário "autoritário e desconfiado" (diz quem trabalhou com ele) que só queria "criar riqueza para o bem da sociedade".

"Eu, na vida, sempre preferi ser invejado do que lastimado." Dez anos depois, a frase cola-se, com ironia, ao perfil de José Oliveira e Costa. O rapaz que ia para o trabalho de bicicleta, mas depressa se tornou o ministro do carro desportivo "berrante" e no banqueiro "de sucesso" mais badalado do País, era invejado, sim. Mas dele pouco resta. Hoje, caído em desgraça, o homem "centralizador e autoritário" é lastimado pelos poucos que dele aceitam falar. E deixa uma grande história para contar.


Cavaco e amigos do BPN têm segurança permanente
por DN.ptHoje

DN teve acesso à escritura da permuta que Cavaco Silva alegou não se lembrar onde tinha assinado. Presidente trocou pelo mesmo valor a casa de férias em Montechoro por uma na Aldeia da Coelha, ao pé de Oliveira e Costa e Fernando Fantasia. Há dois militares da GNR em serviço permanente ao longo de todo o ano.

Chamam-lhe Urbanização da Coelha, mas da estrada das Sesmarias, Albufeira, não há qualquer indicação com esse nome. Uma mulher que passa na berma da estrada explica que "se tem de seguir a placa do Hotel Baía Grande" para chegar à casa de férias do "senhor Presidente"

A fraude que pode custar 8,3 mil milhões

por DN.ptHoje

Fotografia © Diogo Maia/Global Imagens


O Estado já gastou 3,55 mil milhões de euros com o BPN, mas a factura pode chegar aos 8,3 mil milhões. Até sexta-feira, o DN mostra como se chegou a este 'buraco', a teia de negócios que 'cheira' a fraude, os protagonistas das diferentes fases do BPN, os 356 processos em curso por todo o País, a supervisão do Banco de Portugal e a venda ao BIC.


O dinheiro público preso ao Banco Português de Negócios chegaria para pagar os subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos até 2015, altura prevista pelo Governo para a sua reposição gradual. Até agora o Estado já gastou com a nacionalização do BPN 3,5 mil milhões de euros, mas no pior dos cenários o banco vendido ao BIC, por 40 milhões, poderá custar aos bolsos dos contribuintes 8,3 mil milhões. Uma factura que pode variar de acordo com o que render os despojos do BPN que ficaram nas mãos do Estado.

O custo final é, para já, impossível de contabilizar com precisão, mas os portugueses podem saber detalhadamente o ónus que arriscam a pagar de uma despesa contraída, sobretudo, por bancários, administradores e políticos e cuja data-limite de pagamento está afixada para 2020. Nessa altura, daqui a oito anos, as sociedades veículo criadas para abrigar o "bad bank" (as coisas más do banco, que o Governo retirou do negócio da venda) terão de estar liquidadas. Até lá, os impostos dos contribuintes vão pagar uma instituição bancária que "cheira" a fraude e que já levou ao banco dos réus 16 arguidos, entre eles José Oliveira e Costa, que presidiu o banco entre 1998 e 2008.

Com a ajuda de economistas, especialistas da banca, documentos internos do banco, do Governo e da União Europeia o DN fez as contas, para ajudar o contribuinte a perceber a factura detalhada do que vai pagar e a potencial perda associada à primeira nacionalização dos últimos 30 anos.

Entre o que o Estado pode vir a suportar há uma "bomba-relógio" que se destaca e assusta os mais atentos: os 3,9 mil milhões de euros que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem de exposição nas empresas (veículos) criadas para absorver os ativos tóxicos do BPN para permitir o negócio da reprivatização. Tavares Moreira, governador do Banco de Portugal entre 1986 e 1992, explica que "só quando estes veículos forem liquidados, o que poderá só acontecer daqui a oito anos, é que se saberá a verdadeira perda do BPN. O relatório da terceira avaliação da troika indicou que só agora irá começar o processo de liquidação dos veículos". Ou seja: ainda falta muito para se saber quanto se vai perder. A certeza é que vai ser muito, segundo garantem os economistas.

"Acredito que há poucos ativos recuperáveis e o que não for recuperável o Estado será obrigado a pagar à Caixa", acrescenta Tavares Moreira. Consideração partilhada pelo especialista em banca e professor na Universidade Nova de Lisboa, Paulo Soares Pinho, que explica que "o que passou para as sociedades-veículo são ativos que ninguém quer, muitos devem valer zero".

Governo colocou gestores a ganhar 17 mil euros/mês

por DN.ptHoje

Mesmo sendo do Estado, o BPN continuou com hábitos antigos de pagar bem à administração. Em 2009, o presidente, Francisco Bandeira, acumulou os 15 350 euros de salários como 'vice' da CGD com os 63 070 do BPN, tornando-se o mais bem pago da Caixa, superando Faria de Oliveira. Os vogais do Conselho de Administração ganharam, cada um, mais de 600 mil euros ao longo dos três anos que estiveram no banco

O banco estava falido, mas tal não impediu que os administradores nomeados pelo Estado usufruíssem de salários milionários durante três anos. Cada um dos quatro vogais da administração foram para o BPN, em 2009, ganhar 16 960 euros por mês, mais do dobro do salário do Presidente da República (6958 euros).


Corrida ao crédito no BPN após nacionalização


por DN.ptHoje

Pedidos de crédito incluem grandes construtoras como a Mota-Engil e o Grupo Lena, empresas do agora comprador do BPN, Américo Amorim. Algumas públicas, como TAP e CP, também bateram à porta do banco.

Pode um banco falido ser actrativo? Pode. Sobretudo se tiver o Estado por detrás. Após a nacionalização houve uma verdadeira corrida ao crédito no BPN, que incluiu vários grandes grupos privados do País. Mota-Engil, Grupo Lena, Soares da Costa, Amorim, Visabeira e Sonae fazem parte das mais de meia centena de empresas que em apenas três meses (de março a maio de 2009) procuraram financiar-se junto do banco, de acordo com as agendas do Conselho de Crédito do BPN, a que o DN teve acesso.

Caras do BPN deram 130 mil para campanha do Presidente

por DN.ptHoje

Lista presente nas contas do Tribunal Constitucional mostra que onze figuras com ligações à SLN contribuíram com 6% dos donativos particulares da campanha de 2006, que no total rondaram os dois milhões de euros.

O BPN atingiu o coração do cavaquismo. Utilizando a expressão "tiro ao Cavaco", da autoria de Marcelo Rebelo de Sousa, o processo BPN é claramente uma das balas mais perigosas para o atual Presidente da República (PR). Além dos negócios com o banco (ainda que altamente lucrativos, todos legais) e de ex-ministros seus estarem envolvidos, o DN descobriu 11 figuras ligadas à Sociedade Lusa de Negócios (SLN) entre os financiadores da corrida de Cavaco Silva a Belém em 2006


O BPN dava um filme indiano

Não imaginam quanto lamento não ter o tempo nem o talento para digerir os 70 volumes e 700 apensos do caso BPN e escrever um thriller baseado nos factos reais da maior fraude portuguesa do século. A realidade supera sempre a ficção. Duvido que John Grisham fosse capaz de imaginar a cena do juiz presidente do coletivo ter de fazer uma coleta para comprar no IKEA uma estante para arrumar o processo - que lhe foi negada pela DG da Justiça.

A galeria de personagens é estupenda. Ken Follet teria de nascer duas vezes para conseguir inventar um naipe tão rico, denso e variado. No protagonista, Oliveira e Costa, que por alguma razão era conhecido na sua terra (Esgueira) como Zeca Diabo, e que munido de um cartão laranja subiu na vida ao ponto de chegar a secretário de Estado.

Saído do Governo de Cavaco, na sequência de um perdão fiscal mais que suspeito a empresas de Aveiro (Cerâmica Campos, Caves Aliança), foi recompensado pelo seu amigo com uma vice-presidência do BEI, apesar de ter um inglês ainda mais rudimentar que o de Zezé Camarinha.

Amigo do seu amigo, Costa comprou, em 2001, um lote de ações da SLN (dona do BPN), a 2,4 euros cada, que revendeu com prejuízo (a um euro/acção) ao amigo algarvio (o Aníbal, não o Zezé) e à filha dele. Menos de dois anos depois, Cavaco e Patrícia venderam as ações com um lucro de 140% - ele ganhou 147 mil euros, ela 209 mil. Nada mau.

Quando o naufrágio foi evidente, Zeca Diabo teve a dignidade de ir ao fundo com o barco, aceitou fazer de único responsável pelas patifarias. Em recompensa pela imolação, foi libertado devido "ao seu estado de saúde e por se encontrar em carência económica".

O elenco de atores secundários também é muito atraente e diversificado. Por exemplo, Manel Joaquim (Dias Loureiro), o filho de comerciantes de Linhares da Beira que chegou a ministro, conselheiro de Estado e administrador-executivo do BPN, carreira em que fez fortuna ao ponto de poder comprar, por 2,5 milhões de euros, à viúva de Jorge Mello, uma mansão no Monte Estoril.

Temos também Vítor Constâncio que, apesar de usar óculos e ser o governador do Banco de Portugal, foi o último a ver a falcatrua, anos depois da Deloitte, Exame e Jornal de Negócios terem alertado para o assunto.

E ainda Scolari, que recebia 800 mil euros/ano, Figo (apenas 400 mil/ano) e Vale e Azevedo, que sacou dois milhões (passaram-lhe o cheque antes de verificarem as garantias), e tantas outras figuras do nosso Gotha que lucraram com um banco que tinha balcões em gasolineiras e activos tão extravagantes como 80 Mirós e uma colecção de arte egípcia.

O enredo é fabuloso. Dava um filme indiano. Só espero que, na venda ao BIC, o Estado tenha tido o bom senso de reservar os direitos de adaptação ao cinema desta história, que estou certo será disputada  por 

Radiografia ao BPN


A fraude que pode custar 8,3 mil milhões
Um banco que dava milhões a quem pedia

O DN leu a escritura do terreno da casa de férias de Cavaco que ficou isento de sisa, a propriedade custou 137 mil euros e foi adquirida a amigos através de permuta.
O Estado já gastou 3,55 mil milhões de euros com o BPN, mas a fatura pode chegar aos 8,3 mil milhões. A teia de negócios que 'cheira' a fraude, os protagonistas das diferentes fases do BPN os 356 processos em curso por todo o País, a supervisão do Banco de Portugal e a venda ao BIC.
Entre o que o Estado pode vir a suportar há uma "bomba-relógio" que se destaca e assusta os mais atentos: os 3,9 mil milhões de euros que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem de exposição nas empresas (veículos) criadas para absorver os ativos tóxicos do BPN para permitir o negócio da reprivatização. Tavares Moreira, governador do Banco de Portugal entre 1986 e 1992, explica que "só quando estes veículos forem liquidados, o que poderá só acontecer daqui a oito anos, é que se saberá a verdadeira perda do BPN.
Nota: Com 8.3mil milhões dava para comprar 48 aviões Airbus A380 (o maior avião comercial do mundo), 15 plantéis de futebol iguais ao do Real Madrid, 6 TGV de Lisboa a Gaia, 4 pontes para travessia do Tejo, 3 aeroportos como o de Alcochete. Para transportar os 8.3 MIL MILHÕES DE EUROS seriam necessárias 4.800 carrinhas de transporte de valores!

BPN - João Marcelino, diretor do Diario de Noticias, considera que ?é o maior escândalo financeiro da história de Portugal".
Quarta-feira, 21 de Março de 2012

Parece anedota, mas é autêntico: dia 11 de abril do ano passado, um homem armado assaltou a dependência do Banco Português de Negócios, ou simplesmente BPN, na Portela de Sintra, arredores de Lisboa e levou 22 mil euros.

Tratou-se de um assalto histórico: foi a primeira vez que o BPN foi assaltado por alguém que não fazia parte da administração do banco.

O BPN tem feito correr rios de tinta e ainda mais rios de dinheiro dos contribuintes.

Foi a maior burla de sempre em Portugal, qualquer coisa como 9.710.539.940,09 euros.

Com esses nove biliões e setecentos e dez milhões de euros, podiam-se comprar 48 aviões Airbus A380 (o maior avião comercial do mundo), 16 plantéis de futebol iguais ao do Real Madrid, construir 7 TGV de Lisboa a Gaia, 5 pontes sobre o Tejo ou distribuir 971 euros por cada um dos 10 milhões de portugueses residentes noterritório nacional (os 5 milhões que vivem no estrangeiro não seriam contemplados).


João Marcelino, diretor do Diário de Notícias, de Lisboa, considera que ?é o maior escândalo financeiro da história de Portugal. Nunca antes houve um roubo desta dimensão, ?tapado? por uma nacionalização que já custou 2.400 milhões de euros delapidados algures entre gestores de fortunas privadas em Gibraltar, empresas do Brasil, offshores de Porto Rico, um oportuno banco de Cabo Verde e a voracidade de uma parte da classe política portuguesa que se aproveitou desta vergonha criada por figuras importantes daquilo que foi o cavaquismo na sua fase executiva?.

O diretor do DN conclui afirmando que este escândalo ?é o exemplo máximo da promiscuidade dos decisores políticos e económicos portugueses nos últimos 20 anos e o emblema maior deste terceiro auxílio financeiro internacional em 35 anos de democracia. Justifica plenamente a pergunta que muitos portugueses fazem: se isto é assim à vista de todos, o que não irá por aí??

O BPN foi criado em 1993 com a fusão das sociedades financeiras Soserfin e Norcrédito e era pertença da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), que compreendia um universo de empresas transparentes e respeitando todos os requisitos legais, e mais de 90 nebulosas sociedades offshores sediadas em distantes paraísos fiscais como o BPN Cayman, que possibilitava fuga aos impostos e negociatas.


O BPN tornou-se conhecido como banco do PSD, proporcionando "colocações" para ex-ministros e secretários de Estado
sociais-democratas. O homem forte do banco era José de Oliveira e Costa, que Cavaco Silva foi buscar em 1985 ao Banco de Portugal para ser secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e assumiu a presidência do BPN em 1998, depois de uma passagem pelo Banco Europeu de Investimentos e pelo Finibanco.

O braço direito de Oliveira e Costa era Manuel Dias Loureiro, ministro dos Assuntos Parlamentares e Administração Interna nos dois últimos governos de Cavaco Silva e que deve ser mesmo bom (até para fazerfalcatruas é preciso talento!), entrou na política em 1992 com quarenta contos e agora tem mais de 400 milhões de euros.

Vêm depois os nomes de Daniel Sanches, outro ex-ministro da Administração Interna (no tempo de Santana Lopes) e que foi para o BPN pela mão de Dias Loureiro; de Rui Machete, presidente do Congresso do PSD e dos ex-ministros Amílcar Theias e Arlindo Carvalho.


Apesar desta constelação de bem pagos gestores, o BPN faliu. Em 2008, quando as coisas já cheiravam a esturro, Oliveira e Costa deixou a presidência alegando motivos de saúde, foi substituido por Miguel Cadilhe, ministro das Finanças do XI Governo de Cavaco Silva e que denunciou os crimes financeiros cometidos pelas gestões anteriores.

O resto da história é mais ou menos conhecido e terminou com o colapso do BPN, sua posterior nacionalização e descoberta de um prejuízo de 1,8 mil milhões de euros, que os contribuintes tiveram que suportar.

Que aconteceu ao dinheiro do BPN? Foi aplicado em bons e em maus negócios, multiplicou-se em muitas operações ?suspeitas? que geraram lucros e que Oliveira e Costa dividiu generosamente pelos seus homens de confiança em prémios, ordenados, comissões e empréstimos bancários.

Não seria o primeiro nem o último banco a falir, mas o governo de Sócrates decidiu intervir e o BPN passou a fazer parte da Caixa Geral de Depósitos, um banco estatal liderado por Faria de Oliveira, outro ex-ministro de Cavaco e membro da comissão de honra da sua recandidatura presidencial, lado a lado com Norberto Rosa, ex-secretário de estado de Cavaco e também hoje na CGD.


Outro "social-democrata" com ligações ao banco é Duarte Lima, ex-líder parlamentar do PSD, que se mantém em prisão preventiva por envolvimento fraudulento com o BPN e também está acusado pela polícia brasileira do assassinato de Rosalina Ribeiro, companheira e uma das herdeiras do milionário Tomé Feteira.
Em 2001 comprou a EMKA, numa das offshores do banco por três milhões de euros, tornando-se tambémaccionista do BPN.

Em 31 de julho, o ministério das Finanças anunciou a venda do BPN, por 40 milhões de euros, ao BIC, banco angolano de Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos, e de Américo Amorim, que tinha sido o primeiro grande accionista do BPN.

O BIC é dirigido por Mira Amaral, que foi ministro nos três governos liderados por Cavaco Silva e é o mais famoso pensionista de Portugal devido à reforma de 18.156 euros por mês que recebe desde 2004, aos 56anos, apenas por 18 meses como administrador da CGD.

O Estado português queria inicialmente 180 milhões de euros pelo BPN, mas o BIC acaba por pagar 40 milhões (menos que a cláusula de rescisão de qualquer craque da bola) e os contribuintes portugueses vão meter ainda mais 550 milhões de euros no banco, além dos 2,4 mil milhões que já lá foram enterrados. O governo suportará também os encargos dos despedimentos de mais de metade dos actuais 1.580 trabalhadores (20milhões de euros).

As relações de Cavaco Silva com antigos dirigentes do BPN foram muito criticadas pelos seus oponentes durante a última campanha das eleições presidenciais. Cavaco Silva defendeu-se dizendo que apenas tinha sidoprimeiro-ministro de um governo de que faziam parte alguns dos envolvidos neste escândalo. Mas os responsáveis pela maior fraude de sempre em Portugal não foram apenas colaboradores políticos dopresidente, tiveram também negócios com ele.

Cavaco Silva também beneficiou da especulativa e usurária burla que levou o BPN à falência.

Em 2001, ele e a filha compraram (a 1 euro por acção, preço feito por Oliveira e Costa) 255.018 acções da SLN, o grupo detentor do BPN e, em 2003, venderam as acções com um lucro de 140%, mais de 350 mil euros.

Por outro lado, Cavaco Silva possui uma casa de férias na Aldeia da Coelha, Albufeira, onde é vizinho de Oliveira e Costa e alguns dos administradores que afundaram o BPN. O valor patrimonial da vivenda é de apenas 199. 469,69 euros e resultou de uma permuta efectuada em 1999 com uma empresa de construção civil de Fernando Fantasia, accionista do BPN e também seu vizinho no aldeamento.

Para alguns portugueses são muitas coincidências e alguns mais divertidos consideram que Oliveira e Costa deve ser mesmo bom economista(!!!): Num ano fez as acções de Cavaco e da filha quase triplicarem de valor e, como tal, poderá ser o ministro das Finanças (!!??) certo para salvar Portugal na actual crise económica. Quemsabe, talvez Oliveira e Costa ainda venha a ser condecorado em vez de ir parar à prisão....

O julgamento do caso BPN já começou, mas os jornais pouco têm falado nisso. Há 15 arguidos, acusados dos crimes de burla qualificada, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas nem sequer se sentam no banco dos réus!!

Os acusados pediram dispensa de estarem presentes em tribunal e o Ministério Público deferiu os pedidos. Se tivessem roubado 900 euros, o mais certo era estarem atrás das grades, deram descaminho a nove biliões e é um problema político.

Nos EUA, Bernard Madoff, autor de uma fraude de 65 biliões de dólares, já está a cumprir 150 anos de prisão, mas os 15 responsáveis pela falência do BPN estão a ser julgados por juízes "condescendentes", vão apanhar talvez pena suspensa e ficam com o produto do roubo, já que puseram todos os bens em nome dos filhos e netos ou pertencentes a empresas sediadas em paraísos fiscais.

Oliveira e Costa colocou as suas propriedades e contas bancárias em nome da mulher, de quem entretanto se divorciou após 42 anos de casamento. Se estivéssemos nos EUA, provavelmente a senhora teria de devolver o dinheiro que o marido ganhou em operações ilegais, mas no Portugal dos brandos costumes talvez isso não aconteça.

Dias Loureiro também não tem bens em seu nome. Tem uma fortuna de 400 milhões de euros e o valor máximo das suas contas bancárias são apenas cinco mil euros.

Não há dúvida que os protagonistas da fraude do BPN foram meticulosos, preveniram eventuais consequências e seguiram a regra de Brecht:

-?Melhor do que roubar um banco é fundar um?.

https://sites.google.com/site/rmmv1950/tiro-ao-alvo/a-promiscuidade-e-claro-o-roubo/a-honra-perdida-do-jornalismo 
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