domingo, 21 de julho de 2013

DESAJUSTES HABITUAIS


René Magritte, Afinidades Electivas, 1933.
Gastamos os dias a medir a distância que nos separa do ideal, e o que daí sobra são, essencialmente, os papéis inúteis onde arquivámos a existência, pondo títulos, assinaturas e outros artifícios.
Sentimos a pressão anómala do inconsciente, moldamos o anel do porta-chaves a qualquer dedo, fingindo compromissos com o mistério das coisas, e não achamos barómetro adequado para isto.
Escolhemos fórmulas luminosas adaptadas à hora infausta, confiamos na justeza das datas, nos espíritos puros, talvez num líder carismático, e nem assim tornamos menos sombria a ameaça do caos.Receamos converter-nos num espelho imprestável, não queremos entregar a face ao hábito do desespero; mas o desencanto é um exercício corrente quando interpretamos os mapas disponíveis do mundo.

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