domingo, 21 de julho de 2013

Dar a proteína certa ao cérebro pode ser o segredo para emagrecer

Calor. A palavra-chave para controlar a obesidade pode estar em aquecer o corpo. Não com sol ou com roupa, mas sim colocando o chamado “tecido adiposo castanho” a trabalhar de forma mais intensa para dissipar a gordura na forma de calor. Para isso, segundo um trabalho da Universidade de Santiago de Compostela, do investigador português Luís Martins, é necessário dar ao cérebro uma proteína óssea.



A proteína ajuda a queimar calorias mas não aumenta o apetite


Bmp8b (ou proteína morfogenética óssea 8b) é o nome da proteína identificada pelo grupo de investigação de NeurObesidade desta universidade espanhola no âmbito do doutoramento de Luís Martins e que foi agora adaptado e publicado na edição deste mês da revista científica Cell.

Segundo explicou ao PÚBLICO Luís Martins, nos últimos quatro anos o grupo conduziu uma experiência laboratorial em ratos e ratinhos que foram submetidos a uma alimentação muito rica em gorduras. “Verificámos que os animais que não tinham o gene desta proteína engordaram mais rapidamente do que os outros”, disse. Tiveram também mais dificuldade em controlar a temperatura corporal.

Questionado sobre se está ultrapassado o "mito" de que o tecido adiposo castanho só existia nos bebés e crianças, o investigador assegurou que “cada vez há mais evidência científica de que existe este tipo de tecido nos adultos, ainda que em menos quantidade e mais disperso”. Luís Martins esclareceu que o tecido castanho não armazena lípidos e que, pelo contrário, “utiliza a chamada gordura branca ou normal para produzir energia” que se dissipa na forma de calor – um fenómeno que se denomina “termogénese” e que tem influência na regulação da temperatura do corpo e ajuda a queimar calorias.

Daí que, prosseguiu o investigador, a solução para controlar alguns casos de obesidade possa passar por aumentar a actividade do tecido adiposo castanho que, no máximo, elevará a temperatura corporal em 1º Celcius, o que não deverá gerar desconforto. “Na nossa investigação injectámos no cérebro dos ratos e ratinhos a proteína e esta mostrou-se eficaz, mas é um método desconfortável e seria importante desenvolver uma técnica que por uma via mais periférica conseguisse fazer chegar a Bmp8b ao cérebro ou mesmo ao tecido adiposo castanho”, acrescentou.

Luís Martins salientou que esta não é a primeira proteína a mostrar estes efeitos. Porém, a Bmp8b revelou, pela sua forma de actuação, muito menos efeitos secundários noutros órgãos. Esta proteína actua no cérebro, mais concretamente no hipótalamo, uma zona que tem um papel fundamental na regulação da energia e que faz a ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino.

Outros estudos com outras proteínas acabaram por esbarrar, por exemplo, em problemas cardiovasculares que faziam com que os riscos ultrapassassem os benefícios. Por outro lado, o investigador concretizou que esta proteína tem a capacidade de colocar o tecido castanho a consumir mais energia do tecido branco sem aumentar o apetite. “É aumentada a actividade do metabolismo mas sem indução da vontade de comer”, explicou.

O estudo surge no mesmo mês em que um relatório da Organização Mundial de Saúde veio alertar para o aumento da obesidade a nível mundial, sendo que em todas as regiões do mundo a obesidade duplicou entre 1980 e 2008.

Hoje 500 milhões de pessoas são consideradas obesas, ou seja, 12% da população mundial. A América é o continente com mais gordos (26% dos adultos), ao contrário dos asiáticos, que surgem no final da tabela. Em todo o mundo, as mulheres têm mais tendência para ser obesas do que os homens e, por isso, correm mais riscos de vir a ter diabetes, doenças cardiovasculares e cancro. Portugal não é excepção: a obesidade atinge 20,4% dos homens e 22,3% das mulheres com mais de 20 anos.

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