terça-feira, 18 de novembro de 2014

Oito novas imagens do corpo de Che Guevara esquecidas 50 anos numa casa espanhola

Imanol Arteaga, sobrinho do missionário Luis Cuartero, revelou na semana passada as imagens
JAVIER SORIANO/AFP

17/11/2014 - 18:34

Em 1967, o ícone da revolução cubana foi executado na Bolívia e o mundo viu raras imagens do seu cadáver. Numa cidade do norte de Espanha, existiam mais oito fotografias até agora desconhecidas.
O fotógrafo da AFP Javier Soriano reproduziu as imagens encontradas no espólio do missionário espanhol
JAVIER SORIANO/AFP

Oito novas imagens do corpo de Ernesto “Che” Guevara foram descobertas na pequena cidade espanhola de Ricla e mostram o líder revolucionário argentino após a sua morte às mãos do exército boliviano em Outubro de 1967. São fotografias a preto-e-branco escondidas e esquecidas durante décadas entre os pertences de um missionário espanhol cujo sobrinho agora as revelou ao mundo.
Uma das imagens que mostra que a fotografia terá sido feita num momento diferente do da exposição à imprensa do corpo de Che
JAVIER SORIANO/AFP

Che Guevara, médico nascido na Argentina cujo papel na revolução comunista cubana o elevou ao estatuto de ícone do século XX, foi morto a 9 de Outubro de 1967 por militares bolivianos. Foi executado um dia depois da sua captura na selva quando, segundo o general boliviano Gary Prado - que comandou 70 homens recém-formados num campo das Forças Especiais norte-americanas nas buscas em torno do guerrilheiro marxista -, estava sozinho. Segundo os documentos desclassificados do National Security Archive norte-americano sobre as operações da CIA e do exército da Bolívia que estavam no encalço de Guevara, quando foi detido o revolucionário disse: “Não disparem. Sou Che Guevara e valho mais vivo do que morto”.
Uma das imagens de Marc Hutten em Vallegrande
MARC HUTTEN/AFP

O seu cadáver foi exibido publicamente e à imprensa na aldeia de Vallegrande e o correspondente da agência de notícias AFP fotografou-o, a cores. As imagens de Marc Hutten de Che estendido, de tronco nu e calças arregaçadas, rodeado por três homens circularam pelo mundo. Depois, o corpo de Che Guevara foi enterrado num local então secreto e que, na década de 1990, foi identificado por um general boliviano, Mario Vargas Salinas, como sendo uma vala comum junto a uma pista de aterragem nos arredores de Vallegrande. Em 1997, o corpo foi sepultado em Santa Clara, em Cuba.
Ao todo, são oito as novas fotografias agora descobertas em Espanha
JAVIER SORIANO/AFP

Agora, as imagens reveladas por Imanol Arteaga, um aragonês residente em Ricla, mostram o corpo do guerrilheiro e escritor no que aparenta ser um momento distinto daquele retratado por Hutten – e paralelo ao que foi retratado, como lembra o Washington Post, pela Associated Press e que mostra o corpo antes de ser limpo para ser apresentado à imprensa. Deitado numa maca de olhos abertos e manchado de terra e sangue, Che Guevara surge numa das oito imagens com um casaco apertado – e numa outra, relata a AFP, estará retratada Tamara Bunke, conhecida também como Tania the Guerrillera e a única mulher no grupo de guerrilha de Che, também morta e desfigurada.
O missionário Luis Cuartero, fotografado por Marc Hutten durante um funeral na Bolívia
MARC HUTTEN/AFP

As oito fotografias a preto-e-branco faziam parte dos bens de Luis Cuartero, missionário que na década de 1960 esteve na Bolívia e que morreu em 2012. “Lembrei-me de que ele tinha fotografias de Che Guevara e a minha tia disse ‘Sim, sei onde estão’”, relatou à AFP Imanol Arteaga. “Estavam numa caixa com um monte de fotos da Bolívia.” De acordo com peritos ouvidos por Arteaga, o papel em que estão impressas é hoje raro e não se fabricará há décadas.
“[Luis Cuartero] trouxe as fotografias quando veio [a Espanha] para o casamento dos meus pais em Novembro de 1967”, diz o seu sobrinho, agora com 45 anos. “A minha mãe e a minha tia disseram-me que um jornalista francês lhas tinha dado.” Mark Hutten é o suspeito mais provável da autoria das fotografias, sendo que existe uma imagem da sua autoria do próprio missionário em plena Bolívia em 1967. Arteaga acredita que o fotógrafo francês tenha recorrido ao missionário espanhol como forma de expedir rapidamente as imagens e as retirar do país, pois Cuartero seria “o único europeu a deixar a Bolívia naquele momento”, prestes a partir para o casamento dos pais do herdeiro das históricas imagens.
Marc Hutten esteve em Vallegrande a fotografar o corpo do líder revolucionário 
MARC HUTTEN/AFP

Mark Hutten morreu em Março de 2012 e, segundo escreve a AFP, não terá tido mais contacto com a família espanhola. A agência recorreu então ao actual editor de Fotografia da AFP para a Europa e África, Sylvain Estibal, que recorda que Hutten disse aos colegas “que tinha mandado quatro ou cinco rolos de fotos para a AFP em Paris”, mas que, meses depois, percebeu na capital francesa que “só poucas das suas fotografias” tinham chegado aos editores. “Onde foram parar as outras é ainda um mistério”, disse Estibal, não se comprometendo com a autoria destas fotografias agora descobertas.
A imagem que se pensa ser do corpo de Tamara Bunke
JAVIER SORIANO/AFP


 

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