domingo, 8 de junho de 2014

O Dia D


Vasco Pulido Valente

As comemorações do Dia D
na televisão e nos jornais

deixam muito por explicar.

A América e a Inglaterra
comemoram essa vitória
(de resto, excepcional)
pela simples razão de que não
têm outra para comemorar. Mas
vamos por partes.
Quando o primeiro soldado
desembarcou nas praias da
Normandia, a guerra já estava
perdida e a Alemanha lutava só
para afastar o Exército Vermelho
das suas fronteiras, e salvar a pele
(temporariamente) ao bando de 
criminosos que a governavam.
A URSS é que destruiu Hitler.
Primeiro na contra-ofensiva de
1940 em frente de Moscovo.
Depois quando conseguiu parar
o ataque da Wehrmacht contra o
Volga e o Cáucaso. E, para acabar,
na maior batalha de tanques da
História, em Kursk, que partiu
defi nitivamente a espinha das
forças do nazismo.
Em Dezembro de 1941, a seguir
a Pearl Harbor, Hitler declarou
guerra à América (e não o
contrário), poupando a Roosevelt
o trabalho de convencer a opinião
pública de que o objectivo
principal era a Europa e não o
Pacífi co. Os chefes militares, com
Marshall à cabeça, comunicaram
logo à Inglaterra a essência
da sua estratégia: atravessar o
canal e marchar para a Ruhr. Foi
Churchill quem os dissuadiu,
convencendo o Presidente a
varrer a Wehrmacht do Norte de
África e, a partir daí, a invadir o
que ele julgava o “ventre mole” da
Europa: para começar, a Sicília e a
Itália. Estas manobras, que muito
irritaram o comando americano,
conseguiram evitar um desastre,
obrigar Hitler a transferir para sul
uma parte considerável das suas
tropas (tanto do ocidente como do
oriente) e dar tempo a que o apoio
logístico e militar da América se
acumulasse em Inglaterra.
Na conferência de Teerão, uma
aliança tácita entre Estaline e
Roosevelt fez com que Churchill,
embora com relutância,
fi nalmente aceitasse a invasão da
França. Nesta altura, o domínio
aéreo da coligação aliada era
absoluto e, apesar dos “milagres”
de Speer, só a URSS produzia mais
tanques do que o Reich inteiro.
Quanto ao Dia D, ele mesmo, foi
muito ajudado pela ideia de que
o esforço principal da invasão
seria na zona de Calais. Era uma
noção pueril mas pertinaz, que
levou Hitler a reter até ao último
momento no Norte duas divisões
panzer, enquanto o grosso do
exército entrava em colapso na
Normandia. Também em Julho-
Agosto, a URSS destruiu o Grupo
de Exércitos do Centro que
defendia a Alemanha, impedindo
a deslocação de reforços para
França. O nazismo fora esmagado.
Mas no último ano e meio da
guerra morreu mais gente do que
nos três primeiros.

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