terça-feira, 24 de junho de 2014

A cantar em contramão




14 Abril 2014, 19:20 por Carlos Albuquerque

Para Hannah Arendt, em política, a verdade é opinião. Não se valida por testemunhos. Nem por factualidades. Ou pela eventual dimensão científica. Mas pela contagem de votos. Pela força comunicacional. E pelo tempo ocupado no espaço de cada cidadão.

A FRASE...

"A agência de notação financeira Fitch melhorou a sua perspetiva em relação a Portugal, passando o outlook de negativo para positivo, o que facilitará uma futura subida do rating, que agora continua no nível de lixo, em BB+."

Expresso, Economia, 12 de abril de 2014.

A ANÁLISE...

Os indicadores estatísticos são sempre controversos. E as análises económicas também. Mostram sempre várias verdades. Num lado. E no outro. Se servem os fins, são ótimos. São reais. Refletem, sem dúvida, o que é. Não importa a fonte. Nem as metodologias. Nem os dados. Mostrem-se e publiquem-se. Se não servem os fins, são enganos. Com fórmulas erradas. Pressupostos fabricados. Fontes pouco credíveis. E metodologias não científicas. Descredibilizem-se.

Por vezes a contradição é excessiva. E intelectualmente pouco clara. Há anos as agências de rating eram criminosas. Baixavam as classificações. Duvidavam da capacidade de solvência. E atribuíam níveis de risco muito elevados. A Portugal. Um país sério. Honesto e trabalhador. E que sempre cumpriria com os seus compromissos. Seriam para aí uns 70 a dizê-lo.

Para uma agência, estamos melhor. Agora é errado. Há que restruturar. Aumentar os prazos da dívida. Baixar os juros. Facilitar. A Portugal. País sério, mas com problemas. País honesto, mas sem crescimento. País cumpridor, mas não sabemos bem. Os mesmos. Serão para aí uns 70. Ontem era cozido. Hoje é assado. Depois se verá. Pode ser que sim. Pode ser que não. Mas se lá estão os mesmos, o melhor é cantar em contramão.

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