domingo, 27 de outubro de 2013

O Douro e as pontes

ALBERTO PINTO NOGUEIRA 25/10/2013 
Povo e Douro são o centro da história do Porto.

A mais de 60 metros do nível das águas, Gustave Eiffel construiu uma ponte em ferro, de uma só linha, a D. Maria Pia. D. Luís I inaugurou-a em 1877. Antes, experimentou-se-lhe a resistência, com 1500 toneladas de peso sobre o tabuleiro, de uma à outra margem. Suportou.

Da encosta, a ponte sugere uma ave que pousa.

Como lhe compete, o rio ficou debaixo, a correr para o Atlântico. O comboio aproveitou e sobrevoou-a a raiar o século XX, que ao Porto tudo chega sempre mais tarde. Passou lá 114 anos. Foi substituída pela de São João em 1991. Abandonaram-na. Empurram-se uns aos outros na responsabilidade de a cuidar. Um monumento nacional e internacional!

A ponte pênsil, mais cá em baixo, era fraquinha para as gentes irem e virem de uma margem à outra.

Houve novo concurso. Eiffel jogou de novo a sorte e ficou de fora, com outros concorrentes de menos relevância. Théophile Seyrig, seu aluno e colaborador na D. Maria, foi o vencedor. Um certame transparente, não predeterminado quanto ao vencedor. Como hoje (?). Construiu a ponte que foi inaugurada com dois tabuleiros, o superior em 1886, o inferior em 1888. É a ponte Luís I, D. Luís I ou D. Luís. O processo do concurso está arquivado no Palácio da Bolsa.

O Douro persiste na marcha entre serena e febril para a Foz. Com percalços. As margens comprimem-no. A direita na Ribeira, juntinho ao tabuleiro inferior. Invade-lhe o território, perturba-lhe o fulgor das águas do ventre no Inverno. Zangado, possesso na tempestade e chuva a rodos, toma a margem, ocupa casas, restaurantes, ruas e ruelas, trai o comércio e despeja dor a quem por ali habita. Desprezaram-lhe o caudal. A natureza requer regras, ordem e disciplina de que é exemplo.

Vence o aperto da Luís I, distende-se, vai por ali fora, encontra mais adiante outra ponte. A da Arrábida, quase na Afurada. Edgar Cardoso construiu-a , já na era do cimento e betão armado. Salazar inaugurou-a em 1963. É uma das seis que vigiam o Douro lá de cima, a ligar as duas cidades. Diz-se que o seu arco em betão foi dos maiores do mundo. Por “cá” tudo é maior quase em tudo. De origem, foi equipada com dois elevadores em cada margem do rio. Era despesismo e as pessoas da Afurada e arredores bem podiam vir e ir de autocarro que os STCP facturam. Bloquearam-nos há anos.

O rio não mete férias, nem é ribeirito que seque se não chove. Deixa a Arrábida, distende-se mais. Se o Inverno é mesmo Inverno, conquista a Afurada. Alaga e tudo leva, derruba muros e paredes de defesa, desaloja pescadores, mulheres e filhotes. Engole barquitos de arrasto por ali à deriva. Indiferente, corre à Foz. Mergulha no mar.

Poupa a Marina de Canidelo, local lindíssimo, ao fundo na margem esquerda. Deve aproveitar-se, de dia ou à noite. Estacione no único bar/restaurante sobre o Douro que ali há. O Charme & Gourmet. Alongue o olhar por aquela imensidão de água azul a brilhar que o visível vai até ao mar.

Observe o casario do lado de lá, o Porto.

O local é lindo, lindo. E poético.



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