quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Porto: Salvem Santa Clara!









Clara de Assis nasceu nos finais do século XII. Rica e bela.

Encantou-se pela pobreza de Francisco, também de Assis. Um mendigo, amante de passarinhos e dos pobres. Um devoto. Tornou-se pobre e não tão bela.

D. João I, em 1416, mandou erguer-lhe no lugar de Carvalhos do Monte, no Porto, uma igreja e um mosteiro. No século XVIII, acrescentaram-lhe talha dourada. Como convém a uma dama bela e rica.

Clara fundou a Ordem das Clarissas. As franciscanas de saias. Tornou-se santa. Santa Clara.

O comboio chegou à baixa portuense pelos fins do século XIX. Aqui, Marques da Silva construiu um lindo edifício, a estação ferroviária de S. Bento.

Daí, sobe-se a Avenida D. Afonso Henriques, sem olhar à esquerda, preservando-se o sentido estético e poupando o olhar à fealdade do enorme edifício em ruínas, na esquina da avenida do rei com a Rua do Loureiro. Ao cimo, entra-se na Rua de Saraiva de Carvalho. Poucas centenas de metros adiante, vira-se à direita, entra-se no Largo Primeiro de Dezembro que foi o Largo de Santa Clara.

A igreja da santa fica ali, entrincheirada entre as Muralhas Fernandinas e o Comando Metropolitano do Porto da PSP, onde era o mosteiro.

O templo é, de há muito, propriedade do Estado. Como bem se vê pelo descuido e decadência que o habitam.

Na informação escrita e à disposição, a Igreja merece um profundo laudatório! Das mais bonitas de talha dourada do Porto e do país! Beleza de arte sacra! Retábulos esplendorosos, a começar pelo da Santa. “ Exemplo paradigmático” de talhas interiores a ouro revestidas.

Robert Chester Smith, historiador de arte, doutorou-se em Harvard e foi professor na Escola de Belas Artes da Pensilvânia. Em 1963, subsidiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, escreveu uma obra importante, A Talha em Portugal. Considerava a Igreja e o Convento de Santa Clara o melhor monumento barroco do mundo.
 
 
Deve ter sido assim! In illo tempore!

Hoje, para revisitar a riqueza e beleza da Igreja, adquire-se, por poucos euros, um conjunto de postais ilustrados. Edição da Câmara Municipal do Porto. Retratam, por mãos artísticas, a sua extraordinária beleza e esplendor.

Querendo revisitar-se a pobreza de Santa Clara, de como se converteu à mendicidade de Francisco, deve peregrinar-se, chorando, silenciosa e religiosamente pelo templo.

Decadência, bolor, ferrugem, verdete. A talha dourada é talha enegrecida. Salva-se um pouco da capela-mor. Mesmo aí, Santa Clara vai padecendo o seu desfalecimento. De cor a cair para o acastanhado.

Os órgãos de tubos, um de cada lado, ao fundo, enegrecem. Estão lá para estar. Foram substituídos por uma dessas coisas de feira que rangem outras coisas a que chamam música.

Cristo deitado, do outro lado de quem entra, padece o seu sofrimento. Roído menos pelo tempo e mais pela falta de cuidado e conservação. Não há santo que não sofra de uma espécie de anemia cadavérica. O tecto, tudo. Uma profunda tristeza.

A sacristia, em ruínas, dá dó. Um enorme quadro, à entrada e à esquerda, já não é quadro. É uma moldura envelhecida numa parede.

A incúria do Estado leva a isto. Não tem dinheiro para a História e a Cultura. Abençoa e restaura, com milhões e milhões e mais milhões, as vigarices e crimes de bancos e swaps! Não tem umas centenas para o restauro da Santa, um monumento do século XV, que fala de História, de Arte e de Religião.

Assim está a Igreja de Santa Clara!!!

Não quis ela ser freira e pobre?

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