domingo, 4 de dezembro de 2022

O Ocidente mandou “várias vezes a Rússia para o diabo”

  O historiador russo Yuri Slezkine, estudioso da criação das nacionalidades que compunham a União Soviética, diz que os cálculos que levaram a Rússia a invadir a Ucrânia estão a mostrar-se errados


João Ruela Ribeiro (texto) e Guillermo Vidal (fotografia) 4 de Dezembro de 2022.

 Depois de ter vivido em Lisboa no início dos anos 1980, Yuri Slezkine esteve na capital para uma conferência sobre o império soviético

Cai uma chuva miúda e persistente, mas Yuri Slezkine faz questão de atravessar o jardim do Museu Nacional de Arte Antiga para ver a paisagem sobre o rio Tejo. “Com sol é mais bonito”, advertimos. “Assim, também é”, responde, enquanto fotografa a paisagem enevoada. Antes de ser um reputado historiador, Slezkine era um jovem com muita curiosidade em conhecer o mundo que existia além da União Soviética, onde nascera. Em 1978, viajou pela primeira vez para o estrangeiro, tendo passado uma temporada em Moçambique, onde trabalhou como tradutor. Em 1982, viveu alguns meses em Lisboa, antes de rumar em definitivo para os EUA, onde iniciou uma longa carreira académica. Regressou a Portugal, agora como professor da Universidade de Berkeley, para participar na conferência da Culturgest Russia: Imperial breaks and continuities, organizada pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Grande parte do seu trabalho está ligada ao estudo das nacionalidades e etnias que compunham a União Soviética. Numa das suas teses mais conhecidas, defende que a União Soviética promoveu e incentivou o estabelecimento de várias nacionalidades dentro das suas fronteiras. “Um Estado pode ser uma ditadura ou autoritário e ser algo criativo na forma como administra a sua população”, diz ao PÚBLICO.

Ao olhar para a guerra na Ucrânia, Slezkine vê o Kremlin motivado tanto pela deriva do país vizinho para o que diz ser um “Estado monoétnico”, como pela ambição expansionista da NATO: “Não consigo imaginar nenhum governante russo, nenhum czar ou nenhum secretário-geral do Partido Comunista a dizer que, se a Ucrânia se quer juntar a uma aliança militar hostil, está no seu direito.”

Esteve algum tempo em Portugal, em 1982, antes de ir para os EUA e iniciar a sua carreira académica. Antes disso, viveu em Moçambique. Como é que estas experiências marcam um jovem soviético?
Moçambique foi a minha primeira vez fora da União Soviética, foi algo muito entusiasmante, uma enorme aventura, como pode imaginar. Era muito diferente, conhecer pessoas de todos os cantos do mundo. Estar lá num tempo interessante e dramático, um tempo de guerra, mudanças sociais. De uma forma geral, é uma memória maravilhosa para mim. Também vi coisas terríveis. Eu era intérprete na Beira e trabalhava para operadores de guindastes, electricistas, engenheiros soviéticos. Lembro-me de acompanhar um engenheiro cujo trabalho era reconstruir pontes que tinham sido destruídas por bombardeamentos aéreos, também acompanhei um médico soviético a locais onde havia vítimas depois de um raide. Deixou muitas marcas. E a beleza do sítio!

Consegue identificar algum tipo de influência que essa época exerceu sobre o trabalho académico que viria a desenvolver, tendo em conta que estava a assistir à desagregação de um império colonial?
Definitivamente. Quando cheguei aos EUA e entrei na universidade, queria, na verdade, ser historiador especializado na África portuguesa. Mas não resultou, porque tinha de ganhar dinheiro e naquela altura só o podia fazer ensinando russo e, para isso, tinha de estudar alguma coisa ligada à Rússia. Tentei pensar num tema que fosse de alguma forma análogo.

Defende que a União Soviética conseguiu promover e respeitar as identidades das nações que a compunham. Como é que essa dimensão convivia com o carácter autoritário e opressivo do regime?
Uma coisa não contradiz a outra, necessariamente. Um Estado pode ser uma ditadura ou autoritário e ser algo criativo na forma como administra a sua população. A teoria soviética presumia que a única forma de superar o legado de opressão nacional era garantir às várias nacionalidades que compunham a União Soviética aquilo que elas ambicionavam e, dessa forma, a desconfiança seria vencida e, eventualmente, a solidariedade proletária poderia prosperar. É de alguma forma um paradoxo que, quanto mais diversidade se introduz e incentiva, maior é a probabilidade de harmonia e unidade no final.

Cartaz de 1972 representando as várias nacionalidades soviéticas, com Lenine e o mapa da antiga URSS como pano de fundo

A que se refere quando fala em criatividade na forma como um Estado pode administrar a sua população?

Criativo não quer dizer que fosse sábio. Foi criativo na medida em que foi algo que requereu ponderação, muita discussão, desacordo, e acabou por ser algo que contrariava os pressupostos básicos dos bolcheviques. A ideia era a de que o nacionalismo era falsa consciência, uma cortina de fumo burguesa para ocultar o que realmente importava, que era a luta de classes. Portanto, muitos bolcheviques perguntavam “que raio é que estamos nós a fazer? Porque estamos a promover estas coisas que claramente contrariam aquilo que devíamos estar a fazer?” Os bolcheviques, como organização partidária, eram internacionalistas, não de todas as formas, mas certamente no sentido de serem compostos na sua cúpula por pessoas oriundas, na sua maioria, das margens do império. Os russos estavam sub-representados na cúpula do partido nos primeiros anos, isso mudou no final dos anos 1930. Era uma organização verdadeiramente cosmopolita. O plano era instituir fronteiras étnicas, promoções étnicas, preferências étnicas, elites étnicas, territórios definidos etnicamente. Um colega meu escreveu um livro com o título O Império da Acção Afirmativa. Foi certamente a primeira federação etno-territorial deliberadamente construída e com cada indivíduo classificado por nacionalidade, incluindo uma política de indigenização, que podemos definir como a promoção de pessoas tendo por base a sua origem étnica.

Quando olhamos para a forma rápida como a União Soviética se desagregou em Estados bastante definidos, podemos concluir que o esforço de criação de nacionalidades foi bem-sucedido, embora o objectivo primordial tenha falhado.
Do ponto de vista dos seus objectivos, foi um falhanço inegável, porque presumiram que essas acções iriam conduzir a um certo desfecho, mas o desfecho foi o oposto do que queriam. Alguns dos Estados nacionais não precisavam de ser reforçados, mas outros sim. Por exemplo, na Geórgia ou nos Bálticos. Havia grupos dentro da União Soviética que tinham um sentido de identidade bastante forte, as suas elites próprias, culturas escritas, ideologias nacionalistas. Mas alguns foram criados ou, pelo menos, reforçados. O Turquemenistão dos dias de hoje é resultado do processo soviético de construção de nações. Os turcomanos existiam como grupo étnico e culturalmente, claro, mas criar um Estado a partir de uma população maioritariamente nómada e pecuarista foi laborioso.

Costuma usar a metáfora do apartamento comunitário para representar a convivência das várias nações durante a era soviética. Como se desenvolve esta metáfora após o colapso da URSS?
Tomei essa metáfora emprestada de um dirigente soviético na década de 1920 que chamava à União Soviética apartamento comunitário. Cresci num apartamento comunitário, tal como a maioria das pessoas que conheci. Trata-se de um apartamento em que existe uma família em cada quarto e todos partilhavam a cozinha e a casa de banho. A ideia era que a Rússia ocupava a cozinha e a sala, e cada grupo nacional tinha o seu próprio quarto. Acabei um artigo com esta imagem: no fim da União Soviética, os moradores de cada um dos quartos barricaram as suas portas, passaram a usar as janelas, enquanto o tipo no meio ficou a coçar a cabeça a pensar no que irá fazer.

Praça Vermelha, em Moscovo, no dia 1 de Janeiro de 1987 PETER TURNLEY/CORBIS/VCG VIA GETTY IMAGES

É nessa situação que a Rússia ainda se encontra? Conseguiu transformar a parte que lhes restou no apartamento num quarto?
É já um apartamento por direito. Mas é diferente de todos os outros quartos, dado que cada um dos Estados pós-comunistas é uma nação étnica. A Rússia é a única federação multinacional. Há uma tensão interna na Rússia, entre quem defende um Estado primordialmente russo, e aqueles, inclusive os dirigentes russos, que gostam de sublinhar o facto de que é um país multinacional superior aos restantes Estados pós-comunistas.

Poucos dias antes da invasão russa da Ucrânia, Putin fez um longo discurso em que estabeleceu uma espécie de justificação histórica para o passo que viria a dar. Como interpreta a visão de Putin em relação à Ucrânia?
Houve duas razões para que esta guerra fosse lançada. Uma tem que ver com a NATO e com os EUA, particularmente; a outra tem que ver com a Ucrânia. Desde o início da guerra, Putin tem falado muito sobre ambas. No que respeita à Ucrânia, não tem sido consistente, ao dizer que a Ucrânia não é propriamente uma nação, ou que talvez seja uma nação, mas incompleta e com fronteiras provisórias por muitas delas serem recentes. Ele referia-se à experiência soviética que temos discutido para dizer que os bolcheviques criaram, de alguma forma, fronteiras artificiais, tomaram decisões arbitrárias, como transferir a Crimeia para a Ucrânia. O ponto é que a Ucrânia é uma manta de retalhos e uma criação recente. Acho que são estas as duas razões para a invasão: por um lado, a Ucrânia estava a ser transformada num satélite ocidental e, por outro, a população russófona do Leste estava a ser convertida em ucranianos autoconscientes.

Descreve esta guerra como uma tentativa de interromper o processo de construção de uma nação pela Ucrânia?
É uma forma de ver. A Ucrânia claramente estava a ser transformada, à força, num Estado monoétnico.

Tal como outros no passado...
Mas com mais dificuldade. Há países ideologicamente monoétnicos, como a Hungria ou a Polónia, que são etnicamente homogéneos. Vivo actualmente na Letónia e 30% da população é russa, portanto a situação é diferente. Mas, na sua Constituição, o país é monoétnico: “O Estado letão pertence à nação letã.” Os russos que lá vivem, alguns são cidadãos, outros não, mas certamente não pertencem verdadeiramente [à Letónia]. E a Ucrânia estava a ir nessa direcção, mas com uma grande dose de paixão e com mais dificuldades, porque mudar as mentes de tantas pessoas indígenas que se viam como ligadas à Rússia não é uma tarefa fácil. Parece que inicialmente a ideia [da invasão] era instalar um regime fantoche em Kiev, mas isso falhou. Agora parece que o plano é ocupar o máximo de território do Leste russófono ucraniano que for possível.

 
Vendedora de rua com memorabilia soviética em Chisinau, em Novembro de 2014, na capital da Moldova, antiga república soviética. Atrás, um cartaz do Partido Liberal com o slogan "Uma família unida na NATO e na UE" Gleb Garanich/Reuters

Do ponto de vista da Ucrânia, esta é uma guerra em que o que está em jogo é o direito de um país e de um povo a existir.
A Ucrânia não se resume a uma pessoa, tal como a Rússia. Estive a falar da Rússia oficial, não estava a falar das centenas de milhares de pessoas que abandonaram a Rússia por discordar da guerra. Há visões muito diferentes, mesmo dentro da Rússia há os leais, há os nacionalistas que acham que Putin está, na verdade, a ser demasiado cauteloso. É um quadro complexo. O mesmo se passa na Ucrânia, e isso é algo que acho que os media mainstream geralmente falham em perceber. Parece que mais pessoas, em resultado da guerra e das privações, podem estar a aproximar-se da visão que descreveu: de que esta é a nossa nação; podíamos estar divididos por interesses variados, mas agora somos apenas uma nação a defender o nosso país do invasor. Vimos nas televisões ocidentais as imagens de ucranianos felizes a receber as suas tropas em Kherson depois da retirada russa. Agora, as fontes russas mostram milhares de pessoas que estão a fugir com os russos. Alguns podem ter “colaborado”, outros podem ver-se a si próprios como russos e no Estado ucraniano isso significa que não haverá mais educação em russo, livros em russo ou qualquer coisa russa. A minha impressão é que, por causa da guerra, cada vez mais pessoas se aproximam da posição de Kiev e desta ideia de uma nação monoétnica.

Poucas coisas conseguem acelerar a consolidação da identidade nacional como uma guerra. Se a Rússia estava a tentar impedir a construção de um Estado afastado de si e diferente, então a guerra acaba por acelerar isso.
Sim. Em 2014, uma proporção substancial de ucranianos do Leste, sobretudo do Donbass, era fortemente pró-russa e anti-Kiev. Nas partes que foram controladas efectivamente pela Rússia ao longo destes oito anos, provavelmente esse sentimento é ainda mais intenso. É-me muito difícil imaginar a sua reincorporação na Ucrânia, não apenas porque é difícil imaginar a Rússia preparada para viver com isso, mas também é difícil imaginar essas pessoas preparadas para viver na Ucrânia. No lado da Ucrânia, há indicações de que muitos que eram fortemente pró-russos há oito anos são agora fortemente pró-Kiev, mas não sabemos quantos. Obviamente que, se a sua casa estiver a ser bombardeada pelo lado russo, é preciso muito esforço para continuar a torcer por esse lado. Não podemos aceitar a propaganda de nenhum dos lados e ambos estão a propagá-la. E os media ocidentais passaram a adoptar a linha ucraniana sem a questionar.



"A Ucrânia é uma manta de retalhos e uma criação recente" Yuri Slezkine
Com Putin, a Rússia parece conseguir afirmar-se internacionalmente apenas através de intervenções bélicas (Cáucaso, Geórgia, Síria, Ucrânia), e não noutras áreas que poderiam ser também relevantes, como a esfera cultural ou científica.
Claro que a Rússia é economicamente frágil, sobretudo quando se compara com a China, os EUA ou a União Europeia. Não tem muito soft power, tem um regime pouco apelativo para a maioria dos seus vizinhos. Antes do início desta guerra, a única coisa que pareciam ter era o poder militar, para além de riquezas minerais. Agora, nós, e eles, podemos ver claramente que os cálculos que levaram à guerra se mostraram errados. Putin agora compreende que as coisas são muito diferentes daquilo em que foi levado a acreditar pelos seus generais. Ao mesmo tempo, penso que é incorrecto continuar a falar como se todas as decisões fossem tomadas no Kremlin ou como se o mundo consistisse na Rússia e naquilo que decide fazer. Após o colapso da União Soviética, penso que a Rússia genuinamente queria fazer parte da Europa — havia o slogan “de Lisboa a Vladivostok”. Penso que essa era a ambição, o desejo e o sonho de muita gente, incluindo todo o tipo de dirigentes, assim como do próprio Putin nos primeiros anos do seu reinado. Obviamente, a Rússia foi rejeitada.

Acredita ter havido algum tipo de insensibilidade histórica por parte do Ocidente durante os anos que se seguiram ao fim da Guerra Fria?
Foi uma combinação. Primeiro, as pessoas estavam acostumadas a ter a Rússia como um inimigo, era um “outro” familiar da Guerra Fria. O facto de a Rússia ser emocionalmente muito reprovada pelos países da Europa de Leste que queriam juntar-se à aliança ocidental. E, mais importante, a Rússia é demasiado grande para ser membro de uma aliança. Imaginar a Rússia a juntar-se à União Europeia ou à NATO é totalmente impossível. Um país desta dimensão, com tanta riqueza mineral, com tantas ogivas nucleares e com uma memória tão vívida da sua dominação imperial no passado, é impossível ser um membro normal de uma aliança. Seria necessária uma grande dose de criatividade por parte de alguns políticos ocidentais para pensar em formas de criar aquilo que hoje se conhece como arquitectura de segurança, para que a Rússia se pudesse tornar um membro efectivo. Mas o que aconteceu foi que a mandaram várias vezes para o diabo. Não estou a justificar a decisão de Putin em entrar na guerra, mas não consigo imaginar nenhum país que enfrente uma abordagem de uma aliança militar claramente hostil e diga para avançar para as suas fronteiras e apontar mísseis para o seu território. Não se consegue imaginar isso com os EUA. O que foi diferente na crise dos mísseis de Cuba é que ambos os lados fizeram concessões.

Mas, nas vésperas da invasão, a própria NATO dizia ser muito difícil vir a integrar a Ucrânia.

Mas não foram dadas garantias. Os ucranianos estão a combater tão bem, em primeiro lugar porque há muitos ucranianos patriotas que sentem o dever de defender o seu país, e, em segundo lugar, porque estão a receber armas da NATO há oito anos, ou seja, muito antes de Putin ter decidido lançar esta guerra. Uma das razões para que [a Rússia] tenha lançado esta guerra foi os EUA, e a NATO em geral, estarem a armar a Ucrânia. Foi então que Putin se apercebeu de que a sua ideia de tornar a Ucrânia um Estado neutral falhou. O Ocidente dizia que a Ucrânia não se iria tornar parte da NATO nos tempos mais próximos, mas enquanto isso enviava-lhe armas para que se tornasse um membro de facto.

 
Disparo de um Howitzer M777 por soldados ucranianos na linha da frente, na região de Kharkiv. Este canhão é fabricado no Reino Unido. A NATO tem sido um dos principais fornecedores de armas à Ucrânia Gleb Garanich/Reuters


O desenvolvimento da Ucrânia como um Estado independente e afastado da Rússia iria acontecer com ou sem a NATO. Acha que uma garantia de neutralidade seria suficiente para impedir a invasão?

Não sei o que passou pela cabeça de Putin. Mas, em 2014, o Exército russo, se o quisesse, poderia ter conquistado esta área que está agora a tentar tomar praticamente sem resistência. Ele escolheu não o fazer. Na altura, parece que ele não desejava anexar nenhuma parte da Ucrânia, à excepção da Crimeia. Ele queria assegurar-se de que o Donbass se mantinha pró-russo, era autónomo e funcionava como uma garantia contra a entrada da Ucrânia na NATO. Esse cálculo desabou. Olhando para trás, teria sido muito melhor que esse plano tivesse resultado: a Ucrânia mantém o Donbass, torna-se menos centralizada como Estado, mas é neutra e independente. E não haveria guerra. Podemos questionar porque haveria de se submeter a um inimigo. Na altura, provavelmente, nem [o ex-Presidente Petro] Poroshenko, nem [o Presidente Volodymyr] Zelensky achariam que Putin iria atacar. Ao contrário do que muita gente costuma pensar, não se tratou de um plano de longo prazo feito pelo vilão no Kremlin. Se não fosse a promessa de Bucareste [cimeira da NATO de 2008] de eventualmente aceitar a Ucrânia...

Mas isso não foi em frente, falou-se dessa hipótese, mas foi rejeitada...
Mas nas relações internacionais não se podem dizer essas coisas. Dizer que por agora não se vai fazer... Se o país que faz fronteira com o seu é extremamente hostil e se quer juntar a uma aliança militar hostil e se está a fortalecer todos os dias, temos um problema. Eles não têm de se juntar à NATO, já são basicamente membros da NATO. Não sou um fã de Putin em termos internos, e a maioria dos meus amigos e conhecidos abandonou a Rússia. Mas, como historiador, não consigo imaginar nenhum governante russo, nenhum czar, ou nenhum secretário-geral do Partido Comunista, a dizer que, se a Ucrânia se quer juntar a uma aliança militar hostil, estão no seu direito. A política não funciona assim. A única razão para se submeter a algo assim é pensar que se está demasiado fraco para resistir. Obviamente, Putin não pensava estar demasiado fraco para resistir, mas poderá estar.

Uma potência com uma mentalidade imperial cujo poder se resume à projecção militar é realmente forte ou isso é uma ilusão?
Como podemos ver, não é forte. Ou pelo menos não tão forte como pensava ser. Mas, para além de ser um império por ser um Estado multinacional, a Rússia também é um império porque se vê como um actor soberano. Portugal, por exemplo, não é propriamente um actor soberano. Está na UE, na NATO e a sua voz na NATO é insignificante. A questão é que não tem situações difíceis internacionalmente para resolver. A Rússia vê-se como um actor soberano, mas não se pode juntar a nenhuma aliança existente, nem tem força suficiente para subsistir por si própria e defender o que acho que qualquer governante russo consideraria o seu interesse nacional. Acho que a Rússia está numa situação extremamente difícil a nível internacional. Se a NATO se está a aproximar e a tornar-se mais hostil, o que faria se estivesse no Kremlin? Tudo depende de se considerar forte o suficiente para resistir. Putin parece ter acreditado nisso e parece que estava errado.

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