sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um pífio e triste debate

11 Setembro 2015, por Baptista Bastos

O encontro foi uma coisa pífia e desajeitada, com Passos cansado e insistente num realejo que já ninguém pode ouvir, e na persistência nos gestos, mãos em paralelo, que se percebem estudados.


Os assuntos fulcrais, como a exclusão e a pobreza, a fome e a miséria, provocados pelo novo enquadramento ideológico, em Portugal e no resto da Europa, foram esquecidos no "debate" entre Passos Coelho e António Costa. A obsessão do presidente do PSD em José Sócrates foi um disparate político, logo torpedeado por António Costa, notoriamente o melhor e mais apetrechado dos dois. Em suma: o encontro foi uma coisa pífia e desajeitada, com Passos cansado e insistente num realejo que já ninguém pode ouvir, e na persistência nos gestos, mãos em paralelo, que se percebem estudados. Curiosamente, muito semelhantes à gesticulação pesada e patusca do dr. Cavaco.

Se eu quisesse ser irónico, diria que a grande novidade do "debate" foi a ressurreição de Miguel Relvas, não se sabe o que o pobre homem foi lá fazer, o seu nervosismo inabalável e a tolice dos seus comentários. Não me interessa, minimamente, se Relvas é "doutor" ou não. Dizem-me não ser muito culto e pouco dado a frequentar livros e afins, mas que é despachadíssimo nos malabarismos políticos, e que Passos Coelho tem para com ele uma dívida impagável: teria sido Relvas quem o transportou ao colo para o poder. É lá com eles.

Outro despautério fatal foi Passos Coelho ter insistido em referir, sem pausa nem reflexão, no nome de José Sócrates. Lestamente, Costa colocou um ponto final no assunto, dizendo que Sócrates, como qualquer outro socialista, ou não, tem o direito de falar e de votar em quem entender.

Uma questão, entre outras, se levanta: o "debate" alterou algo das intenções de voto de eleitores, há muito já decididos? Dizem que talvez, outros que sim. Creio bem que não. No entanto, a vertiginosa crítica de Costa aos quatro lastimosos anos de Passos no poder, a circunstância de repetir na miséria que nos aflige, e de perguntar aos portugueses se querem mais do mesmo, caucionou a simpatia dos que gostam de ouvir estas verdades.

As coisas estavam feias para Costa. Uma certa indolência no discurso impedia que o arranque se efectuasse com ênfase e com brilho. Depois, uma imprensa desafecta e uma televisão, sobretudo a SIC, muito atenciosa e veneradora com todos e quaisquer movimentos de Passos; comentadores e jornalistas sem fé nem vértebras eram a soma e o resto que faltavam ao sinistro ramalhete. Acaso um impulso novo supriu no "debate"; acaso.

Já no dia anterior, Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, tinha colocado a soberba de Paulo Portas no devido lugar. Com o sorriso displicente, desarmara a pesporrência enfatuada do homem, com factos e números e argumentos irrefutáveis. A propósito, recomendo vivamente a leitura de "Mitos Urbanos", da porta-voz do Bloco, editado pela Parsifal, que esclarece muitas dúvidas e embustes em circulação pelas ideias feitas.

Tudo indica que os próceres da Direita indígena estão a manifestar grande fadiga, e que nem as manipulações das sondagens, cada vez mais descaradas, nem esta casta de jornalistas estipendiados, nem os saneamentos injuriosos conseguem moldar os caracteres a seu bel-prazer. Esperemos pelo bom senso das pessoas. Esperemos.

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