sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A escolha do ritmo...a opção é sua!


*Ao viajar pelo Oriente, mantive contactos com os monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão...
Quando noutro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos
com telemóveis, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.

Aquilo fez-me refletir...:

'Qual dos dois modelos nos faz mais felizes?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei-lhe:

'Não foi à aula?

' Ela respondeu:

'Não, tenho aula à tarde'.


Comemorei:


'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'.


Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'

'Que tanta coisa?',perguntei.

'Aulas de inglês, de balét, de pintura, e piscina', e começou a elencar o seu
programa de miuda robotizada.


Fiquei a pensar:

'Que pena, a Daniela não disse:

'Tenho aula de meditação!

Estamos a construir "super-homens e super mulheres", totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados...

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e somente três livrarias!

Não tenho nada contra "malhar o corpo", mas preocupo-me
com a desproporção em relação "à malhação do espírito".

Acho óptimo,vamos todos morrer esbeltos:

'Como estava o defunto?'.

'Olha, uma maravilha,muito musculado não tinha um bocadinho de celulite!

' Mas como fica a questão da subjectividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado no seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho do prédio !

Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento';o domingo, então, é o dia nacional da imbecilização colectiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da televisão.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres:

'Se tomar este refrigerante,calçar estas nikes, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'

O problema é que.... não se chega!

Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba a precisar de um psiquiatra. Ou de ansioliticos e anti-depressivos....
Quem resiste, aumenta a neurose.


O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, e consumista.

Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis:
- Amizades, auto-estima,e ausência de stresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso.... a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitectónicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de "esperar dentista".
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório.
Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no
inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com a Coca-Cola e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:

'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante dos seus olhares espantados, explico:

-'Sócrates,foi um filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:...

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser Feliz"!!! *

Frei Beto - Brasil

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