quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A estranha intrusa..

UMA ESTRANHA VERDADE:

Alguns anos depois que nasci, o meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade.

Desde o princípio,o meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, convidou-a a viver connosco.

A estranha aceitou e, desde então, tem-se mantido na nossa casa.

Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre o seu lugar na minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial...
Os meus pais passara a ser instrutores complementares...a minha mãe ensinou-me o que era bom e o que era mau, e o meu pai me regras para viver em sociedade.

Mas a estranha era nossa narradora...

Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ela tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou a minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir, fazia-me chorar...
A estranha nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava e mantinha-se colado á estranha.
Às vezes, a minha mãe levantava-se muito cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora pergunto-me se ela teria rezado alguma vez para que a estranha fosse embora).
O meu pai dirigia o nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-las...
As blasfémias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… nem por parte nossa, nem dos nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse.

Entretanto, a nossa visitante de longo prazo usava sem nenhum entrave a sua linguagem inapropriada que às vezes queimava os meus ouvidos e que fazia o meu pai se retorcer e a minha mãe se ruborizar.

O meu pai nunca nos deu permissão para beber álcool. Mas a estranha incentivou-nos permanentemente a experimentar pois iriamos desfrutar das alegrias do Mundo.

Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.

Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo e violencia. Os seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente reprováveis.
Agora sei que os meus conceitos sobre relações humanas foram influenciados fortemente durante a minha adolescência pela estranha.
Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso aos valores de ninguem, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para dentro da nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.

Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida dos meus pais, ainda a encontraria sentada no seu canto, esperando que alguém quisesse escutar as suas conversas ou dedicar o seu precioso tempo livre a fazer-lhe companhia...
O seu nome? Ah. o seu nome…

Chamamos-lhe TELEVISÃO!

Agora ela tem um marido que se chama Computador, um filho que se chama Telemóvel e um neto de nomeTablet,mas pior do que todos estes tem um parente chamado telemovel...!

A estranha agora tem uma família....reproduziu-se!

A nossa será que ainda existe?!

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