sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Banco suíço promoveu fraude fiscal ao guardar mais de 180 mil milhões

por David Mandim


Investigação teve origem em Hervé Falciani, funcionário italo-francês do HSBC, que já em 2008 tinha feito denúncias ao Governo francêsFotografia © REUTERS/Philippe Wojazer

SwissLeaks. Com 856 milhões de euros, Portugal é o 45.º país com mais dinheiro neste esquema de fraude fiscal e lavagem de dinheiro


O banco HSBC, através da sua filial em Genebra, Suíça, terá montado um esquema em que ajudava os clientes a esconder dinheiro e a escapar aos impostos, revela uma investigaçãorealizada por um consórcio internacional de jornalistas. Mais de 180 mil milhões de euros terão circulado neste circuito financeiro entre 2006 e 2007, que envolve 106 mil clientes de 203 países e 20 mil sociedades offshore. Durante este período, Portugal tinha um total de 856 milhões de euros, distribuídos por 611 clientes e 778 contas bancárias. Na lista por países, Portugal é 45.º com mais dinheiro envolvido neste esquema.

No topo da lista por países está aSuíça, com 27,3 mil milhões, seguido pelo Reino Unido com 19 mil milhões. A Venezuela é o terceiro com mais de 10,5 mil milhões no HSBC, numa época em que o petróleo era muito rentável para o governo do então presidente Hugo Chávez.

De acordo com as informações ontem divulgadas, a lista de clientes do HSBC integra diferentes figuras, desde desportistas como Fernando Alonso e Valentino Rossi, vedetas do mundo do espetáculo, casos de Elle MacPherson e o estilistas Valentino, cantores como David Bowie e Tina Turner até homens de negócios e membros da realeza, casos dos monarcas da Jordânia e de Marrocos. SwissLeaks, como é denominado, é a exposição pública da fraude que o braço suíço do banco inglês HSBC terá feito ao ajudar os seus clientes ricos a esquivarem-se aos impostos e a esconderem milhões de euros em ativos. O dinheiro era distribuído em pacotes não rastreáveis e o HSBC aconselhava os clientes sobre a forma de contornar as autoridades fiscais.

A investigação teve origem em Hervé Falciani, um funcionário italo-francês do HSBC, que já em 2008 tinha feito denúncias ao Governo francês. A investigação então lançada ficou conhecida como "Lagarde liste" - na altura Christine Lagarde, atual líder do FMI, era ministra das Finanças. Agora, com os dados de mais de 100 mil clientes, de 203 países, o jornal francês Le Monde e os restantes membros do ICIJ começaram ontem à noite a divulgar a investigação à lista de Falciani.

O HSBC, que é o segundo maior grupo bancário do mundo,admitiu irregularidades cometidas na sua filial suíça. "Nós reconhecemos e somos responsáveis pela vigilância no passado e pelas falhas de controle", disse o banco numa mensagem escrita.

Entre os beneficiários estão pessoas que constavam nas listas de mais procurados da Interpol, como é o caso de Mozes Victor Konig e Kenneth Lee Akselrod, ambos negociantes de diamantes. O caricato é que a lista de clientes inclui também Elias Murr, que é presidente do Conselho de Fundação da Interpol para Um Mundo Mais Seguro, organização de combate ao terrorismo e ao crime organizado.

A corrupção em África é outro dos escândalos associados, como um suborno alegadamente feito pela multinacional Halliburton a governantes da Nigéria no valor de 161 milhões de euros.O HSBC tinha mesmo nomes de código para certos clientes.

De acordo com a investigação, autoridades tributárias de todo o mundo tiveram acesso aos dados em 2010 mas até hoje nunca as práticas do banco foram tornadas públicas.

Os investigadores admitem que nem todas as contas do HSBC possam ser consideradas como beneficiárias de fraude fiscal já que isso depende das leis tributárias de cada país.

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