Porto: O Palácio do Freixo

ALBERTO PINTO NOGUEIRA  21/10/201

Quem estiver no sopé da ponte Luís I (não de “ D. Luís I “ que o Porto não se afeiçoa a aristocracias e títulos nobiliárquicos), vá uns quilómetros pela margem direita do Douro até ao Freixo.
Lá mais para cima, encontra o Palácio do Freixo, monumento nacional, hoje Pousada do Freixo. É o único palácio daquelas bandas e o mais bonito edifício que ali há sobre o Douro.

Foi construído, nos meados do séc. XVIII, pelo projectista e arquitecto italiano Nicolau Nasoni. Dono da obra foi o deão da Sé do Porto, D. Jerónimo de Távora e Noronha.

Joel Cleto, conhecedor da arquitectura e artes da região do Porto, diz que Nasoni é o “arquitecto do Porto”, tal é a marca indelével que a sua arte assume na cidade. Também diz que o palácio é “um dos mais significativos do barroco português” e a “obra mais significativa da arquitectura civil” de Nasoni. Deixou por cá muita construção admirável, a começar pelo ex libris da cidade, a Torre e Igreja dos Clérigos.

A beleza do Palácio fala por si. Basta olhar.

Hoje é uma bela e luxuosa pousada para uso e regalo do povo. A Pousada do Freixo, com lindas salas e quartos, restaurantes, piscinas interior e exterior, jardins lindíssimos que namoram o Douro e espiam a Serra do Pilar. A preços pesaditos.

O Palácio suportou muita coisa, degradou-se, restaurou-se. A mais dolorosa foi ir parar às mãos do Estado em 1984. Indiciava mau agouro. Muito abatido pelo descuido do costume, foi recuperado em 2000 pelo arquitecto Fernando Távora.

A Câmara Municipal do Porto (CMP) cuidou de adquirir o Palácio, propriedade do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Foi boa política que o Estado, nesta como noutras matérias, é o que já se sabe. Adquiriu o Palácio e Fábrica por permuta com o IEFP. Estórias de números e negócios.

• A Direcção-Geral do Património (DGP) avaliou o Palácio do Freixo e Fábrica em 8.050.687.50 euros.
• A um prédio sito no Aleixo da CMP atribuiu o valor de 1.930.000 euros.
• Uma entidade privada, por encomenda do Estado, avaliou o Palácio e Fábrica em 20.700.000.00 euros. Outros critérios.
• O Conselho de Ministros autorizou, em 20 de Janeiro de 2005, a CMP e IEFP a trocarem entre si os prédios pelos valores encontrados pela DGP.
• Fez-se a permuta em 26 desse mês.
• Trocaram-se o Palácio e Fábrica pelo terreno do Aleixo. Nasceu um novo valor em desacordo com o decidido pelo Conselho de Ministros: os dois valores converteram-se num só, 896.860.80 euros.

Há coisas que escapam ao entendimento do mais modesto entendimento. Como é que o Estado (IEFP) trocou um Palácio de Nicolau Nasoni por um terreno de construção no bairro do Aleixo? Há quem matute nisto há oito anos. Nada, nada que o suporte. O cidadão padece de carências, é limitado. Ante a grandeza genial do Governo!

Já o munícipe do Porto tem razões de sobra para se orgulhar da sua Câmara. Sem reserva mental. Tem mesmo.

A CMP, e bem, desenvencilhou-se do Palácio e Fábrica. Cedeu-os, em 15 de Março de 2006, ao Grupo Pestana. Foi política correcta. Salvou-se o Palácio . A Pousada é de grande qualidade. A CMP recebe uma renda mensal de 2500 euros a que acresce 2% do valor do apuro líquido da Pousada. Contas de e para entendidos.

A deslumbrante obra de Nicolau Nasoni permanecerá. Na arte, poesia do local e seus jardins encantadores. A Serra do Pilar lá em cima e o Douro veloz cá em baixo.

O Palácio do Freixo bem merece que o estudem, apreciem. A Pousada também. Se puder, faça as duas coisas.