Pertenço à minoria de homens que gostam de ir ao supermercado. Faço as compras do mês (leite, cereais, conservas, arroz, feijão, massas, azeite, óleo, manteiga, etc.) no Continente, a que me fidelizei pelo cartão, que depois vou retocando noutros lados. Para a fruta, recorro à mercearia da Susana, no Largo Tito Fontes, aqui ao lado do JN. Vou ao Corte Inglés por causa das azeitonas kalamata, da mortadela de Bolonha e do salame de Milão. Lá em casa, apreciamos muito os bolinhos de bacalhau e as chamuças congeladas do Lidl. Do Pingo Doce, sou freguês de alguns produtos de marca própria, como os espumantes brutos (branco e rosé) e o sumo de laranja, cenoura e limão, que acho delicioso. E assim por diante.
Este sistema diversificado de compras permite-me estar razoavelmente ao corrente da evolução da oferta e de marketing das diferentes cadeias, sendo que a que mais me impressionou, neste último particular, foi a decisão do Pingo Doce de cobrar aos clientes dois cêntimos por saco de plástico.
Foi de se lhe tirar o chapéu. Com uma só cajadada, a Jerónimo Martins matou dois coelhos. Ficou bem na fotografia, com a imagem de empresa preocupada com o ambiente, ao mesmo tempo que repassava um custo para os clientes, que na sua esmagadora maioria aceitaram sem protesto o desafio ecológico e desataram a comprar os bonitos e práticos sacos reutilizáveis que o Pingo Doce pôs à venda por 50 cêntimos.
Apesar do êxito desta manobra do Pingo Doce (que imitou uma prática do Lidl), nós continuamos a ser os europeus menos amigos do ambiente, já que anualmente cada português usa 466 sacos de plástico (89% são utilizados apenas uma vez e apenas 6,6% são reciclados), sendo que a média europeia anda nos 198, ou seja quase quatro por semana, que é o que um dinamarquês gasta por ano.
Os sacos de plástico são uma praga. Demoram um século a degradar-se e os severos custos ambientais que provocam estão à vista. No Pacífico Norte, há uma ilha flutuante do tamanho da Colômbia formada por 150 milhões de toneladas de plástico e com dez metros de profundidade.
Responsáveis por inundações e morte de gado (um estudo feito na Mauritânia apurou que 80% das vacas tinham restos de plástico no estômago), os sacos de plástico estão proibidos em 20 países africanos, como o Ruanda, o Gabão e o Quénia. Ou seja, ao preocupar-se com o assunto, aprovando uma diretiva para a redução do uso de sacos de plástico e estabelecendo metas temporais (menos 50% até 2017 e menos 80% até 2019), Bruxelas não está a ser nem pioneira, nem ousada.
Não é preciso inventar nada. Agora que os impostos verdes estão na moda, a Passos Coelho basta copiar. Copiar a Irlanda, que impôs uma taxa de 22 cêntimos por saco plástico (dava para 11 sacos no Pingo Doce), reduzindo assim o seu consumo em 90%. E copiar o dois em um da Jerónimo Martins, que sacou mais dinheiro à freguesia e ficou com a boa imagem de empresa comprometida com a sustentabilidade do planeta.
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