Diogo Feio
Inauguramos hoje a exposição sobre o Potencial Económico da Língua Portuguesa.
Esta exposição, organizada pelo Instituto Camões, a quem saúdo na pessoa da senhora Dra. Gabriela Soares de Albergaria, e coordenada cientificamente pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, visa não apenas apresentar a língua portuguesa como aquilo que ela hoje já é:
• a quarta mais falada no mundo,
• a mais falada no hemisfério sul,
• a quinta na internet,
• a terceira nas redes sociais,
• a única, para além do inglês, que é língua materna em cinco continentes, mas também demonstrar como há margem para aprofundarmos o seu potencial de comunicação, nomeadamente em termos económicos.
Todos os que aqui estão, ou quase todos, conhecem a língua portuguesa, entendem a sua riqueza e compreendem como esta evoluiu e deixou de estar circunscrita à península ibérica para se transformar num instrumento de comunicação verdadeiramente global.
O jornalista brasileiro Apparício Torelli (conhecido por Barão de Itararé) dizia que "O português é uma língua muito difícil. Tanto que calça é uma coisa que se bota, e bota é uma coisa que se calça" mas a verdade é que cada vez mais pessoas falam português e cada vez mais querem aprender.
Foi em português que se inaugurou a globalização. António Gedeão disse-o desta forma:
- "Moldei as chaves do mundo a que outros chamaram seu, mas quem mergulhou no fundo Do sonho, esse, fui eu."
A nossa língua comum foi enriquecida por palavras de todas as costas em que aportaram navios portugueses, mutou-se no contacto próximo, íntimo e fecundo entre povos, diversificou-se nas interpretações próprias que estes povos e mais recentemente os seus novos Estados lhe foram dando.
Ganhou outros tons e outros ritmos. Absorveu saberes e mesmo sabores. Passou, como diria José Eduardo Agualusa, de língua madrasta à língua materna que hoje é de angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos, são-tomenses e timorenses.
As potencialidades do português são inúmeras. Recorde-se que, no Índico, foi a língua franca durante muitos anos após a perda da hegemonia portuguesa naquele mar. E o registo dessa presença está gravado nele.
A língua é mais do que um conjunto de palavras e de regras gramaticais. É uma maneira de perspectivar o mundo e o outro. De os decifrar.
Mesmo nos momentos de maior conflito, os nossos líderes compreenderam essa importância comunicacional do português. Foi o caso de Amílcar Cabral que, no decurso da guerra na Guiné-Bissau, declarou, "O português (língua) é uma das melhores coisas que os tugas nos deixaram."
Se é verdade que não falamos da mesma forma, não será menos verdadeira a afirmação que falamos a mesma língua. À língua portuguesa pode aplicar-se o mote da União Europeia: está unida na diversidade. E permanece aberta à pluralidade e ao sincretismo que tanto a enriqueceram e fortaleceram.
Vergílio Ferreira escreveu que da nossa língua se via o mar. E é certo que assim é. Mas da nossa língua também se vê a profundeza da selva amazónica, o planalto central de Angola, a fauna da Gorongosa, o verde dos Açores, a Boavista, os Bijagós e se cheiram os cafés de São Tomé e de Timor. Da nossa língua vê-se o mundo. O mundo todo. Porque no mundo
todo é possível encontrar quem fale e compreenda o português.
Como ignorar que a nossa língua não se fala apenas nos Estados que a adoptaram como idioma oficial mas que esta se espraia, se enraíza e resiste noutros pontos do globo?
Na verdade, não é possível falar do potencial económico da língua portuguesa sem mencionar as comunidades que falam português em França, na Suíça, no Luxemburgo, na Alemanha, no Reino Unido, e dos outros lados do Atlântico na costa leste dos Estados Unidos, na Venezuela e na África do Sul. Como esquecer Macau, Goa ou mesmo Malaca?
Diz o povo que "é a falar que a gente se entende." As nossas gentes entendem-se directa e mutuamente naquela que é a terceira língua europeia global. Empresários e investidores dos quatro cantos do mundo podem falar na sua própria língua e estabelecer contactos e parcerias que não necessitam de mediação.
Esta exposição tem por propósito relembrar quantos somos, onde estamos e que o modo directo como nos entendemos pode contribuir decisivamente para que se estabeleçam, mantenham e reforcem os laços de compromisso e confiança que são essenciais para que a actividade económica floresça.
A visão e o potencial da língua portuguesa que aqui hoje demonstramos reafirmam a riqueza do português e procuram apresentá-la nessa vertente económica.
Um português do século XV e XVI poderia dizer-vos que, nas suas viagens, buscava sobretudo cristãos e especiarias. Hoje, os falantes de português em todo o mundo têm na língua que resultou dessa busca inicial um instrumento privilegiado que lhes permite aceder directamente a vários dos principais e mais vibrantes mercados mundiais.
Em tempos de crise económica e financeira estes dados e projecções devem encorajar empresários e investidores, animar universidades e centros de ensino e alentar os esforços das respectivas sociedades civis, visando estreitar os laços que já nos unem e que ultrapassam a geografia, e a abraçarmos em conjunto os novos desafios que nos são colocados pela globalização.
Deixo um conselho a quem ainda não sabe português: aprenda que vale a pena. Há 250 milhões de boas razões para isso!
Muito obrigado.
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