09 Janeiro 2015 por Baptista Bastos
No próximo dia 25, a Grécia vai escolher o seu novo governo. É uma etapa decisiva, não só para aquele país, como para a Europa, acaso para o mundo. O Syrisa, partido que constitui uma coligação de organizações de Esquerda, está à frente nas sondagens, o que deixa a chamada União Europeia, em especial a Alemanha da senhora Merkel, num sobressalto contínuo.
A estrondosa posição do Syrisa deve-se, antes de tudo, à resposta que os gregos entenderam como a mais justa face a este sistema de "rotativismo", no qual o poder é alternado ora por um partido conservador, ora por outro, dito "socialista." Exactamente o que ocorre em Portugal, com fastidiosa regularidade. O cansaço atingiu, já há alguns anos, anos de mais, os eleitores. Em Portugal, como em Espanha, foram criados partidos que se opunham a este lodaçal "democrático"; infelizmente, porém, as lutas internas pelo poder têm dizimado a urgente necessidade de entendimentos. O último caso foi o do Bloco de Esquerda. A ausência de Francisco Louçã não só demonstrou as fragilidades de uma organização, no meu entender importante e necessária, que parece não encontrar razão de ser.
A ascensão do Syrisa, que põe em causa a ideia de "democracia ocidental", tal como é entendida pelo sistema capitalista, que só a tolera porque o não incomoda, é o exemplo da possibilidade de entendimento entre movimentos de Esquerda. Em Espanha, o Podemos, demonstradamente inspirado no caso grego, começa a assustar os interesses instalados. As pessoas já não sustentam tanta mentira, tantos jogos malabares, e a indicação mais premente que tivemos foi a manifestação de mais de um milhão de pessoas, em Setembro de 2012. Mas o poder não vai com demonstrações daquele tipo. Aqui, em Portugal, a esperança reside em António Costa. Mas não será uma esperança infundada? Terá Costa força suficiente para enfrentar o "sistema"?, que dispõe de um poder incontrolável, e só obedece às leis do "mercado", entidade abstracta, que, no entanto, possui o contorno da finança, e, por decorrência, de um processo de crueldade sem limites.
O PCP parece-me imobilizado na sua própria doutrina. Não cede um milímetro sequer, o que é estimável como comportamento, mas que não deixa de ser evasivo como estratégia de subida ao poder.
Vivemos, pois, em Portugal numa perplexidade que é capaz de ser trágica porque só traz consigo as linhas retóricas do discurso simpático. O resultado das eleições gregas pode constituir um sinal. Claro que as forças da inacção começaram a mover-se: basta atentar no que disse Angela Merkel, que não passa de um "factotum" dos grandes interesses económicos transnacionais, ou de ler o que disse o pobre Durão Barroso, outro que tal.
Simpatizo com o processo e admiro a coragem moral e política de Alexis Tsipras, dirigente do Syrisa. Se este partido ganhar as eleições na Grécia, podem crer que muita coisa vai mudar. Com inevitáveis reflexos no nosso país, especialmente na nossa Esquerda.
Tiros contra a liberdade
O ataque ao semanário francês Charlie Hebdo representa o cume de uma crueldade que se baseia no irracionalismo. Morreram doze pessoas, deixando um legado de horror que não podemos deixar passar sem punição. Nota altíssima para Joaquim Vieira, o qual, na TVI, falou das causas profundas desta tragédia, lembrando a invasão do Iraque, baseada em mentiras e em falsificações. As coisas resultam, sempre, umas das outras, e as relações de causa e efeito foram, justamente, estabelecidas pelo honrado jornalista. Lembremos que a invasão do Iraque foi combinada nos Açores por W. Bush, Aznar e Tony Blair, socialista e tudo. O infeliz Durão Barroso serviu de mestre de cerimónias e, enquanto a quadrilha combinava a mortandade e as desgraças que se lhe seguiram, o tal Barroso estava numa esplanada, bebendo um cafezinho. Uma saudação para Joaquim Vieira, que representou, na quarta-feira, na TVI, a liberdade dos homens livres, como os jornalistas do Charlie Hebdo.
Sem comentários:
Enviar um comentário