Jean Cabut (aka Cabu) foi um dos cartonistas do Charlie Hebdo mortalmente atingido JOEL SAGET/AFP |
Wolinski foi um dos cartonistas do Charlie Hebdo mortalmente atingido VINCENT KESSLER/REUTERS |
Charb foi um dos cartonistas do Charlie Hebdo mortalmente atingido. Era o director do jornal satírico francês FRANCOIS GUILLOT/AFP |
Dois hom
ens armados enfrentam a polícia perto da sede do jornal Charlie HebdoANNE GELBARD/AFP |
Os bombeiros socorrem uma das vítimas do ataque PHILIPPE DUPEYRAT/AFP |
Um
a fotografia de arquivo com parte dos cartonistas do jornal satírico francês.JOEL SAGET/AFP |
A segurança nas ruas de Paris foi redobrada JOEL SAGET/AFP |
Charb, o director do jornal, em 2011, quando as instalações da publicação foram destruídas ALEXANDER KLEIN/AFP |
Entre as vítimas estão o director da publicação, Stephane Charbonnier, conhecido como "Charb", e outros membros do grupo de fundadores, Georges Wolinski e Jean Cabut, que assinava como "Cabu", segundo fontes policiais citadas pela imprensa local. Vários meios de comunicação relatam igualmente a morte do economista Bernard Maris, que colaborava com o jornal. A morte de dois agentes da polícia foi também confirmada pela procuradoria da capital francesa.
"Sinto-me muito mal. Mataram todos os meus amigos. É um massacre assustador. Há que não permitir que se instale o silêncio", afirmou aos microfones da rádio France Inter Philippe Val, que durante muitos anos foi director do Charlie Hebdo.
Para além dos 12 mortos há ainda 20 feridos, dos quais quatro em situação grave, revelou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, que também referiu terem sido três os autores do ataque e não dois, como chegou a ser avançado. O ministro garantiu ainda a mobilização de "todos os meios do Estado" para "neutralizar os três criminosos na origem deste acto bárbaro".
Perto das 11h30 (10h30 em Lisboa) três homens armados começaram a disparar no interior da sede do jornal satírico Charlie Hebdo, que em 2011 foi alvo de um outro ataque. Segundo uma fonte citada pela AFP, os homens estavam “armados com uma Kalachnikov e um lança-rockets” e disparam perto de "50 tiros", de acordo com algumas testemunhas.
Os homens, com a cara coberta, entraram no edifício, localizado numa rua do centro de Paris, quando decorria a reunião semanal da equipa do jornal, contou o jornalista Benoit Bringer à rádio France Info. “Alguns minutos depois, ouvimos muitos tiros”, disse Bringer.
O último cartoon de Charb |
"Matámos o Charlie Hebdo"
Um vídeo filmado por jornalistas que fugiram para o telhado do edifício mostra dois atacantes com capuzes, um deles dizendo: "Matámos o Charlie Hebdo. Vingámos o profeta Maomé."
Antes de fugirem, os homens trocaram tiros com alguns agentes da polícia, matando um deles à queima-roupa, segundo a France 24. Pouco depois, abandonaram o carro em que seguiam junto à Porta de Pantin, um subúrbio no Nordeste de Paris, onde atropelaram um peão, e continuam em fuga, de acordo com a polícia.
De acordo com um balanço feito ao final do dia pelo procurador de Paris, François Molins, entre as 12 vítimas contam-se oito jornalistas, dois agentes da polícia, um visitante da redacção e um funcionário da recepção do jornal.
O ataque coincidiu com a publicação da nova edição do Charlie Hebdo, que inclui um cartoon do director, Charb, que se revelou premonitório. "Ainda não houve atentados em França. Esperem. Temos até ao fim de Janeiro para os nossos desejos [de Ano Novo]."
O Presidente francês, François Hollande, deslocou-se ao local do ataque, que qualificou como "um acto terrorista", em declarações aos jornalistas. "Um acto de uma barbárie excepcional foi cometido hoje em Paris sobre jornalistas", disse ainda Hollande. "Vários atentados foram evitados" nos últimos tempos, acrescentou ainda o Presidente francês, sem entrar em mais pormenores.
Hollande convocou uma reunião de emergência no Palácio do Eliseu para a tarde desta quarta-feira e irá fazer uma comunicação ao país às 20h (19h em Lisboa). O nível de alerta de segurança VIgipirate foi elevado para o escalão máximo de "atentado terrorista" para toda a região parisiense. Segundo apurou o jornal Le Figaro, junto de fontes policiais, todas as redacções de órgãos de comunicação em Paris estão a ter protecção policial extra.
Os grupos empresariais Le Monde, Radio France e France Télévision ofereceram as suas instalações e meios à redação sobrevivente do Charlie Hebdo para que "o jornal continue a viver", anunciaram em comunicado.
O primeiro-ministro, Manuel Valls, afirmou que cada francês está "horrorizado" com o ataque e que "a França foi atingida no seu coração".
A líder do partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, dirigiu a sua condenação na direcção do "fundamentalismo islâmico". "Não se pode ter medo de usar as palavras: trata-se de um atentado terrorista cometido em nome do islamismo radical (...). Coloquem as questões certas e dêem respostas francas e claras", afirmou numa curta declaração.
Para o fim do dia estão convocadas manifestações de solidariedade com oCharlie Hebdo em várias cidades francesas, e para expressar o desprezo para com este ataque à liberdade de expressão, algumas delas convocadas pelos próprios presidentes de câmara.
O Conselho Muçulmano de França condenou “o acto bárbaro de extrema gravidade”, que é também “um ataque contra a democracia e a liberdade de imprensa”.
A Casa Branca condenou "nos termos mais fortes" o ataque contra o jornal francês. "Toda a Casa Branca está solidária com as famílias daqueles que foram mortos durante este ataque", afirmou o porta-voz presidencial Josh Earnest. Barack Obama ofereceu ajuda para "levar estes terroristas à Justiça".
O ataque foi também condenado pelo presidente dos Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire, que o classificou como um "atentado bárbaro". "É o tipo de coisas que se vêem no Paquistão ou na Somália, mas em França... É um ataque contra a liberdade de expressão, contra as nossas liberdades", afirmou em declarações ao Le Figaro.
O Governo português também manifestou a "profunda solidariedade" para com os familiares das vítimas e afirmou esperar que "os suspeitos deste acto bárbaro sejam rapidamente detidos, julgados e condenados". E a Assembleia da República prepara-se para aprovar na sexta-feira um voto de condenação ao atentado. No Parlamento, os deputados de todas as bancadas parlamentares coincidiram na condenação ao atentado em Paris, descrevendo-o como um "ataque à democracia" e à "liberdade de expressão" e apelaram à "unidade entre os povos".
Nas redes sociais, a solidariedade para com o jornal foi manifestada de várias formas. Os utilizadores do Facebook adoptaram esta imagem como foto de perfil e houve um grande aumento dos "gostos" na página do Charlie Hebdo. Um evento de solidariedade convocado pelo Facebook para a Praça da República, em Paris, às 18h, tem já mais de dez mil participantes inscritos. No Twitter, as hashtags mais utilizadas nas últimas horas têm sido #JeSuisCharlie, #CharlieHebdo e #Charlie, todas em referência ao atentado.
O jornal tinha sido, em 2007, um dos que reproduziram 12 cartoonscontroversos de Maomé, alvo de uma onda de indignação no mundo árabe, em solidariedade com o jornal dinamarquês que primeiro os publicou, oJyllands-Posten.
Em Novembro de 2013, um homem armado entrou no diário Libération e disparou, atingindo duas pessoas sem chegar a matar. “Da próxima não falho”, terá dito a um editor que estava à entrada. A seguir ainda disparou contra a fachada do banco Societé Générale, sem atingir ninguém. A polícia só encontrou o autor dos disparos, Abdelhakim Dekhar, inconsciente por overdose num carro num parque de estacionamento, três dias depois.
Teve uma primeira vida, de 1969 a 1981, mas ressuscitou em 1992, até ao presente, com edições semanais à quarta-feira. Mas foi a republicação doscartoons de Maomé do jornal dinamarquês Jyllands-Posten em 2006 que tornou o Charlie Hebdo internacionalmente famoso. Se normalmente vendia 100 mil exemplares, da edição de 9 de Fevereiro de 2006 vendeu 160 mil da primeira impressão, e mais 150 mil de uma nova impressão feita mais tarde. Foi processada por várias organizações religiosas islâmicas.
Não é só contra os integristas muçulmanos que o semanário Charlie Hebdoinveste: opositores do casamento gay, judeus, Marine Le Pen, François Hollande, o Vaticano, todos já foram alvo dos seus desenhos satíricos e mordazes.
Nada de espantar, na verdade: o Charlie Hebdo insere-se na tradição das publicações satíricas. À direita existe, por exemplo, o semanário Minute, sem as caricaturas divertidas e que foi condenado recentemente a pagar uma multa de 10 mil euros por ter comparado a ministra da Justiça, Chiristiane Taubira, a um macaco.
Esta não é a primeira vez que a sede do Charlie Hebdo, no 20ºarrondissement de Paris, é atacada. Em 2011, foi atacada à bomba, provavelmente devido à decisão de produzir uma edição especial com o títuloCharia Hebdo, em que o profeta Maomé seria colocado como o director do semanário. A capa do que seria esta edição especial já circulava na Internet há alguns dias antes do ataque.
Um grupo de rappers franceses produziu também uma canção em 2013, apelando a um "auto da fé contra os cães" do semanário satírico.
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