Semanário esgotou rapidamente em vários quiosques de Paris
PHILIPPE HUGUEN / AFP
Filas para comprar o Charlie Hebdo
MARTIN BUREAU / AFP
PHILIPPE HUGUEN / AFP
A edição número 1179 do Charlie Hebdo chegou às bancas esta quarta-feira, precisamente uma semana depois do ataque de dois fundamentalistas islamitas que matou 9 membros da redacção. Tudo nesta edição é histórico e são muitos os franceses que querem guardar o jornal.
Pelas 8 horas (7h em Portugal continental) já eram várias as bancas sem exemplares para decepção de muitos clientes, como constataram os jornalistas da AFP e do Le Figaro. Na estação de Auber, no centro de Paris, oCharlie Hebdo aguentou dez minutos no quiosque de Sarah. “Talvez amanhã…”, lê-se num cartaz afixado. Na Gare de l’Est, o quiosque abriu às 6h e bastaram 40 minutos para os 125 exemplares do semanário se esgotarem, conta o Le Monde. “Algumas pessoas levaram dez, cinco…”, disse a responsável.
Foram impressos três milhões de exemplares do Charlie Hebdo, mas independentemente das quantidades presentes nos quiosques franceses, a resposta parece ser sempre a mesma. “É incrível, tinha uma fila de 60, 70 pessoas à frente da loja quando abri. Nunca vi algo assim, os meus 450 exemplares esgotaram-se em 15 minutos”, contou à AFP uma vendedora.
A procura sem precedentes levou a distribuidora a anunciar esta manhã que vão ser impressos mais dois milhões de exemplares.
A capa do semanário foi revelada no início da semana. Uma caricatura do profeta Maomé, sobre fundo verde, com uma lágrima no olho e a segurar um cartaz com o lema das manifestações de solidariedade para com o jornal – “Je suis Charlie”. Em cima pode ler-se “Tudo está perdoado”.
O profeta do Islão é caricaturado apenas na capa, mas no interior da edição há vários desenhos de extremistas. Num dos cartoons, dois terroristas chegam ao paraíso e perguntam pelas 70 virgens, enquanto os cartoonistas mortos do jornal se envolvem numa orgia, descreve o correspondente da BBC em Paris, Hugh Schofield.
O editorial refere a onda de solidariedade que se formou um pouco por todo o mundo após os ataques, mas há igualmente uma condenação das posições que criticavam a postura do jornal que, por criticar o Islão, estaria a desafiar as reacções mais extremas.
A edição especial irá contar apenas com oito páginas – em vez das 16 normais – e é distribuída em 25 países, incluindo Portugal, e traduzida em seis línguas, incluindo árabe e turco. Na Turquia um jornal da oposição ao Presidente, Recep Tayyip Erdogan, publicou quatro páginas da edição do semanário francês. Antes, a polícia realizou buscas na redacção do Cumhuriyet para tentar travar a distribuição do jornal. A publicação acabou por sair para as bancas, depois das garantias dadas de que a caricatura de Maomé não seria incluída, segundo o site do jornal Hurriyet.
De acordo com a AFP, o Cumhuriyet foi o único jornal de um país muçulmano a publicar algum conteúdo do Charlie Hebdo.
A continuação da publicação de caricaturas do profeta foi criticada por alguns sectores muçulmanos. “Não é nem razoável, nem lógico, nem sábio publicar os desenhos e os filmes que ofendem o profeta ou ataquem o Islão”, afirmou o líder da União Mundial dos Ulemas Muçulmanos, Youssef al-Qaradoui, através de um comunicado.
O Irão considerou a caricatura de Maomé um "gesto insultuoso" e alertou para a entrada "num círculo vicioso de violência". "Condenamos o terrorismo em todo o mundo (...) mas ao mesmo tempo também condenamos este gesto insultuoso do semanário", disse o porta-voz da diplomacia iraniana, Marzieh Afkham. Na sequência dos ataques, o Presidente, Hassan Rohani, condenou "a violência e o terrorismo" e mostrou-se receoso perante o início de uma vaga de "islamofobia" no Ocidente. com agências
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