Os investidores dão-lhe outro nome, mas trata-se de uma prática semelhante ao “subprime”, que regressa assim aos EUA, relata a Bloomberg.
O negócio de transformar hipotecas em obrigações, sem garantias governamentais, está a regressar aos EUA. A estes títulos, os investidores chamam-lhe "nonprime", em vez de "subprime", relata a agência noticiosa Bloomberg.
Segundo a agência, o fundo de investimento Seer Capital Management, a gestora financeira Angel Oak Capital e o banco australiano Macquarie Group Ltd. são algumas das empresas que estão a adquirir empréstimos de clientes que não conseguem contrair hipotecas tradicionais, devido a historiais de crédito baixos, falências e rendimentos mal documentados. Estas empresas planeiam canalizar as hipotecas para títulos de risco variável e vender uma parte a investidores este ano.
O termo "subprime", surge por oposição aos empréstimos tradicionais, para caracterizar os empréstimos, nomeadamente à habitação, com menores garantias, contraídas por pessoas sem rendimento fixo, sem emprego ou activos, que pagam por isso juros mais altos. A prática, que foi crescendo nos EUA entre 2005 e 2007 até a um ponto insustentável, levou à falência de bancos e credores, desencadeando uma crise financeira global em 2007.
Por isso, "subprime" tem agora uma conotação negativa, admite John Hsu, chefe de mercados de capital na Angel Oak, à Bloomberg. A Angel Oak prefere por isso utilizar o termo "nonprime" para caracterizar estes empréstimos, que utilizam práticas próximas do crédito "subprime", relata a Bloomberg. "O que toda a gente está a observar é que a caixa de crédito diminuiu tanto que há muitos clientes potenciais no mercado que não estão a ser servidos", afirmou Hsu.
As empresas de investimento estão assim a tentar dinamizar o mercado sem repetir os erros que levaram à crise de 2007. O risco maior permite também maior rendibilidade, oferecendo às empresas uma forma de aumentar os rendimentos, numa altura em que os bancos centrais estão a baixar as taxas de juro para estimular a economia. Mas desta vez, os investidores retêm os riscos maiores dos negócios com as hipotecas, relata a Bloomberg.
Desde a crise, a securitização dos empréstimos à habitação sem garantia do governo tem estado adormecida nos EUA, segundo a Bloomberg. No ano passado foram efectuados negócios no valor de 8,8 mil milhões de dólares com novos empréstimos, mas associados a créditos "prime" que procuram, desta forma, margens maiores. Durante o "boom" de 2005 a 2007, foram emitidos mais de 2 biliões de dólares em obrigações baseadas em "subprime" (ou hipotecas Alt-A), de acordo com a revista Inside Mortgage Finance, citada pela Bloomberg.
Apesar destes sinais de retorno, a memória recente da crise do "subprime" está ainda a afastar muitos investidores, relatam os analistas ouvidos pela Bloomberg. "A razão pela qual os investidores não voltaram ao mercado é que os problemas dos conflitos de interesse e falta de transparência não foram resolvidos", afirma Chris Ame, chefe dos produtos securitizados na Schroder Investment Management North America Inc., à Bloomberg. A maior parte dos programas para empréstimos fora das garantias governamentais não se enquadra numa categoria legal criada o ano passado – "hipotecas qualificadas" -, o que permite aos detentores dos empréstimos processar os credores em tribunal e ser compensados pelos danos, se conseguirem provar que não tinham possibilidade de pagar o crédito – situação que está a afastar investidores.