Não acredito que a Suíça ou a Inglaterra levem 500 mil euros por um visto de residência. Levam com certeza dez vezes mais.
Portugal resolveu vender vistos de residência a 1.429 chineses, 58 russos, 55 brasileiros, 43 cidadãos da África do Sul e 30 libaneses. Por essa inesperada liberalidade recebeu à volta de 1.000 milhões de euros. Se fossem mais, e se fossem todos, como se diz na América, “caucasianos”, desconfio que não teria havido o menor protesto, mesmo com algumas falcatruas pelo meio. Mas custa a engolir que tanta e tão exótica gente descobrisse em si, do pé para a mão, uma irresistível atracção pelo Algarve e pelos pastéis de Belém. A xenofobia indígena é grande e só aceita a presença do “estrangeiro” se for intermitente e bem paga. Desta vez, não parece bem paga e ninguém quer ver as nossas queridas ruas cheias de chineses, a fazer negócios, por muito honestos que sejam, em mandarim ou noutra língua qualquer.
Também as criaturas que adquiriram o chamado “visa de ouro” não querem fazer negócios. Querem um banco relativamente seguro e o direito de se passear pela Europa. Quando as coisas lá na terra donde vieram lhes correrem mal (e há uma alta probabilidade disso), basta que se metam num avião e tomem tranquilamente posse do que compraram aqui. Claro que haverá sempre patifes que se servem deste leilão de cidadania para “branquear” o seu dinheiro, corromper funcionários, aldrabar o Estado e habilidades do género. Mas, na miséria em que estamos, mil milhões de euros são mil milhões de euros, que não se deitam pela janela fora. O Governo ficou contentíssimo e a oposição, apesar de meia dúzia de resmungos, ficou, pelo menos, resignada. Claro que, no meio da trapalhada, a extrema-esquerda agitou a sua usual indignação e a esquerda populista berrou, como lhe compete, contra o poder do dinheiro.
Infelizmente, ninguém reparou na parte vergonhosa desta história: os preços que o Estado pede pelo país, ou partes dele, andam pelas ruas da amargura. Não acredito que a Suíça ou a Inglaterra levem 500 mil euros por um visto de residência. Levam com certeza dez vezes mais. Fora os que, para o povo os tolerar, se devem ao cuidado de financiar um clube de futebol, um Mourinho qualquer e meia dúzia de jogadores. Aqui nem se acharam na obrigação de ajudar o Sporting. Esta despromoção de Portugal a loja barata não deixa de ofender um verdadeiro patriota. Os saldos, espero bem, ainda não começaram. É preciso que o Governo estabeleça novas tabelas para os vigaristas desse mundo turvo da globalização. Nós somos pequeninos, mas muito bons
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