segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Em 11 de Setembro de 1973, SALVADOR ALLENDE sofria o golpe de Pinochet no Chile


Digno de um ataque terrorista, o acto instaurou uma ditadura brutal no país

ANDRÉ NOGUEIRA PUBLICADO EM 11/09/2020

Salvador Allende, ex-presidente chileno - Getty Images


Em 1970, o Chile atraiu as atenções do mundo quando uma singularidade histórica ocorreu: um socialista convicto subiu ao poder, através de eleições democráticas. Salvador Allende assumiu o governo do Chile com grande apoio popular, defendendo o socialismo democrático.

E foi o que aconteceu. Oficiais da Marinha e do Exército, com apoio financeiro da CIA e suporte das Forças Armadas dos EUA, e grupos terroristas de extrema-direita aliaram-se para o derrube do Presidente, membro do Partido Socialista (alinhado à Unidade Popular).

 O governo foi marcado por nacionalizações, expropriações legalmente garantidas e pela defesa dos mais pobres. Em plena Guerra Fria, num momento em ocorriam golpes militares anticomunistas na América, Allende tornou-se alvo. Forças golpistas, incluindo um núcleo conservador das Forças Armadas e o intervencionismo norte americano, queriam a cabeça do socialista.

 
Salvador Allende / Crédito: Wikimedia Commons

O golpe ocorreu em 11 de Setembro de 1973 e o maior nome desse movimento foi Augusto Pinochet, que se declararia presidente com o sucesso e também seria responsável por uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina.

O mais curioso, pensando na data em que o episódio ocorreu, é que o ataque ao governo eleito foi digno de um atentado terrorista, mas não é lembrado como tal. O Exército Chileno, com suporte dos EUA, bombardeou o Palácio de La Moneda, sede do governo, e invadiu o edifício em destruição para retirar o presidente.

A junta liderada por Pinochet, então, foi atrás de Allende. E depois de disparos, o embrionário ditador declarou a morte do presidente, levantando suspeitas. O discurso oficial dos golpistas era de suicídio, com um tiro na cabeça usando uma metralhadora AK-47(Kalashnikov), presente de Fidel Castro a Allende. No entanto, durante muito tempo, muitos acreditaram que a sua morte foi um caso de assassinato.

Foi somente em 2011, com uma perícia técnica, que foi comprovada a tese do suicídio, já reconhecida pela família do socialista: Allende sabia que, depois do golpe, a humilhação e a violência do Estado chegariam facilmente a ele. Por isso, optou pelo fim da vida.

Cronologia do último dia de vida de Salvador Allende no Chile

O dia 11 de Setembro é lembrado no Chile pelo golpe de Estado que ocorreu em 1973, onde forças golpistas bombarderam por terra e ar o Palácio presidencial de La Moneda e o então presidente socialista Salvador Allende se suicidou.

No aniversário dos 40 anos do golpe militar no país, confira a cronologia divulgada pela imprensa do último dia de vida do presidente chileno Salvador Allende.

- 6h20
Toca o telefone na residência presidencial da rua Tomás Moro. O presidente Salvador Allende é alertado de que a Marinha se amotinou no porto de Valparaíso.

Depois de desligar, Allende avisa a sua segurança e deixa o Palácio Presidencial de La Moneda, no centro de Santiago. Depois de meses de tensão, nessa terça-feira de 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas finalmente se levantaram para derrubá-lo.

Nos principais quartéis do país, porém, a atividade começou pouco depois da meia-noite: as tripulações dos tanques ligaram os motores dos blindados, os pilotos ouviram os 'briefings' de voo, e os generais deram os últimos telefonemas para verificar a subordinação das tropas.

Enquanto seguia para La Moneda, Allende compreende que o Golpe foi antecipado para evitar que conseguisse concretizar seu projeto de convocar um plebiscito, em um esforço desesperado para salvar o governo da Unidade Popular (UP). Com mil dias no poder, a coalizão de esquerda agonizava, após um desgastante confronto com a oposição, formada pela direita e pela democracia-cristã.

O confronto começou no dia de sua vitória eleitoral, em 4 de setembro de 1970, quando prometeu uma revolução socialista 'à la chilena', à qual os Estados Unidos se opuseram diante da ameaça do surgimento de uma 'segunda Cuba'.

- 7h30
Allende entra no Palácio de La Moneda, empunhando a metralhadora AK-47 que tinha ganho de presente do líder cubano Fidel Castro, e com a convicção de que não o tirariam vivo do prédio.

De fato e gravata, Allende organiza a resistência imediatamente e entrega armas aos colaboradores que decidiram permanecer ao seu lado - um grupo de pouco mais de 40 pessoas, entre ministros, amigos e a segurança privada.

Em outro lugar de Santiago, opera o Estado-Maior da rebelião, integrado pelos comandantes das três forças militares: o general Augusto Pinochet, o almirante José Toribio Merino e o general da Força Aérea, Gustavo Leigh, além do chefe de polícia, César Mendoza.

Salvador Allende e a família


- 8h30
É divulgada a primeira declaração do golpe, na qual se exige a rendição de Allende, ordena-se às pessoas que permaneçam em suas casas e determina-se à imprensa 'viciada na UP' que suspenda as actividades, sob o risco de receber 'castigo aéreo e terrestre'.

Dentro do palácio presidencial, Allende permanece sereno e determinado.

"Era uma mistura muito forte e curiosa. É difícil ver uma pessoa que, ao mesmo tempo, tivesse esse grau de serenidade e uma decisão tão clara: imediatamente, começou a organizar as pessoas", contou à AFP a filha Isabel Allende, que o acompanhava nesse dia.

"Ele conversou com seus assessores, secretários, ministros e ajudantes, dizendo-lhes que abandonassem o palácio, que ele não queria mortes desnecessárias e que era importante fazer um relato do que estava acontecendo", completa Isabel.

- 9h15
Começa o ataque. O Exército sublevado abre fogo contra La Moneda.

Das janelas do La Moneda e de alguns edifícios próximos, franco-atiradores disparam contra os soldados.

Quando os ataques se intensificam, Allende reúne aqueles que continuavam combatendo e os convida, novamente, a deixar o palácio.

Salvador Allende en familia.
Beatriz Allende, Luis Fernández, Salvador Allende, Carmen Paz Allende, Gonzalo Meza Allende, Hortensia Bussi, Fernando Tambutti, Isabel Allende y el perro Chahual.


O comando militar comunica-se com Allende, exige a sua rendição e lhe oferece um avião para deixar o país.

"Rendição incondicional, nada de parlamentar. Rendição incondicional!", exige Pinochet, um diálogo captado por rádio amadores.

"Mantém-se a oferta de tirá-lo do país... E o avião cai, velho, quando estiver voando", acrescenta, provocando risos do seu interlocutor, o chefe do Estado-Maior, Patricio Carvajal, que tentava negociar com Allende.

"O presidente não se entrega!", respondeu Allende, que recebe um ultimato dos golpistas: ou se rende, ou La Moneda será bombardeado às 11 da manhã.

Tendo como pano de fundo os disparos dos tanques e o voo rasante dos dois aviões Howker Hunter, Allende entende que o Golpe avança sem trégua e decide divulgar uma última mensagem ao país:

"Não vou renunciar! Colocado num impasse histórico, pagarei com minha vida a lealdade ao povo", diz Allende, com voz firme, mas tranquila.

"E lhes digo que tenho a certeza que a semente que entregaremos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. Têm a força, poderão nos esmagar, mas não se detêm os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa, e a constroem os povos".

Cartaz em manifestação


"Ele estava a despedir-se, agradecendo aos jovens e às mulheres e a todos aqueles que o apoiaram, mas falou claramente e, ao mesmo tempo, estava a deixar uma mensagem de esperança para nós", disse a filha, Isabel.

- 11h50
Começa o bombardeio aéreo. Dois Hawker Hunters atacam o palácio.

Alguns foguetes explodem no interior do prédio, que começa a pegar fogo e lançar grossas colunas de fumo.

Um pelotão de militares entra no pátio central.

Cercados, os últimos combatentes descem pela larga escadaria do andar superior do La Moneda para se entregar. Nesse instante, ouve-se um disparo.

O líder socialista, de 65 anos,tinha-se suicidado com uma bala, com a metralhadora presenteada por Fidel.

- 14h
É a hora do assalto final. Soldados avançam até o andar superior e, no Salão Independência, caído sobre um sofá, encontram o corpo de Allende. "Missão cumprida. Moneda tomado. Presidente morto", anuncia o comando golpista.

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