Por
Baptista Bastos, jornalista e escritor português
Vivemos submersos num oceano caótico e imoral. E é bom que o repitamos sem descanso. Assim o faço e farei, enquanto estes diligentes velhacos por aí andarem.
Passos Coelho, que gosta de dizer coisas sem demonstrar grande preocupação com a verdade, afirmou, na "cimeira" com Rajoy, que deseja criar estabilidade e confiança, admitindo, de forma subjacente, o que, até agora, não conseguiu. Nada do que Passos diz me interessa, nem sequer mediocremente. Ele é um tipo sem palavra, que mantém, com o embuste e a mentira, uma relação entranhadamente doentia. E fá-lo com a amorosa cumplicidade do dr. Cavaco, certamente o pior Presidente da República que tivemos, incluindo o almirante Thomaz.
Vivemos submersos num oceano caótico e imoral. E é bom que o repitamos sem descanso. Assim o faço e farei, enquanto estes diligentes velhacos por aí andarem.
Na mesma ordem de ideias, o conflito que Passos alimenta com o Tribunal Constitucional atingiu as raias do obsceno. Ele e os seus sabem muito bem (ou, então, são burros) o que de inconstitucional apõem nos documentos orçamentais. Fazem-no porque ou jogam com a ideia de que o caso, ou os casos podem passar, ou desejam mesmo o confronto institucional, desgastante e vil. Inclino-me para esta última hipótese. Agora, ante a evidência dos factos, reafirmados por constitucionalistas respeitados, a rapaziada decidiu pedir a "aclaração" dos acórdãos. Nada disto é para ser levado a sério: mas, entretanto, Passos ganha tempo para cometer as piores prevaricações.
A base social de apoio da Coligação está notoriamente esvaziada, como as últimas eleições o provaram. E a própria natureza dos resultados exigia que o dr. Cavaco anunciasse eleições antecipadas. Mas este homem desasado e estranho pertence a outra estirpe, que não possui o timbre do cavalheirismo. Mantém-se calado e ignaro, e quando o faz, só diz disparates e tolices.
Faz lembrar, tomando as devidas distâncias e com perdão da palavra, a presidente dos bancos portugueses alimentares contra a fome, Isabel Jonet, cujo meritório trabalho (ao contrário do outro, que o não é) fica um pouco turvo de cada vez que emite uma opinião. A doce senhora proferiu, há dias, uma frase que faz arrepiar o espírito mais insensível. Disse: "Um pão custa o mesmo para quem ganha bem ou 120 euros." Não custa, no sentido exacto da palavra. 120 euros não dispõem de idêntico valor nas possibilidades de, por exemplo, Américo Amorim, e de quem tem somente o salário mínimo. Isabel Jonet é, certamente, boa pessoa, tem bom ar, deve ser excelente mãe de família - MAS, POR FAVOR, ESTEJA CALADINHA!
Caladinho, por exemplo, tem estado António José Seguro, a ver o que as modas lhe dizem. Caladinho que nem um rato esteve durante os Governos de José Sócrates. Aguardou, de tocaia e com minuciosa astúcia, o desenrolar dos acontecimentos, e soltou as pequenas garras quando lhe pareceu que a situação lhe era propícia. Organizou o "aparelho" a seu bel-prazer, declarou ao Expresso um desígnio que, na altura, fez furor ("Estou cansado da política, mas disponível para ir para o Parlamento Europeu"), e, caladinho, caladinho, praticou o mesmo de António Costa: de supetão apareceu, impante e sereno.
É a política, comentou, ligeiro, um recém-adepto do Costa. Não creio que a política seja rigorosamente isto. Mas assim tem sido: entre deslizes de amizade, manhas de oportunistas e pouca clareza nos comportamentos morais. Ouvimo-los e não acreditamos: ou, melhor, desprezamo-los com a evidência dos factos vistos e ouvidos. Se os resultados eleitorais não são de molde a fazer modificar os caracteres, então, que fazer?
"Isto dá vontade de morrer!", como confessou Alexandre Herculano ao seu amigo Bulhão Pato.
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