terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma espécie de nostalgia do dirigismo


16 setembro 2013 Hospodářské noviny Praga
Tornados arautos do liberalismo em matéria de política e economia, após a queda do comunismo, os países da Europa Central voltam agora as costas à ideologia que acompanhou a chegada à democracia.
Martin Ehl

A crise está ou não a acabar? A evolução das economias da Europa Central deve inspirar-nos otimismo ou cautela? Nem os economistas nem os dirigentes políticos, muito menos os empresários, souberam responder claramente a essas questões no mais recente Fórum Económico anual, realizado de 3 a 5 de setembro de 2013 em Krynica, no sul da Polónia.

Mas a novidade, aquilo que provavelmente nunca foi tão evidente, é o grau de submissão crescente das economias da Europa Central às decisões, humor e tomadas de posição dos dirigentes políticos. Depois de mais de vinte anos de construção de um mercado livre e capitalista, esperava-se que o mundo económico desse mostras de independência da esfera política e dos seus dirigentes.
Os paradoxos polacos

Do ponto de vista da relação entre política e economia, a Polónia é um caso bastante paradoxal. As duras reformas do início dos anos de 1990 permitiram criar um ambiente de mercado mais competitivo do que o que foi instaurado na República Checa pelo “socialismo bancário” do [ex-ministro do Tesouro e ex-Presidente Vaclav] Klaus. Mas isso não impede que o Estado polaco ainda mantenha uma forte influência em centenas de empresas. Embora muitas estejam listadas na Bolsa de Varsóvia, o Governo continua a ser o acionista maioritário. Isso gera combinações interessantes, em que se misturam poder e fluxos de dinheiro, uma realidade com que os checos não estão muito familiarizados, a não ser na empresa de energia ČEZ.

Na Polónia, existem dezenas de empresas como a ČEZ. Através delas, o Governo influi na economia. Mantém um elevado nível de emprego (nas minas e fábricas de armamento) e alimenta o seu orçamento taxando-as de acordo com as necessidades.
O recuo do liberalismo
Destino semelhante ao liberalismo político, que nos últimos anos tem vindo a recuar na Europa Central, espera o seu alter ego económico

Destino semelhante ao liberalismo político, que nos últimos anos tem vindo a recuar na Europa Central, espera o seu alter ego económico. Em Krynice, os empresários asseguraram-se de que eram realmente eles a orientar o desenvolvimento económico. Mas o papel crescente da regulamentação e as intervenções cada vez mais significativas e repetidas do Estado tornam-se muito mais sensíveis do que há uma década. A imprevisível política económica do Governo de Viktor Orbán, na Hungria, com o aumento de impostos e a transferência de muitos ónus para as empresas, foi acompanhada pela aquisição de algumas grandes empresas pelo Estado. O plano de privatizações originalmente desenvolvido pelo [primeiro-ministro polaco, Donald] Tusk foi suspenso. As novas regras postas em prática na Eslováquia pararam praticamente a criação de empregos no setor privado, desde o início do ano.

Ouve-se dizer com frequência, nos debates checos, que os eleitores foram “roubados” pelo Estado. Na Polónia, Eslováquia e Hungria, pelo contrário, o Estado e a sua influência têm-se reforçado. E são os políticos para quem um Estado forte é uma premissa importante na prossecução dos seus objetivos e concretização dos seus sonhos que têm mais poder e influência. O Presidente da República Checa, Milos Zeman, está a tentar fazer o mesmo no seu país. Mas, felizmente, não tem a energia de Viktor Orbán. Felizmente, os checos não mantêm a mesma relação epidérmica com a história que os polacos, sobre a qual construir um programa negativo semelhante ao previsto pelo [conservador] Jaroslaw Kaczynski, na Polónia. Também felizmente, não existe na República Checa uma base partidária e empresarial tão significativa como na Eslováquia, onde o partido Smer do [ex-primeiro-ministro] Robert Fico é, de facto, uma empresa gerida por vários grupos interesses.

A crise afetou seriamente a democracia liberal europeia, com os dirigentes políticos a revelar-se incapazes de dar respostas adequadas. Quanto aos não liberais, conseguem ocupar grande parte do espaço abandonado pelos liberais. Como se os eleitores, fartos de politiquice e corrupção, quisessem esquecer estes 23 anos de experiência liberal e desejassem regressar a um Estado forte, que assegure praticamente todos os aspetos das suas vidas. Parece que, a longo prazo, a democracia liberal acaba por ser a maior vítima da crise, na Europa Central. A questão está em saber se a economia liberalizada não espera o mesmo destino.

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