ALBERTO PINTO NOGUEIRA
13/05/2014
Há 40 anos, votamos sempre nos mesmos. Nos filhos dos mesmos. Nos netos dos mesmos. Hoje deputados, amanhã ministros, presidentes de câmara, depois gestores nas empresas públicas ou privadas. É o sistema eleitoral que eles imaginaram para se eternizarem no poder. Em Estrasburgo, no Parlamento, no Governo e nas autarquias. Chamam-lhe, anti-democraticamente, o “arco do poder”.
De quatro em quatro anos, concedem-nos a liberdade de votar. Nos deles. Capturaram o Estado, autarquias, as empresas É assim há 40 anos. No país, não há mais ninguém. O Estado é deles.
De quatro em quatro anos, despem-nos o fardo de contribuintes, pagadores extorquidos por impostos e mais impostos, taxas suplementares para tudo. Prometem devolver o que cortaram nos salários, nas reformas, para a dívida soberana que eles e os antecessores deles criaram, num vergonhoso descalabro para o país e seu povo. Culpam-se uns aos outros pela dívida. Atemorizam-nos com ela. Fariseus, vão dizendo que o povo “vive acima das suas possibilidades”.
Estão colados aos sofás e benesses do poder. Vestem-nos de cidadãos/eleitores para votar sempre nos mesmos. Sem ideias e sem projectos.
Elegemos parlamentos que não representam o Povo, antes os partidos e os seus interesses. Há descontentamento e desespero silencioso pelo país inteiro. Desemprego, pobreza, gente que teme o futuro, o próprio dia de amanhã. Legislar e governar é servir interesses deles e amigos. Outros interesses que não os do povo e do país.
O Parlamento que temos cá em casa, que elegemos, devia representar o povo. Representa os partidos. É um ventríloquo dos chefes. Não pensa, nem usa a crítica. Está atrofiado. Carece de “circulação intelectual”. De quando em vez, os Srs. Deputados têm “liberdade de voto”.
O Parlamento de Estrasburgo é como o de cá. Os donos dos partidos fazem as listas dos candidatos. Vota-se neles. Durante quatro anos só esporadicamente se sabe que existem. Regressam no fim do mandato para nova campanha. Ratificar o mandato antecedente. Nada ou quase nada, se sabe do que fazem. A tempos, exibem na televisão o seu estatuto de privilegiados. É território privado deles. Voltam a constar das listas para serem eleitos, mandato sobre mandato. Num ciclo incompreensível e infindo. Como se o país fossem eles. Só eles. O país, com ou sem resgates de dívidas, continua igual. As políticas são as mesmas. Das mesmas cabeças. De compadrio e de favores.
Maquiavel, no Príncipe, traçou a política de que os fins justificam os meios. A simulação e dissimulação são os alicerces de tal teoria política. Em Portugal, em nenhum tempo, como o de hoje, o maquiavelismo conduziu de tal modo a vida política. A regra é a da falsidade.
A conquista e manutenção do poder tudo justificam. Com a mesma cara de seriedade, se anuncia isto agora, logo o seu contrário. Da ética, nem uma gota. A mentira, a manipulação, as meias verdades, as omissões imperam.
As eleições, como estão, são terreno fértil a tais simulações e dissimulações. Pelo poder se mente. Se promete com reserva mental.
Gera-se o desânimo, desmotivação e descrença de um povo. Ouve-se no metro, autocarro ou café: “Votar para quê, se são todos iguais?"
O Povo abstém-se.
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