Investigadores da Universidade de Coimbra usaram um dilema da teoria de jogos, conhecido como “Guerra dos Sexos”, para ver o que acontecia no cérebro de um adepto de futebol com uma difícil decisão a tomar.
ANDREA CUNHA FREITAS 29 de Agosto de 2018
Calma. Antes que se sinta tentado a fazer um comentário sobre este artigo, esclarecemos que esta investigação envolveu 44 participantes, todos homens, que têm uma característica especial: são todos membros de uma claque de futebol, dos Super Dragões (Futebol Clube do Porto) e Mancha Negra (Académica). Ou seja, não são simples adeptos. Uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Universidade de Coimbra decidiu ver o que acontece no cérebro destes fervorosos fãs de futebol quando têm de escolher entre o amor a uma pessoa e o amor ao seu clube. O estudo, publicado na revista Scientific Reports, do grupo da Nature, mostra uma nova cartografia cerebral da tomada de decisão afectiva e, menos importante mas seguramente mais apelativo, revelou também que a maioria dos participantes resolveu este conflito optando pela paixão em vez do amor, ou seja, escolheu o futebol.
A equipa coordenada por Miguel Castelo Branco já tinha demonstrado que o amor de um elemento de uma claque pelo seu clube podia ser comparado ao amor romântico. Num estudo publicado em Março de 2017, os investigadores concluíram que os circuitos cerebrais activados por membros das claques quando vêem o seu clube jogar são os mesmos que são recrutados no caso de um amor romântico. Mais precisamente, lembra Miguel Castelo Branco, as semelhanças encontradas no cérebro dos participantes aproximam este amor tribal à paixão. Naquele estudo, o exercício privilegiou a emoção. Agora, os investigadores quiseram ver que impacto é que este amor tribal tinha na tomada de decisão. “Este é um modelo muito bom para estudar dilemas afectivos”, sublinha Miguel Castelo Branco, realçando que esta terá sido a primeira vez que o dilema da teoria dos jogos conhecido como “Guerra dos Sexos” foi testado numa experiência.
Os participantes tiveram de passar várias etapas. Primeiro preencheram questionários que classificavam, numa escala de 1 a 7, vários cenários, desde fazer a sua actividade preferida a fazer a actividade preferida da mulher, ou não fazer nenhuma das duas. Desenharam-se assim o que os investigadores chamam “matrizes de preferência” associadas a diferentes actividades. Os homens deram um valor às várias possibilidades e deram também um valor ao que achavam que seriam as preferências da sua mulher, sendo que estamos a falar de relações relativamente longas com uma média de nove anos. “Temos a percepção dele e o que nos interessa é o dilema percebido por ele”, justifica o investigador, justificando a dispensa da validação das respostas pela mulher.
No momento da tomada de decisão, os homens tinham então de escolher uma entre quatro opções: o homem e a mulher fazem as suas actividades preferidas sozinhos, ela desiste da sua actividade preferida e vai com ele ver o jogo de futebol, ele desiste do jogo de futebol e vai fazer a actividade preferida dela com ela e, por fim, os dois desistem das actividades preferidas e vão fazer outra coisa juntos.
Nesta altura, com as classificações somadas, era já possível ver quais as opções que tinham mais valor para o casal. E a verdade é que nem sempre as mais valiosas foram as escolhidas. “O que pretendíamos como resposta era a actividade que era a mais provável de acontecer. Não a preferida. Queríamos que a decisão dele reflectisse uma espécie de negociação do casal”, explica Miguel Castelo Branco. O processo da deliberação das várias opções e da tomada de decisão decorreu enquanto os participantes estavam a ser submetidos a uma ressonância magnética e, assim, foi possível ver as zonas cerebrais que eram recrutadas e activadas para resolver este grande dilema afectivo.
Testar o espírito de sacrifício
“Os resultados foram curiosos. No primeiro estudo tínhamos visto um domínio de áreas relativamente primitivas do cérebro, a amígdala, por exemplo, áreas que têm que ver com emoções fortes mas relativamente primárias. Aqui, para a tomada de decisão, todo o circuito que encontrámos era no córtex pré-frontal”, conta Miguel Castelo Branco. E o que é que isso quer dizer? “Quer dizer que há mesmo um diálogo entre emoção e razão nestes adeptos que são relativamente fanáticos.” As regiões cerebrais activadas são intrinsecamente humanas, não podem ser observadas noutros modelos animais, e a sua “descoberta” foi uma surpresa. “No fundo, estamos a descobrir regiões novas. Não estávamos à espera de ver estas regiões”, refere Miguel Castelo Branco, adiantando que certas regiões como o córtex órbito-frontal estão associadas à avaliação da dimensão afectiva, as regiões frontais mediais com o processamento da reciprocidade e outras, mais laterais, com o processo deliberativo que resulta na decisão final.
“Algumas destas áreas são muito importantes para o controlo cognitivo e são muito relevantes até na clínica, por exemplo no controlo das dependências. Nós temos um impulso de gratificação imediata mas tentamos controlar esse impulso para uma recompensa a longo prazo. Que é um bocadinho o que este modelo nos traz. Basicamente, o futebol é baseado numa gratificação imediata e uma relação romântica baseia-se numa gratificação contínua, sustentada e a longo prazo”, explica o investigador.
Naquilo a que chama uma “nova cartografia cerebral da tomada de decisão”, foi possível mapear as regiões envolvidas na avaliação afectiva, na decisão, e outras zonas recrutadas quando existia um esforço de cooperação para “bem” do casal. “A cooperação corresponde à situação de maior valor para o casal em conjunto (ou seja, abdicarem da actividade preferida para fazer outra coisa em conjunto), e a não cooperação corresponde às situações de menor soma para o casal em conjunto. Preferimos um critério numérico, que é mais objectivo, pois nem sempre a valoração é linear”, diz.
O mais importante nesta investigação é o facto de revelar um importante papel que diferentes áreas do córtex frontal do cérebro humano desempenham nas decisões que envolvem dilemas entre a razão e a emoção, por isso o artigo reserva apenas um breve parágrafo para os resultados “comportamentais”. Aqui é dito que 39,7% dos participantes optaram por cooperar e escolheram as situações de maior valor para o casal. É fácil fazer as contas para perceber que, tal como confirma o artigo, 60,3% optaram por não cooperar e escolheram ir ao futebol. “Os 44 participantes foram expostos a muitos dilemas e por isso pudemos determinar que as percentagens definidas acima são apenas a média, mas em certos casos podiam desviar-se desse comportamento, o que é típico das situações de dilemas em que o conflito e a incerteza são muito elevados”, justifica o investigador, que, no entanto, admite: “Sim, eles optam um bocadinho mais por não cooperar. Eles gostam mesmo de futebol.”
Regressando ao que foi observado nas ressonâncias magnéticas e aos caminhos percorridos dentro das cabeças dos membros das claques enquanto avaliam as opções e tomam uma decisão, este trabalho abre uma nova porta para o estudo de doenças psiquiátricas. “Por exemplo, na psicopatia é dada muita importância a áreas mais antigas em termos de evolução como a amígdala, tendo sido relativamente ignorada a contribuição do lobo frontal. Ora, na psicopatia um aspecto comum é a tomada de decisão fria e egocêntrica, não centrada nem na cooperação nem na afectividade. As áreas agora identificadas podem ser muito importantes no estudo desta doença”, diz Miguel Castelo Branco, a título de exemplo. Mas há mais: “Estes conflitos envolvem também o controlo cognitivo da impulsividade da gratificação imediata, o que é relevante para outras patologias como o ‘jogo patológico’, em que a emoção procura de forma irreflectida a recompensa imediata, enquanto a razão diz que a perda monetária poderá ser considerável.”
O coordenador da investigação não valoriza aquilo que a maioria dos leitores poderá procurar neste artigo. Mais importante do que as respostas ou a decisão são os mecanismos por atrás de um dilema que leva a uma discussão entre a emoção e a razão para lugares improváveis dentro do nosso cérebro. Quem ganha essa batalha não é o mais importante. Por outro lado, a novidade é também que esta será a primeira vez que o resultado de um dilema de Guerra dos Sexos foi experimentado e publicado. E o que foi posto à prova é um dilema real, do quotidiano, longe dos problemas abstractos que normalmente são colocados nestes estudos que envolvem a teoria dos jogos. “A maior parte dos estudos que são feitos com a teoria dos jogos são com estudantes de psicologia e são coisas sempre muito abstractas em que é muito difícil extrapolar para podermos generalizar para coisas ligadas à emoção. É daí que vem também a novidade deste estudo. Em teoria dos jogos, o que tem sido feito (o jogo do ultimato e o jogo da confiança) tem que ver com a partilha de proveitos económicos, aqui não. Aqui é um dilema de gratificação hedónica, tem que ver com sistema de recompensa do cérebro.”
E será possível fazer algo semelhante com as mulheres? “Neste estudo conseguimos arranjar esta amostra em que há um dilema entre dois amores. Seria interessante fazer isto também entre o sexo feminino, mas é muito difícil arranjar um modelo experimental para isso”, responde o investigador. Por mais que existam muitas mulheres que gostam de futebol (e existem), são muito poucas as que pertencem a uma claque de futebol. Assim, aceitam-se sugestões para criar um dilema entre a emoção e razão para o sexo feminino suficientemente forte para ser testado numa experiência deste tipo.
No entanto, o próximo passo desta equipa não vai na direcção das mulheres. Os investigadores vão continuar a estudar estes membros de claques e fanáticos por futebol, mas agora vão testar o seu espírito de sacrifício. “A experiência passa por ter um adepto de uma claque destas junto ao estádio mas sem bilhete e aparecer alguém do mercado negro. Nós sabemos os salários destes adeptos, e eles têm de dar um número. Quantos euros é que pagariam?” Em avaliação estarão as áreas da recompensa, do sacrifício, do risco financeiro. Mais um dilema, portanto. Já agora (sugerimos nós) seria interessante ver se as áreas cerebrais recrutadas para este exercício são as mesmas num contexto de “amor romântico”. Será que o “caminho” no cérebro do sacrifício por amor a uma pessoa e a um clube é o mesmo?
Na verdade, neste estudo podemos concluir que o amor tribal se sobrepõe ao amor romântico. Mas isso, avisamos de novo, tem muito que ver com os sujeitos envolvidos. “Esta é uma população muito especial, são membros de claques. Se se sobrepõe um bocadinho é porque estamos a comparar uma paixão com um amor, e a paixão tem mais peso quando há uma gratificação imediata”, justifica Miguel Castelo Branco. Nada de conclusões precipitadas, portanto. Estamos apenas perante duas formas diferentes de amar, estes homens não gostam mais de futebol do que das suas mulheres. Ou será que gostam?
ANDREA CUNHA FREITAS 29 de Agosto de 2018
A equipa coordenada por Miguel Castelo Branco já tinha demonstrado que o amor de um elemento de uma claque pelo seu clube podia ser comparado ao amor romântico. Num estudo publicado em Março de 2017, os investigadores concluíram que os circuitos cerebrais activados por membros das claques quando vêem o seu clube jogar são os mesmos que são recrutados no caso de um amor romântico. Mais precisamente, lembra Miguel Castelo Branco, as semelhanças encontradas no cérebro dos participantes aproximam este amor tribal à paixão. Naquele estudo, o exercício privilegiou a emoção. Agora, os investigadores quiseram ver que impacto é que este amor tribal tinha na tomada de decisão. “Este é um modelo muito bom para estudar dilemas afectivos”, sublinha Miguel Castelo Branco, realçando que esta terá sido a primeira vez que o dilema da teoria dos jogos conhecido como “Guerra dos Sexos” foi testado numa experiência.
Os participantes tiveram de passar várias etapas. Primeiro preencheram questionários que classificavam, numa escala de 1 a 7, vários cenários, desde fazer a sua actividade preferida a fazer a actividade preferida da mulher, ou não fazer nenhuma das duas. Desenharam-se assim o que os investigadores chamam “matrizes de preferência” associadas a diferentes actividades. Os homens deram um valor às várias possibilidades e deram também um valor ao que achavam que seriam as preferências da sua mulher, sendo que estamos a falar de relações relativamente longas com uma média de nove anos. “Temos a percepção dele e o que nos interessa é o dilema percebido por ele”, justifica o investigador, justificando a dispensa da validação das respostas pela mulher.
No momento da tomada de decisão, os homens tinham então de escolher uma entre quatro opções: o homem e a mulher fazem as suas actividades preferidas sozinhos, ela desiste da sua actividade preferida e vai com ele ver o jogo de futebol, ele desiste do jogo de futebol e vai fazer a actividade preferida dela com ela e, por fim, os dois desistem das actividades preferidas e vão fazer outra coisa juntos.
Nesta altura, com as classificações somadas, era já possível ver quais as opções que tinham mais valor para o casal. E a verdade é que nem sempre as mais valiosas foram as escolhidas. “O que pretendíamos como resposta era a actividade que era a mais provável de acontecer. Não a preferida. Queríamos que a decisão dele reflectisse uma espécie de negociação do casal”, explica Miguel Castelo Branco. O processo da deliberação das várias opções e da tomada de decisão decorreu enquanto os participantes estavam a ser submetidos a uma ressonância magnética e, assim, foi possível ver as zonas cerebrais que eram recrutadas e activadas para resolver este grande dilema afectivo.
Testar o espírito de sacrifício
“Os resultados foram curiosos. No primeiro estudo tínhamos visto um domínio de áreas relativamente primitivas do cérebro, a amígdala, por exemplo, áreas que têm que ver com emoções fortes mas relativamente primárias. Aqui, para a tomada de decisão, todo o circuito que encontrámos era no córtex pré-frontal”, conta Miguel Castelo Branco. E o que é que isso quer dizer? “Quer dizer que há mesmo um diálogo entre emoção e razão nestes adeptos que são relativamente fanáticos.” As regiões cerebrais activadas são intrinsecamente humanas, não podem ser observadas noutros modelos animais, e a sua “descoberta” foi uma surpresa. “No fundo, estamos a descobrir regiões novas. Não estávamos à espera de ver estas regiões”, refere Miguel Castelo Branco, adiantando que certas regiões como o córtex órbito-frontal estão associadas à avaliação da dimensão afectiva, as regiões frontais mediais com o processamento da reciprocidade e outras, mais laterais, com o processo deliberativo que resulta na decisão final.
“Algumas destas áreas são muito importantes para o controlo cognitivo e são muito relevantes até na clínica, por exemplo no controlo das dependências. Nós temos um impulso de gratificação imediata mas tentamos controlar esse impulso para uma recompensa a longo prazo. Que é um bocadinho o que este modelo nos traz. Basicamente, o futebol é baseado numa gratificação imediata e uma relação romântica baseia-se numa gratificação contínua, sustentada e a longo prazo”, explica o investigador.
Naquilo a que chama uma “nova cartografia cerebral da tomada de decisão”, foi possível mapear as regiões envolvidas na avaliação afectiva, na decisão, e outras zonas recrutadas quando existia um esforço de cooperação para “bem” do casal. “A cooperação corresponde à situação de maior valor para o casal em conjunto (ou seja, abdicarem da actividade preferida para fazer outra coisa em conjunto), e a não cooperação corresponde às situações de menor soma para o casal em conjunto. Preferimos um critério numérico, que é mais objectivo, pois nem sempre a valoração é linear”, diz.
O mais importante nesta investigação é o facto de revelar um importante papel que diferentes áreas do córtex frontal do cérebro humano desempenham nas decisões que envolvem dilemas entre a razão e a emoção, por isso o artigo reserva apenas um breve parágrafo para os resultados “comportamentais”. Aqui é dito que 39,7% dos participantes optaram por cooperar e escolheram as situações de maior valor para o casal. É fácil fazer as contas para perceber que, tal como confirma o artigo, 60,3% optaram por não cooperar e escolheram ir ao futebol. “Os 44 participantes foram expostos a muitos dilemas e por isso pudemos determinar que as percentagens definidas acima são apenas a média, mas em certos casos podiam desviar-se desse comportamento, o que é típico das situações de dilemas em que o conflito e a incerteza são muito elevados”, justifica o investigador, que, no entanto, admite: “Sim, eles optam um bocadinho mais por não cooperar. Eles gostam mesmo de futebol.”
Regressando ao que foi observado nas ressonâncias magnéticas e aos caminhos percorridos dentro das cabeças dos membros das claques enquanto avaliam as opções e tomam uma decisão, este trabalho abre uma nova porta para o estudo de doenças psiquiátricas. “Por exemplo, na psicopatia é dada muita importância a áreas mais antigas em termos de evolução como a amígdala, tendo sido relativamente ignorada a contribuição do lobo frontal. Ora, na psicopatia um aspecto comum é a tomada de decisão fria e egocêntrica, não centrada nem na cooperação nem na afectividade. As áreas agora identificadas podem ser muito importantes no estudo desta doença”, diz Miguel Castelo Branco, a título de exemplo. Mas há mais: “Estes conflitos envolvem também o controlo cognitivo da impulsividade da gratificação imediata, o que é relevante para outras patologias como o ‘jogo patológico’, em que a emoção procura de forma irreflectida a recompensa imediata, enquanto a razão diz que a perda monetária poderá ser considerável.”
O coordenador da investigação não valoriza aquilo que a maioria dos leitores poderá procurar neste artigo. Mais importante do que as respostas ou a decisão são os mecanismos por atrás de um dilema que leva a uma discussão entre a emoção e a razão para lugares improváveis dentro do nosso cérebro. Quem ganha essa batalha não é o mais importante. Por outro lado, a novidade é também que esta será a primeira vez que o resultado de um dilema de Guerra dos Sexos foi experimentado e publicado. E o que foi posto à prova é um dilema real, do quotidiano, longe dos problemas abstractos que normalmente são colocados nestes estudos que envolvem a teoria dos jogos. “A maior parte dos estudos que são feitos com a teoria dos jogos são com estudantes de psicologia e são coisas sempre muito abstractas em que é muito difícil extrapolar para podermos generalizar para coisas ligadas à emoção. É daí que vem também a novidade deste estudo. Em teoria dos jogos, o que tem sido feito (o jogo do ultimato e o jogo da confiança) tem que ver com a partilha de proveitos económicos, aqui não. Aqui é um dilema de gratificação hedónica, tem que ver com sistema de recompensa do cérebro.”
E será possível fazer algo semelhante com as mulheres? “Neste estudo conseguimos arranjar esta amostra em que há um dilema entre dois amores. Seria interessante fazer isto também entre o sexo feminino, mas é muito difícil arranjar um modelo experimental para isso”, responde o investigador. Por mais que existam muitas mulheres que gostam de futebol (e existem), são muito poucas as que pertencem a uma claque de futebol. Assim, aceitam-se sugestões para criar um dilema entre a emoção e razão para o sexo feminino suficientemente forte para ser testado numa experiência deste tipo.
No entanto, o próximo passo desta equipa não vai na direcção das mulheres. Os investigadores vão continuar a estudar estes membros de claques e fanáticos por futebol, mas agora vão testar o seu espírito de sacrifício. “A experiência passa por ter um adepto de uma claque destas junto ao estádio mas sem bilhete e aparecer alguém do mercado negro. Nós sabemos os salários destes adeptos, e eles têm de dar um número. Quantos euros é que pagariam?” Em avaliação estarão as áreas da recompensa, do sacrifício, do risco financeiro. Mais um dilema, portanto. Já agora (sugerimos nós) seria interessante ver se as áreas cerebrais recrutadas para este exercício são as mesmas num contexto de “amor romântico”. Será que o “caminho” no cérebro do sacrifício por amor a uma pessoa e a um clube é o mesmo?
Na verdade, neste estudo podemos concluir que o amor tribal se sobrepõe ao amor romântico. Mas isso, avisamos de novo, tem muito que ver com os sujeitos envolvidos. “Esta é uma população muito especial, são membros de claques. Se se sobrepõe um bocadinho é porque estamos a comparar uma paixão com um amor, e a paixão tem mais peso quando há uma gratificação imediata”, justifica Miguel Castelo Branco. Nada de conclusões precipitadas, portanto. Estamos apenas perante duas formas diferentes de amar, estes homens não gostam mais de futebol do que das suas mulheres. Ou será que gostam?
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