sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um belo dia em 2014, vamos acordar





Cha Caballero ( Baena , Córdoba , 1956) – Licenciatura em Filologia e professor de literatura numa escola pública.

Quando terminar a recessão, teremos perdido mais de 30 anos em direitos e salários...

Um belo dia em 2014, vamos acordar e nos anunciarão que a crise acabou. Correrão rios de tinta com escritos das nossas dores, comemorarão o fim do pesadelo, nos farão crer que o perigo já passou, mas, alertam que ainda há sinais de debilidade e que teremos de ter muito cuidado para evitar uma recaída. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que deponhamos a atitude crítica contra os poderes e nos prometerão que, pouco a pouco, voltará a tranquilidade ás nossas vidas.

Um belo dia em 2014, a crise terá terminado oficialmente e ficaremos com cara de estúpidos agradecidos, nos censurarão a nossa desconfiança darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrossel da economia. Claro, a crise ecológica, a crise de repartição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito, permanecerão intactos, porém, essa ameaça nunca foi publicado ou difundida e os que de verdade dominam o mundo, terão posto um ponto final a esta crise estafada - metade realidade, metade ficção, cuja origem é difícil de decifrar, mas cujos objectivos eram claros e conclusivos: fazer-nos retroceder 30 anos nos direitos e salários.

Um belo dia em 2014, quando os salários forem mais baratos até aos limites terceiromundistas, quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o factor determinante do produto, quando tiverem ajoelhado todas as profissões, de modo que o conhecimento se encaixe numa folha de pagamento esquálido; quando tiverem treinado a juventude na arte de trabalhar quase de graça, quando tiverem uma reserva de milhões de pessoas desempregadas dispostas a serem polivalentes, móveis e moldáveis, para fugir ao inferno de desespero, então a crise terá terminado.

Um belo dia em 2014, quando os alunos que frequentam as salas de aula, se tenha conseguido reduzir o sistema educativo em 30% de estudantes sem deixar traço visível da façanha, quando a saúde se compre e não seja oferecida, quando o nosso estado de saúde se pareça com a nossa conta bancária, quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, para cada prestação, onde as pensões sejam tardias e baixas, quando estivermos convencidos de que precisamos de um seguro privado para garantir as nossas vidas, então nos anunciarão que a crise terá terminado.

Um belo dia em 2014, quando tiverem conseguido nivelar por baixo toda a estrutura social, excepto a cúpula cuidadosamente colocado com segurança em cada sector, pisemos os charcos da escassez e sintamos o alento do medo nas nossas costas, quando estivermos cansados de nos confrontarmos uns aos outros e ter quebrado todas as pontes de solidariedade, então nos anunciarão que a crise terminou.

Nunca em tão pouco tempo se terá conseguido tanto. Cinco anos terão bastado para reduzir a cinzas os direitos que levaram séculos a conquistar e espalhar. Uma devastação tão brutal da paisagem social, só se tinha conseguido na Europa através da guerra. Embora, pensando bem, também neste caso, foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.

Por isso, não só me preocupa quando sairmos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só, ficarmos mais pobres e desiguais, mas também mais covardes e resignados e que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam estaria novamente em disputa.

Neste momento andaram para trás o relógio da história e ganharam 30 anos nos seus interesses. Agora, são dados os últimos retoques no novo contexto social: um pouco mais de privatizações aqui, um pouco menos nos gastos públicos acolá e voilá: a sua obra está concluída. Quando o calendário marcar um qualquer dia do ano de 2014, as nossas vidas terão retrocedido aos finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos no rádio as últimas condições da nossa rendição.

Redes Sociais ? Não obrigado!


Facebook analisou mensagens que utilizadores desistiram de publicar!


JOÃO PEDRO PEREIRA
19/12/2013





Estudo ilustra como a empresa pode analisar ao detalhe a actividade dos membros - THOMAS HODEL/REUTERS

Dois investigadores, um dos quais funcionário do Facebook, analisaram milhões de mensagens que os utilizadores não quiseram publicar depois de as escreverem. O estudo conclui que uma maioria já praticou o que chamam autocensura de última hora. Mas revela também que a rede social tem meios para escrutinar ao detalhe praticamente todo o tipo de actividades dos seus membros.

O estudo analisou dados de 3,9 milhões de utilizadores do site, identificados como sendo falantes de inglês, que foram recolhidos ao longo de 17 dias de 2012. Destes, 71% escreveram pelo menos uma mensagem (uma nova publicação ou um comentário numa publicação de alguém) que acabaram por decidir não publicar.

A análise do comportamento dos utilizadores indicou que as publicações são mais autocensuradas do que os comentários e que os homens tendem a autocensurar-se mais do que as mulheres. No que descrevem como uma conclusão surpreendente, os investigadores notaram ainda que isto acontece mesmo quando os homens têm mais amigos do sexo masculino. Estudos anteriores indicam que ambos os géneros têm tendência a ter mais cuidado na comunicação quando se estão a dirigir a elementos do sexo oposto.

De acordo com o estudo, as pessoas tendem a praticar mais autocensura em duas situações. Por um lado, quando a audiência é mais difícil de definir – por exemplo, quando se trata de uma mensagem pública (que pode ser vista por qualquer pessoa no Facebook) ou visível para toda a rede de amigos. Por outro, quando o contexto em que a mensagem seria publicada é muito específico (como um grupo temático) e é mais fácil surgirem dúvidas sobre a relevância daquele conteúdo.

A metodologia do estudo ilustra o nível de detalhe com que o Facebook consegue observar a actividade dos utilizadores!

O estudo incidiu sobre pessoas residentes no Reino Unido e nos EUA. Foi conduzido por um analista de dados do Facebook chamado Adam Kramer e por um estudante de doutoramento da universidade de Carnegie Mellon, chamado Sauvik Das e que estava a fazer um estágio de Verão naquela empresa. Para serem incluídas na análise, as mensagens tinham de ter pelo menos cinco caracteres e não terem sido publicadas nos dez minutos seguintes à respectiva escrita. Os autores frisam que os dados foram recolhidos anonimamente (?!) e que o conteúdo das mensagens não foi analisado. Em relação às mensagens publicadas após mais de dez minutos, os autores argumentam que estas foram auto-censuradas, ainda que temporariamente.

“A autocensura de última hora tem um interesse particular para os serviços de redes sociais, já que este filtro pode ser tanto benéfico como prejudicial”, escreveram Das e Kramer. “Os utilizadores e a respectiva audiência podem não conseguir atingir um potencial valor social por não partilharem um determinado conteúdo, e os serviços de redes sociais perdem valor pela não geração do conteúdo”.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Um Conto de Natal Europeu



GUSTAVO CARDOSO
24/12/2013


Esta história é uma obra de ficção, qualquer semelhança entre personagens políticos ou acontecimentos europeus reais é deixada à sua imaginação.

O dia havia começado, tal como tantos outros, na normalidade possível de uma capital não periférica da União Europeia.
Para começar digamos que o "Homem" tinha morrido. Neste particular não pode haver absolutamente a menor dúvida; a notícia do seu falecimento havia sido dada em simultâneo pelo Euronews, BBC e France24, através da leitura de um comunicado oficial do “seu” Governo.

A própria "Chefe" o havia confirmado. Ora, a "Chefe" era alguém bastante conhecido na política europeia e nos mercados financeiros, se ela o afirmava, era porque era certo. O "Homem" estava tão morto como um peru na véspera de Natal.

O "Homem" tinha sido uma inspiração para uma geração de políticos europeus. E, embora a "Chefe" não tivesse nunca trabalhado directamente com ele, o seu falecimento tocava-a também.

No fim de contas, a sua morte era também a morte de uma forma de viver a Europa. Uma forma de vida que populações e elites haviam partilhado e onde todos pareciam aceitar (mesmo que tal não fosse uma verdade absoluta) que na Europa a solidariedade unia, que a cooperação reforçava e que a concorrência estimulava as nações e a União.

Enfim, mas eu sabia tão bem quanto a “Chefe” que isso eram memórias de épocas de crescimento económico. Outras épocas, como as que já não víamos há muitos anos, hoje um vírgula qualquer coisa era a norma percentual do “crescimento”.

Olhando para os olhos da "Chefe", não havia dúvida que ela, como tantos outros, também se devia interrogar sobre como era possível a Europa de hoje ser tão diferente da Europa do "Homem"?

***

Bruxelas, alguns anos mais tarde, quase vésperas de um Natal, entre um futuro próximo e um futuro imediato, uma reunião no pós-final do Conselho Europeu, encontro dos primeiros-ministros e dos chefes de Estado da zona Euro.

Como sempre, ainda nada se havia decidido e já só faltavam algumas horas até que fossem duas da manhã na Europa e a bolsa abrisse em Tóquio à espera de alguma decisão que permitisse apaziguar os mercados financeiros sobre o último problema da zona Euro.

Na realidade, “Ela” sabia que seria apenas mais um problema numa velha série cronológica e ainda sem fim determinável. Um problema para ser lidado, mais uma vez, numa reunião à porta fechada, sem que haja votos, para que pudesse haver uma decisão consensual, onde nenhum dos membros registe formalmente o seu desagrado. O velho eixo continuava a ter que funcionar para que o menor denominador comum fosse, como sempre, o objectivo a atingir e sem que ninguém se queixe de estar sujeito ao jugo de um qualquer poder estrangeiro. Hoje, como tantas vezes antes, haveria um acordo consensual, sem que nada realmente de importante fosse alcançado.

“Ela” estava tão farta de tudo isto e, a julgar, pela cara dos colegas dos países do sul e do norte da Euro zona, também todos eles estavam cansados de horas de reuniões e fartos deste status quo.

Toldada pela fadiga de discussões intermináveis que só poderiam ter um fim – pois todos sabiam não haver alternativa – olhou para os restantes pares à volta da mesa e disse “Meus senhores e minhas senhoras vou-me ausentar momentaneamente, não esperem por mim para decidirem”. Esboçou um sorriso, levantou-se e dirigiu-se para a sala contígua. Entrou, fechou a porta atrás de si, pegou num copo, encheu-o de água quente e colocou o chá numa lenta infusão. Deixou-se afundar no sofá, fechou os olhos, durante uns breves segundos, inspirou fundo, abriu, ou julgou abrir, os olhos e deteve o seu olhar na cadeira à sua frente.

A reacção imediata foi a de incredulidade, tal como quando acordamos de um sono breve e não sabemos bem onde estamos. Mas olhando para trás de si teve a certeza de estar no mesmo local onde se havia sentado há segundos atrás.

No entanto, teve algumas dúvidas sobre o ano em que se encontrava, pois à sua frente, sentado e olhando para si, tinha a figura do “Homem”. Fosse um sonho, ou fosse real, o que foi verdade é que o “Homem” disse-lhe: "que bom revê-la minha amiga".

Há momentos na vida onde o impossível acontece e, de algum modo, o impossível estava a acontecer. "Ela" estava aqui nesta reunião, em Bruxelas, com um personagem da história contemporânea, falecido, morto e enterrado, mas ao mesmo tempo sentado à sua frente com o sorriso e a boa presença que sempre havia manifestado perante as crises europeias mais complicadas e de desfecho mais imprevisível.

– Cara amiga, parece que temos o mesmo problema de sempre – disse o “Homem”, sorrindo. – Parece que isto não funciona, esta União assemelha-se cada vez mais a uma desunião.

– Como? – perguntou “Ela” ainda incrédula sobre o que estava a viver.

– As coisas nunca foram fáceis, mas hoje estão ainda piores do que no meu tempo – reafirmou o “Homem”.

Há momentos em que, sem compreender bem porquê somos impelidos em aceitar o jogo que o tabuleiro da vida nos convida a jogar e, para “Ela”, este era um deles. Pensou que tanto fazia que estivesse a dormitar, a pensar ou a viver realmente aquilo, aceitava jogar este jogo, e assim resolveu continuar o diálogo.

– Sim, é verdade há mais de dez anos que jogamos este jogo – disse “Ela”. – A bem dizer foi iniciado por si, este jogo de “faz de conta que o Euro pode funcionar tal como foi criado”.

– Aceito a crítica ou a paternidade – respondeu com cordialidade o “Homem”. – Mas mesmo sabendo que a introdução do Euro numa zona monetária comum foi um grande erro, o mesmo se aplica hoje a desfazer esse erro. Não concorda, minha cara amiga?

– Sim – respondeu “Ela”. – Sim, todos sabemos que qualquer tentativa de desmantelar o Euro causaria uma avalanche de consequências económicas adversas. Para os nossos amigos periféricos a sul, a renacionalização da política monetária permitir-lhes-ia desvalorizar a sua moeda, mas deixá-los-ia com um serviço de dívida em euros para o próximo século.

– É verdade – retorquiu o “Homem”. – Uma vez adoptado o Euro toma-se consciência de que não se pode mais desvalorizar a moeda. Em vez disso, tem de se entrar numa espécie de desvalorização interna, em ordem a compensar os défices comerciais, um ajustamento.

– Há quem lhe chame eufemismo a esse “ajustamento” – comentou “Ela”. – Pois, na prática o que quer dizer é aplicar vastos cortes tanto ao sector público quanto aos salários. A menos, é claro, que de algum modo os governos deles sejam capazes de aumentar os impostos sobre os maiores rendimentos e riqueza.

– Poderia ser uma alternativa, mas a minha liberalização dos mercados financeiros e a vossa inabilidade de harmonizar regras fiscais na União só nos trouxe o Depardieu, o dos filmes – respondeu o “Homem” aludindo à fuga de riqueza nos países que tentam subir impostos.

– Podíamos ficar aqui a noite e madrugada à conversa, mas porque decidiu “visitar-me” logo hoje?

– Porque a menos que algo seja feito podemos estar a viver os últimos anos da União e isso é razão suficientemente forte para que a “visite”.

– O fim aproxima-se? – perguntou “Ela” com um ar trocista.

– Os fins são sempre princípios de algo, tudo depende se o que se inicia é melhor ou pior do que o que temos antes.

– E o que se avizinha é pior do que isto? – perguntou “Ela”. – Pior do que uma zona Euro totalmente ineficiente em capacidade de governo? Que o falhanço das autoridades europeias e nacionais em regular a indústria financeira? Que os governos terem de salvar os bancos privados com dinheiros públicos e assim terem entrado em crises fiscais sucessivas, as quais, por sua vez, permitem aos bancos lucrar com os empréstimos a esses mesmos governos?

– Tenho de admitir que sou tanto responsável pelo Euro como pela credulidade em que o crescimento económico seria permanente e que a vontade política de dotar a zona Euro dos mecanismos necessários surgiria à medida que as necessidades surgissem – anuiu o “Homem”. – Fui vítima do meu Europeísmo optimista – reconheceu. – Mas sabe minha amiga, sempre achei que sendo a União assente na solidariedade e na recusa da dominação, nunca seria possível aceitar uma lógica de divergência de desenvolvimento e que todos trabalhariam para impedir esse efeito do Euro. Enganei-me e, por isso, estou aqui hoje para dizer o que diria se estivesse ainda vivo e pudesse dar entrevistas – riu-se o "Homem".

– Realmente, deixou-nos uma bela herança. Como se lembra, caso um país ou grupo de países quisesse controlar a economia e a política de outro, era necessário ocupá-lo militarmente. Com o vosso Euro isso deixou de ser verdade. Hoje é perfeitamente possível ter relações pacíficas com um dado país europeu e literalmente ser dono dele, simplesmente por via da apropriação da sua economia através de um superavit comercial permanente e destruindo a sua soberania retirando-lhe autonomia legislativa e orçamental.

– É precisamente por isso que resolvi “pedir-lhe” esta conversa. Somos chegados a um daqueles raros momentos onde o dever moral coincide com o interesse de longo prazo. Em que se afigura necessário mudar algo radicalmente.

– Já percebi – respondeu “Ela”. – Vai-me convocar para assumir aquilo que todos sabemos ser certo teoricamente mas impossível na prática. Ou seja, saio daqui entro na sala ao lado e digo-lhes: "tive uma conversa com o espectro do “Homem” e ele disse-me para vos comunicar que é imperioso que 'sacrifiquemos parcialmente a nossa soberania e recursos económicos, em nome de criar uma capacidade aumentada de governação ao nível Europeu, para podermos resgatar os estados membros intervencionados e subsidiar a sua recuperação económica, bem como aliviar a miséria das suas condições sociais, por forma a apaziguar a indústria financeira e evitar um aumento de juros, em ordem a consolidar a zona Euro e, eventualmente a União'". Estive bem? – perguntou ela ao “Homem”.

– Minha cara amiga, não estamos em tempos de pedir os impossíveis a homens e mulheres políticos, mas com “p” pequeno. Se fosse para dizer isso não teria vindo, teria manifestado a minha vontade de outro modo. Se aqui estou é porque tenho algo mais a dizer-lhe e não é de certeza o que a minha outra velha amiga inglesa, alcunhada de “TINA, there is no alternative”, lhe diria. As nossas famílias e origens são outras.

– Surpreenda-me então.

– Não tenho surpresas, pois estou apenas a cumprir a velha tradição da União de dizer ou escrever o evidente em forma de relatório, neste caso um relatório oral. O que não faltam é alternativas para o “não há alternativas”. Vejamos: um primeiro passo estaria na harmonização de taxas directas para desincentivar o investimento estrangeiro motivado apenas pelo tipo de legislação laboral e industrial e também desincentivar a mobilidade de capital, pois a mobilidade é hoje do capital e não de pessoas.

– Continue, por favor – disse “Ela”.

– Com prazer. Os défices orçamentais podem ser corrigidos sem ser por medidas de austeridade ou desvalorização interna; podem ser resolvidos pelo aumento de taxas nos rendimentos ultra elevados e na riqueza, por exemplo forçando os mais ricos a comprar dívida pública nacional. Ou trocar as taxas fixas sobre o consumo por taxas progressivas calculadas sobre o rendimento anual menos poupança e investimentos (documentados é claro) por forma a reduzir a desigualdade dos consumos dos mais ricos versus os consumos dos mais pobres.

– Interessante.

– Sem dúvida, em particular para os que perderam vários salários no sul desde que tudo isto começou – disse o "Homem", como quem devolve um cumprimento. – Mas há mais. Porque não tornar Europeu o actual sistema de segurança social nacional? Isso faria mais pela Europa e pelas finanças nacionais de muitos países do que muitas das medidas que vos quebram a cabeça nessas vossas reuniões infernais.

– Continue, estou a tirar notas.

– Mais, sem violar o principio de subsidiariedade, poder-se-ia criar legislação europeia que especifique um máximo permissível de coeficiente Gini de desigualdade para as sociedades dos estados membros, tudo isto com um nível inversamente ligado ao seu PIB per capita.

– Sem dúvida arrojado – riu-se "Ela" e pensou nas caras dos colegas se lhes dissesse tal e qual o que estava a ouvir.

– Arrojado? Espere até ouvir esta – sorriu o “Homem”. – Os bancos comerciais europeus deveriam ser proibidos de aceitar depósitos de investidores financeiros que possam ser identificados como tendo origem em outros países europeus com problemas de dívida pública. Tudo isto pode e podia ter sido feito, mesmo sem nos centrarmos nos famigerados e, como sabemos, necessários Eurobonds ou qualquer outro nome que lhe queiram chamar, para resolver esta trapalhada de uma moeda única sem políticas e orçamentos únicos.

–Tem toda a razão – respondeu “Ela”. – O problema é que para acontecer temos de mudar de mentalidades. Teríamos de mudar daquilo que, num artigo já com uns anos, Claus Offe chamava “nacionalismo metodológico”, isto é, uma forma de pensar em “nação versus nação” e substituí-lo por “perdedores versus vencedores” da crise, ou mesmo, porque não substituí-lo por uma dimensão sócio-económica de “classe versus classe”. Arrojado não acha? À altura das suas propostas – disse “Ela” sorrindo.

De repente “Ela” deu um salto, a chávena de chá havia-se entornado sobre as suas pernas queimando-a ligeiramente, sacudiu o líquido, levantou a cabeça para pedir desculpa ao “Homem”, mas não estava ninguém naquela sala.

Lembrava-se da conversa como se tivesse acontecido, mas pensou que provavelmente tinha sido um daqueles sonhos, produto da fadiga e do adormecer intermitente, em que ao acordar nos lembramos de tudo.

Caminhou de regresso à sala onde os seus pares da zona Euro se encontravam reunidos e pensou se valeria, ou não, a pena usar os argumentos do sonho, quem sabe não haveria outros que tivessem sonhado o mesmo que ela.

Boas Festas!

Nota: este texto foi inspirado na obra de Charles Dickens Um conto de Natal e numa livre adaptação dos argumentos e análise expressos por Claus Offe no seu artigo "Europe Entrapped" publicado no European Law Journal em Setembro de 2013.

O autor é docente do ISCTE-IUL em Lisboa e investigador do Centre d'Analyse et Intervention Sociologiques (CADIS) em Paris.





segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Portugal tem falta de japoneses




VALTER MARTINS

23/12/2013

Em Portugal, ao contrário de outros países agora em dificuldades económicas na Zona Euro - Espanha, Grécia e Irlanda-, o crescimento económico anémico era já bem evidente antes da crise financeira de 2007-08.

A entrada no Euro possibilitou uma redução significativa das taxas de juro neste grupo de países, o que desencadeou bolhas imobiliárias -Espanha e Irlanda- e despesismo público na Grécia, permitindo que estes países tivessem taxas de crescimento anual bastante superiores à média europeia no período 2000-07: Espanha (3,6%); Grécia (4,1%); e Irlanda (5,8%). Já no caso de Portugal (1,5%), que sofreu não só de uma bolha imobiliária mas também de despesismo público, o crescimento foi bastante mais fraco do que o grupo mencionado em cima.

Qual a razão de tão fraco crescimento em relação ao grupo de países que se encontra agora nas mesmas circunstâncias? Embora o crescimento da produtividade, ou a sua falta, seja apontado como a principal e única causa do fraco crescimento económico de Portugal, o crescimento da força de trabalho, raramente mencionado, explica melhor não só a falta de crescimento na última década mas também as diferenças de crescimento entre vários países da Zona Euro antes da crise financeira de 2007-08.

O crescimento da população depende do crescimento natural, diferença entre nascimentos e mortes, e dos saldos migratórios, diferença entre imigração e emigração. O crescimento natural praticamente estagnou desde meados dos anos 90, tornando-se mesmo negativo em 2007, ano em que pela primeira vez morreram mais pessoas do que as que nasceram. Tendo uma das taxas de fertilidade total mais baixas do mundo (1,35), este declínio era um resultado largamente previsível, uma vez que, a taxa de fertilidade deixou de ser suficiente para assegurar a renovação de gerações (2,1) desde os anos 80 (o mesmo para Espanha e Grécia; a da Irlanda caiu ligeiramente abaixo dos 2,1 nos anos 90).

Desde a década de 90, o crescimento da população em Portugal tem dependido quase exclusivamente do saldo migratório positivo -o mesmo para Espanha, Grécia e Irlanda-para o qual contribuiu um largo influxo de imigrantes a partir de 95, no entanto, este atingiu um pico em 2002, ano a partir do qual começou a desacelerar, ao contrário da Espanha e Irlanda onde se assistiu a uma verdadeira explosão da imigração até 2008. Além disso, voltamos a assistir a um aumento da emigração. De acordo com um estudo realizado por o ex-ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, cerca de 700 mil portugueses emigraram entre 1998 e 2008.

Portanto, na última década, Portugal não só recebeu menos imigrantes do que a Espanha e Irlanda como também perdeu um grande número dos seus cidadãos para a emigração. Este facto distingue claramente Portugal do grupo de países mencionado em cima, aproximando-o mais do caminho que seria trilhado por os países de leste aquando da sua entrada na União Europeia. Efectivamente, e de acordo com o Instituto Nacional de Estatística entre os censos de 2001 a 2011, a população residente em Portugal aumentou apenas 1,9% enquanto em Espanha esse aumento foi de 12,9%.

Mais importante que a variação da população total, para efeitos da presente discussão, é a variação da população activa, definida como a população em idade de trabalho (15 – 64 anos), porque só esta representa o potencial produtivo da economia. Por conseguinte, usou-se o PIB por população activa (PIB/Pop. activa) em comparação com o PIB Real de forma a poder avaliar em que medida o crescimento da força de trabalho afecta o crescimento do PIB. Surpreendentemente ou não, os dados vistos graficamente não só confirmam o "efeito população activa" - distância entre as linha do PIB/Pop activa e do PIB Real - como também que Portugal atingiu o ponto onde esse efeito começou a influenciar negativamente o crescimento do PIB.

A taxa de crescimento do PIB Real foi sempre superior à taxa de crescimento PIB por População Activa até 2002 e como tal o crescimento da população activa teve um impacto positivo no crescimento do PIB. Já no período 2003-08 as duas linhas sobrepõem-se, o que indica que o crescimento da população activa estagnou (0,12%), e o “efeito população activa” foi praticamente nulo.

A situação reverteu-se completamente a partir de 2008 quando a população activa entrou em declínio, uma vez que, a taxa de crescimento do PIB por População Activa passou a ser superior à taxa de crescimento do PIB Real e portanto "o efeito população activa" começou a arrastar irremediavelmente o produto potencial para baixo. Por outras palavras, Portugal sofre de uma "escassez de Japoneses" como Edward Hugh lhe chamou depois de Paul Krugman ter cunhado originalmente o termo.

Com efeito, quando se compara o crescimento do PIB por População Activa entre o grupo de países mencionados até 2008, nem o crescimento da Espanha (2,0%) nem da Irlanda (3,5%) parecem tão espectaculares, nem o crescimento de Portugal (1,2%) parece tão mau em comparação. De facto, só a Grécia (3,9%) parece ter tido um crescimento espectacular antes da crise.

O argumento aqui defendido não é o de que o crescimento do produto não é possível com uma população activa estagnada ou em ligeiro declínio, mas tão só, que este se torna mais difícil de alcançar nestas circunstâncias, porque agora este depende ainda mais de outros factores, como por exemplo, da produtividade ou do aumento das taxas de participação na força de trabalho, mas estes mudam lentamente ao longo do tempo, mais ainda em países desenvolvidos, e, como tal, o crescimento torna-se progressivamente mais lento. Com uma população activa estagnada, a tendência de longo prazo é de um crescimento do produto muito baixo ou mesmo nulo.

Em conclusão, o crescimento económico de Portugal parece ter iniciado uma longa trajectória decrescente a par com o declínio da sua população activa. A economia está a produzir a níveis de 2001, ou seja, a primeira década deste século foi complemente perdida. E dado o mau arranque, esta segunda década parece seguir o mesmo caminho. Na melhor das hipóteses a economia vai estagnar, mas o mais provável é mesmo regredir e em 2019 podemos estar de volta aos anos 90. Sim, porque para além de todos os outros problemas que afectam a economia e que fazem com que a situação seja no mínimo difícil, temos agora mais um, o declínio da população activa, e este não pode ser facilmente revertido no curto prazo. Portanto, na análise do crescimento económico Português, a dinâmica demográfica não pode mais ser ignorada.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Lei de Murphy





Recordemos a Lei de MURPHY :
"Se alguma coisa pode dar errado, dará".

AGORA SEGUEM ALGUMAS LEIS E PRINCÍPIOS DEMONSTRADOS EMPIRICAMENTE:
(Ler com atenção as designações das Leis)

"O seguro cobre tudo, menos o que aconteceu." ( Lei de Nonti Pagam).

"Quando estiveres só com uma mão livre para abrir a porta, a chave estará no bolso oposto."
(Lei de Assimetria, de Laka Gamos).

"Quando tuas mãos estiverem sujas de gordura, vais começar a ter comichão pelo menos no nariz."
(Lei de mecânica de Tukulito Tepyka).

"Não importa por que lado seja aberta a caixa de um medicamento. O papel das instruções vai sempre atrapalhar."
(Princípio de Aspirinovisk).

"Quando achas que as coisas começam a melhorar, é porque algo te passou despercebido."
(Primeiro teorema de Tamus Ferradus)

"Sempre que as coisas parecem fáceis, é porque não entendemos todas as instruções."
(Princípio de Atrop Lado)

Os problemas não se criam, nem se resolvem, só se transformam."
(Lei da persistência de Waiterc Pastar)

"Vais chegar ao telefone exactamente a tempo de ouvir quando desligam."
(Principio de Ring A. Bell)

"Se só existirem dois programas que valha a pena ver, os dois passarão na mesma hora."
(Lei de Putz Kiparil)

"A probabilidade que te sujes a comer é directamente proporcional à necessidade que tiveres de estar limpo."
(Lei de Kika Gadha)

"A velocidade do vento é directamente proporcional ao preço do penteado."
(Lei Meteorológica Pagá Barbero )

"Quando, depois de anos sem usar, decides atirar alguma coisa fora, vais precisar dela na semana seguinte."
( Lei irreversível de Kitonto Kifostes)

"Sempre que chegares pontualmente a um encontro não haverá ninguém lá para comprovar, e se ao contrário, te atrasares, toda a gente terá chegado antes de ti."
(Princípio de Tardelli e Esgrande La de Mora)


1- LEIS BÁSICAS DA CIÊNCIA MODERNA:
* Se mexer, pertence à Biologia.
* Se cheirar, pertence à Química.
* Se não funcionar, pertence à Física.
* Se ninguém entender, é Matemática.
* Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
* Se mexer, cheirar, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

2- LEI DA PROCURA INDIRETA:
* O modo mais rápido de encontrar uma coisa é procurar outra.
* Encontras sempre aquilo que não procuras.

3- LEI DA TELEFONIA:
* Quando te ligam: se tens caneta, não tens papel. Se tiveres papel, não tens caneta. Se tiveres ambos, ninguém liga.
* Quando ligas para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.
* Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

4- LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA:
* Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em ti...

5- LEI DA GRAVIDADE:
* Se consegues manter a cabeça fria enquanto à tua volta todos a estão perdendo, provavelmente não estás entendendo a gravidade da situação...

6- LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS:
* 80% da prova final serão baseados na única aula a que não compareceste e os outros 20% serão baseados no único livro que não leste.

7- LEI DA QUEDA LIVRE:
* Qualquer esforço para agarrar um objeto em queda provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
* A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor da carpete.

8- LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS:
* A fila do lado sempre anda mais rápido.
* Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.

9- LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA:
* Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

10- LEI DO ESPARADRAPO:
* Existem dois tipos de adesivo: o que não cola e o que não sai.

11- LEI DA VIDA:
* Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
* Tudo que é bom na vida é ilegal, ou é imoral, ou engorda ou engravida.

12- LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS:
*Toda a partícula que voa encontra sempre um olho aberto"

sábado, 21 de dezembro de 2013

Porto, estação de São Bento




ALBERTO PINTO NOGUEIRA

20/12/2013

Christine Lagarde é a chefe máxima do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Num daqueles momentos de consciência rara que batem à porta da gente do dinheiro, informou que o FMI errara no denominado programa de ajustamento. Uma catástrofe. Corrigir o erro? Pedir desculpa? Não. Os seus empregados continuam na mesma via. O dinheiro pode errar. Persistir no erro! Nada se lhe exige.

Pedro Passos Coelho acha “estranho”. Submete-se. Abana a cabeça. Diz sim a tudo que vem da troika. Assim querem o país. Servo do estrangeiro.

Falar de política é perder tempo. Não devia ser. Falar de política é falar da cidade, da democracia, de direitos de cidadania. Coisa fora de moda! Política tem agora sentido muito restrito, denso: austeridade. Para o trabalho.

Falemos antes de cultura, de arte e mesmo de história. Do Porto. Mesmo na baixa da cidade, situava-se o Mosteiro de São Bento de Ave-Marias, local de recolha de freiras beneditinas.

Aqui, nos fins do séc. XIX a bater no séc. XX, chegou o comboio. Ao Porto, por razões muitas, inclusive sobranceria do poder central e provincianismo do local, tudo chega sempre mais tarde. O que não impediu que o séc. XIX seja, justamente, o século do Porto, com as ideias e lutas liberais, com homens de cultura, com a chegada de novas ideias. Com a França a impor-se através do conhecimento e arte de muitos portuenses.

José Marques da Silva, nascido no Porto nos meados do séc. XIX, estudou em Paris cerca de dez anos. De lá, trouxe novos mundos, conhecimentos, novas concepções da arquitectura. Deixou na cidade muita obra. A Casa de Serralves, o Teatro de São João, o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular.

A Estação de São Bento foi construída no que é hoje a praça do escritor e poeta Almeida Garrett. O projecto é do arquitecto Marques da Silva. Passou por várias fases até que foi inaugurada no ano de 1916. Edifício magnífico na baixa da Invicta. A Estação impera na praça do poeta Garrett. Domina-a. O frontispício traduz uma sensibilidade artística indubitável. Mansardas nos cantos superiores do edifício, com respectivos relógios. Influência francesa.

À noite, é iluminado por inúmeras luzinhas que lhe emprestam uma beleza poética e romântica. Como é o Porto.

Viajante que chega ou parte, encontra-se com a arte que reveste o átrio. Centenas de metros quadrados de azulejos que representam episódios históricos de que sobressaem o de Egas Moniz e sua vassalagem ao rei de Leão, Afonso VII, a Conquista de Ceuta. Episódios do trabalho do povo sobretudo ligados à produção duriense. É a arte do mestre Jorge Colaço.

A gare, com várias linhas, é arquitectura clara da época do ferro. Ferro e vidro. Aquele é solidez. Este a claridade da gare.

Quem sai, à direita, encontra a Igreja dos Congregados. A Rua 31 de Janeiro vem aí desembocar e trazer à memória a revolução frustrada desta data.

Aprecie a Estação, olhe a Igreja, esqueça o edifício em ruínas à saída daquela na esquina com a Rua do Loureiro. Nem o arquitecto Marques da Silva e a Estação de São Bento obrigam os poderes públicos a acabar com tal fealdad
e!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

USA-San Francisco -O filme mais antigo do mundo(sobreviveu ao terremoto de 1906)

É um filme produzido em 14 de abril de 1906, 4 dias antes do grande terremoto que acabou com a cidade de San Francisco. O filme foi embarcado para New York, num trem, para ser processado, daí ter sido poupado daquela tragédia.


Para os cinéfilos, segue o que talvez venha a ser o mais antigo filme já produzido (1906)!!

São cenas filmadas a partir de um "cable car" na Market Street, em San Francisco, California.

É surpreendente a quantidade de automóveis que já existiam àquela época.

E quantas imprudências se cometiam, nas barbas dos policiais (Provavelmente, nem havia Leis de Trânsito...)!!

O trânsito era caótico com a convivência, não tanto harmoniosa, entre pedestres, bicicletas, charretes, automóveis, cable car, bondes, etc.

Observe que os bondes que cruzam a rua já possuem tração elétrica!

No final da rua, existe um prédio que está lá até hoje, pois trata-se do terminal de passageiros da Baía de San Francisco.

O filme, após muita polêmica, teve identificada a sua origem, bem como a data de sua produção.

Só de passagem

Só de passagem – Berend Vonk

16 dezembro 2013 Trouw Amesterdão


Os deputados do Partido das Regiões (no poder) pediram, no dia 16 de dezembro, ao primeiro-ministro Mykola Azarov para proceder a uma restruturação do seu executivo, devido à profunda crise política que abala a Ucrânia, após três semanas de manifestações contra a decisão do Presidente Viktor Yanukovych de não assinar o acordo de associação com a UE.

Na véspera, a União Europeia anunciou que iria suspender as negociações sobre a assinatura de um acordo de associação e de livre comércio com Kiev, devido à ausência de um consenso com Yanukovych. Este último deverá deslocar-se a Moscovo, a 17 de dezembro, para se reunir com o seu homólogo, Vladimir Putin.

 

Uma democracia atípica




16 dezembro 2013 Eldiario.es Madrid

O escrutínio europeu é uma eleição transnacional que se decide numa campanha centrada em temas locais e com consequências políticas em assuntos fundamentalmente locais. Este paradoxo é um dos maiores obstáculos à integração europeia.
José Fernández Albertos

 

Um dia diferente, a mesma austeridade

"Sem preocupações." Um cliente passa por uma loja cheia de grafitis em Dublin.
"Sem preocupações." Um cliente passa por uma loja cheia de grafitis em Dublin.



16 dezembro 2013 Irish Independent Dublin

Em 16 de dezembro, a Irlanda ficou finalmente livre dos três anos de planeamento económico paralisador da troika. No entanto, apesar de o Governo de Dublin ter recuperado a soberania financeira, o país irá descobrir que, do mesmo modo que contribuíram para boa parte da crise, os acontecimentos irão influenciar a política do período pós-troika.
Maeve Dineen

 

O primeiro a pestanejar

O primeiro a pestanejar – Peter Brookes

13 dezembro 2013 The Times Londres
jogar à galinha, em Kiev…

Continua o impasse entre o Presidente ucraniano Viktor Yanukovych e centenas de manifestantes pró-europeus acampados na Praça da Independência, em Kiev, enquanto os líderes dos manifestantes se encontraram com o Presidente para negociarem, a 13 de dezembro.

A Alta Representante para os Assuntos Externos da UE, Catherine Ashton, foi à Ucrânia no início da semana, onde se encontrou com Yanukovych que, nessa altura, manifestou a intenção de assinar um acordo comercial com a UE mas não mencionou nenhuma data para o concluir.

 

O modelo de Feldheim

"Aldeia autónoma em energia. Feldheim, comuna de Treuenbrietzen"
Aldeia autónoma em energia. Feldheim, comuna de Treuenbrietzen"




13 dezembro 2013 Neue Zürcher Zeitung Zurique

Esta aldeia perto de Berlim é o único sítio na Alemanha completamente autónomo em termos de abastecimento energético. Graças às eólicas instaladas no seu jardim e numa rede independente, os habitantes pagam a eletricidade ao preço mínimo. Um exemplo que atrai os ecologistas do mundo inteiro.
Helmut Uwer

 

O fascismo na ponta da forquilha

Marcha sobre Roma.
Marcha sobre Roma.



13 dezembro 2013 Linkiesta Milão

As manifestações dos “Forconi” [literalmente, os que manejam as forquilhas], que estão a paralisar as cidades italianas há vários dias, apanharam quase toda a gente de surpresa. Mas as suas reivindicações não-partidárias contra a austeridade e as elites escondem semelhanças perturbadoras com os primórdios do movimento que levou Mussolini ao poder.
Alessandro Da Rold

 

Casados de fresco


Casados de fresco – Jos Collignon
12 dezembro 2013 De Volkskrant Amesterdão


No carro: “União bancária”

“Os Bolkestein [político eurocético holandês] da Europa"

Na noite de 11 para 12 de dezembro, representantes dos países da UE, da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu chegaram a acordo sobre uma diretiva relativa à gestão das falências bancárias e à recapitalização interna – ou “bail-in” – dos bancos.

A diretiva, que entrará em vigor a 1 de janeiro de 2016, “prevê que, quando um banco estiver em dificuldades, as autoridades nacionais possam intervir para evitar que sucumba”, escreve Les Echos.

A recapitalização diz, assim, apenas respeito aos bancos solventes que têm de ser recapitalizados em caso de fragilidades identificadas pelos testes de resistência.

 

O passaporte com o melhor valor de sempre





12 dezembro 2013 The Independent Londres


A decisão de Malta de vender a cidadania por 650 mil euros reflete duas verdades fundamentais: que, apesar da crise financeira, o passaporte europeu continua a ser um dos mais cobiçados em todo mundo e a nova realidade de que o capital humano é agora tão valorizado como o capital financeiro.
Hamish McRae

Política A vida a 28 Eleições europeias 2014: Não haverá nenhuma vaga anti-UE



2 dezembro 2013

Le Monde Paris

Os especialistas garantem que, ao contrário do que afirmam vários observadores, os partidos anti-europeus não registarão o progresso espectacular previsto nas eleições europeias de maio próximo. Mas isso não vem alterar a falta de interesse dos europeus por um Parlamento que sentem estar distante das suas preocupações.
Arnaud Leparmentier

Previsões geladas


Previsões geladas – Ilias Makris
11 dezembro 2013 I Kathimerini Atenas


O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, para o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso:


O clima mudou na Europa!

O telespetador:


Aqui também.

O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, resistiu à pressão da troika de credores internacionais (UE-BCE-FMI) para efetuar cortes orçamentais adicionais, com medo de perder a sua frágil maioria. A troika deverá deslocar-se a Atenas, esta semana, para negociar com o Governo de Samaras o montante dos empréstimos que serão concedidos à nação empobrecida no próximo ano.

Por outro lado, o Governo abriu um determinado número de refúgios de emergência antes da chegada de uma vaga de frio, que deverá atravessar o país nos próximos dias.

 

Klitschko, um pugilista treinado por Merkel




11 dezembro 2013 Der Spiegel Hamburgo

Desde o início das manifestações pró-União Europeia e contra o Governo ucraniano, o ex-pugilista Vitali Klitschko tem surgido como um dos principais instigadores contra o Presidente Viktor Yanukovych. Talhado pelos democratas-cristãos da chanceler alemã, poderá, em breve, ser apoiado por mais dirigentes europeus. Excertos.
Ralf Neukirch | Nikolaus Blome | Matthias Gebauer

 

Colher o que se semeou

Colher o que se semeou – Jos Collignon

10 dezembro 2013 De Volkskrant Amesterdão

10 de dezembro, Dia dos Direitos Humanos

No saco: Declaração Universal de 1948 O 65.º aniversário da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi celebrado sem fanfarra, a 10 de dezembro, enquanto os confrontos na Ucrânia entre pró-europeus e a polícia recordam que o combate pelas liberdades civis ainda não acabou

 

Europa, quantas divisões?




10 dezembro 2013 Les Echos Paris

A sociedade contra as elites, o Norte contra o Sul, a Alemanha contra a França, a Grã-Bretanha contra todos os outros: o nosso continente multiplica as divisões que o fragilizam face ao novo rumo do mundo. Devemos voltar a mostrar coragem e continuar a acreditar na Europa, afirma o politólogo Dominique Moïsi.
Dominique Moïsi

 

A Europa deve abrir as suas fronteiras




10 dezembro 2013 Dagens Arena Estocolmo

A Europa deve abrir de imediato as suas fronteiras aos refugiados que fogem do inferno sírio. É ilusório pensar que a UE pode impedir que os candidatos a asilo tentem, por todos os meios, entrar no seu território.
Johanna Palmström

 

Conflito de gerações

Conflito de gerações – Pierre Kroll

9 dezembro 2013 Le Soir Bruxelas


Na Ucrânia…

“Adoramos a Europa”, “Viva a Europa”, “Queremos lá estar”, “Yanukovych fora”

Enquanto isso, na Europa…

“Europa, pfffffffff”, “Por quem é que elas nos tomam?”, “Não são da nossa idade”

As "EuroMaidan", as manifestações da oposição pró-europeia contra o Presidente Viktor Yanukovych e o seu Governo, continuam em Kiev. Perante os rumores que hoje, 9 de dezembro, circulavam na capital ucraniana quanto a um assalto iminente das forças especiais, a oposição organizou postos médicos na Câmara Municipal, um dos bastiões da contestação.

Na terça-feira, 10 de dezembro, a Alta representante da UE para os Assuntos Externos, Catherine Ashton deverá ir a Kiev para tentar resolver a crise política.

 

Regras mais rigorosas vão prejudicar a Europa




9 dezembro 2013 Dziennik Gazeta Prawna Varsóvia

Os ministros do Trabalho da UE reúnem-se hoje em Bruxelas para chegar a acordo sobre alterações à diretiva de 1996 relativa ao destacamento de trabalhadores. A Polónia, que discorda do projeto de Diretiva de Aplicação, foi acusada de “dumping” social por alguns Estados-membros.
Łukasz Guza

 

Quando se está morto não se gasta


Quando se está morto não se gasta – Steve Bell


6 dezembro 2013 The Guardian Londres


Na foice: Pensão depois da morte

O ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, pronunciou o seu discurso de outono perante a Parlamento, a 5 de dezembro, revelando níveis de crescimento mais fortes do que os esperados, em contraste com a avaliação pessimista de recuperação económica da zona euro feita pelo Banco Central Europeu.

Um dos aspetos do discurso incluiu a revelação de que a idade mínima de reforma vai subir dos 65 para os 68 anos até meados da década de 2030 e aumenta para 69 em meados de 2040.

O cartoonista Steve Bell, que retrata sempre o ministro das Finanças com um “nariz abatatado”, parodia uma gravura do século XVIII, da autoria de John Hamilton Mortimer, intitulada Morte de Um Cavalo Esquálido.

 

Investidores chineses cobiçam vistos letões




6 dezembro 2013 Le Monde Paris

Desde 2010, as autoridades de Riga concedem autorizações de residência a estrangeiros que desejam investir na economia local. Por isso, muitos chineses compraram bens imobiliários, para poderem aceder a esta preciosa porta de entrada para a Europa.
Olivier Truc

 

Seguro de vida

Seguro de vida – Mohr

5 dezembro 2013 Cicero Berlim


Devem muito provavelmente querer vender-nos um seguro!

No cartaz: Alto! Eurosur

A União Europeia ativou, a 2 de dezembro, um novo sistema de vigilância das suas fronteiras batizado de Eurosur, para reforçar a luta contra a imigração clandestina e evitar novos naufrágios ao largo das suas costas, como o de Lampedusa ao largo da costa italiana, no passado dia 3 de outubro.

Dois dias depois, a comissária responsável pelos Assuntos Internos, Cecilia Malmström, apresentou um plano que visa evitar estas tragédias. Este inclui uma maior vigilância das fronteiras, uma maior solidariedade entre os Estados-membros e um reforço da luta contra as redes de imigração clandestina. Os procedimentos para a obtenção de vistos deverão, no entanto, ser aliviados. Estas medidas serão submetidas ao Conselho Europeu no dia 20 de dezembro.

 

No centro da máquina




5 dezembro 2013 Jornal de Negócios Lisboa

A troika é o instrumento mais conhecido da intervenção da UE e do FMI nos países europeus em dificuldade. Mas no Luxemburgo existem duas instituições discretas mas cruciais, o FEEF e o MEE, responsáveis pela angariação de dinheiro. Reportagem.
Rui Peres Jorge

Numa rua secundária, na ponta do quarteirão europeu no Luxemburgo, encontra-se um edifício branco de três andares, ainda com obras na fachada, onde, olhando com atenção, se vê uma discreta sigla: ESM. Pouco o distingue dos demais blocos à volta, a maioria deles escritórios das principais casas financeiras mundiais e zonas comerciais. Lá dentro, no entanto, está a acontecer algo singular: mais de 100 pessoas a trabalhar naquela que é uma das realizações mais impressionantes dos governos europeus durante a crise.

EFSF e ESM são as iniciais em inglês para Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), os fundos de resgate da zona euro. O primeiro financiou um terço dos 78 mil milhões emprestados pela troika a Portugal desde 2011. O segundo, que o substituiu, é o mecanismo permanente anticrise da zone euro, com uma capacidade de ataque de 500 mil milhões de euros. Se no final do seu programa de ajustamento, em maio do próximo ano, Portugal precisar de mais apoio financeiro, seja um segundo resgate ou um programa cautelar, será ao MEE que terá de recorrer.

No Luxemburgo está uma equipa que se orgulha de, em três anos conturbados, ter provado que consegue responder às exigências dos mercados e dos governos, mesmo que surjam no último minuto.

Tudo começou em maio de 2010, com o primeiro resgate à Grécia de 110 mil milhões de euros, então ainda financiado porem préstimos bilaterais dos Estados-membros da zona euro, juntamente com dinheiro da UE e do FMI. Confiantes de que a crise ficaria resolvida, os governos da zona euro decidiram avançar com a criação de um veículo financeiro, sedeado no Luxemburgo e com poucos recursos humanos, que teria capacidade de emprestar a países em apuros, embora se planeasse que tal nunca acontecesse. A ideia era reforçar a solução grega para estancar o contágio e o nome de batismo não era alheio a essa mensagem: Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.

 

Por favor, nada de Estados Unidos da Europa!




5 dezembro 2013 NRC Handelsblad Amesterdão

Se a UE quiser sobreviver, os seus representantes têm de deixar claro o seu objetivo. Não deve tornar-se uma federação, antes uma União dotada de uma constituição, voltada para o exterior, protegendo a sua diversidade e cessando a expansão, escreve o politólogo holandês Paul Scheffer. Excertos.
Paul Scheffer

 

EDP anda a electrocutar impostos



Por João Pedro Martins
publicado em 13 Set 2013

Enquanto as empresas andarem livremente a lavar dinheiro e a fugir aos impostos através do uso e abuso de paraísos fiscais, as sucessivas medidas de austeridade vão acabar por estrangular a vida dos pequenos contribuintes


Fugir aos impostos em tempos de austeridade é uma prática habitual das multinacionais. Já sabíamos que 19 das 20 empresas do índice PSI20 deslocalizaram artificialmente as suas sedes para a Holanda com o objectivo de escapar legalmente ao fisco e obrigar os restantes contribuintes a sacrificarem--se ainda mais.

A austeridade não é para todos, pelo menos para quem tem bons advogados.

Um dos casos mais escandalosos desta batota fiscal programada é o esquema montado pelos advogados holandeses da EDP. Um estudo recente elaborado pelo SOMO, um centro de pesquisa holandês que monitoriza as multinacionais, revela dados surpreendentes acerca da gigante da energia em Portugal e que recentemente passou para as mãos dos chineses da Three Gorges.

Dados oficiais da Comissão Europeia acerca da fraude e evasão fiscal na Europa apontam para que anualmente um milhão de milhões de euros se evapora dos cofres do fisco nos países da zona Euro, obrigando que cada contribuinte europeu pague um valor adicional de 2000 euros de impostos por ano.

O caso da EDP é moralmente inaceitável. A EDP Finance BV, a holding que a EDP instalou na Holanda, não passa de uma empresa-fantasma sediada numa caixa de correio, com o objectivo exclusivo de fugir aos impostos no país de origem. O esquema serve para refinanciar todas as empresas do grupo EDP, enganando a Autoridade Tributária, da mesma forma que se tira a chupeta a um bebé a dormir.

Ficamos a saber que através de um Advance Pricing Agreement (um acordo sobre preços de transferência e dupla tributação, que possibilita migrar lucros e definir a taxa de imposto a pagar) celebrado entre a EDP Finance BV e a autoridade tributária holandesa, permitiu que a EDP andasse a electrocutar impostos entre 2008 e 2012, gerando lucros artificiais na Holanda de 142 milhões de euros, pagando uma taxa de imposto de apenas 3,77%.

Segundo as contas do FMI, em 2011, o investimento directo em Portugal proveniente da Holanda atingiu 26 294 milhões de dólares. Em Portugal não há fábricas holandesas, nem criação de postos de trabalho, nem riqueza produzida com capital do país das tulipas que justifique este investimento. É um truque fiscal que as multinacionais portuguesas usam para fazer sair artificialmente o dinheiro do país sem pagarem impostos localmente e repatriarem os capitais com incentivos fiscais ao investimento estrangeiro.

Ninguém acredita que o investimento holandês em Portugal é três vezes superior ao de Espanha, cinco vezes ao do Brasil, nove vezes ao de Angola, 16 vezes ao dos EUA e 26 vezes maior do que o investimento alemão. Se acreditarmos que os técnicos do FMI são competentes na análise dos dados, então estamos perante uma das maiores burlas legais no sistema tributário português e uma clara violação das cláusulas antiabuso previstas no n.º 2 do artigo 38.º da Lei Geral Tributária.

O esquema holandês envolve ainda subsidiárias da EDP em Espanha para beneficiar da isenção do imposto de retenção na fonte. O truque fiscal foi validado pelos auditores internacionais da KPMG e pela comissão de auditoria paga a peso de ouro pela própria EDP em Portugal.

Moral da história: enquanto as empresas andarem livremente a lavar dinheiro e a fugir aos impostos através do uso e abuso de paraísos fiscais, as sucessivas medidas de austeridade vão acabar por estrangular a vida e a carteira dos pequenos contribuintes.

Precisamos de políticos corajosos e honestos, de políticas justas e transparentes e de gestores que usem os lucros de forma eticamente responsável e paguem as suas obrigações fiscais.

Quando a realidade é mentirosa!





Por Carlos Pimenta
publicado em 22 Nov 2013





Admitamos que o banco central não tem qualquer intervenção directa sobre o mercado cambial e as ofertas e procuras funcionam ao sabor das transacções realizadas



Consideramos que uma afirmação é verdadeira quando ela corresponde à realidade, com a qual lidamos na prática e pretendemos conhecer e interpretar utilizando as nossas capacidades para pensar e agir. O que dizemos é verdadeiro se tem uma correspondência com a realidade.

Não é essa a postura de vários economistas actuais. Como refere Ludwing von Mises (1881-1993, "escola austríaca") quando a ciência económica constrói um modelo explicativo de uma determinada situação, e se constata que esta não corresponde à explicação que foi elaborada, deve-se ver se o modelo está bem elaborado. Mas se este é logicamente coerente, não há razão para o abandonar. Por outras palavras, devemos manter a explicação e se formos procurar a verdade ela está mais na explicação dada do que na realidade (não) explicada.

A lógica aconselharia exactamente o contrário, abandonar a teoria, mas esses economistas não o fazem. Há muitos subterfúgios para manterem a postura anteriormente referida: "a explicação considera apenas alguns aspectos e admitiu-se que a infinidade dos restantes se manteriam constante, mas tal não aconteceu"; "pode não conseguir explicar, até porque algumas das hipóteses são irrealistas, mas se conseguir prever, tudo bem"; "qualquer cidadão deveria pensar racionalmente (como os deuses), se assim não acontece ele é que não está certo".

E assim se justificam tantas anedotas sobre os economistas: a procura da solução passa por inicialmente se admitir que nada do que pretendemos solucionar aconteceu. Claro, a realidade é que está errada, o economista é que está certo.

Se estas tontarias não tivessem consequências limitar-nos-íamos a rir e a reconhecer que, se tais análises têm algo de científico, estão essencialmente reféns da ideologia. Contudo, esta capa de cientificidade ideológica é profundamente manipuladora da realidade e as políticas económicas que lhe estão associadas são muito perigosas para todos aqueles que não se comportam como os modelos consideram.

2. Fugindo a situações com que todos os cidadãos europeus estão hoje confrontados, tomemos um exemplo com algum distanciamento temporal.

Num livro de 1977 Macedo define câmbios fixos como aqueles "em que não ocorrem alterações da taxa de câmbios", exigindo uma política do banco central comprando e vendendo divisas para compensar as flutuações das compras e vendas. De seguida define câmbios flutuantes e, quando seria de esperar que fossem definidos por negação da afirmação anterior, afirma que são "aquele[s] em que não ocorrem alterações do equilíbrio da balança de pagamentos" (pág. 131). Ora esta última definição é um mero modelo, inspirado por um conjunto de pressupostos sobre o funcionamento da economia.

Admitamos que o banco central não tem qualquer intervenção directa sobre o mercado cambial e as ofertas e procuras funcionam ao sabor das transacções realizadas. Segundo o modelo seria de esperar o equilíbrio da balança de pagamentos. Entretanto tal não acontece.

Será de refazer o modelo? Não! Será de alterar a realidade para que tal aconteça: diminui-se a regulação do banco central; diminui-se a sua função de financiador em última instância. Como alguns economistas defenderam, numa paixão neoliberal, propõe-se a privatização do banco central.

3. Quando se considera que a realidade é mentirosa campeia a discricionariedade, a ditadura dos mercados, o aniquilamento do social pelo económico. A sociedade (leia-se o homem) pode ir mal para que a economia (os mercados) vá bem!

Ajuste de contas

Ajuste de contas – Burki

4 dezembro 2013 24 heures Lausana


No quadro: Matemática

A OCDE publicou o seu relatório PISA, que avalia o desempenho escolar dos alunos, no dia 3 de dezembro, resultados que foram recebidos com desalento na Europa.

A Suíça ficou na primeira posição dos países europeus na avaliação dos conhecimentos a matemática para os alunos de 15 e 16 anos, ocupando o nono lugar num total de 65 países avaliados. A Alemanha ficou em 16.º lugar e a França acabou no 25.º, descendo dois lugares desde a sua última avaliação.

David Cameron e os “bárbaros úteis” da UE

O despertar da Inglaterra. "Búlgaros e romenos ilimitados".
O despertar da Inglaterra. "Búlgaros e romenos ilimitados".



4 dezembro 2013 Standart Sófia

No próximo dia 1 de janeiro, o mercado de trabalho será aberto a búlgaros e romenos em toda a UE. Mas Londres, Paris e Berlim pretendem erguer novas barreiras em detrimento dos valores europeus, lamenta um colunista búlgaro.
Ruslan Iordanov

 

Poder de atração

Poder de atração – Patrick Chappatte

3 dezembro 2013 Le Temps Genebra


No cartaz na televisão: “Femen pela Europa”


Não podemos continuar insensíveis às mensagens dos ucranianos

A 3 de dezembro, o Parlamento ucraniano rejeitou uma moção de desconfiança contra o Governo apresentada por três grupos parlamentares da oposição. Apenas 186 deputados votaram a favor, mas era necessária uma maioria de 226 votos para a moção ser aprovada. Três deputados votaram contra e os restantes abstiveram-se.

Enquanto isso, manifestantes pró-europeus e antigovernamentais continuam nas ruas de Kiev e de toda a Ucrânia, por vez animados pelas ativistas feministas do Femen.

 

UE enfrenta segunda refundação




3 dezembro 2013 El País Madrid

Passados cinco anos, a crise económica e financeira deixou uma profunda marca na União, aumentando a desconfiança entre os seus Estados-membros, mas também a certeza de um destino comum. É chegado o momento de iniciar uma nova liderança política e executar medidas concretas, afirma “El País”.
Claudi Pérez

 

Putin errou em tudo com a Ucrânia




3 dezembro 2013 Financial Times Londres

A Rússia pode ter ficado muito satisfeita consigo própria, quando a Ucrânia se recusou a assinar um acordo de associação com a UE, mas a vaga de protestos populares que essa recusa desencadeou ameaça derrubar o Governo e pode despertar um sentimento pró-democracia em Moscovo.
Gideon Rachman

 

A Ucrânia escolhe a Rússia

A Ucrânia escolhe a Rússia – Tom Janssen

29 novembro 2013 Trouw Amesterdão



É pena, é pena, é pena

A cimeira da Parceria Oriental concluiu-se em Vílnius, a 29 de novembro, sem o que deveria ter marcado o seu sucesso: a assinatura de um acordo de associação com a Ucrânia.

O Presidente ucraniano Viktor Yanukivych bloqueou, até ao último minuto, as tentativas de compromisso que visavam relançar as negociações, considerando “humilhante” a soma de 600 milhões de euros de ajuda financeira proposta pela UE. Kiev tinha indicado que precisava de 160 mil milhões de euros para alinhar a sua economia com os padrões europeus.

A UE deverá portanto contentar-se com a preparação de acordos de associação com a Geórgia e a Moldávia, que serão celebrados dentro de um ano.

 

A Escócia não pode querer tudo




29 novembro 2013 Financial Times Londres

O Livro Branco recentemente publicado com pormenores do processo de independência da Escócia foi concebido para tranquilizar os receosos e não tanto para inflamar os apoiantes. No entanto, as premissas são erróneas e há decisões complicadas deixadas para resolver depois do referendo de 2014.
Financial Times

 

Abram alas!

Abram alas! – Dave Brown

28 novembro 2013 The Independent Londres


O anúncio do primeiro-ministro britânico David Cameron, a 26 de novembro, de um reforço das condições de atribuição de prestações sociais para os trabalhadores imigrantes – antes do levantamento das restrições à imigração dos trabalhadores romenos e búlgaros, no dia 1 de janeiro de 2014 – , fez com que fosse acusado de se inclinar para a direita extrema e os partidos eurocéticos, tal como o UKIP.
 

A UE ainda tem um trunfo na mão




28 novembro 2013 Judy Dempsey’s Strategic Europe blog Bruxelas

Os europeus talvez tenham perdido a Ucrânia, por agora; mas, ao transformar a assinatura de um acordo de associação numa guerra diplomática, a Rússia deu superioridade moral à União e criou uma possível base para uma futura influência europeia na região, escreve um politólogo.
Jan Techau

 

“A Alemanha já não pode servir de exemplo para a Europa”




Angela Merkel (CDU), Horst Seehofer (CSU) e Sigmar Gabriel (SPD). "A grande coligação apresenta: Mais despesas. Mais retenções"
Angela Merkel (CDU), Horst Seehofer (CSU) e Sigmar Gabriel (SPD).


"A grande coligação apresenta: Mais despesas. Mais retenções"







28 novembro 2013
Presseurop Frankfurter Allgemeine Zeitung, Die Welt, Der Spiegel, Die Tageszeitung

O acordo para uma nova grande coligação governamental entre os democratas-cristãos de Angela Merkel e os sociais-democratas, apresentado no dia 27 de novembro, não suscita grandes entusiasmos entre a imprensa alemã. Muito aguardado, é considerado demasiado generoso por alguns e pouco focado na Europa por outros.

O Frankfurter Allgmeine Zeitung não aprova de todo o acordo, nomeadamente por prever várias “vantagens sociais”, como o salário mínimo de 8,50 euros/hora ou a idade da reforma completa que passou de 67 para 63 anos, e que os sociais-democratas conseguiram impor à chanceler Angela Merkel. Para o jornal conservador trata-se de um “grande caldo”, que “cozeu demasiado tempo” e que “todos conseguem digerir facilmente”:

 

Anti-imigração

Anti-imigração – Pepsch

27 novembro 2013 Süddeutsche Zeitung Munique


“Grokoal” (grande coligação)

“Para que os alemães se sintam melhor!”

“Leia as instruções, por favor”

No dia 27 de novembro, após mais de dois meses de negociações, a chanceler cessante e democrata-cristã, Angela Merkel, o seu aliado social-cristão, Horst Seehofer, e o chefe dos sociais-democratas, Sigmar Gabriel, apresentaram o seu acordo para uma “Grosse Koalition” governamental.

 

Europa, a má jogadora

O Presidente ucraniano Viktor Yanukovych, uma marioneta de Vladimir Putin?
O Presidente ucraniano Viktor Yanukovych, uma marioneta de Vladimir Putin?



27 novembro 2013 NRC Handelsblad Amesterdão


Na véspera da assinatura do acordo de associação com a UE, a Ucrânia preferiu o “campo” que considera mais fiável, ou seja, a Rússia. Uma vez mais, os europeus divididos não foram capazes de jogar a partida de póquer diplomático que se impunha.
Caroline de Gruyter

 

A UE não pode baixar os braços




27 novembro 2013 Die Welt Berlim

Após a recusa da Ucrânia em assinar um acordo de associação, a União Europeia não pode dar-se ao luxo de perder a confiança dos outros países da Parceria Oriental. Na cimeira de Vílnius, tem de enviar uma mensagem política clara à Moldávia e à Geórgia, considera “Die Welt”.
Gerhard Gnauck

 

A nódoa

A nódoa – Giannelli

26 novembro 2013 Corriere della Sera Milão


“Caros Senadores…”

A 27 de novembro, o Senado italiano deverá votar a muito debatida expulsão do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi na sequência da sua condenação por fraude fiscal.

Dois dias antes, Il Cavaliere anunciou ter reunido provas que lhe permitem contestar o veredicto e provar a sua inocência. Pediu aos seus adversários que parem de o empurrar para a expulsão, o que constituiria “uma nódoa na democracia e anunciou uma manifestação de protesto que se realizará em Roma durante a votação.

Se Berlusconi perder o seu lugar – e com ele a imunidade processual – o mais provável é ser preso por causa de outros processos-crime em que foi acusado.

Democracia posta à prova por um pequeno Führer

“Não é neonazi.” “É apenas um eleitor ordinário, que anda há anos frustrado por ninguém tratar dos seus problemas.”
“Não é neonazi.” “É apenas um eleitor ordinário, que anda há anos frustrado por ninguém tratar dos seus problemas.”



26 novembro 2013 Hospodářské noviny Praga

A eleição, neste fim de semana, do neonazi Marian Kotleba para o cargo de governador de uma região constitui o último exemplo da ascensão da extrema-direita na Europa. A elite política e a sociedade eslovacas, que favoreceram a vitória deste “outsider”, estarão à altura da situação?
Martin Ehl

Corrida de obstáculos



25 novembro 2013
Corrida de obstáculos – Petar Pismestrovic
Nas tabuletas:

2013 Varsóvia

2012 Doha

2011 Durban

2010 Cancun

2009 Copenhaga

2008 Poznan

2007 Bali

2006 Nairobi

Os 195 países da Convenção das Nações Unidas sobre o Clima (COP19), reunidos desde 11 de novembro, em Varsóvia, chegaram finalmente a acordo no sábado, 23 de novembro, ao fim do dia, mais de 24 horas depois do encerramento oficial da cimeira.

O texto final traça o caminho a seguir até dezembro de 2015, altura em que, em Paris, deverá ser pela primeira vez assinado um acordo mundial de compromisso. Esse acordo entrará em vigor em 2020. Até lá, os países signatários deverão publicar, o mais tardar no primeiro trimestre de 2015, os seus planos de redução de emissões de gás com efeito estufa.

 

Papa Francisco, o estrangeiro




25 novembro 2013 Corriere della Sera Milão


Pela primeira vez em treze anos, o Papa vem de outro continente que não a Europa, e de uma cultura que não partilha obrigatoriamente os mesmos valores. Será um sinal de declínio do Velho Continente?, interroga-se o “Corriere della Sera” enquanto o Papa Francisco se reúne com o ortodoxo Vladimir Putin.
Angelo Panebianco

A 25 de novembro, Vladimir Putin virá a Roma, ao Vaticano, para se reunir com o Papa. Para além dos outros significados que essa visita possa ter, sobretudo para as futuras relações entre o catolicismo e o cristianismo ortodoxo, será também um encontro entre dois homens que, no ano passado, deram consigo na posição de aliados contra os Estados Unidos (e contra a França), na questão da Síria. Enquanto o indeciso Obama desfolhava o malmequer para decidir se iria ou não intervir militarmente para castigar Assad pelo uso de armas químicas, Putin e Francisco agiam em plena sintonia para bloquear a intervenção norte-americana. O Papa levou a polémica ao ponto de levantar a hipótese de a guerra civil na Síria ser deliberadamente alimentada por aqueles que tinham a ganhar com a venda de armas. Referia-se sobretudo ao Ocidente, sedento de lucros.

É urgente que a Europa reflita sobre o que significa, não só para a Europa mas também para todo o Ocidente, o facto de haver um Papa oriundo de um mundo muito diferente do nosso. Um Papa que, no que se refere à Europa, alia paradoxalmente diversidade cultural e uma grande capacidade de despertar atenção, atração e mesmo entusiasmo.

A relação entre o Papa e o seu rebanho, e a sua tentativa de reformar em profundidade a Igreja de Roma, são questões que interessam ao mundo católico e devem ser observadas com respeito por aqueles que não pertencem a esse mundo. Mas a relação do Sumo Pontífice com a Europa é uma questão que interessa a todos os europeus. Tal como lhes interessam as mudanças geopolíticas em curso. E um dos aspetos dessas mudanças, talvez um dos mais importantes, é precisamente a chegada de Jorge Mario Bergoglio à Santa Sé.
A Europa já não é a Respublica Christiana

Pode dizer-se que a chegada de um Papa oriundo da América Latina saneou uma anomalia que, década após década, se tornara cada vez mais evidente e também mais gritante. Ao mesmo tempo que se difundia e consolidava fora da Europa, o catolicismo recuava aparatosamente naquele que foi em tempos o coração da Respublica Christiana.

A Europa é sem dúvida o continente onde, década após década, a secularização (sob a forma de descristianização) atingiu maior profundidade.

Desse ponto de vista, a Europa é a exceção, em comparação com o resto do mundo (Estados Unidos incluídos). O vigor e a vitalidade persistente do catolicismo, e do cristianismo em geral, nas regiões exteriores à Europa, vieram contrabalançar o seu recuo no Velho Continente. Ao ponto de alguns sociólogos das religiões colocarem a hipótese de, se a tendência se mantiver, o cristianismo poder passar em breve a ser quase exclusivamente uma religião extraeuropeia. É nesse sentido que a eleição de Bergoglio veio sanar uma anomalia.
A terra onde Bergoglio se formou tem uma tradição muito diferente da tradição da Europa liberal

Mas, naturalmente, essa eleição teve também um significado geopolítico mais vasto. Foi um sinal, e uma ilustração, do drástico redimensionamento em curso do peso do mundo ocidental nos equilíbrios mundiais. Em benefício dos mundos não ocidentais emergentes. É normal que um homem da Igreja, seja ele Papa ou um simples padre, radique também a sua visão cristã nos valores e nas ideias próprias da sociedade da qual provém. E é um facto que a terra onde Bergoglio se formou tem uma tradição muito diferente da tradição da Europa liberal. Essa circunstância poderá, ao longo do tempo, criar alguns problemas na relação entre este Papa e a Europa: um mundo do qual sabe pouco e, pelo que se depreende das suas palavras, esse pouco não lhe agrada muito.
As Igrejas da “periferia”

A grande força do catolicismo sempre foi aliar o poder da sua mensagem universalista de salvação à capacidade de valorizar as experiências e as especificidades locais. Quando os Papas eram italianos, as outras Igrejas católicas europeias conciliavam sabiamente a fidelidade ao Bispo de Roma com a valorização das especificidades nacionais. Na presença dos Papas europeus, as Igrejas de fora da Europa faziam a mesma coisa, como era justo que fosse.

Isso acontecia ainda durante o pontificado de João Paulo II, cujo carisma não ficava nada a dever ao de Bergoglio. Mas, então, o centro do catolicismo continuava solidamente ancorado na Europa e as Igrejas extraeuropeias constituíam a “periferia”. Hoje, é a Europa que desliza para a periferia e é travada apenas pelo facto de a sede física do Papado continuar em Roma. Uma situação inédita para os católicos europeus (e, na realidade, para todos os europeus).

Cabe às diferentes Igrejas nacionais, incluindo à italiana, valorizar, aos olhos do Sumo Pontífice, aquilo que a tradição europeia tem de bom e de característico, e que não pode ser redutível a outras experiências. Sem isso, é difícil imaginar, no futuro, entendimentos duradoiros e harmonia entre a Igreja e a Europa. E a primeira não encontrará facilmente os caminhos para travar a secularização da segunda. Independentemente da simpatia que este Papa suscita hoje, a sua mensagem universalista poderá, a longo prazo, quebrar-se contra as barreiras e os fossos, forjados pela História, que separam a Europa dos outros mundos.

Veto francês

Veto francês – Tom Janssen

22 novembro 2013 Trouw Amesterdão


Quem são mais nocivos para a Europa… os eurófilos ou os eurofóbicos...?

Os franceses!

Na primeira página do jornal: “O Parlamento Europeu quer livrar-se das deslocações mensais para Estrasburgo – O veto da França”

Os “eurófilos puros e duros como [Guy] Verhofstadt representam um perigo mais importante, no apoio popular, para a Europa do que eurocéticos como Marine Le Pen”, afirmou o parlamentar holandês Verheijen (VVD, conservador liberal), no dia 16 de novembro, acrescentando que “os seus projetos para uma ‘Europa federal’ ‘assustam as pessoas’ e correm o risco de minar ‘o apoio da opinião pública’”.

No dia 20 de novembro, o Parlamento Europeu aprovou o relatório Fox-Häfner que permitirá ao Parlamento Europeu manter uma única sede, a de Bruxelas. A França deverá, uma vez mais, opor-se e apresentar o seu veto.