quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Aproveitar o valor destruído


Nuno Carregueiro

Jornal de Negócios, 2015.08.03

O BES e a Portugal Telecom ficarão para a história empresarial portuguesa como dois dos casos mais evidentes de destruição de valor por actos de gestão ruinosos. Foi a queda do BES que precipitou o colapso da PT, mas o princípio do fim da empresa de telecomunicações começou muito antes da aplicação em títulos de dívida da Rioforte. Foi a entrada na Oi e posterior fusão com a companhia brasileira que matou a PT. Hoje existe a PT Portugal – uma filial de uma companhia francesa – e a Pharol – uma “holding” que gere uma carteira de dívida em incumprimento e é a maior accionista da companhia de telecomunicações brasileira com menor potencial.

Mas o valor destruído com as quedas do BES e da PT não foi para um buraco negro. Se é verdade que muito não será recuperado, também é certo que uma parte relevante já foi apropriado.

Precisamente um ano depois da resolução que consumou o fim do BES, ainda é cedo para dizer quem vai ganhar com o fim do então segundo maior banco português. Só depois do processo de venda do Novo Banco, que está na recta final, haverá uma maior visibilidade sobre quem pode tirar proveitos da queda do BES e quem ainda vai pagar a factura mais pesada.

Quem já perdeu tudo foram os accionistas do BES. A queda das acções foi abrupta e quem ainda as tem em carteira sabe que nada valem. No caso da PT foi diferente. As acções da empresa, que agora se chama Pharol, têm agonizado em bolsa e são o “patinho feio” do PSI-20. Nos últimos 12 meses já desvalorizaram 79% e a empresa tem uma capitalização bolsista de pouco mais de 300 milhões de euros, menos de um décimo do valor de mercado da PT a 2 de Outubro de 2013, quando foi anunciada a fusão entre a empresa e a Oi.

Os accionistas da Pharol, os mesmos que assistiram impávidos e serenos a esta perda de valor na PT, aprovaram agora a iniciativa de processar os antigos gestores da PT. No caso que vão interpor em tribunal, os novos gestores da Pharol deverão usar a queda de 90% das acções da empresa desde 2013 para culpar os ex-gestores. Mas há outro gráfico bem interessante para mostrar, o da outrora rival Nos. A companhia liderada por Miguel Almeida valoriza 73% nos últimos 12 meses e negoceia em máximos desde 2008, uma prestação que só causa espanto a quem não olhou atentamente para os resultados da empresa no primeiro semestre.

Com uma trajectória totalmente oposta está a PT Portugal, a empresa que os brasileiros da Oi se apressaram a vender para resolver o problema crónico de alto endividamento e que agora tem os seus indicadores de resultados todos em queda. A Nos está a aproveitar a destruição de valor na PT. A Oi também o fez, mas ao contrário da empresa portuguesa, o futuro que tem pela frente é tão sombrio quanto o da Pharol.

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