Couto faz 105 anos e mantém a receita da icónica pasta, agora sem Alberto Gomes da Silva
história da pasta Couto quase se confunde com a de Alberto Gomes da Silva. Tinha apenas 20 anos quando começou a trabalhar na linha de produção da icónica pasta dentífrica e assumiu as rédeas do negócio fundado pelo tio em 1974. Assim foi até à sua morte, em Maio deste ano, quando a mulher Alexandra passou a conduzir os destinos da marca. Como viverá a empresa sem o homem que lhe dedicou a vida? “É um legado para continuar. Já temos o futuro em linha”, responde a nova administradora ao PÚBLICO.
história da pasta Couto quase se confunde com a de Alberto Gomes da Silva. Tinha apenas 20 anos quando começou a trabalhar na linha de produção da icónica pasta dentífrica e assumiu as rédeas do negócio fundado pelo tio em 1974. Assim foi até à sua morte, em Maio deste ano, quando a mulher Alexandra passou a conduzir os destinos da marca. Como viverá a empresa sem o homem que lhe dedicou a vida? “É um legado para continuar. Já temos o futuro em linha”, responde a nova administradora ao PÚBLICO.
O espaço fica escondido num complexo de várias empresas e só damos por ele quando se lê Couto na porta. Contudo, no interior, as fotografias nas paredes e os produtos nas vitrinas denunciam que este é o sítio certo, onde há décadas se produz a pasta dentífrica que, até 2016, se manteve como o único produto da marca. Agora, há sabonetes, cremes hidratantes, produtos de barbear e até um perfume, baptizado de Mimi, como se chamava a mulher do fundador.
Em destaque, uma máquina que era utilizada para fazer a laminagem da pasta, dando-lhe uma textura mais homogénea. Visualmente, quase se assemelha a um aparelho para esticar massa. Os instrumentos antigos em ferro deram lugar a grandes tambores que misturam a fórmula quase centenária, e agora os tubos já não são cheios à mão, mas mecanicamente a grande velocidade. Encher a pasta, fechar o tubo e selar a embalagem: repete-se constantemente na linha de produção.
Mais do que se destacar pela inovadora fórmula, foram o design e as campanhas publicitárias que tornaram a Couto parte do imaginário português, quase um souvenir a levar de Portugal. Contudo, nem a nostalgia conseguiu impedir que a empresa entrasse em crise. Em 2012, Alberto Gomes da Silva falava dos planos de vender a marca, no máximo até 2017, mas o amor impediu que assim fosse, conta a mulher, Alexandra.
Os dois conheceram-se em 2004, quando a gestora foi à Couto para negociar a instalação de um sistema de ar condicionado e "roubou o coração" do empresário. “Desde que entrei aqui, sempre achei que havia muito mais para dar”, recorda. Ao lado do marido, começou uma revolução em 2016, ano em que se casaram, e que havia de salvar o negócio.
Assente na nostalgia, utilizaram o mesmo design vintage para lançar novos produtos desenvolvidos pela directora técnica. “O meu marido tinha uma visão muito à frente. Custou a primeira vez, mas depois já era ele a escolher a cor dos produtos, e foi sempre com a autorização dele que saía tudo para o mercado”, assegura. O sucesso foi tal que, em 2018, quando a Couto comemorou um século, inauguraram uma loja na Cedofeita, onde tudo tinha começado.
Aos poucos, por motivos de saúde, Alberto Gomes da Silva começou a afastar-se, apesar de se manter a par do que se passava na empresa. “O seu legado continuou. Era uma paixão dele e é uma paixão minha”, garante a administradora, que diz já ter sucessora para o seu cargo, a sua sobrinha. E também para liderar a Fundação Couto, uma instituição de solidariedade social que apoia 600 crianças da região.
Continuar depois da morte do empresário, que morreu a 7 de Maio, aos 85 anos, é “complicado”, apesar de ser o único caminho possível. “Tenho 12 pessoas que dependem de mim, mas, dentro de casa, continuo a chorar a perda do meu marido”, lamenta.
Alberto Gomes da Silva e Alexandra, em 2018, quando se celebrou o centenário NELSON GARRIDO/ARQUIVO
Internacionalização como futuro
Com o futuro em vista, a Couto continua a crescer. Em média, tem facturado um milhão de euros por ano, sendo que 85% da facturação provém da pasta dentífrica tradicional. “Produzimos 600 a 700 mil bisnagas por ano”, detalha a directora técnica. Contudo, apenas 5% têm por destino a exportação.
Isto porque a Couto se debate com a falta de espaço que impossibilita o aumento do volume de produção e, consequentemente, o crescimento das vendas para o estrangeiro. Estava planeada a abertura de uma nova fábrica em 2022, mas a pandemia e as burocracias municipais trocaram-lhes as voltas. “As máquinas novas conseguem trabalhar 24 horas por dia. Podemos alargar a produção, mas não temos onde guardar isso tudo”, queixa-se Alexandra Gomes da Silva.
Como tal, essa é a prioridade para os 105 anos da Couto. “Precisamos de um espaço que faça jus ao nome da Couto, com um museu e uma loja dentro da fábrica. É essencial”, declara, sublinhando que a marca não pertence a uma zona industrial, onde será de difícil acesso, mas a uma localização central, facilmente visitável pelos clientes.
francesa.
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