Quem diria.......cá se fazem, cá se pagam. Estavam como feras contra Portugal
Finlândia em crise admite deixar Euro
In jornal diabo.com/internacional
Há quatro anos destacavam-se entre os que exigiam castigos mais duros para Portugal. Agora estão em crise profunda e não querem a mesma
austeridade que nos foi imposta. Quando olham para o sucesso sueco,
norueguês e dinamarquês, os finlandeses retiram uma conclusão óbvia:
para evitar um massacre social e económico como o nosso, têm de sair
do Euro.
Não deixa de ser irónico: o país que disse que Portugal endividado
tinha de ser expulso da Zona Euro atravessa agora uma crise de tal
amplitude que talvez tenha, ele próprio, de deixar de usar a moeda
única. Recentemente, Paavo Väyrynen, eurodeputado pelo Partido do
Centro da Finlândia (actualmente no poder), afirmou mesmo que o seu
país “não tem tempo para desperdiçar na saída do Euro”. O político
reuniu os 50 mil apoios escritos necessários para a convocação de um
referendo sobre o tema, mas adianta que vai tentar que a decisão seja
directamente tomada pelo parlamento, tal a pressa: “um referendo
demoraria anos” a concretizar, referiu.
O Governo, de centro-direita, está dividido sobre que caminho
escolher. Após quatro anos de recessão, a economia deste país nórdico
encontra-se completamente estagnada. A Comissão Europeia admitiu, na
semana passada, que a Finlândia é hoje o Estado-membro com menor
crescimento: meio por cento.
Enquanto o país agredia verbalmente Portugal, não deu atenção
suficiente aos seus próprios problemas. Os custos de mão-de-obra do
país são 10 a 15 por cento mais elevadas do que os dos seus parceiros
comerciais, disparidade que já não pode ser consertada com uma
desvalorização monetária, apenas com austeridade. Curiosamente, quando
o mesmo aconteceu em Portugal, os finlandeses foram dos primeiros a
defender que os portugueses tinham de se tornar mais competitivos, e
que não tínhamos sequer dignidade suficiente para o actual ordenado
mínimo.
A palavra “flexibilização laboral” também entrou no léxico da antiga
colónia russa, saída da boca de Olli Rehn, o antigo comissário da UE
odiado pelos europeus do sul. Dois feriados vão ser cortados, e as
empresas vão deixar de ser obrigadas a negociar em concertação social,
passando a poder pagar o mínimo possível. Previsivelmente, os
finlandeses saíram à rua para paralisar o país com greves. Depois de
quererem condenar Portugal a vários anos de dor, os finlandeses não
querem o mesmo remédio. Mas há quem acha que nenhum dos países tinha
de passar pelo desastre que agora enfrenta.
Soberania monetária
Sem o peso do dogmatismo pro-europeísta, dois académicos finlandeses
elaboraram um estudo que permitiu projectar o que teria acontecido se
o país nunca tivesse abandonado a sua antiga moeda, o “Markka”.
Segundo a simulação, com o impacto da crise, o Markka teria
desvalorizado 20 por cento em relação ao Euro, mas a recuperação
económica do país teria sido muito mais veloz, pois as exportações
teriam aumentado 15 por cento.
Um dos académicos, Tuomas Malinen, é decisivo nas suas conclusões: a
culpa da estagnação do país é do Euro. Admitindo que o colapso da
Nokia e o mercado de trabalho rígido são problemas estruturais graves,
as conclusões do académico são que “apenas se tornaram um problema
inultrapassável porque a Finlândia usa o Euro”. No entanto, fica a
nota: abandonar a moeda única tem custos, que os académicos estimam em
20 mil milhões de euros.
Para os detractores do Euro, o custo valeria a pena, e seria
recuperado após alguns anos. Caso exemplar é a Suécia, um pequeno
oásis de prosperidade no meio de um deserto económico: durante o
período da crise na Europa, o país cresceu oito por cento. Em
comparação, a Zona Euro ainda não regressou aos níveis económicos
pré-recessão.
Outro exemplo é o Reino Unido, que é hoje a economia mais pujante da
Europa, tudo porque gere a Libra Esterlina conforme as suas
necessidades. Do outro lado do canal, a França enfrenta mais um ano de
elevado desemprego e crescimento quase nulo. Não admira, pois, que
David Cameron já tenha explicado taxativamente a Bruxelas que nunca,
por nunca ser, a União Europeia poderá exigir que o seu país adopte o
Euro.
A dura realidade da moeda única
Todas as principais agências de ‘rating’ colocaram as perspectivas da
Finlândia em “negativo”, e o Governo vai ter de aumentar a dívida em
13 mil milhões de euros em 2016, na melhor das hipóteses. A despesa
pública do país representa agora 58 por cento do PIB nacional, o valor
mais elevado da Europa e um dos mais elevados do mundo.
A União Europeia governou a sua moeda apenas em benefício de um único
país durante demasiado tempo, e não faz os necessários incentivos
monetários a tempo. Apesar de Mário Draghi ter o Banco Central Europeu
a oferecer amplos estímulos financeiros, incluindo uma taxa de juro
(e, por arrasto, de crédito) perto de zero por cento, a economia
Europeia continua estagnada e a deflação começou a instalar-se.
Na Finlândia, os políticos pró-europeus falam, de forma desesperada,
em “inovação” para consertar os problemas da Nação. De facto, o país é
casa de alguns dos melhores técnicos, cientistas e profissionais do
mundo, mas criar nova riqueza é difícil. No seu auge, a Nokia dava
emprego a quase 200 mil pessoas. Hoje, o sector dos videojogos, que o
Governo local aplaude como um exemplo, apenas emprega 2.600
trabalhadores. Apesar de haver ideias, e até financiamento, exportar
com o peso do Euro é muito difícil. O desinvestimento no sector da
educação e a “fuga de cérebros” para países mais prósperos e
dinâmicos, como o Reino Unido e os Estados Unidos, coloca ainda o
futuro do pequeno país mais em causa, tal como acontece actualmente em
Portugal. Vale a pena continuar no Euro? É possível que os finlandeses
em breve votem sobre o assunto.
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