CARLOS DIAS 22 de Janeiro de 2017
Em 2007 e no decorrer de uma obra na rede de abastecimento de água à cidade de Beja surgiu, no meio de ossadas do período islâmico, um esqueleto em posição de lótus. Nove anos depois, e pela primeira vez no mundo fora da Índia, foi confirmada a descoberta de um mestre yoga, que aqui chegou vindo do oriente a pé
Apesar de nunca ter visto as ossadas, que se encontram depositadas em Coimbra para a realização de estudos de ADN e do tipo de alimentação que consumia, o presidente da Confederação Portuguesa de Yoga, o grande mestre Jorge Veiga e Castro, depois de ter visionado as fotografias, o espaço de enterramento e interpretado a documentação científica produzida, não tem dúvidas: “Não se conhece em nenhuma parte do mundo, a não ser na Índia, um fenómeno de um esqueleto em posição de lótus como o de Beja”.
“A pose de enterramento era muito estranha e remetía-nos para o mundo oriental, mas sem definição”, referiu Miguel Serra, acrescentando que, no século III d.C, havia cultos orientais em Beja e identificou-se “o indivíduo como estando associado a esse movimento.”
Nesse contexto histórico, e apesar de Pax Yulia se localizar no interior do sudoeste peninsular, sabe-se, desde que o arqueólogo Cláudio Torres reescreveu a história da região, que havia uma intensa ligação ao mundo mediterrânico através do rio Guadiana e pelo porto fluvial de Mértola, por onde chegavam diversas influências culturais e religiosas.
Foi através dessa porta de entrada que veio até à cidade romana um mestre yoga que se lançou ao caminho, percorrendo, a pé, não se sabe por onde nem como, cerca de 8000 quilómetros “para transmitir a boa nova fora da Índia”, afirmou ao PÚBLICO Veiga e Castro. A convicção do mestre sobre esta aventura assenta não só na estrutura óssea do esqueleto, que indicia grandes caminhadas, como no hábito que existia na altura de encetar grandes peregrinações.
A simetria da posição e a forma como estava colocado “só era possível de alcançar pelos grandes mestres”, sublinha o arqueólogo, que interpretou o modo como foi inumado como “um manual como fazer correctamente aquela posição.”
As dúvidas que suscitou, a forma de enterramento e o desconhecimento de situações paralelas para interpretar este indivíduo impeliram Miguel Serra a colocar a foto do inédito achado arqueológico nos blogues. “E foi então que tivemos uma surpresa, quando, em 2012 se realizou, em Beja, o Dia Internacional do Yoga”. Vários indianos que se deslocaram à cidade alentejana ficaram perplexos com o achado que não lhes deixava dúvidas: “Era um mestre de yoga”, conta Miguel Serra, realçando a insistência em se fotografar no espaço onde foi descoberto o enterramento na Rua Gomes Palma, junto ao chamado Jardim do Bacalhau.
Jorge Veiga e Castro confirmou que os "mestres da Índia ligados ao Yoga e ao Induísmo (entre eles vários professores universitários) ficaram felizes e surpreendidos com o achado de Beja”. E , através das informações que foram recolhendo, ficou reforçada "a ideia de que se trata de um mestre do yoga.” A dimensão e o significado da descoberta arqueológica não lhe deixam dúvidas. “Todos os indícios apontam nesse sentido. É inegável, as provas estão lá. Ninguém o pode esconder. É um achado histórico de grande significado”, sintetiza o presidente da Confederação Portuguesa do Yoga, realçando um pormenor histórico: "Não foi só há 500 anos que houve contactos com o extremo oriente. Muito anos antes já os haveria como este personagem parece documentar.”
A partir de agora, o objectivo da Confederação Portuguesa do Yoga passa por transformar Beja “num pólo de atracção que projecte esta corrente religiosa para a Europa e o mundo inteiro”. Para alcançar esse desiderato, diz que o próximo objectivo é “expor as ossadas” na capital do Baixo Alentejo, se for possível até ao Congresso Ibérico de Yoga, que se realiza Abril, na cidade espanhola de Ávila.
Achado arqueológico descoberto “por uma unha negra”
A legislação em vigor que limita a área de protecção legal dos centros históricos revela lacunas que foram realçadas em escavações arqueológicas realizadas em 2007 e que conduziram à descoberta do esqueleto de um mestre de yoga.
Se a vala que foi aberta para a instalação da rede de águas tivesse sido deslocada cerca de três metros para além do limite dos 50 metros a contar da cintura de muralhas que delimita o Centro Histórico de Beja não se estaria a falar deste achado que foi descoberto “por uma unha negra”, refere o arqueólogo Miguel Serra.
O levantamento arqueológico apenas incidiu no espaço da vala aberta para instalar a tubagem da rede de abastecimento de água. “Ficámos sem poder saber o que está para os lados”, acrescenta. Por exemplo, concluir se o mestre yoga tinha ou não junto dele sepulturas de seguidores, observa o arqueólogo.
A área já está identificada há décadas como rica do ponto de vista arqueológico dada a profusão de ossos humanos que surgem durante as intervenções feitas numa extensão com cerca de dois hectares de área e onde têm sido descobertos diversos vestígios da época romana, islâmica, medieval e moderna.
Miguel Serra chama a atenção para a necessidade de tornar a legislação que estabelece as áreas de protecção do património mais dinâmica em função das características históricas de cada local, lembrando que a “cidade de Beja não morria nas muralhas” no século III d.C. A ocupação estendia-se para o exterior. Exemplo disso é a enorme necrópole que já existia na época romana, prosseguiu na época islâmica e continuou na época moderna, como tem ficado provado no decorrer de intervenções que têm sido efectuadas fora do centro histórico.
Durante as obras realizadas no âmbito do programa Beja Polis, entre 2003 e 2004, foi descoberta uma rede com 137 silos escavados na rocha, que terão servido para o armazenamento de cereais e também como lixeira entre os séculos XIV e XVII. Foram sacrificados à instalação de um parque de automóveis. Tem sido descoberto outro tipo de património fora da área de protecção, onde não é necessário o acompanhamento arqueológico.
A boa nova nos dias de hoje
No século III d.C, a mensagem do movimento yoga estava praticamente circunscrita a uma área do planeta. Daí a surpresa por terem sido encontrados vestígios da presença de um mestre yoga em Beja.Hoje, a importância desta corrente religiosa baseada no princípio “o verdadeiro fundamentalismo é o respeito pela vida” tem dimensão universal. E, neste contexto, destaca-se a elevação do Yoga da Índia a Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO, objectivo que foi concretizado a 1 de Dezembro de 2016 e também o papel desempenhado pelo português Jorge Veiga e Castro por ter sido o proponente do Dia Internacional do Yoga.
Outra das iniciativas de Veiga e Castro, o “Dia da Luz e da Sabedoria” e da “Não Agressão”, defende que, “por 24 horas, não se derrame sangue, sob nenhuma forma" e respeite-se "a sagrada Vida que nos foi dada”, evento que ocorre no Solstício de Junho.
O também presidente das Confederações Portuguesa, Ibérica e Europeia do Yoga concentra a sua atenção na formação das crianças e jovens de todos os países do mundo, com a inclusão de o Yoga nos currículos de ensino. Nesta área, ministra cursos de formação de professores do Yoga.
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