sábado, 26 de março de 2016

Sven Mary, porque defende um terrorista?


ANA HENRIQUES  26/03/2016

Discute-se na Europa se terroristas e genocidas devem ser tratados pela justiça como os outros criminosos. Ou se devem ser remetidos à condição de párias, por recusarem regras básicas do Estado de direito. “Deixou-se chegar as coisas longe de mais", diz a procuradora que investigou o caso das FP-25.


Sven Mary, advogado belga, ofereceu-se em Janeiro para defender Salah Abdeslam DIRK WAEM/AFP

A sua carteira de clientes incluía alguns dos nomes mais odiados de sempre. Defendeu o criminoso de guerra nazi Klaus Barbie, o genocida sérvio Slobodan Milosevic e o terrorista venezuelano Carlos, o Chacal. Quando lhe chamavam advogado do diabo, o francês Jacques Vergès respondia que era sua obrigação profissional defender qualquer pessoa que fosse acusada de um crime, especialmente aqueles sob os quais impendiam as acusações mais graves – ainda que não se identificasse com os seus actos. “O mal absoluto não existe”, afirmou à revista alemã Der Spiegel em 2008, cinco anos antes de morrer. “Os meus clientes são seres humanos. Têm dois olhos, duas mãos, um género – feminino ou masculino – e emoções. É isso que os torna tão sinistros”.

Os recentes atentados em solo europeu trouxeram para a ribalta outro advogado. Muito antes de Salah Abdeslam ter sido detido por fortes suspeitas de envolvimento nos ataques de Paris, já Sven Mary se tinha oferecido, em Janeiro passado, para representar o terrorista mais procurado da Bélgica. “O que me motiva é o combate contra a arbitrariedade e o abuso de poder. Algo que recrudesceu na França e na Bélgica depois dos ataques”, explicou ao diário belga Le Soir. Tivesse Abdeslam negado o seu envolvimento nos actos terroristas, o advogado negar-se-ia a defendê-lo.

O discurso de Sven Mary, que não é virgem nisto de representar jhiadistas radicais perante a justiça, aproxima-se do das organizações de defesa dos direitos humanos, que temem que a escalada de violência desencadeie como resposta dos Estados ditos civilizados uma proliferação de leis de carácter securitário susceptível de pôr em causa direitos básicos de cidadania - não só dos suspeitos ou autores confessos de terrorismo como de todos os cidadãos. Temem, sobretudo, que comece a mudar o sentido da resposta dada à pergunta que muitos hoje colocam Europa fora: devem terroristas e genocidas ser tratados pela justiça da mesma forma que os restantes criminosos?

Não devem, diz Günther Jakobs de há pelo menos 30 anos a esta parte. Quando alguém comete um acto demasiado monstruoso para ser sequer compreendido não merece sequer ser olhado como pessoa. Tem, isso sim, de ser visto como inimigo da sociedade cujos fundamentos tentou destruir, defende este eminente professor de direito alemão. Aos párias, a justiça não deve conceder os mesmos direitos fundamentais e garantias que às restantes pessoas.

Baptizada como "direito penal do inimigo", quando esta doutrina surgiu, em meados dos anos 80, era uma ideia entre muitas. O antigo ministro da Administração Interna Rui Pereira, que chegou a assistir a uma conferência de Jakobs em Berlim, conta como os atentados de 11 de Setembro de 2001 a colocaram na ordem do dia. Desde aí, explica, “tornou-se impossível ler um estudo na Europa continental sobre terrorismo que não a mencione. É uma ideia marcante que tem levado a grandes discussões”.


Acusado de caucionar, do ponto de vista ideológico, violações dos direitos humanos como as que têm sucedido em Guantánamo, o catedrático alemão hoje já reformado não tem hesitado em criticar o que se passa na prisão norte-americana. Mas a prática da tortura pelo Estado não lhe merece uma resposta taxativa. Dá como exemplo o caso real do polícia condenado por ter torturado o raptor da filha de um banqueiro alemão como única forma de encontrar o seu paradeiro. “Perante uma ameaça sem precedentes – e de um momento para o outro podemos ter um ataque terrorista em Portugal – é preciso garantir o máximo de eficácia no combate ao fenómeno do terrorismo. O que passa por abrirmos algumas excepções para tratar o que é excepcional, sem perder a noção dos limites. A tortura só poderá ser legitimada ao abrigo do direito de necessidade: tem que se estar perante uma ameaça iminente de um mal superior e isso tem de ser certo e seguro. Só aí se pode admitir que o Estado recorra a meios como este para obter uma informação relevante para evitar um mal maior”, pondera o presidente da Associação de Advogados Penalistas, Paulo Sá e Cunha. “É muito discutível se é admissível um Estado de direito democrático fazê-lo”.

O advogado esteve em Janeiro num encontro sobre o direito penal do inimigo em Bolonha, e o panorama que traça não é a preto e branco. Ao mesmo tempo que reitera a necessidade de o Estado assegurar princípios aceites universalmente, como o de levar todos os criminosos a julgamento, faz notar que a penalização de certas práticas até há poucos anos isentas de censura penal, como a tentativa de viajar para determinado país para ali receber formação terrorista, já configura uma doutrina idêntica à de Jakobs. “Nós, penalistas, temos de defender intransigentemente os arguidos. Mas não podemos enfiar a cabeça na areia. Temos de ter a razoabilidade para perceber que há novas ameaças de uma dimensão e perigosidade diferentes e que temos de as encarar do ponto de vista do direito penal com alguma abertura”, observa. “Se ficamos agarrados aos princípios do liberalismo oitocentista, se calhar não vamos conseguir combater eficazmente esta ameaça. Os bens jurídicos essenciais à vida em sociedade estão a ser ameaçados de forma quase intolerável e num grau nunca antes visto por este tipo de terrorismo”.

Na luta contra o terrorismo, França vive numa espécie de suspensão criada pelo recurso a medidas excepcionais previstas na lei – desde Novembro que vigora o estado de emergência que permite ao ministro do Interior manter em prisão domiciliária qualquer pessoa cuja actividade seja considerada perigosa para a segurança e ordem públicas e ordenar buscas à residência de suspeitos de dia ou de noite, sem passar pela autorização de um juiz. Alguns autores consideram que se estará a cair na armadilha de julgar que só se pode defender a liberdade contra este tipo de ataques usando leis e tribunais especiais.

“No dia em que o Estado se guiar pelo horror que certas coisas causam ou por emoções, e em que, por outro lado, deixar de seguir, nas suas reacções punitivas, a racionalidade e o equilíbrio perde a sua legitimidade e, sem dúvida, perde o seu cunho de Estado de direito. E se há conquista que não podemos destruir - sob pena, aliás, de com isso cedermos a parte dos objectivos de alguns terroristas - é o Estado de Direito e, também, o primado dos direitos humanos”, observa o penalista Rui Patrício, para quem, a haver desequilíbrio entre liberdade e segurança, que seja a favor da liberdade.

Reforço policial em Bruxelas após os atentados de 22 de Março

Essa é também a posição do docente Manuel Guedes Valente, que escreveu um livro sobre o direito penal do inimigo: “O caminho de belicizar o direito penal apenas nos traz o espectro do medo e da insegurança e nunca nos garante uma segurança real e efectiva. É uma utopia pensar que o direito penal do inimigo nos produz um espaço e tempo de segurança. Produz exclusão, produz alienação social e política, produz um espaço e um tempo de pessoas e não-pessoas, de amigo e inimigos”.


Estabelecer regimes de estado de sítio ou de emergência com pressupostos demasiado latos ou com duração prolongada pode pôr em causa os direitos dos cidadãos, considera Rui Patrício. Ocultar aos arguidos a possibilidade de saber de que são exactamente suspeitos, de comunicar livremente com o seu advogado ou de se remeterem ao silêncio, por exemplo, é “destruir o pilar essencial do Estado de direito” que constitui a sua defesa. Rui Patrício fala mesmo numa “forma perversa de terrorismo de Estado”: “Esses simulacros carnavalescos [de justiça] podem ser muito populares, mas a prazo pagam-se caros, à custa de todos nós, incluindo quem aplaudiu”. Entre nós, “pelo menos ao nível da lei, pode afirmar-se que um suspeito de terrorismo é como outro suspeito qualquer”, esclarece.

Esta é, de resto, também a posição da comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados, para a qual num Estado de direito democrático não podem existir distinções entre os destinatários das leis, “punindo homens em vez de condutas e construindo guerras em vez de justiça”, porque isso será “o mais curto caminho para o totalitarismo”. A comissão rejeita um sistema penal que constitua “pouco mais do que uma guerra ‘controlada’ em resposta a ameaças de guerras que não somos capazes de prevenir ou responder com eficácia”.

Fundador, com Rui Pereira, do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, José Manuel Anes é igualmente dos que consideram ser “evitar a todo o custo o extremismo de direita que surge sempre nestes momentos”, nomeadamente propondo agravamento de penas até à prisão perpétua. “Qual é a eficácia de uma pena do direito penal tradicional relativamente a pessoas que têm propósitos suicidas? É-lhes indiferente se incorrem em dez anos de prisão ou em prisão perpétua, ou mesmo em pena de morte”, lembra Paulo Sá e Cunha.


José Manuel Anes

O fácil acesso de muitas organizações criminosas “poderosíssimas e violentas”, como as mafias e tríades, ao próprio aparelho de Estado leva o ex-ministro a dar razão a Jakobs pelo menos num ponto: há que lançar mão de medidas especialmente eficazes, como as acções encobertas, o estatuto do arrependido ou a intercepção de comunicações para combater este tipo de fenómenos. Ou ainda do estado de emergência, que pode suspender o direito de manifestação e decretar o recolher obrigatório. “Mas não pode ser suspenso o direito à integridade física, à identidade pessoal, aos direitos de defesa no processo penal”, sublinha Rui Pereira. “Autorizar a tortura, que atenta contra a dignidade do ser humano, seria um retrocesso civilizacional que nos levaria à Idade Média e à Inquisição. E há que garantir o direito de defesa, por mais horríveis que sejam os crimes”.

Rui Pereira

No caso português, os advogados oficiosos não podem recusar patrocinar um criminoso confesso, invocando a repulsa que lhes suscita o crime praticado. Vice-presidente do conselho de deontologia dos advogados de Lisboa, Teresa Alves de Azevedo explica porquê: “Está no ADN do advogado considerar que toda a gente tem direito a defesa – o que não significa que peça a libertação do suspeito, mas sim que se assegure que é feita justiça. O advogado não pode fazer parte do linchamento público, ele é a última barreira antes da barbárie ”. Estivesse Salah Abdeslam a braços com a justiça portuguesa, e sem dinheiro para pagar a alguém que o patrocinasse, e ao advogado que lhe fosse nomeado não serviria de muito invocar a objecção de consciência: “Só isso não é motivo de escusa”, esclarece a dirigente da Ordem dos Advogados.

Afinal, trata-se de alguém que se inscreveu voluntariamente para defender quem lhe aparecesse. Já se ao advogado nomeado para defender o terrorista tivesse morrido um familiar morto nos ataques de Paris, e poderia invocar esse facto como motivo de escusa válido para não ter de aceitar o caso. Paulo Sá e Cunha recorda como foi difícil arranjar quem representasse Carlos Silvino no processo Casa Pia: “A certa altura o então bastonário dos advogados, José Miguel Júdice, tomou uma posição: se não houvesse mais ninguém seria ele a defendê-lo, em homenagem a uma responsabilidade institucional que tinha. Era um patrocínio muito impopular, mas um dever institucional. A verdadeira objecção de consciência só se pode pôr em casos excepcionais. Se toda a gente se recusasse a defender homicidas nunca se poderia julgar ninguém”.

Cândida Almeida 

A carreira da procuradora Cândida Almeida ficará para sempre indissoluvelmente ligada aos dois processos das FP-25, cuja investigação dirigiu nos anos 80. Eram mais de cem os arguidos, e nem computadores tinha na altura. Seis deles beneficiaram de isenção de pena, por terem ajudado a justiça, relembra. Reconhecendo que são muito diferentes os terroristas dos dias de hoje, a magistrada pensa que, para além da prevenção e da troca de informações entre polícias, uma medida a ponderar seria a criação de um tribunal internacional dedicado exclusivamente a este tipo de crimes - à semelhança do Tribunal Penal Internacional, que esta semana condenou o antigo líder sérvio bósnio Radovan Karadzic, hoje septuagenário, a 40 anos de prisão por genocídio praticado nos anos 90. “Teria de ser um tribunal com regras de processo penal um pouco diferentes do habitual, por forma a que o arguido não pudesse destruir provas nem ameaçar os jurados. E teria de ter polícias e magistrados especializados”. Cândida Almeida acha que mesmo polícias como a Europol ou a Interpol “parecem só estar preparadas para a criminalidade comum e para o terrorismo clássico”, razão pela qual é preciso apostar na formação de especialistas num fenómeno que se tornou transnacional e de matizes ainda muito incompreendidos.

“Deixou-se chegar as coisas longe de mais. Os países não podem exagerar nas medidas securitárias, mas também não se podem fragilizar em nome das liberdades. É difícil, mas o ser humano tem capacidade para encontrar esse equilíbrio. Afinal, até já foi à Lua”, conclui Cândida Almeida.
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segunda-feira, 14 de março de 2016

Fui ao gourmet e tramei-me!


Sou um tipo moderno. E chique. Muito chique. Por isso não podia deixar de entrar num restaurante gourmet da moda. Vesti um Armani que comprei num saldo dos chineses, calcei umas sapatilhas com uma virgula estampada que regateei ao ciganito da feira e esvaziei, pelo pescoço abaixo, meio frasco de Chanel dos marroquinos.

E foi assim, cheio de cagança, como mandam as regras do pelintra luso, que fui jantar ao tal restaurante, gerido por um “chef” reputado com categoria internacional e olímpica.

Tramei-me! Antes tivesse ido ao tasco da esquina aviar uma bifana! Confesso que já levei muita tanga, mas como esta, nunca! Passei fome, fui gozado e fui roubado!

Sempre achei que cozinhar era um acto de descontracção, de partilha, de alegria, de afecto. E eu devia desconfiar, porque aqueles concursos gastronómicos das TVs transformaram uma actividade social sadia, numa agressão stressante, provocadora de lágrimas e depressões. Já para não falar das parvoíces dos mestres cozinheiros da moda, cujos pratos estapafúrdios e minimalistas se apelidam agora de “criatividade culinária”.

Colocaram-me um prato à frente que foi mais difícil de decifrar que as palavras cruzadas do JN ao domingo. Um prato que exibia 5 cm2 de um pobre robalo que pereceu inutilmente só para lhe extraírem um pedacito do cachaço, meia batata engalanada com um pé de salsa, e 2 ervilhas a nadarem numa colher de chá de um azeitado molho de escabeche, bem disfarçado com um nome afrancesado que nem vem nos dicionários. Para remate, três riscos de uma substância pastosa, estilo Miró, para preencher os restantes 90% do prato vazio.

E o bruto do português, habituado à sua travessa de cozido e ao panelão de feijoada, olha para aquilo com uma cara de parvo capaz de partir todos os espelhos lá de casa.

Esboça-se um sorriso amarelo, engole-se em seco, diz-se que está tudo óptimo ao empregado de mesa que mais parece uma melga à nossa volta, e enfiam-se dois Xanaxs quando nos metem a conta à frente. E, a muito custo, cala-se o berro de duas peixeiradas à nortenha que nos vai na alma.

Nunca mais lá volto. E sabem que mais?

Porque se quero comer aperitivos, como bolinhos de bacalhau e tremoços, que são muito mais saudáveis e baratos.

Porque para ver pintura abstracta, vou a uma exposição.

Porque detesto jantar uma comida onde toda a gente meteu as mãos.

Porque para ser roubado bastava ir à Autoridade Tributária, vulgo Finanças.

E, acima de tudo, porque desconfio de um cozinheiro que vive e trabalha com a ambição obsessiva de ser medalhado por uma companhia de pneus.

Com 50 anos e 9.000 EUROS por mês


SERÁ QUE É MESMO VERDADE?
Escândalo na UE

Noruegueses, Finlandeses, Suecos, Franceses e ... Portugueses !!!

Os políticos europeus estão a lutar como loucos para entrar na administração da UE!
E porquê?

Foi aprovada a aposentadoria aos 50 anos com 9.000 €uros por mês para os funcionários da EU!
Este ano, 340 agentes partem para a reforma antecipada aos 50 anos com uma pensão de 9.000 euros por mês.

Para facilitar a integração de novos funcionários dos novos Estados-Membros da UE (Polónia, Malta, países da Europa Oriental..), os funcionários dos países membros antigos (Bélgica, França, Alemanha...) receberão da Europa uma prenda de ouro para se reformarem.

Porquê e quem paga isto? Você e eu estamos a trabalhar ou trabalhámos para uma pensão de miséria, e aqueles que votam as leis se atribuem presentes de ouro.

A diferença tornou-se muito grande entre o povo e os "Deuses do Olimpo!"

Devemos reagir por todos os meios começando por divulgar esta mensagem para todos os europeus.
É uma verdadeira Mafia a destes Altos Funcionários da União Europeia...
Os tecnocratas europeus usufruem de verdadeiras reformas de nababos...
Mesmo os deputados nacionais que, no entanto, beneficiam do "Rolls" dos regimes especiais, não recebem um terço daquilo que eles embolsam.
Para eles, é o jackpot. No cargo desde meados dos anos 1990, têm a certeza de validar uma carreira completa e, portanto, de obter o máximo: 70% do último salário. É difícil de acreditar. Não só as suas pensões atingem os limites, mas basta-lhes apenas 15 anos e meio para validar uma carreira completa, enquanto para você, como para mim, é preciso matar-se com trabalho durante 40 anos, e em breve 41 anos.

Confrontados com o colapso dos nossos sistemas de pensões, os tecnocratas de Bruxelas recomendam o alongamento das carreiras: 37,5 anos, 40 anos, 41 anos (em 2012), 42 anos (em 2020), etc. Mas para eles, não há problema, a taxa plena é 15,5 anos...
De quem estamos a falar?

Originalmente, estas reformas de nababos eram reservadas para os membros da Comissão Europeia e, ao longo dos anos, têm também sido concedida a outros funcionários. Agora eles já são um exército inteiro a beneficiar delas: juízes, magistrados, secretários, supervisores, mediadores, etc.

Mas o pior ainda, neste caso, é que eles nem sequer descontam para a sua grande reforma. Nem um cêntimo de euro, tudo é à custa do contribuinte... Nós, contribuímos toda a nossa vida e, ao menor atraso no pagamento, é a sanção: avisos, multas, etc. Sem a mínima piedade. Eles, isentaram-se totalmente disso. Parece que se está a delirar!

Joana Amaral Dias

Ora bem, querem saber como se faz um banqueiro em Portugal, certo?

Muito simples: junta-se uma longa carreira numa jotinha partidária, uns tantos cargos políticos, fidelidade ao dono, um curso com passagem administrativa, um primeiro-ministro perigoso, um governador do Banco de Portugal pardacento, duas asas de morcego e voilà: Bingo!

Miguel Relvas tem um banco! Ah, pois é. Um banco que tem licença para operar em Portugal, Moçambique, Angola e América Latina. Que lhe chegou às mãos porque o BPN - que custou ao Estado 6 mil milhões - foi vendido por Passos Coelho ao BIC por 40 milhões.

Depois disso, sobrou o Efisa, uma instituição bancária de investimento do universo SLN/BPN, onde foram parar 90 milhões do dinheiro dos contribuintes via ex-primeiro- -ministro. Só então o Efisa foi vendido (por 38 milhões) à Pivot SGPS, da qual faz parte Miguel Relvas.

Ou seja, pagámos 52 milhões a essa sociedade para ficar com o dito banco, livre de encargos adicionais. Bonito. Poético. Como diria Passos Coelho, "Social Democracia, sempre !" Ou, como disse o seu amigo e ex-ministro numa entrevista há uns meses: "A marca Relvas ainda é forte." Sorria, estamos a ser gamados.

Joana Amaral Dias

domingo, 6 de março de 2016

Este perfil de Hitler no “The New York Times” há 94 anos soa familiar?

“The Wall Street Journal” desenterrou o primeiro artigo que o NYT escreveu sobre o então recém-nomeado líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e as semelhanças com Donald Trump são assustadoras


Um novo ídolo popular, reaccionário, com poderes extraordinários para dominar multidões a seu bel-prazer, que exige um governo forte para uma Alemanha unida." Assim foi descrito Adolf Hitler em 1922, num artigo do "The New York Times" pouco depois de o alemão ter assumido a liderança do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.

No artigo, o diário explica que "o programa de Hitler", que consiste em "meia dúzia de ideias negativas vestidas de generalidades", "tem menos interesse do que a sua personalidade e movimentos". "É contra os judeus, os comunistas, os bolcheviques, o socialismo marxista, os separatistas, os altos custos de vida, as condições atuais, o fraco governo de Berlim e contra o Tratado de Versalhes. Defende apenas uma Alemanha forte e unida sob um governo forte."

O artigo foi desenterrado esta semana pelo jornalista do "The Wall Street Journal" Jon Ostrower, dias depois de a colunista conservadora do "The Washington Post" Jennifer Rubin ter classificado Donald Trump de "fascista". O objetivo de Ostrower era mostrar a abordagem cândida que foi feita de um homem que viria a ser um dos mais sanguinários ditadores de que há memória na História mundial — e como não foi dada atenção suficiente aos perigos representados pelo populismo do alemão, da mesma forma que não está a ser dada agora ao populismo do atual líder da corrida à nomeação republicana.

Nesse perfil de Hitler datado de há 94 anos, é ressaltado o seu "raro dom oratório que fascina audiências independentemente da sua orientação política ou credo religioso". "O seu método é simples: primeiro, propaganda, segundo, organização eficiente", lê-se ainda. "Ele conduz pessoalmente encontros de revivalismo patriótico com esse propósito."
QUALQUER SEMELHANÇA COM 2016 NÃO SERÁ PURA FICÇÃO

Podia trocar-se "os judeus, os comunistas, os bolcheviques, o socialismo marxista, os separatistas" pelos muçulmanos,mexicanos, imigrantes sem documentos e os que se manifestam em comícios de campanha e estaríamos a falar de Donald Trump. Podia trocar-se Hilter por Trump na frase "o programa de Hitler tem menos interesse do que a sua personalidade e movimentos" e tudo estaria certo.

Ao longo da corrida para poder disputar a presidência dos EUA em novembro, o magnata populista tem efetivamente baseado o seu programa político numa "meia dúzia de ideias negativas vestidas de generalidades" e defendido alto e bom som as suas políticas anti-imigração, em linha com o que é descrito sobre Hitler.

Em julho disse que "todos os mexicanos são violadores e homicidas". Meses depois declarou que, se for eleito Presidente, irá juntar os 11 milhões de imigrantes clandestinos e deportá-los dos Estados Unidos; em Dezembro foi comparado com o ditador nazi por prometer criar uma base de dados sobre a população muçulmana do país para obrigar esses cidadãos a usar identificações explícitas de que são muçulmanos, tal como Hitler obrigou os judeus a usarem estrelas de David como identificação clara da sua "inferioridade".
O PERIGO DA AMBIÇÃO CEGA

Entre as descrições de Hitler no artigo de há quase 100 anos, um parágrafo salta ainda mais à vista pelos paralelismos que sugere. "Várias fontes bem informadas e de confiança confirmam que a ideia de que o antissemitismo de Hitler não é tão genuíno nem violento quanto parece e que ele está meramente a usar propaganda antissemita como isco para agregar massas de seguidores e mantê-los excitados, entusiasmados e prontos para quando a sua organização [política] estiver aperfeiçoada e for suficientemente poderosa para ser eficaz nos seus objetivos políticos."

Há um ano, o próprio "The New York Times" já tinha desenterrado o artigo em questão, escrevendo que, "em novembro de 1922, deu aos seus leitores um primeiro vislumbre de Hitler, num perfil que acertou em muitas coisas [...] mas também falhou num ponto crucial — apesar do que as "várias fontes bem informadas e de confiança" disseram ao Times no terceiro parágrafo a contar do fim, o seu antissemitismo era tão genuíno e violento como soava."

Com cada declaração explosiva e xenófoba do pré-candidato americano às presidenciais, a população não só não o critica como o apoia cada vez mais. Em setembro, uma sondagem da Fox News indicava que 44% dos americanos acredita que Trump "diz as coisas como elas são" e que é disso que os EUA precisam num presidente. O número é assustador e, meses depois de ter sido revelado, mais assustadoras são as consecutivas vitórias da estrela de reality shows nas votações estatais que já tiveram lugar.

Nas suas memórias, publicadas em 1987 sob o título "Art of the Deal", Trump escreveu que brinca "com as fantasias das pessoas" e que "as pessoas podem nem sempre pensar em grande, mas ainda assim podem ficar muito entusiasmadas com aqueles que o fazem. É por isso que uma pequena hipérbole não magoa ninguém".

Considerando o que aconteceu anos depois de o NYT ter pintado Hitler como um homem relativamente inofensivo que apenas dizia o que o povo queria ouvir para cumprir as suas ambições políticas, até essas palavras escritas por Trump há 29 anos podem ser um alerta. Sobretudo tendo em conta a recente postura de Trump face ao apoio do Ku Klux Klan e as ligações do seu pai a esse grupo racista.

O artigo original do NYT sobre Hitler, publicado em 1922, pode ser lido aqui