quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Acorda, Europa!

A Europa está em guerra e na Europa pouco se fala de paz, salvo o Papa Francisco.


Domingos Lopes 8 de Fevereiro de 2024
 
A Europa, à deriva entre a extrema-direita e um rotativismo de intérpretes do neoliberalismo desalmado (espécie de partido único), dilacerada por uma guerra sangrenta, sufocada de desesperança e de cidadãos ensimesmados, anestesiados por novas tecnologias de infantilização, perdidos entre a crua realidade e a desilusão, parece caminhar para um futuro sem futuro. Pior: há quem veja nos restos de um fascismo reciclado de democrático uma possibilidade de uma vida mais justa desde a Escandinávia ao Sul passando pelo centro do continente.

Duas guerras diante dos nossos olhos. A destruição e morte exaltada por ambos os lados como justificação para o injustificável.

 
A Rússia invadiu e ocupou uma parte do território ucraniano para impedir que a Ucrânia integre a NATO, o que contrariará o que foi negociado entre os EUA/NATO/Rússia, nos termos do artigo 9.º da primeira Constituição, pré-Maidan, da Ucrânia.

Duas guerras diante dos nossos olhos. A destruição e morte exaltada por ambos os lados como justificação para o injustificável

Desde outubro de 2023 que os Israel/EUA/NATO/UE amaldiçoaram os palestinianos. Todos os bombardeamentos por terra, mar e ar se justificaram, mesmo que matem mais sete mil crianças e outras tantas mortes de idosos e mulheres num total de vinte e sete mil, tudo em três meses. Para os palestinianos o máximo que o Ocidente exige são pausas para depois Israel continuar a bombardear. Nem uma fisga, nem armas antigas, nem uma sançãozita, nem no desporto, nem no festival da Eurovisão. Que Israel mate até se cansar e que os palestinianos vão para o inferno, onde estão.

Reparem: Gaza fica do outro lado do Mediterrâneo. Washington fica a 9460 quilómetros daí. A Ucrânia fica na Europa. Washington fica a 7828 daí. Os EUA têm tropas estacionadas em todos os continentes. Têm 742 bases militares em 80 países, 118 e 44 na Alemanha e Itália, respetivamente. 119 no Japão. Nenhum outro país tem algo que se pareça com esta rede de militarização do mundo.

A Europa está em guerra e na Europa pouco se fala de paz, salvo o Papa Francisco.
 
Os EUA querem amarrar a Europa à sua estratégia de confronto com a China. É vital enfraquecer a Rússia, cortá-la da Europa para que fique ainda mais amarrada ao Império e dependente de combustíveis para já quatro vezes mais caros. Cabe perguntar às mentes exaltas se a Europa seria a mesma sem Dostoievsky, Chagal, Tolstoi, Gogol, Tchekov, Lermontov, Lomonosov, Tchaikovsky, Rimsky Karsakov, Putshkin, Prokofiev, Maiakovsky, Gorky, Solienitsine, Vassili Grossman, entre tantos, sem os construtivistas, e a derrota dos turcos na Crimeia, de Napoleão, de Hitler?

Os dirigentes europeus nada têm a propor para resolver o conflito sem o beneplácito dos EUA, salvo armas e dinheiro que desaparecerá nos campos da Ucrânia entre sucata destruída, corrupção e vidas perdidas. A Rússia e a Ucrânia não vão fugir da Europa… Há que encontrar caminhos para viver em paz. Já morreram centenas de milhares de europeus. No clima de guerra medra a extrema-direita. Os EUA têm imensos problemas internos. Fala-se em guerra civil. Na Europa há pobreza a mais. Só a paz pode permitir encontrar soluções. O futuro de guerra não é futuro. Acorda, Europa!