quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Um ano depois da resolução quem preenche o vazio?


Diário Económico, 2015.08.03

Um ano depois podemos afirmar com algum grau de certeza que do ponto de vista do sistema bancário – que inclui depositantes, empresas, contribuintes e restantes bancos – a resolução do BES foi a solução menos onerosa. Não é possível dizer neste momento qual será o resultado da litigância ligada à resolução, nem o desfecho da venda do Novo Banco – mas é difícil teorizar, como explica nesta edição a eurodeputada Elisa Ferreira, que qualquer outra solução não tivesse custos maiores para toda a economia e para os cofres públicos. O problema de origem não foi a decisão política de optar pela resolução, mas antes a gestão da relação entre o Banco Espírito Santo e o mais amplo Grupo Espírito Santo – foi, afinal, o funcionamento desastroso do próprio conglomerado, tornado evidente após a crise mundial de 2008. Por essa razão, porque arriscava dinheiro público, e porque este Governo entrou com um desejo claro de “libertar” a economia de uma rede de poder e influência que ligava o BES a empresas e ao poder político, Passos Coelho deixou Ricardo Salgado e o seu banco nas mãos do Banco de Portugal. Mas os vazios de poder não duram muito tempo. Um ano depois da resolução não se reconstruiu uma rede como a do BES – tal seria impossível – nem emergiu um poder claro nacional. É capital estrangeiro que continua a ocupar os grandes espaços deixados em aberto, na Fidelidade, na PT, na esmagadora maioria das cotadas e, potencialmente, no Novo Banco. A pergunta está, pois, em saber se o poder regulatório e se o poder político português – na sua atitude laissez faire – estão atentos aos conglomerados (chineses, por exemplo) que tomam posição na economia e no sistema financeiro português. Se estão atentos ao seu impacto na economia portuguesa e no risco do sistema financeiro nacional. Um ano depois este é um dos principais desafios.

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